I - Wait For Me

O “casal de cadetes” parecia desfilar na rua. A troca de sarcasmos e risos irônicos era natural. A jovem gangster deixava bem claro para o cadete o que achava de homens grudentos. Ao ouvir isso, o recruta apertou mais o braço dela puxando-a mais para perto de si. Ele ignorava as tentativas de Titânia que as vezes tentava soltar seu braço.

- O nosso “lance”?! Isso me animou agora! – parecia que o jovem somente havia escutado essa parte da fala da mulher enquanto esboçava um leve sorriso – Acho que você vai precisar de mim.

O rapaz parava bruscamente em frente à estação e apontava para a entrada. Um grupo de quatro cadetes fiscalizavam e revistavam quem entrava e quem saía da estação. Ninguém entrava ou saía sem passar pelo quarteto. Titânia percebeu que todos eram obrigados a mostrar suas respectivas tatuagens e licenças.

- A não ser que você tenha uma bela tatuagem de um Persian em seu belo corpinho, eu aconselho que você escute minha proposta – as feições se tornavam mais sérias e concentradas.

A gangster precisaria tomar uma decisão. O estranho cadete parecia amigável, apesar de ser CADETE. A entrada para a estação estava sendo cuidadosamente fiscalizada. Receber uma ajuda inusitada talvez não seria uma má ideia, ou seria? Que tipo de proposta ele poderia ter para a gangster? 

Os olhos do cadete se animaram e logo ele começou a conduzi-la novamente pela se afastando aos poucos da estação.

- Flor, eu sabia que você era diferente no primeiro olhar que lancei sobre ti – o jovem continuava com aquele sorriso de criança arteira – dou minha palavra que depois de resolvido meu problema eu irei te ajudar – e fazia um sinal de positivo – Eis o meu problema: eu fui roubado por um otário que está no Cassino Lótus. Eu não posso entrar no cassino devido uns probleminhas e não posso informar a academia pois eu seria motivo de piada. Então, a única coisa que quero é que você o atraia para fora do cassino, assim podemos dar uma lição nele. Aqui está uma foto dele - o cadete retirou do bolso um papel que estava muito dobrado e amassado e mostrou à gangster.

Titânia escutava tudo o que o cadete dizia, mas com uma certa incredulidade. Ela não poderia se dar ao luxo de ser enganada. Quando finalmente estavam próximos ao prédio, a gangster procurou saber mais do que precisaria fazer. O rapaz fez uma cara triste ao ser repreendido por tê-la chamado de Flor e ainda mais por ser subestimado por ter sido roubado por um “mané”.

- Poxa Flor, pensei que fazia parte do nosso “lance”. Você até disse que era como uma rosa. E outra coisa, ele só conseguiu me roubar porque eu estava distraído e em desvantagem. Ele é um covarde. Pois então, você só precisa atraí-lo para esse beco ao lado onde estarei esperando por vocês. Acredite, vai ser fácil! Com essa cara dele, tenho certeza que nunca teve uma mulher na vida, se você piscar, ele se ajoelha para você. Quando você trazê-lo para mim, vou ensinar uma lição a ele – o cadete esboçava um sorriso que misturava seu jeito maroto de ser com o desejo de vingança – depois disso eu irei te ajudar a entrar na estação para que você possa fazer-sei-lá-o-quê.

O cadete piscava e mandava um beijinho para Titânia enquanto se dirigia para o beco ao lado do cassino. A jovem não tinha certeza se podia confiar no cadete, mas tudo indicava que ele estava sendo sincero sobre essa “missão” de resgatar o que fora roubado dele.

A jovem gangster percebeu que o cadete era irredutível com suas “brincadeiras” e se resignou a aturá-las. Após suas ameaças caso fosse traída, o jovem se retirava. Talvez para ele aquelas palavras soaram como uma espécie de declaração de amor.

Após checar por seus pokémons, percebeu que teria somente o elétrico como proteção já que Hellant estava sendo curada no hotel. Titânia entrava no Cassino Lótus.

O local era enorme e muito elegante. Enquanto caminhava, a jovem via pessoas muito concentradas em frente às máquinas de jogos ou em grupos nas mesas fazendo suas apostas. O local era movimentado, muitos garçons passavam com bandejas de aperitivos e bebidas. Apesar de todo o luxo e requinte, não havia somente pessoas da classe alta, muitos estavam ali tentando a sorte para melhorar de vida.

Ao olhar para a direita, Titânia enxergou seu alvo “cara de bolacha”. O homem parecia alterado pelo álcool e discutia com a máquina de apostas.

- Voxêee extáarr mim rounbando – o homem apontava para a máquina como se esperasse alguma resposta dela.

Mesmo inicialmente perdida devido a grandiosidade do local, Titânia logo identificava o homem. Tudo o que ela precisava fazer era tirá-lo de dentro do cassino e, com ele bêbado, tudo seria mais fácil.

Ao sentir a aproximação repentina de uma mulher, o homem se arrepiou por inteiro. Quando sentiu as palavras soarem próximas ao seu ouvido, o homem se virou repentinamente quase dando um beijo na gangster. Os rostos estavam bem próximos. O homem começou a rir de satisfação.

- Xorte no amoor! Vou txe contar um segredo – ele se aproximou mais ainda, o bafo de álcool era quase insuportável – voxê é a primeira que fala comigo e de uniforme cadete. Voxê extá muuuitxo sexy! Arxeus me abenxoou. Me leve para xeu quarto xua deusa de Shinxi, Shinji...

O homem tentava se apoiar na mulher para se levantar e se manter em pé. Algumas pessoas se viraram para observar a cena, pois a cena não era nem um pouco discreta, mas logo voltavam suas atenções para suas máquinas.

O caminho para fora não seria tão difícil apesar de praticamente estar carregando um bêbado. Finalmente no beco, o cadete encontrava-se de costas sentado em um tijolo que conseguira. Ao ouvir sons de passos ele se virou e logo esboçou um sorriso.

Durante o percurso, enquanto a jovem conduzia o bêbado para o seu “quarto” o mesmo sempre tentava beijá-la, mas suas tentativas eram fracassadas. Mesmo tendo que aturar um chato e pensando como o cadete conseguiu a proeza de ter sido roubado por ele, o caminho para o beco não foi demorado.

A gangster não sabia bem ao certo o que o cadete iria fazer com o homem, mas a parte dela no acordo estava cumprido. A jovem empurrava o bêbado para frente livrando-se, assim, daquele incômodo.

– Flor, você é demais! – o jovem sorria feliz e logo lançava um olhar vingativo para o bêbado.

O homem tentava se manter em pé. Apertando bem a vista, tentava enxergar quem estava à sua frente enquanto reclamava sobre o quarto.

– Maix que quarto extranho! Primo Eren é voxê? - apontava em direção ao cadete.
– Sou eu sim seu trouxa e agora você vai devolver meu pokémon!

Eren se lançava em direção ao suposto primo e o socava em cheio no rosto fazendo o homem cair.

– Você... nunca mais... vai... me roubar – falava enquanto chutava o primo que estava jogado no chão enquanto este levava as mãos para frente do rosto para se proteger.

Após uns três minutos de chutes e ofensas, o cadete finalmente cessou o ataque e se abaixou em direção ao primo, revirou o casaco e pegou uma pokébola.

– Mande lembranças para tia Ana – Eren se levanta enquanto dava um tapinha amigável no ombro do primo que já estava desmaiado.

Da pokébola recém recuperada, um brilho vermelho saia e logo revelava um Poochyena. O pokémon dark começou a pular em Eren e o lambia com muita alegria.

– Poochy, a quanto tempo meu amigo! Mas agora não podemos matar a saudade estou em uma cidade e você sabe como as coisas funcionam – o jovem acariciou a cabeça do pokémon e o recolheu na pokébola e logo se voltou para Titânia – Agora é minha vez de cumprir a minha parte.

Eren a tomava novamente pelos braços e, enlaçados, o casal de “cadetes” saía em direção à estação.

Titânia observou que o pokémon que fora roubado se tratava de um Poochyena, que é um inicial armagedon. A jovem suspeitou se o tal “cadete” seria um infiltrado, um espião. Mas suas suspeitas não passaram daí, pois ela não se importava sobre o assunto e muito menos em brigas de gangues. A ambição da gangster era maior do que pleitear contra um armagedon, ela desejava ser maior que as gangues juntas. De tudo o que ocorrera ali, uma coisa ela guardou como informação: o nome do cadete era Eren.

De volta à rua Watson, o casal já avistava a estação de trem. Ao ouvir sobre uma suposta separação, Eren lançou um olhar exclamativo para a gangster.

– Não fale assim senão você parte meu coração – era difícil saber se tudo aquilo que o cadete falava era real ou apenas brincadeira, mas parecia ser muito convincente – mas vamos ao nosso objetivo. Fique aqui de guarda, eu vou fazer uma pequena distração para atrair esses cadetes.

O jovem se afastou e seguia pela Rua Watson. Alguns minutos se passaram, a jovem poderia pensar que talvez tivesse sido abandonada por Eren e que não receberia ajuda alguma, mas logo um barulho de uma explosão se ouvia ao longe enquanto algumas pessoas passaram correndo gritando sobre um suposto ataque de gangster e informavam isso aos cadetes da estação. Eren tinha que rever seu conceito sobre realizar uma “pequena distração”.

- Atenção! Suposto ataque de gangster nas proximidades da Rua Lt. Surge.

O cadete mais velho falava pelo celular enquanto o grupo saía correndo em direção ao som da explosão. Titânia se escondeu para que não fosse vista, senão correria o perigo de ser convidada a checar a situação, pois ainda estava com o uniforme de cadete. Diante de si a jovem viu a entrada liberada. Finalmente sua missão seria concluída, sem cadetes, sem Eren.

Titânia se esquivava de todas as investidas de Eren, mas o mesmo era relutante. Após o mesmo desaparecer pela rua e logo após ter ouvido o som de explosão, a jovem não tinha dúvidas se o tal “cadete” era um gangster ou um recruta muito esquisito.

A entrada estava limpa e a gangster seguia por ela. Muitas pessoas caminhavam pela estação. Um trem que acabara de chegar já soara o som que iria partir em breve. A jovem se aproximou do balcão e depositou em cima a sua encomenda especificando o destinatário e a urgência da mesma. A recepcionista era uma mulher de cabelos negros e longos. Quando ouviu que a entrega seria para Miss M, a mulher olhou atentamente o pacote e piscou para Titânia.

– Não se preocupe cadete Titânia – de algum modo a recepcionista conhecia a identidade da gangster – este trem que está de saída vai para Mengun. Pedirei para que levem a encomendem para lá o mais rápido possível.

A mulher colocou as sacolas em uma caixa de papelão e colocou o indicativo de que a encomenda era frágil. Após os devidos procedimentos, ela chamou um funcionário e ordenou que o pacote fosse colocado no trem que estava de saída. O homem tomou o pacote e o levou consigo. A recepcionista pegou um envelope com uma quantia em dinheiro e o entregou a Titânia.

– Volte sempre! – a mulher se despedia com um leve sorriso no rosto.

Titânia não se surpreendia com a influência que Mina Yushiram tinha em vários lugares. As raízes das gangues estavam envoltas em vários lugares da sociedade sem ao menos a suspeita dos cadetes. A jovem recolheu seu envelope e partiu em direção ao hotel.

Por um breve momento, a gangster sentiu a falta de Eren para que pudesse agradecê-lo pela ajuda, mas logo tirou esse pensamento da cabeça ao lembrar de como ele se comportava. Aliás, a essa altura, o suposto cadete deveria estar bem ocupado tentando se livrar da visão dos cadetes.

Chegando ao hotel, Edmundo estava na recepção checando alguns papéis. Ao perceber a presença da mulher vestida como cadete, o gerente levantou as sobrancelhas.

– Me acompanhe senhorita.

O homem a guiava até os fundos do hotel onde desceram umas escadas que levavam a uma porta onde se podia ler “somente funcionários”. Um longo corredor surgia. Homens e mulheres de ambas as gangues estavam ali presentes; alguns sentados, outros caminhando pelo corredor e entrando em seus respectivos quartos. Ninguém parecia se importar com uma “cadete” ali pois todos sabiam que se tratava apenas de um disfarce. O homem destrancou um quarto e entregou a chave para Titânia.

– Está anoitecendo, caso queira passar a noite este quarto está disponível. A pokébola de sua Trapinch está em cima da mesa. Deseja comer algo?

A pergunta de Edmundo a fez lembrar que não comia há algum tempo, o que fez seu estômago reclamar um pouco.

A ideia de passar a noite no hotel não era ruim, pois estaria em um lugar seguro para descansar e se alimentar. No dia seguinte poderia ir com força total para Electrowni, mas tudo o que Titânia queria era tomar um belo banho e poder tirar o uniforme cadete e finalmente usar suas roupas de costume. A jovem recolhia a pokébola de Hellant, confirmava que passaria a noite e fazia o seu pedido para o jantar. Ao ouvir as exigências, Edmundo simplesmente sorriu e se retirou fechando a porta atrás de si.

Após um dia exaustivo tendo que suportar a presença de cadetes, principalmente Eren, o leve conforto do local não caía mal. Uma cama simples, uma escrivaninha, um guarda-roupa pequeno e uma porta que levava para um minúsculo banheiro. A primeira missão havia sido um sucesso sem ter criado alarde na cidade.

Após seu merecido banho, a gangster percebeu que o serviço de quarto deixara o jantar sobre a escrivaninha. A jovem não sabia se o prato fora feito especialmente para ela ou se era padrão para todos os que estavam hospedados, mas a refeição exalava um bom cheiro e aparência era deliciosa apesar de simples.

Apesar de não haver uma banheira no local, o chuveiro deu para o gasto. Em quinze minutos a jovem já havia terminado seu banho e finalmente estava limpa e sem cheiro de cadetes impregnado em seu corpo. Apenas de camisola, a jovem observou que o serviço de quarto havia deixado o jantar. O prato estava um pouco morno indicando que fora deixado a alguns minutos atrás. As coisas ali não eram dignas da gangster que um dia seria maior que as duas gangues juntas, mas Titânia comia naturalmente se rejeitar nada. Após sua refeição, a jovem deu uma última olhada na lista que fizera mais cedo e se lançou na cama. Electrowni a aguardava!

Às 8 horas da manhã, a gangster foi desperta pelo barulho da porta se abrindo. Era uma senhora, com uma cara um pouco fechada, que entrava para deixar o café da manhã. Talvez a gangster não gostaria de ter sido incomodada daquele jeito. Ela se levantou, tomou seu café e se trocou. Arrumou as coisas, recolheu as pokébolas e deixou o quarto. Ao se deparar com Edmundo, a gangster lançou as chaves para ele e saiu do hotel.

O Sol brilhava e as pessoas ainda comentava sobre uma pequena explosão que ocorrera no dia anterior. A jovem seguia pelas ruas Twister em direção à entrada da usina. Já na avenida Flannery, Titânia parava e admirava a entrada para Electrowni. Finalmente, após tantos contratempos, ela iria procurar por um Mareep. Repentinamente, a gangster sentiu alguém enlaçar o braço dela.

– Deu trabalho para me livrar daqueles cadetes, mas eis-me aqui!

Eren sorria e olhava para Titânia. Ele dava a explicação como se a gangster se importasse com isso. Ela percebeu que o jovem não usava mais as roupas de cadete mas algo mais informal, apesar de um casaco marrom que parecia muito a um uniforme.

– Electrowni hein! Sabia que você era ambiciosa. Adoro isso.

O jovem a puxava e a conduzia, assim o casal (de cadetes/gangsteres?) entrava na famosa usina.