Desventuras no Deserto

Pé por pé, tento me afastar da confusão, mas hoje parece que a confusão resolver me amar mais do que eu gostaria. Vejo um Persian correndo em minha direção, a estrelinha no ombro dizendo que era A Persian da A Angélica. Acho que essa é a terceira vez que vejo minha vida passar diante de meus olhos, com até um Deja Vu de felino gigante passando por cima da minha cabeça.

Me senti tão amada pelos meus monstrinhos agora... Com Sakai rindo da minha expressão após literalmente sumir no ar, habilidade que invejo muito no momento. E sim, eu fui sarcástica, caso não notado. Meu coração está disparado e penso se Arceus está tentando me matar de um ataque cardíaco.

Eu sou novata, então porque encontro Pokémon exageradamente fortes, Persian de Angélica e a própria ex-comandante? Eu sou novata! Pega leve! Estou acostumada com Cadete de baixo nível, não de nível que não pode ser calculado na minha cabeça!

-Para de rir...

Digo sem animo, respirando fundo. Kazumi, preciso de Kazumi, mas pra isso preciso de mapa. Onde tem mapa? Estação tem mapa de Shinki, eu sei onde fica Kazumi de Chermont, Twister, Erobring e Grung. Posso levar esses dois azarados pra um deles. Primeiro achar mamãe. Tenho alguma opção que não tenha um porém, dificuldade ou pré-requisito?

Pensa Kitty... Kazumi e Nokori ficam meio longe um do outro, então o Kazumi deve estar no outro lado da cidade. Posso descer essa rua e chegar à Avenida Sandstorm. Os hotéis são fáceis de identificar, então imagino que devo achar o Kazumi no final dessa avenida. Me levanto e verifico se Sandslash e o homem ainda estão vivos, afinal preciso da minha desculpa ainda valida. Se for preciso, faço alguns curativos, afinal eu fiz aquele curso chato de primeiros socorros pra que? Não que eu goste de gastar meus itens de cura, mas como eu disse, preciso da minha desculpa ainda valida. Depois disso...

-Sakai, ergue eles de novo. Vamos para a avenida Sandstorm e atravessar ela, talvez o Kazumi Hotel esteja no final ou pelo menos perto...

Sakai ainda ria de Kate, mas ergueu o concreto como "solicitado" e o grupo resolveu deixar a esquina da Pupitar com a Stone e rumar até a avenida Sandstorm, em busca do Kazumi Hotel. O desejo era pelo fim de problemas. Só queria salvar sua desculpa para se afastar daqueles combates e rumar para um lugar seguro, enquanto torcia para que Chantily tivesse feito bem seu trabalho e tivesse deixado mamãe a salvo.

O avanço de Kate era lento, visto que Sakai parecia estar começando a ter dificuldades em erguer tanto peso por tanto tempo. A Arruaceira, porém, estava determinada a chegar o mais longe que conseguisse da luta Angélica Vs Jack.

Durante o avanço, contudo, quando chegaram na esquina da Rua Stone com a Avenida Sandstorm, Hellhound empurrou Kate para o lado, contra o prédio. Alertado, Sakai deixou o concreto cair de novo e desapareceu no ar. A morena só teve tempo de ver Angélica, de novo, colocando uma criança em cima de uma Rapidash Shiny, que passou a fugir desesperadamente, antes de se virar e atirar em algo que era nada mais e nada menos que a chefe dos Armagedon. Miya, sendo protegida por um Rhyperior. O que mais chamou a atenção de Kate?

1º - Nenhuma das duas mulheres parecia notar a existência dela. Era quase bom ser totalmente ignorada.
2º - Elas iam lutar? Miya queria conversar, mas Angélica parecia pronta para morrer lutando... Uma luta de chefes não parecia promissor para a saúde da morena.
3º e mais importante - A bala desviada estava enterrada na parede ao lado de sua cabeça. Sem mirar Angélica quase a matou.

Com o último fato constatado, Kate deslizou pela parede até ficar sentada no chão e suas mãos tocarem algo que não deveria estar ali: penas de Fearow, maiores que o normal e sujas de sangue.

O avanço era lento, mas acho que não posso reclamar. Sakai parece estar começando a cansar de carregar o concreto, mas quero me afastar logo daqui e reencontrar minha mãe. Se Angélica está aqui, então possivelmente deve haver outros cadetes de alto nível, algo potencialmente desastroso...

Hellhound em empurra e nem discuto com ele, apenas vou para onde ele quer que eu vá. O concreto ia para o chão e Sakai desaparecia, Aishi próxima de Hellhound e também atenta. Será que há algum inimigo por perto? Miro a rua e só vejo Angélica (A Angélica, para ser mais exata) mais uma vez, mas desta vez colocando uma criança em cima de uma Rapidash de cor diferente que depois fugiu.

Devo mesmo dizer que entendi nadica de nada do que ta rolando na programação de hoje? E ta rolando tiro de novo... E Miya (sabe, a minha chefe?) é o alvo, mas um Ryperior acabo sendo atingido (talvez eu devesse ter escolhido um Rhyhorn como inicial, ótimo escudo contra tiros e não morde)... E sem nem mirar, Angélica quase me acerta... Na cabeça... Ai meus miolos, como é bom ter vocês ainda dentro da minha cabecinha.

Ninguém pareceu me notar, o que era bom. Posso ir embora antes que a coisa fique feia, e a julgar pela cara da Angélica, a coisa vai ficar mais feia do que eu posso sonhar... Mas isso tudo some da minha mente quando noto algumas penas. A cor marrom típica de Fearow, maior que o padrão e suja de sangue.

Não podia ser, podia? Chantilly não é exatamente poderosa, mas ela tinha bons ataques... Roost, Protect, Steel Wing, ela sempre faz o que é necessário e tinha a ordem de apenas fugir. Não podiam ser dela, podiam? Ela não deve ser a única com gigantismo... E porque eu mesma não acredito nisso?

Miro Hellhound e mostro as penas, recebendo um olhar sério dele e preocupado de Aishi. Odor Sleuth é usado para tentar localizar o Pokémon dono das penas, e tentar sair daqui sem chamar a atenção. Sakai segue invisível, o que é bom. Quanto ao Sandslash e o homem feridos, tenho outras prioridades no momento.

Perante as penas, Kate esquecia Angélica e Miya e o confronto das duas, bem como o homem e o Sandslash feridos. A mente da morena estava fixa em seus pais, enquanto tentava se convencer de que aquelas penas não pertenciam à Chantily.

Mightyena, sentindo a urgência do momento, não hesitou em farejas as penas com seu Oder Sleuth e partir correndo na direção do cheiro. Aishi, Kate e Sakai seguiam muito próximos do cão negro, nunca o perdendo de vista, embora ele corresse o mais rápido que suas patas permitiam.

Kate logo chegou percorreu a rua Stone, virando somente ao deparar-se com o cemitério. O presságio negativo fazia um arrepio gelado subir pela espinha da morena.

Poucas quadras após o cemitério e antes de chegar a arena, o grupo virou em direção a um beco que tinha em frente a Rua Mt. Ember. No final desse beco, Chantily estava caída no chão, com algumas manchas de sangue em seu imenso corpo. Um estranho estava sentado sobre a cabeça da Pokémon desmaiada, com um pé sobre o bico da mesma. Atrás dos dois, a mãe de Kate estava amarrada e amordaçada, impedida de falar. Ao lado dela, um Beheeyem flutuava calmamente.

- Normalmente opto por abordagens mais sutis. Acredito que se continuasse fingindo ser seu pai, conseguiria tudo o que tem de valor com mais facilidade. Mas a cidade está meio tumultuada demais para perder tempo com disfarces e, já que me deixou algo muito valioso para você, estou disposto a partir para abordagem troca. O que me diz?

Fico seguindo Hellhound, nunca o perdendo de vista. Nem mesmo ligo pra dor em meus pés por ter que correr a toda velocidade de salto alto, reclamo disso quando as coisas ficarem bem de novo. No entanto, não estou com um bom pressentimento... Talvez o cemitério ajude um pouco nesse sentimento ruim. Passamos pela arena e viramos um beco, e acabo sendo pega de surpresa mais uma vez. E não de boa forma agora.

Um cara que nunca vi antes estava sentado na Chantilly, usando o bico dela como apoio para os pés. Manchas de sangue estavam espalhados pelo corpo dela e isso fez meu coração apertar. Essa ave teimosa e maníaca por doces, que me seguiu desde Chermont... Mas o pior foi ver minha mãe, amarrada e amordaçada. Um Beheyeem flutuava perto dela.

Demoro alguns segundos assimilando tudo. Era bom demais para ser verdade, e ambos ficaram um do lado do outro, era tão visível quanto uma envelheceu e o outro não mudou. Me permiti ser cega demais. Fiquei com raiva de mim mesma por deixar isso acontecer, mas confesso que quero cortar a garganta dele. Manipular os outros para conseguir o que quer, sem ter que apelar para a violência, quantas vezes já fiz isso? Mais do que posso contar. Ameaças? Bota na lista de coisas que já fiz. Sou hipócrita, o que posso dizer? Mas assassinatos já fazem parte desta lista e não vou me importar de adicionar mais um.

Embora a vontade de estapeá-lo, tenho que pensar com cautela. Primeiro: não vou entregar nada. Nem tudo o que tenho foi adquirido com meu suor, ou por meios legais (na verdade, acho que eu conto nos dedos os itens que consegui com meu próprio esforço e por meios moralmente aceitos), mas é meu. Segundo: eu não tenho qualquer garantia que ele vá cumprir com sua parte. Se ele pensar da mesma forma que eu, então não quer muitas pessoas que conheçam sua verdadeira natureza andando por ai.

-Que mal...

Comento, caminhando de forma descontraída, sem me aproximar muito. Quero tentar atrair atenção dos dois e ficar em algum ângulo que minha mãe não seja muito vista por eles. Espero que Sakai consiga ir por trás e soltá-la.

-Parece que hoje é um dia ao contrario... Corro atrás de encrenqueiros, me arrisco para ajudar pessoas feridas, e agora encontro um homem malvado. É quase como brincar de cadete, mas é uma pena eu estar sem algemas, não acha? Mas bem, voltando ao foco: assim não tem graça. Seja um bom bandido, e se quer tanto assim o que eu tenho de valor, vem pegar.

Digo meio ronronando, com a voz suave, separando as silabas da última palavra. Enrolar não é novidade, quero ver se ele é do tipo que posso fazer de bobo. Geralmente a maioria dos homens é facilmente feita de otário, então espero que ele esteja na maioria. Algo me diz que não será tão fácil, mas só quero alguns segundinhos pro Sakai ter sucesso. Só isso. Por precaução, a minha faca militar está na minha bota, fácil de pegar. Aishi, embora fazendo charme, está pronta para reagir. Hellhound é o Pokémon em que mais confio, acredito que ele vai saber o que fazer.

O dia infindável agora se transformava em uma noite sem fim. Kate sentia-se cansada, física, psíquica e emocionalmente. Fizera coisas que nunca sonhara antes, atitudes atípicas para sua personalidade, teve surpresas boas e muitas não tão boas e, agora, enfrentava um bandido que usava sua mãe recém resgatada de refém.

O homem sorriu perante as palavras de Kate, se deixando conduzir aparentemente de forma inocente e fácil, quase como um cordeirinho, embora o sorriso nada tivesse de inofensivo. Aishi e Hellhound mantinham-se ao lado da Arruaceira, uma fazendo charme e o outro rosnando. Os pés da adolescente doíam de forma quase cruel, mas essa dor não era transmitida em seus olhos. A mãe de Kate tentava falar, mas o som era incompreensível para qualquer um.

- Menina, não queira se machucar mais do que já se machucou. Estou oferecendo uma saída fácil e prática para seus problemas. O que é algo que pode ser facilmente vendido perto da segurança de sua mãe?

O golpe era cruel e Kate aguentou com força para dar tempo a Sakai. Quando Haunter apareceu, seus problemas poderiam ter sido resolvidos, porém uma barreira protetora erguida por Beheeyem impediu o avanço do fantasma. Para piorar a situação, um Scraggy quase atingia seu Pokémon, forçando-o a se afastar novamente. Ele estivera escondido sob a asa de Chantily até o último momento, usando a Pokémon de Kate como um objeto.

- Última chance garota, bens de valor e te devolvo sua mãe e sua Fearow abobada.