Indo ao Resgaste! - Parte 2

Mais uma vez, agradecendo interiormente mais uma vez a Natasha. Se não fosse por ela, talvez eu não tivesse ajuda e seria uma tentativa frustrada de resgate. E quando uma missão assim falha, bem, imagino que ou se termina na prisão, ou vai bater um papinho com Arceus (ou Giratina, como imagino que iria ser o meu caso, mas não que isso importe...).

Suspiro, ainda mirando a janela e vendo a paisagem mudar. Deserto... Areia... Deserto... Areia... Ó, um cacto! Deserto... Areia... Deserto... Areia... Após a paisagem "mudar" tantas vezes, como será que consigo ficar entediada? (Nota: Se não percebeu, fui irônica) Nunca pensei que uma rota poderia ter um nome tão adequado, porque, por Arceus, que o céu me ajude se eu tiver que passar por isso a pé!

Bem, finalmente chegamos na cidade luz. Cassinos, parque de diversões, fácil de obter bebidas. Uma cidade que me atrai, mas devido as circunstancias, nem isso me anima. E, bem, sou nova na cidade, mas imagino que um grupo de jovens sendo seguidos por uma gangue de pelúcias não é algo muito comum... Ainda bem que é só atravessar a rua pra chegar no hotel...

Após uma "emocionante" viagem de trem, finalmente o grupo chegava em Twister City. Apesar da hora avançada, a cidade fervia com o movimento e o som alto. Aquele certamente seria um lugar que a adolescente gostaria de visitar. Todavia, naquelas circunstâncias, aqueles cassinos cheios de dinheiro e bebida não eram capazes de atraí-la.

Rapidamente o grupo atravessava a rua, sendo seguidos pelas pelúcias de Kate e os Pokémons da adolescente. Somente naquele momento a morena percebia que Ethan conduzia uma moto para o estacionamento do hotel, que por sorte ficava em frente à estação de trem.

Antes de questionar a ele sobre o veículo, todos entraram na recepção. Kate imaginou que iriam para o subsolo, com os demais gangsters, como sempre acontecia. No entanto o grupo pedia um quarto para seis pessoas, o que surpreendia a adolescente.

- Seis? - O gerente parecia surpreso. O sorriso dele incomodava a Arruaceira, mas não mais do que pensar em sua mãe esquecida na prisão todos esses anos... - Bem, acho que tenho um apartamento duplo capaz de comportar tantos... Uma das suítes principais na cobertura... Ela possuí dois quartos de casais e uma sala privativa. Posso pedir para colocarem mais dois colchões, um em cada quarto. Porém ela é mais cara que os demais quartos... Custa 2,000Pk$ por noite.

- Até onde conseguimos ver dessa suíte? - Arthur perguntava pela paisagem, deixando Kate com olhar típico de paisagem, tentando entender o objetivo do grupo em gastar 2,000Pk$ por noite quando poderiam ficar de graça no subsolo.

- Da suíte 1 vocês podem ver a arena dos Gladiadores e como o Zuzu tem mania de grandeza e instalou telões na cobertura, vocês verão suas batalhas de camarote. Da suíte 2 vocês podem ver o teatro local, já que os únicos prédios no caminho são a delegacia e o posto de gasolina.

Como se uma lâmpada se acendesse na mente de Kate, ela ouvia Lisa dizer os cinco dividiriam a diária da suíte 2. De repente, tudo fazia sentido... Espionar por um dia... Só precisavam providenciar alguns binóculos agora e teriam uma visão privilegiada da delegacia.

Só agora reparei numa coisa... O cabeça de fósforo tem uma moto! Bem... Não importa muito no momento, agora vamos para o subsolo, junto com os outros gangsteres e...

Oi? Vamos alugar um quarto? Como assim? Aqui não é de graça? E esse chinesinho não cansa de sorrir não? E 2,000Pk$?! Ai meu bolso... Pra que isso? O subsolo é confortável o suficiente pra mim, da até pra fazer uma festinha ou outra sem o gerente reclamar (tá, essa parte é mentira, mas da pra curtir antes que o Zé da cidade estrangule alguém). E agora estão perguntando da paisagem... Okay, acho que alguém me deixo de fora do assunto, ou alguém se importa realmente com a vista...

E o Chinesinho deve ser realmente feliz pra sorrir tanto, mas até eu sorriria assim se fosse tirar tanto dinheiro de um bando de idiotas por noite (e lamentavelmente, eu estou no grupo)...

Uhul... Vamos ver as lutas dos Gladiadores que vão lutar contra Zuzu, que emocionante -sqn. Também veremos o teatro, como se eu não tivesse infernizado a Diretora de Chermont o suficiente e- Ah... A delegacia fica no caminho? Bom saber. Acho que um gasto extra não faria tão mal assim, não é? E dividindo entre tantos, não sairia tão caro assim...

Kate acabava concordando com o gasto após ouvir sobre a bela paisagem. Estranhamente todos concordavam que o teatro era mais interessante e optavam pela suíte 2, fazendo já o pagamento por 2 noites. Tentando ignorar o sorriso persistente do gerente, Kate pagava sua parte, assim como os demais, e via satisfeita um carregador pegar suas pelúcias e mochilas, guiando-os até a suíte. O tratamento era agradável mesmo...

Ao chegarem no terraço, se depararam com uma sala de estar privativa, com um sofá de dois lugares, duas poltronas, televisão, mesa de centro e uma belíssima sacada com vista para o belo teatro local. Também havia uma mesa com quatro cadeiras para as refeições que fossem ser feitas no quarto. De cada lado da sala havia uma porta grande e trabalhada.

- Nada mau hein... - Ethan dizia após soltar um assovio.

Ao abrir uma das portas, o grupo constatou uma cama de casal e um armário. O mesmo se repetia no outro quarto. Além do mais, cada quarto possuía seu próprio banheiro. O quarto era realmente luxuoso, valendo o elevado preço. O carregador logo retornou, com a ajuda de mais três homens, trazendo um colchão de solteiro extra que ficaria no chão de cada quarto. Agora a parte difícil: a divisão dos quartos.

É claro que a vista para o teatro é mais interessante, oras. Quem quer ver um monte de batalhas chatas? Eu que não, com certeza. Tá, ainda ta caro, mesmo com tantos dividindo o preço, mas é a vida... Pelo menos os carregadores fizeram o seu serviço e levaram todas as bagagens. Não posso reclamar do tratamento...

E se eu fosse rica que nem o Zuzu, comprava esse quarto só pra mim. Nunca vi tanto luxo na minha vida antes! Tá, o maior luxo que eu tive eram os quartos do hotel no subsolo, mas já era um começo, né? Mas isso é outro mundo!

-Como eu queria ser rica pra poder alugar quartos assim com frequência...

Comento para ninguém em especifico, encarando o local ainda admirada. Mais colchões eram colocados nos quartos, mas agora a questão é: Como dividir os quartos?

-Meninas num quarto e meninos no outro?

Pergunto, já entrando num dos quartos e me sentando na cama, testando o colchão. Hellhound se deita atrás de mim, e como ele se "disponibilizou", o uso de travesseiro e ignoro seus rosnados.

Kate ignorava por completo os rosnados de seu inicial, mirando pela porta aberta o olhar que os três rapazes do grupo trocavam. Lisa parecia concordar com a morena, deitando-se ao lado da adolescente e mirando também o restante do grupo.

Como se alguém tivesse gritado "Fogo", Yuri e Arthur pularam sobre o colchão de solteiro que estava no chão, claramente brigando pelo privilégio de poder dormir sozinho. Os dois estavam tão concentrados que nem perceberam Ethan se atirar na cama de casal, de forma a ocupá-la por inteiro.

- O que perder, fica com o sofá. - O ruivo dizia enquanto cruzava os braços atrás da cabeça.

Indignados, os outros dois pularam sobre o ruivo, ignorando por completo os gritos de "homem ferido" do outro. Ninguém poderia desconfiar que o grupo tão infantilizado era composto de Armagedons preparando-se para invadir a delegacia e resgatar uma prisioneira civil do cativeiro...

Bom, Lisa concordava comigo, então eu e ela dividiríamos um quarto, enquanto o trio ternura dividia o outro. Fiquei surpresa ao ver Yuri e Arthur começarem a brigar pelo colchão e Ethan se jogando na cama, mas não demorou muito para eu sorrir divertida. Imaginava quem ficaria com a "honra" de dormir de conchinha com o cabeça de fósforo.

Bom, a situação ficou mais divertida, quando o semáforo disse que o perdedor ficaria no sofá e os três começaram a rolar na cama. Fico com um sorriso felino, malicioso, enquanto me levanto e fico perto da porta, antes de gritar.

-Meninos, aproveitando o momento yaoi de vocês?

Fecho a porta rapidamente e tranco, antes que eles chegassem e eu sofresse as consequências de minha pequena brincadeira. Tento conter a risada, mas acho que agora estou imitando um pouco o chinesinho e fico com um sorriso divertido.

-Posso adicionar seu número nos meus contatos?

Pergunto para Lisa, aguardando a resposta dela. Depois vou tomar um banho bem longo e relaxante.

Ao som das batidas na porta e respostas indignadas dos rapazes do grupo, Kate sentava-se novamente na cama, trocando o número de telefone com Lisa. As duas pareciam estar começando a se dar bem e o trio do lado de fora parecia incrivelmente irritado.

Após o registro do telefone, a adolescente rumou para o banheiro a fim de tomar um longo e relaxante banho. Foi frustrante perceber que não teria uma banheira, mas mesmo assim poder ficar parada embaixo da água sem se preocupar com o amanhã já valia a pena.

Durante o banho, a diversão de antes se esvaía e Kate afundava novamente nos medos e dúvidas do que passariam a fazer nos próximos dias. Reencontraria sua mãe depois de quantos anos? Será que ela a reconheceria?

Sem querer, Kate forçou-se a desligar o chuveiro e retornar para o quarto, dessa vez mais limpa. Deparou-se com Lisa usando o "seu" Notebook ao lado de Lief, Amore e Aishi. Hellhound bocejava preguiçoso ainda deitado na cama, enquanto Haunter e Chantilly provavelmente estavam na sala fazendo pedidos para o serviço de quarto.

Bom, não conheço muito Lisa, mas ela parece legal. O trio de meninos já parece levemente irritado, a julgar pelo som de batidas na porta. Não entendo por qual motivo eles estão irritados embora, hum... Bom, não importa.

Nada melhor que um banho maravilhoso e demorado. Não tem banheira, infelizmente, mas poder levar o tempo que eu quiser já vale a pena. Por mais que eu não queira, minha mente volta para o motivo de eu estar nesta cidade. Fazem muitos anos que não vejo minha mãe, me pergunto como ela está. O que os cadetes fizeram com ela? A última lembrança dela era seus gritos e um rastro de sangue...

Me visto como uma estudante e volto para o quarto, mirando Lisa usando "meu" Notebook. Queria uma distração, algo que desviasse minha mente de pensamentos realmente pessimistas.

Lição de moral: Cuidado com o que deseja, pois ele pode se tornar realidade e, literalmente, você ser sequestrado por uma Lopunny que está segurando sua carteira e ignorando seus protestos!

Grito com ela, Amore e Aishi, enquanto as três parecem muito animadas a ir para algum lugar, me puxando pela perna enquanto tento me agarrar a alguma coisa. Tento persuadi-las, dizendo que aquilo era sequestro e questionando Lisa sobre o que elas viram para, do nada, quererem sair. Só na porta do quarto que minha perna é solta, mas quando tento fugir do trio rosado, Lief volta a me puxar (pelo braço pelo menos, tornando isso menos humilhante).

Ninguém me salvou... Nem mesmo o Chinesinho... Tem como piorar?

Infelizmente, tem! Ó Arceus, me salve! Tudo, menos uma seção de compras com essas três! De tantas cidades, porque mandaram minha mãe numa que tinha uma Fashion&Style?! Meu lado racional nunca foi grande coisa, meu emocional está em ruínas, deixe meu financeiro intacto!

Fui ouvida por Arceus? Mas é claro... Que não! Agora estou tendo que provar tantas roupas que já perdi a conta... Bom, pelo menos a carteira (e o dinheiro) estão comigo agora, então posso controlar o quanto vai ser gasto... Ou pelo menos é o que espero...

Kate se viu sendo arrastada pelo trio rosado até a Fashion&Style. Nenhum dos integrantes de seu grupo de resgate a socorreu. Muito pelo contrário, os rapazes pareciam se divertir com a cena enquanto Lisa seguia focada no computador.

Pelo menos na rua as Pokémons deixaram Kate caminhar ao invés de arrastá-la. A adolescente rezava para que a loja estivesse fechada, porém percebia que a fama de cidade 24h não foi recebida a toa...

Já na loja, Kate foi empurrada para um provador e começou a ser coberta por uma chuva de roupas. A cada uma descartada, três novas surgiam. Se tornava difícil para Kate manter a carteira em suas mãos com tanta roupa para provar. A Arruaceira percebia que seu lado financeiro possivelmente sofreria um grande golpe... Ainda maior quando viu as Pink Ladies começarem a experimentar roupas também.

Bem que só os bares podiam ficar abertos 24h por dia, as lojas menos importantes (em resumo, todas que não vendam bebidas) podiam fechar. Eu realmente não me importaria, mas é claro que Arceus resolveu tirar uma com a minha cara...

-Amore, eu não pretendo atravessar o deserto a pé, então não preciso me vestir como uma espécie de odalisca...

3 minutos depois.

-Aishi, eu sei que você gosta de laços, mas preciso mesmo de um vestido que me faz parecer um bolo?

Mais 3 minutos depois.

-Lief, eu preciso mesmo comentar...?

Eu sou o que? Uma boneca barbie?! Isso já está indo longe demais... Eu nem sou careca pra precisar de uma peruca! E agora estou recebendo um ultimato pra deixar meu cabelo crescer... Ai meu santo Victini, bem que podia me dar uma ajudinha, não acha? Ou talvez eu devesse pedir ajuda para o santo Jirachi? Acho que preciso é de um milagre, vitória não me ajudaria muito... E é Amore com um colete? Isso vai ser perigoso.

-Muito bem, vamos negociar?

Agora elas estão me encarando, claramente irritadas, visto que elas entenderam a mensagem subliminar: Eu não vou torrar toda a minha grana aqui, então vou limitar suas compras e não vou aceitar reclamações!

-Cada uma vai poder escolher uma roupa, mas que possa ser usada no dia a dia sem chamar atenção. Ou seja, nada de fantasias, vestidos em forma de bolos ou coisas assim. Se quiserem, podem escolher algo para vocês também, mas apenas uma coisa também.

Elas continuam emburradas, mas acabam aceitando e passam a escolher com mais atenção. Sinto que isso ainda não vai terminar bem, mas aproveito e pego algumas coisas, antes de ter que voltar a experimentar roupa atrás de roupa. Dou um suspiro de alivio quando finalmente acaba, mas por alguma razão, sinto que fui enganada... Sério, não tem sacola demais aqui? E eu sabia que a loja era cara, mas era tanto assim?

Após longas horas experimentando roupa atrás de roupa, Kate finalmente conseguia chegar no caixa para pagar a exorbitante quantia (3,950Pk$). O número de sacolas elevado e o valor igualmente elevado a faziam acreditar que havia sido enganada. Por alguma razão, suspeitava que as Pink Ladies haviam compactuado com a vendedora e passado peças a mais...

Do lado de fora da loja, a adolescente se preparava para retornar ao hotel. Precisava dormir cedo, pela primeira vez em anos, para estar preparada para o dia seguinte. No entanto, antes de se afastar efetivamente da loja, o trio rosado parecia agir, guiando-a para o outro lado e a fazendo correr basicamente por toda a cidade. Diversas lojas eram vistas e Kate sentia muita vontade de ter comprado uma coleira para as Pokémons, porém esse pensamento pareceu sumir quando parou mirando o grande cassino de Zuzu... As máquinas caça níquel, as mesas de poker... O dinheiro circulando de mão em mão tão fácil...

Amore já puxava as laterais de seu colete como se falasse "vamos mostrar para eles". Da mesma forma Lief acariciava uma das orelhas, exibindo um olhar arrogante e sendo imitada por Aishi, que inclinava a cabeça em um claro "vamos nessa?" na direção da entrada. Para Kate se tornava difícil pensar no resgate de mamãe com o som das roletas ao fundo.

Sério, ainda acho que meu trio de diabinhas rosadas fizeram algum pacto com a vendedora, passando peças a mais... Tem muita sacola e foi muito caro... Mas pelo menos, agora que estamos do lado de fora, acabaram os gastos! Ou não...

Elas precisam de coleira! Não sabem que preciso dormir cedo hoje? Pelo visto não, visto que estão me fazendo cruzar a cidade a pé, e mais, carregando um monte de sacola! Mas logo vejo o lugar que elas queriam visitar: O cassino! Ai, que vontade de entrar lá! Dinheiro circulando tão fácil, talvez eu conseguisse alguns trocados a mais...

Mas logo uma coisinha chamada consciência me acorda e meu sorriso murcha. Não posso pensar nisso, não agora. A última integrante viva da família está presa e vai ser um dia longo amanhã.

-Meninas, temos que dormir cedo. - Elas parecem querer protestar. - Lembram o que vai ser feito amanhã, não é?

Agora elas param de protestar e abaixam a cabeça. Sai vitoriosa, por mais que queira ficar ali e jogar. Também iria gostar de visitar o parque, mas não por enquanto. Uma próxima vez... Começamos a andar de volta para o hotel.

Kate se sentia muito frustrada por não poder saborear as oportunidades de ganhar (ou perder) dinheiro no cassino. A tristeza era tanta que a jovem nem ao menos se lembrava da sensação de enganada que sentira ao pegar as inúmeras sacolas. Os monstrinhos também pareciam contrariados, porém não discutiam, compreendendo a importância de dormir cedo.

Em alguns minutos de caminhada, o grupo retornava ao hotel Kazumi e Kate quase se dirigia ao subsolo por hábito, porém Amore a chamou para os elevadores e o grupo subiu diversos andares. A suíte ainda causando algum impacto inicial...

Na sala, o grupo comia o jantar em caixinhas e Kate percebia algumas ainda fechadas. O fato de terem pensado em si quase lhe levou lágrimas aos olhos, pelo menos até ver Yuri se sentar e começar a abrir as caixinhas separadas.

Lisa, por sua vez, possuía o computador de Kate em seu colo, um Luxio, um Kecleon e dois Zoruas ao lado, avaliando com ela qualquer coisa que Kate não demonstrou interesse em saber. O Meowth abaixado ao lado da mesa de centro tentando pegar os talheres de plásticos usados também não despertava grande interesse na morena, que ainda mirava as caixinhas de comida que Yuri abria.

Uma pena não poder aproveitar melhor a cidade... Mas quem sabe outro dia, quando tudo estiver resolvido. Cassinos, parques, bares, não me importaria em fazer um pequeno passeio quando a situação permitir. Mas chega de pensar nisso, vamos ir para o subsolo e-Ops!

Ainda bem que Amore me avisou que, no momento, estamos na suíte. Criei fácil o hábito de ir pro subsolo do hotel (comida, cama, banho e atendimento médico, tudo grátis, como não se acostumar fácil?). E ainda não me acostumei com a visão do quarto... É luxo demais num lugar só, e olha que Nokori e Lótus são considerados superiores! Do que será o quarto deles? De ouro? Travesseiro com as últimas penas de Ho-Oh? Cabeça de Stantler empalhado? Tapete de Girafarig? Seria um tapete divertido...

Mas voltando ao que interessa, hora do jantar! E eles lembraram de mim, estou comovida... Ou estaria, se realmente tivessem lembrado de mim... Vou pedir algo da recepção, mas imagino que não será muito diferente do que servem aos gangsteres. Ou será? Agora estou curiosa...

Cerca de 20 minutos após o pedido, Kate não sabia o que provar primeiro. A jovem havia pedido três pratos distintos, acreditando que as porções seriam pequenas, mas não eram. Todas estavam incrivelmente bem servidas, temperadas e apetitosas. Chegava a ser uma heresia comparar com a comida sem gosto e básica que serviam aos gangsters.

Com o grupo de mortos de fome que acompanhavam Kate, a comida sumiu rapidamente e a jovem pode se inteirar dos planos do grupo praticamente na hora em que todos decidiam dormir para acordar na manhã seguinte às 5h.

Kate agora tinha mais um problema: conseguir dormir cedo sabendo que no dia seguinte ficariam todos no hotel enquanto alguns Pokémon sem treinadores sairiam para a delegacia na tentativa de descobrir em que andar a mãe de Kate estaria. Não lhe parecia muito atrativo... E não lhe fazia sentido sobre como isso poderia ajudar efetivamente...

Okay, eu realmente não esperava por isso... Pensei que viriam porções pequenas, comida com pouco tempero, algo sem graça, mas me enganei. Me enganei feio. Nunca gostei tanto de ter me enganado feio. Tudo era muito bem servido e apetitoso, mas como são sete bocas para alimentar (incluindo yo, óbvio), então tive que ser rápida para me servir.

Neste momento, reflito: manter dinheiro para caso seja necessário, indo para o subsolo e tendo quarto e comida (sem graça) gratuitos; ou me dar o direito de um dia de rainha vez ou outra, mas ver dinheiro se esgotar mais rapidamente? Dúvida cruel...

Depois do jantar, todos resolviam ir dormir e acordar cedo. Isso eu já esperava. Pokémon sem treinador iria até a delegacia. Bom... Não é como se eu nunca tivesse dado uma ordem e me separado de meus pestinhas (tipo Amore escravizando Pokémon selvagem, Haunter hipnotizando geral, entre outros), mas não entendo como irão fazer isso (se bem que eu não perguntei como Amore e Haunter conseguiram cumprir as ordens).

E estou ansiosa... Esse resgate está alguns anos atrasado, o que me deixa com uma sensação que há muito eu não sentia: culpa e remorso. Mas eles foram chamados pela Natasha, um plano havia sido formado, então posso contar com eles. Agora conseguir ir dormir...

Kate sentia dificuldade em dormir. A culpa e o remorso que sentia por não ter encontrado sua mãe antes lhe tiravam o sono. A escuridão e o silêncio do quarto também não ajudavam, bem como o peso de Mightyena sobre suas pernas.

Na manhã seguinte, Kate sentia-se mental e fisicamente cansada, mas atenta o suficiente. O grupo estava acordado antes mesmo do hotel, de forma que não tinham acesso ao café da manhã ainda. Os Pokémons do dia anterior já se encontravam soltos. Lisa mexia de um em um, aparentemente ajeitando o pelo deles. Ao chegar perto, Kate reparou nas câmeras escondidas estrategicamente no pelo.

O Meowth era o mais difícil de manter quieto, mas ninguém dava indícios de que ele seria dispensado de sua tarefa naquela missão. A morena, por sua vez, sentia medo em deixar sua mãe nas patas agitadas e infantilizadas deles.

Com todos os Pokémon prontos na concepção de Lisa, a jovem pegou o computador de Kate e o ligou à televisão com um cabo. A mais nova sentava-se do lado, tentando entender qual a utilidade de seu computador e foi com choque que viu a imagem da televisão dividida em sei telas menores, cinco retratando a visão captada pelas câmeras dos Pokémon ao lado. Por um lado foi bom perceber que teria acesso aos "olhos" dos Pokémon durante sua missão, por outro reparar que seu quadril estava em foco foi preocupante. Olhando para o lado, Kate reparou no Zorua de Ethan lhe mirando com claro interesse.

Mal entendidos à parte, os dois Zoruas se transformavam, um assumindo a imagem de um Houndour e outro de um Persian. Lisa avaliava qualquer possível interferência nas câmeras, não constatando nada.

Com tudo organizado, os monstrinhos se retiravam. Um Bellsprout os colocava para fora pela janela, usando Vine Whip e com a ajuda dos rapazes do grupo. A escuridão ajudava a ocultá-los e em pouco tempo eles estavam no chão. A sexta tela na televisão logo mostrava os cinco. Kate logo era avisa que Lisa também havia hackeado as câmeras de trânsito, para acompanhar por fora o avanço deles. Assim, eles viam por cima seus Pokémon e pelos "olhos" de cada um. Quatro iniciais cadetes e uma faixa vermelha pequena passariam despercebido na delegacia e poderiam saber onde exatamente a mãe de Kate estaria naquele prédio.

Se tem uma coisa que nunca vou sentir falta, é dos pesadelos. Sério, nenhuma falta. Dúvida? Me dê uma semana de sono, onde eu não precise desmaiar de tão bêbada para não ter pesadelos, e vê se quero eles de volta. Mas agora, acredite se quiser, piorou! Agora veio a culpa, o remorso, e nem mesmo o escuro do quarto e o peso do Hellhound estão ajudando... Resultado: noite ruim é eufemismo... Ou seja lá que palavra seja pra dizer que é muito pouco.

Bom, pelo menos estou atenta o suficiente, só é uma pena não ter acesso ao café da manhã... Mas isso vem depois, agora é descobrir o que o grupo está fazendo. Fico curiosa ao ver Lisa arrumando o pelo dos monstrinhos, mas logo vejo que são câmeras. Deixar minha mãe nas mãos do Meowth de Ethan não é tranquilizador... Eu tenho escolha? Se você disse "não", parabéns! Você acertou! Aqui está seu prêmio, um monte de nada!

Piadinhas a parte... Agora Lisa está usando meu computador de novo. Ela tem usado ele muito desde que teve acesso a ele, não que eu ligue muito, mas quando vejo ela conectando um cabo na televisão (de onde veio o cabo?), é difícil não ficar curiosa. Foi uma surpresa ver que agora teríamos acesso ao campo de visão dos Pokémon (e juro que minha mão está possuída por algum Pokémon fantasma, por qual outro motivo eu deixaria o Zorua do cabeça de fósforo com um galo na cabeça?).

E acho que agora sei a razão de se receber Zorua depois de um tempo na organização... Essa habilidade de ilusão é muito útil, de fato. Agora todos estão descendo pelas vinhas de um Bellsprout (ele tinha vinhas tão longas?), câmeras eram colocadas a nossa disposição, agora só torcer para o grupo achar minha mãe.

Um plano infinitamente melhor do que o meu, que se resumia em invadir a delegacia e gritar por ela, pouco me importando que estaria cheio de cadetes e outros Pokémon. Me senti uma novata agora... E burrinha também...

Kate começava a se sentir uma novata burrinha na organização ao perceber a diferença entre seu plano original e o plano formulado para Natasha (e isso vendo somente o começo do plano e nada da ação efetiva). No começo essa sensação se misturava com o medo e a ansiedade de ver sua mãe, porém isso logo passou ao notar que os Pokémon caminhavam muito despreocupadamente até a Delegacia, até para não chamarem atenção.

Logo os estômagos começaram a roncar e, a julgar pela hora, o restaurante do hotel havia aberto e eles tinham direito ao café da manhã. Como não era desejado ninguém no quarto até terminarem tudo, para não verem o que era transmitido na televisão, os novos amigos de Kate decidiram se organizar em três grupos para tomarem café, assim todos poderiam ser atualizados de tudo com calma.

Kate ficou com o primeiro horário, sendo praticamente arrastada para longe da televisão por Ethan. O cabeça de fósforo seria o responsável por garantir que a adolescente se alimentasse direito e estivesse forte para a próxima etapa do plano, que seria o efetivo resgate. No elevador, ele tentava tranquilizar Kate, a lembrando de que ainda estavam na fase de colher informações.

No restaurante, Kate suspirou fundo e lembrou-se de sua barriga ao reparar na mesa servida ao estilo café colonial, com bolos, tortas, pães, queijos, geleias, frutas, iogurtes, leite e sucos. Não havia como a garota não encontrar algo que não a agradasse para o desjejum.

Os Pokémon caminhavam de forma despreocupada, o que era lógico, visto que não deviam chamar a atenção, mas não consigo evitar o desejo de apressarem um pouco o passo. Ignoro totalmente os protestos do meu estomago, primeiro quero ver minha mãe! O grupo combinava em se dividir em grupos, para não deixar a tela sozinha e não correr o risco de alguém ver. Tudo bem, eles podem ir comer e fico aqui olha- Hey!

Cabeça de fósforo precisava praticamente me arrastar com ele?... E pelo visto, dizer que não estou com fome não o convenceu. Só porque meu estomago está roncando e praticamente se auto devorando, não significa que eu precise ir tomar café! E ele me lembra que é fase de obter informações, e algo me diz que Lisa não é boa o suficiente pra fazer minha mãe entrar na câmera do Pokémon que a achar e sair pela televisão do hotel...

-Eu sei, é só que...

Começo a falar, mas não termino e miro o chão. Por um lado, quero que tudo seja um sonho, que um dia vou acordar e descobrir que nada da tragédia aconteceu. Mas tenho medo de acordar e ver que só a parte do documento é falsa. Ansiedade e medo de revê-la. Medo de tudo dar errado, mas medo do depois se tudo der certo. Chegar e dizer pra ela "Hey, sabe aquele cara que atraiu os cadetes pra nossa casa, te espancaram e levaram embora, deixando as tuas filhas sozinhas no mundo? Pois é, me juntei na mesma organização que ele. Dia agradável, não?" não é exatamente uma boa. Como explicar que uma filha foi assassinada e a outra, bem... Melhor não pensar nisso...

Melhor me focar num passo de cada vez, então respiro fundo e mantenho a calma. Agora comer comida boa uma vez na vida, não sendo a comida da mamãe (se é que aquilo podia ser chamado de comida, e não tentativa de homicídio por infecção estomacal), ou a comida do papai (que não era exatamente um chef, mas poderia ganhar 5 estrelas facilmente se comparar com a "obra" da mamãe (ela definitivamente não o conquistou pelo estomago)), ou comida da rua, ou da Natasha, ou a servida para os gangsteres no hotel. Acho que meu paladar foi seriamente prejudicado ao longo dos primeiros anos de minha infância...

Depois de comer, não posso esquecer de levar comida pros meus diabinhos e uma torta inteira para Chantilly.

Kate, que antes não queria descer para tomar café, acabava comendo mais do que imaginara que seria capaz. As opções eram muitas e o sabor era algo totalmente novo para ela. A jovem só podia imaginar o que teria no café da manhã do Lótus, que era ainda mais chique que o Kazumi e o Nokori juntos.

Durante o café, Kate reparou que Ethan mirava o celular e depois o guardava. Quando a jovem perguntou, ele falou que estava só conversando com Sakura por sms e, com isso, ativou o lado travesso da jovem a sua frente. A adolescente não podia resistir em fazer perguntas indiscretas que envolviam o cabeça de fósforo, o limãozinho e a Stylist que difamara em cinco minutos.

Ao final do café e sem arrancar muitas informações de Ethan, Lisa desceu com Yuri para seu round de comida, enquanto Arthur explicava para os dois o que havia acontecido. Dois dos Pokémon já haviam chego na delegacia e Kate assistia aos cenários dos cadetes e Pokémon cadetes de verdade passando pelos dos Gangsters com naturalidade. A jovem já nem sabia de qual Pokémon cada câmera era, mas ao reparar que uma tela ficará fixa em uma oficial com seios avantajados, deduziu que aquela era a do Zorua de Ethan. A situação a desanimava, porém isso passava quando reparava que um terceiro Pokémon chegara à delegacia. Já eram três: um estava subindo as escadas, em direção ao refeitório, mostrando cada janela por onde passava, outro ainda mirava a cadete de forma insistente e o terceiro estava entrando no prédio, parando para farejar outro Pokémon que saía e assim socializar com seu "colega de profissão".

Dos dois Pokémon restantes, um deles virava uma esquina e parecia entrar na rua da Delegacia, o outro aparentava ainda estar longe, tendo optado por um caminho mais longo. Os monstrinhos eram espertos. Um grande grupo chegando ao mesmo tempo seria suspeito demais. Mas diversos chegando em momentos aleatórios não chamariam a atenção.

Isso sim que é comida boa! Mas este é o Kazumi Hotel, então imagino como seria o café do Nokori Hotel, ou melhor, do hotel Lótus! Sério, esse lugar deve servir comida digna para Arceus, se o hotel mais barato já tem coisa boa assim!

E o cabeça de fósforo estava conversando com a Saki por sms? Travessuras mode on: hora de tentar provocar o semáforo! Infelizmente, não consegui muita informação, mas foi bom distrair a cabeça por um tempo. Imagino como a Stylist e o limão com chapéu de Tauros estão...

De volta no quarto, com mais uma dupla indo tomar café, volto a mirar a tela que, no momento, mostrava muitos monstrinhos cadetes e os próprios cadetes. É fácil descobrir qual das câmeras é o Zorua do foguinho. Mais um entrava no prédio agora. Só posso esperar e torcer, o que é uma droga, mas é a única coisa que posso fazer.

Hellhound, após comer, fica ao meu lado e o agradeço por isso. Chantilly provavelmente devorou toda a torta que eu trouxe, pelos protestos das Pink Ladies. Haunter também deve ter terminado, mas não desvio o olhar da televisão.

Após o retorno de Lisa e Yuri, Arthur foi tomar seu café da manhã sozinho, enquanto Ethan atualizava os outros dois dos últimos acontecimentos, que nas palavras de Kate se resumiam a nada.

As horas transcorrem muito lentamente enquanto os cinco Pokémon, agora todos na delegacia, desfilam pelos corredores. Lisa e Arthur tentavam retratar os corredores, criando um mapa do prédio, indicando portas, janelas, grades e salas. Toda e qualquer informação que poderia ter alguma utilidade.

Na hora do almoço, os cinco se reuniram no refeitório com muitos outros e cadetes, recebendo uma refeição. O grupo novamente se dividiu em turnos para ir almoçar e novamente levavam comida para o quarto, a fim de alimentar os Pokémon que mantiveram consigo.

Após essa refeição, com Kate já agarrada em Mightyena, angustiada pela falta de informação, uma das telas mostrou a escada para os andares subterrâneos. Conforme ele descia, celas foram se tornando visíveis e diversos criminosos puderam ser identificados. Kate percebia alguns Pokémon psíquicos caminhando, impedindo um simples Teleport de invadir o local.

A câmera avançou sem perder muito tempo, até que parou encarando algo que parecia ser uma caneca de metal velha, enferrujada e furada. Não muito longe da caneca, Kate pode identificar sua mãe, sentada no chão, magra demais, cansada e envelhecida demais. A mulher possuía o olhar vazio e perdido, vermelhos como se tivesse chorado não tem muito tempo apesar do rosto seco. A visão apertou o coração de Kate.

Quando o Pokémon ergueu o rosto, aparentemente sendo chamado, o grupo viu dois cadetes o mirando. O Pokémon pegou a caneca inútil e saiu correndo, deixando os cadetes intrigados. Porém eles ignoraram a situação, acreditando ser uma particularidade do monstrinho, o que por sinal era... O Meowth de Ethan seguia com a mania de roubar objetos inúteis.

Nada muito interessante acontecia, para meu grande desgosto. Os Pokémon exploravam a delegacia, um mapa começava a ser feito, uma boa tática eu confesso. Toda informação podia ser útil, quando bem utilizada, mas não muda o fato que isso está demorando demais. A hora do almoço chegava, nos dividíamos, e após comer, voltávamos com algo para os Pokémon que ficaram no quarto. Os que estavam na delegacia eram alimentados pelos próprios cadetes.

Depois de comer, fico agarrada ao Hellhound e observando as câmeras com atenção. Finalmente um deles começava a descer algumas escadas, encontrando as celas e, lamentavelmente, Pokémon psíquico para impedir Teleport.

Realmente, eu não teria chances de invadir o lugar e sair dele com alguém... Quem diria que membros a organização que antes levou minha mãe para a cadeia, agora se arriscariam para tirá-la de lá?

Meus pensamentos são cortados e, por alguns instantes, esqueço como respirar. Ela estava lá, magra e cansada. Se passaram oito, nove, ou talvez dez anos, não lembro mais, então é normal que ela estaria mais velha. A prisão não era fácil, então é normal que ela estaria assim, mas acho que nada me prepararia para aquela imagem. Não durou mais do que alguns segundos, mas pareceu uma eternidade. Era ela, estava viva, isso me fazia feliz. Por outro lado, parecia apenas uma sombra da mãe que eu lembrava... A mulher carinhosa, forte e generosa, mas que sempre provocava papai com um sorriso travesso até ele alegar que iria se vingar, para depois ela rebater dizendo que ele a convenceu a se casar com ele e não tinha vingança pior.

Meu abraço em Hellhound deve estar muito mais forte, mas ele não protesta. Nem quando eu saio do meu estado de paralisia e enterro o rosto no pelo dele, tentando me acalmar. Não é hora para chorar, não agora.