[The Gray Cat in Hell Controlled] - Police Academy -

Um passo de cada vez. E cuidado para não cair.

Mantendo esse mantra em mente, o rapaz caminhava pacientemente por entre as ruas da cidade de Nyender.  Ainda que um tanto quanto incomodado com as diversas pessoas que passavam por seu lado e também não muito acostumado com climas mais amenos – visto que o frio era um de seus maiores aliados -, não havia escolha se não continuar sua estrada. Isso é, caso realmente desejasse sua licença de Gladiador. E não seria na boca da Academia que iria desistir.

Ele observava o local. Diversas árvores de folhas rosadas estendiam-se por praticamente todo o calçamento, não importando para onde seu olhar obtivesse a permissão de se desviar. Construções de formato simples, e provável arquitetura extremamente trabalhada. A cortina natural que recobria o solo trazia o aperto para seu coração, ao pensar que estava tão longe de casa... De sua verdadeira casa.

Um suspiro inaudível escapou por seus lábios. Agora, seu foco deveria ser fortificar-se, evoluir e... Bem, e não morrer.

As pessoas, apressadas ou calmamente, inundavam as ruas.  Secretamente, o rapaz injuriava-se a cada vez que um oficial era captado por suas retinas, transmitido a seu cérebro e por fim ter a imagem formada em sua mente. Afinal, por culpa deste tipo de gente, sua diversão havia sido abruptamente cortada. O tipo de entretenimento ilegal, mas que ao mesmo tempo não possuía bons motivos para esta definição perante a lei.

A partir daí, tudo a seu redor foi propositalmente bloqueado. Não queria saber e nem pensar mais nisso. Tudo que tinha que fazer se resumia em: Academia, Demônio, Prova, Licença, Saída.

Demônio? Sim. Mais precisamente, Angélica Tompson. Os menos informados que o pesquisem.

O que poderia ter de tão ruim em uma oficial? Ah, quem dera que as coisas pudessem ser assim. A segurança do mundo estava nas mãos de pessoas com obsessão por poder, indo e vindo sem nenhum impedimento. Isso não era injusto? Céus, eles não eram os donos do mundo. Porém, de acordo com todos os seus dados... Estaria prestes a enfrentar a negligência em pessoa. Ou, pelo menos, a negligência para com as pessoas.

Seu olhar se estreitou com suavidade ao reparar na constante amenização das diversas construções erguidas a seu redor. Foco. Caminho. Ele balançou a cabeça, já com a visão voltada para o edifício entre os tons acinzentados e creme de três andares. Adentrando os portões da área, fitou também a relva rala, assim como as mesmas árvores que o perseguiam por todo o trajeto – coisa que, sinceramente, chegava a ser um tanto quanto perturbadora -. Ao passar pela imponente estátua de um grande felino imprudentemente posicionado por sob uma réplica do globo terrestre.

Uma risada nasceu e morreu em sua garganta, sem possibilidade de ser ouvida por qualquer outro que não o próprio pensamento do moreno. Imprestáveis, eis o que essa organização era de verdade. Um dia, tudo aquilo seria desbancado e uma verdadeira justiça recairia como pluma no planeta. Era tolice crer nisso e também no contrário... Em parte.

Os Humanos ainda não tiveram a capacidade de aperceber-se que o domínio não está em nossas mãos, mas nas do Destino e de Seres Superiores. Cabe a nós apenas seguir a correnteza... E é por isso que chegamos ao ponto de Guerra. Por suas tolas atitudes.

Esse simples e rápido pensamento percorreu cada sinapse em seu cérebro. Chegava a ser irônico pensar deste modo e seguir a carreira de Gladiador. Talvez um Seguidor de Arceus caísse melhor em si... Sua expressão retornou à impassibilidade. Era óbvio que nunca o faria. Sua paixão era por lutas, não por paz... Não completa. Ainda que possuísse a capacidade de raciocinar muitas coisas, não se importava com o próximo, sinceramente. Seus atos se resumiam no que melhor se encaixasse na situação, este era seu modo de agir. E não seria agora que o alteraria.

Por fim, deu as costas para o ‘monumento’, dirigindo-se até à entrada do edifício. Meio desgostoso, ainda que nada refletisse em sua expressão corporal ou facial, caminhou pelo saguão, fixando em sua mente a posição dos elevadores e também das escadas lateralmente posicionadas. Era melhor afixar aquilo tudo na cabeça, afinal, nunca se sabe quando uma fuga precisará ser realizada...

Haineko apercebia-se dos cadetes que murmuravam uns com os outros, assim como os olhares que atravessavam seu corpo. Indiferente, ignorava-os. Se fosse doar sua atenção a cada micróbio que passasse por seu caminho, nunca sairia do lugar. Sim, talvez estivesse sendo um pouco duro – ainda que fossem apenas pensamentos -, mas era inevitável pensar algo do tipo com tanta bobagem a seu redor.

Ele respirou profundamente, desviando o olhar para uma das janelas presentes no largo cômodo. A presença das grades em tal o deixavam, de certa forma, receoso. Aquilo definitivamente não era nada bom. Maus augúrios, eis sua definição para estas simples janelas com uma segurança um tanto quanto... Fortificada.

Ainda demorou algum tempo, mas por fim estancou em frente às portas que, de acordo com algumas fontes, guardavam a sala da ‘querida’ oficial. Bem, seu teste deveria ser feito de um jeito ou de outro. Só esperava que fosse pelo caminho mais fácil.

Ele ficou parado por alguns segundos, enquanto sua mente obtinha uma pequena permissão para vagar e se perder em um mar de pensamentos. Tinha consciência de que em nada aparentava um Gladiador, e, sinceramente, duvidava profundamente que a mulher passaria sequer próximo de acertar qual seria o verdadeiro caminho que era de seu gosto traçar. Fitou a si próprio, engolindo um suspiro. É, definitivamente era um completo contraste com o conceito que se poderia ter sobre aparência e físico de um Gladiador. Mas, ah, quem liga? Não importava seu porte, mas seu raciocínio e seu desejo ardente no peito. Não era um monstrinho como Tompson que iria derrubá-lo. Não aqui, não agora.

Ele bateu na porta. Uma, duas, três vezes. Após isso, ficou em silêncio, optando por esperar a permissão da mulher para adentrar a sala. Não tinha certeza sobre quantos realizavam tal feito, mas... Enfim. Caso não obtivesse resposta, abriria a porta e faria questão de conferir se Angélica estaria ou não presente no local.

Só restava-lhe saber se o destino estaria com a boa vontade de auxiliá-lo neste confronto.

Um Gato Cinzento e uma Cadete Raivosa.
Quem obteria o troféu de ouro?

O sol brilhava radiante, distribuindo luz e calor para cada canto que conseguia alcançar, que conseguisse chegar mesmo sem permissão. A brisa fresca passava leve, agitando as copas das árvores carregadas de flores rosadas. Muitas pessoas agradeciam por tal dia, agradável e limpo, mas um jovem pensava diferente. Desejava a neve e o frio, os cristais de gelo que caiam do céu com delicadeza, as luzes dançando e embelezando o céu noturno.

O aspirante a gladiador sabia que estava muito distante de seu verdadeiro lar. O sol tocava a pele pálida sem permissão, envolvendo o moreno com seu calor, não sendo a melhor sensação para Haineko. Demoraria a alcançar seu lar novamente, as cidades onde o gelo reinava eram as mais distantes de Nyender, sendo a ultima parte da jornada de qualquer Gladiador, mas um dia chegaria lá.

Pessoas iam e vinham de todas as gerações. Cada uma em seu ritmo e tempo, passando despercebidas, exceção dos oficiais da “lei”. As pessoas que, na teoria, deviam proteger os civis, mas na realidade, construíram uma ditadura, impedindo levantes e rebeliões, transformando aqueles que tentassem em gangsteres. Pessoas com boas intenções, tendo que se esconder e sendo julgadas pelos civis que acreditavam nos cadetes.

A construção cinzenta e sem vida fazia o rapaz voltar ao foco principal. Pensamentos dignos de um religioso, que seguiria o caminho de Arceus, invadiam a mente de Haineko, mas seu amor por batalhas fazia a opção Gladiador a melhor escolha.

O interior da Academia estava repleto de cadetes atarefados. O movimento era grande. Alguns jovens com algum pokémon, provavelmente recém aprovados no famoso teste. Oficiais e seus monstrinhos de bolso estavam em cada canto, as janelas gradeadas. Se fosse preciso, uma fuga seria complicada. Cadetes demais, pokémons em excesso. A segurança fortificada parecia tentar impedir que qualquer um entrasse ou saísse sem permissão.

O jovem observava a porta que levava a sala de Angélica. A famosa capitã, havendo centenas de boatos sobre a mesma. As batidas na porta não tiveram resposta. O aspirante a gladiador abriu a porta, sendo um ato que poucos teriam coragem de realizar.

A sala do teste estava vazia, a luz apagada deixando o ambiente escuro. O silencio predominava, levando alguns segundos até uma voz bem atrás de Haineko ser presente.

-Se quer ver a luz do dia novamente, melhor ter uma boa explicação para sair entrando em minha sala sem permissão.

Angélica fitava o moreno. Os olhos violetas eram gélidos, mas também demonstravam alguma irritação. Um persian a acompanhava, observando atentamente o rapaz com claro interesse. O olhar do felino foi para a capitã, num pedido claro de algum comando, o autorizando a “brincar”.

-Responda logo.

A comandante dizia autoritária, severa, demonstrando que paciência não estava entre seus pontos fortes.

Sem possuir a tão pacientemente aguardada resposta, o rapaz tocou suavemente a maçaneta da porta, sentindo uma sensação gélida correr por sua palma em simultaneidade. O material de tal objeto absorvia espontaneamente o fluído de calor que corria por seu corpo. Mesmo assim, ele permaneceu em silêncio. Era acostumado com climas que poderiam ser considerados praticamente inóspitos. Por qual motivo tolo se abalaria com um simples tremor?

Girando a maçaneta e ouvindo a porta abrir-se com um suave rangido rouco, viu-se defronte a uma vasta escuridão, um local desprovido de presenças, sendo estas humanas ou não. Permaneceu impassível, no entanto, interiormente, teve a vontade de franzir as sobrancelhas.

Olhou um relógio que estava acoplado em uma das paredes do local. Estranho, definitivamente. Até onde sabia, Tompson não deveria estar ausente nesse horário. Quer dizer, não era necessário a mulher permanecer enfurnada na sala, atendendo novatos, vinte e quatro horas por dia. Mas... Precisava mesmo desaparecer em um dos únicos dias que possuía algum tempo livre para se fazer presente? Propenso a abandonar o edifício e retornar para casa, teve os pensamentos cortados por uma voz frustrada e fria que ressoou por trás de seu corpo.

Não tenho o desejo de ver a luz do dia, no entanto, apenas a trocaria por um céu nublado.

Essa simples frase transpassou sua mente como um raio, assim que a pergunta indireta no timbre feminino se perdeu no ar.

Ele respirou profundamente. Na realidade, não estava dentro da sala da morena, permanecia apenas na soleira da porta. No entanto, tinha a consciência de que seria melhor não contradizê-la em tais situações, pois, além de soar ofensivo, poderia perder uma ótima chance de tomar sua licença, e este era seu objetivo. Conquistar permissão e se distanciar o máximo possível daquele maldito local.

Desentrosou os dedos da superfície lisa da maçaneta que ainda apoiava-lhe a mão. Pacientemente, apenas virou o corpo em cento e oitenta graus, notando-se agora frente a frente com o ser mais temido de toda a corporação, isto se não do mundo. Até onde sabia, essa mulher que agora fuzilava-o com o olhar, possuía vasta fama ao longo de todo o continente.

O olhar do moreno deslizou do rosto da oficial para o atrevido felino ao lado da mulher. Fitou sua pelagem amarelada, assim como os finos bigodes colados à suas bochechas. No total, três pares de fios. Uma joia encrustada na testa do animal brilhava em uma tonalidade rubra, quase tão vermelha quanto o sangue, assim como seu olhar infantil que, possivelmente, resguardava dentro da alma do pokémon uma personalidade sanguinária e cínica. Observara sua cauda em formato de tênue espiral, que quase chegava a indicar as orelhas bicolores que possuíam uma suave linha de preto em seus contornos.

Ele pensou que não queria de jeito nenhum sentir as garras afiadas daquele felino em toque com sua pele, dilacerando-a lentamente em sádico prazer.

Obviamente, ao traçar do percurso da mulher ao animal, em questão de segundos, apercebera-se do físico de Angélica. Longos cabelos castanho-escuro, divididos em três comprimentos. Um deles recaía no traçado mediano das costas desta citada. O outro, um tanto quanto abaixo de seus ombros. Por último, o restante resumia-se apenas em uma curta franja na altura de sua testa – aliás, um pouco abaixo desta -. Seus olhos brilhavam em uma tonalidade violeta com retoques avermelhados. Seu corpo era curvilíneo e bem definido – seios fartos e era bem acinturada -. Seus trajes eram de tonalidade azul-marinho, e uma braçadeira avermelhada – com o rosto do mesmo animal a seu lado – estava acoplada no lado esquerdo desta. Um chapéu recobria-lhe o topo da cabeça e luvas brancas vestiam as mãos da morena.

Brancas. Brancas como a neve...

Por meio segundo, o moreno quase chegou a começar a se mover para, quem sabe, retirar as luvas de Angélica. No entanto, tal ato definitivamente não era uma boa ideia. Não queria nem pensar no que ela poderia fazer caso ousasse se projetar à frente apenas para tomar-lhe peças de roupa.

Perdeu-se em devaneios por alguns segundos, refletindo se deveria ou não praticar esse tipo de coisa e, quem sabe, sair correndo dali com aquelas luvas. Porém, a voz da mulher o fez retornar à realidade antes que sequer ousasse se mover por meio milímetro.

Ele balançou a cabeça rapidamente, se curvando em uma curta reverência ao estilo japonês.

- Senhorita Tompson – Seu timbre estava acoplado ao tom de um cumprimento formal, respeitoso. Talvez até submisso, quem sabe. Bem, não deveria importar-se com isto agora, visto que deveria ser o mais breve possível. Assumiu novamente uma postura ereta, pacientemente – Peço-lhe desculpas pela... Inconveniência. Procurei obter alguma permissão para entrar, mas, como nenhuma resposta foi dada, optei por ver se estaria na sala ou se estava com algum tipo de dificuldade. Não queria causar nenhum problema. – Falou por fim, com uma – quem sabe? - inigualável coragem de fitá-la pacientemente dentro dos olhos – Hm... Eu gostaria de saber se está disponível. Gostaria de um teste para retirar uma licença... – Acrescentou após um curto período.

Sinceramente? Parte de si estava em uma plena curiosidade sob qual classe a morena julgaria que pretendia pertencer. Duvidava que fosse justamente Gladiadores, tanto por seu físico, quanto por suas falas. Não tinha a certeza de estar correto, mas todos os outros de mesma classe que havia conhecido, eram completos inúteis com palavras brutas e sem apuração para etiquetas ou regras gramaticais.

Observava atentamente as possíveis reações faciais que esta poderia possuir. Talvez, um pedaço mais profundo e secreto de si, também torcesse para que suas palavras e atos acabassem por desbancar esta pose de durona e intangível que Tompson mantinha. Uma conquista interna.

Um suposto desejo que não era louco o suficiente para expor em voz alta, tampouco em expressões corporais. Não pretendia e nem iria demonstrar quaisquer coisas que não fossem estritamente necessárias. Precisava, ao menos um pouco, atiçar um mínimo interesse em Angélica. Iria provar que o mundo não girava em torno desta mulher desprezível e que os outros não possuíam a obrigação de se rastejar, tampouco ajoelhar perante ela, para abrir caminhos dos quais sonhavam há muito tempo.

Iria fazer isso, nem que subliminarmente.

Este era o seu desafio, paralelo ao verdadeiro teste pelo qual possivelmente passaria em pouquíssimo tempo. Era algo que desejava cumprir... Mesmo que não fosse neste mesmo dia.
Que a sorte estivesse consigo, pois definitivamente precisaria de seu auxílio.

A ausência da capitã fez com que o rapaz franzisse as sobrancelhas. Não era comum a mulher estar ausente em tal horário, não que era fosse obrigada a atender novatos desde o amanhecer, até o anoitecer. Desanimado, o jovem pensou em voltar para casa, se não fosse à voz feminina e fria como gelo.

A pergunta feita de forma que mais aparentava ser uma ordem fazia Haineko respirar profundamente. Não estava adentrando a sala, mas talvez para alguém que chegasse naquele momento, pensasse que sua intenção fosse entrar no local, mesmo sem permissão. Embora o desejo de responder, sabiamente não o fez. Só precisava conquistar a licença, mais nada, depois poderia se distanciar.

O moreno agora estava frente a frente com uma das pessoas mais temidas de todo o continente. Ao lado da mesma, o felino que os fugitivos mais odiavam. O pelo brilhante e, aparentemente, macio indicava que, provavelmente, a mulher gastava algum bom tempo cuidando do persian sádico.

Os olhos de Haineko encontraram o branco das luvas de Angélica. Impecavelmente brancas, sem uma única mancha, lembrando a neve. Uma lembrança da terra natal do jovem, que sentiu-se tentado a pegar as luvas para si. Desejava levar qualquer coisa que pudesse fazer com que recordasse, ao menos um pouco, seu verdadeiro lar. Infelizmente, ou felizmente, a voz firme da comandante o despertou, antes de se decidir.

Assumiu um tom respeitoso e até submisso, se pronunciando. Observava Angélica olho no olho, atitude que poucos tinham coragem de fazer. Estava curioso sobre a que classe a mais velha acreditaria que ele faria parte. Observava qualquer reação, desejando desbancar a pose da mulher, mas a face dela permanecia inalterada. Continuava séria, fria, autoritária.

Precisava de sorte, sem duvida. Necessitava chamar um pouco a atenção da comandante, se quisesse realizar o teste, mas o olhar de capitã e pokémon eram capazes de deixar qualquer um inseguro. Em um movimento rápido, Tompson bateu com força o chicote na porta, passando perto da face do moreno, mas não o acertou. O som forte chamou a atenção de outros cadetes. Ela aproximou a face levemente, encarando mais de perto.

-Você bate na porta e aguarda. Não sai abrindo salas sem permissão. Se fizer isso de novo, vai ser o substituto do arranhador de meu Persian. Estamos entendidos?

A ameaça parecia animar o felino, que ronronou em aprovação as palavras da mais velha. Pequenos murmúrios eram ouvidos entre os cadetes e outros candidatos que se aproximavam. Angélica olhou para o interior da sala, vendo as horas, retomando a postura anterior.

-Meu relógio deve estar atrasado... Não aparenta ser horário do descanso...

As últimas palavras, acompanhadas de um olhar rígido, foram o suficiente para que todos se silenciassem e corressem para seus afazeres. Os olhos violetas voltaram para o aspirante a gladiador, observando de cima a baixo brevemente, como se avaliasse, voltando a encará-lo olho no olho, mantendo a postura inalterada.

-Retirar uma licença? De que?

Perguntou séria, enquanto o felino passava a rodear o moreno, emitindo um rosnado baixo. Desejando que o jovem cometesse algum deslize e virasse seu novo brinquedo de arranhar. Torcendo para que isso ocorresse.

Ao fitar a impassibilidade da mulher, percebeu de imediato que aquilo tudo não seria nada fácil. Ainda que fizesse o máximo de si, enfrentaria complexas dificuldades antes de obter seu objeto tão almejado para que a permissão fosse-lhe concedida a viajar e lutar sem preocupar-se com a polícia. As coisas piorariam para seu lado, afinal, tinha a consciência do possível ódio de Tompson para com os Gladiadores, isso se esta réplica humana de demônio não passasse a simplesmente rir da sua cara.

Ele encarava a Comandante de frente, sem intimidar-se por seu olhar ou tampouco por seu felino, ainda que houvesse uma probabilidade de servir-lhe de ração a qualquer momento. Nunca temera algum perigo, não seria uma suposta agente da lei que o faria fraquejar agora. Não era desafiador, mas sim paciente e tranquilo.

Nisso, a mulher investiu com um chicote para cima de si. Ou, ao menos, era o que o rapaz pensava. Ele não se moveu, apenas esperou para receber o golpe ou simplesmente tê-lo desviado. Sua expressão facial não alterava-se, ainda que a situação estivesse começando a ferver.

O objeto estalou fortemente contra a porta semi-aberta, ocasionando um pequeno estrondo que despertou a atenção das pessoas e pokémons próximos. A corrente de ar que impactou contra a face pálida fora quase uma ameaça, um ato de alerta. Por muito pouco, aquela arrogante cadete não recebeu uma boa resposta provinda do rapaz, que a fitava do mesmo modo desde que focara sua direção em Tompson.

Ah, Angélica... Se estiver pretendendo me abalar ou instruir o medo a penetrar minha mente e alma... Precisará fazer bem melhor que isso.

O pensamento corroeu sua mente e bailou por entre seus neurônios. Ele não se expressava, não existiam modificações físicas no rapaz. Seu interior ardia em chamas, porém, não poderia permitir-se dar o luxo de demonstrar todos os seus sentimentos. Não seria louco de ser uma prateleira aberta para que pudesse ser explorado com extrema facilidade.

- Isso não se repetirá. Perdoe-me. – Pronunciou-se apenas mais uma única vez no minuto, quase em um murmúrio.

Ele apercebeu-se do felino que agora o rodeava. A pelagem amarelada, captada por sua visão periférica, denunciava-lhe a posição do animal. O ronronar do espécime em reação às falas de Tompson o faziam ter um básico escárnio para com o Persian, ainda que apenas em pensamentos.

Um dia, você ainda vai virar tapete, seu bicho infeliz...

Ele fitou a mulher que agora retomava sua postura ereta, observando a íris da morena alterar-se de foco. De imediato, lembrou-se da posição do relógio e considerou que seria para lá que esta dirigia sua atenção. E suas suspeitas foram confirmadas com o próximo comentário da jovem, que ressoaram por todo o saguão. A agitação suprema no local indicava a movimentação dos Cadetes para retornarem às suas usuais atividades, estas possivelmente interrompidas após ter tido a coragem – ou loucura momentânea – de abrir a porta de Tompson.

Buscou ignorar a óbvia avaliação da comandante quanto a seu físico. Céus, conseguia ser até mesmo mais discreto e ágil do que esta temida mulher nesse tipo de ato. Talvez, as pessoas estivessem superestimando demais uma pessoa tão simples. Qualquer um conseguiria chegar até seu posto caso mantivesse a personalidade fria, cínica, dura.

Se tentasse, não possuía muitas dúvidas que poderia e derrubar deste posto com relativa velocidade.

Bem, isso não lhe importava agora. Afinal, a garota poderia ter mais características que não tivera a capacidade de captar... Por enquanto. Seria fácil reparar em deslizes de seu psicológico durante a prova, ou, pelo menos, era assim que o moreno julgava, precipitadamente. Mentalmente.

Ele respirou profundamente após o último questionamento, ignorando por completo os baixos rosnados que seu predador emitia.

- Gladiador. – Esta foi a única palavra que escapou de sua garganta e o rapaz retornou aos braços de seu silêncio usual.

Parte de si já possuía a consciência da possível reação que obteria por parte da Comandante, no entanto, nada o faria mudar de ideia e essa mulher não poderia negar-lhe o teste apenas pelo caminho escolhido. Também tinha a certeza de que esta, no momento, estava livre, visto que o contrário se demonstraria de início com um alerta e uma dispensa.

Agora sim, Angélica Tompson seria obrigada a o engolir.

Se tratado da comandante Tompson, nada seria simples ou fácil. Conseguir a licença e o direito de carregar um Pokémon consigo poderia exigir mais paciência do que o rapaz havia pensado.

Ao contrario de muitas pessoas, Haineko observava a capitã de frente, sem medo, mas sem ser desafiador. Mantinha-se calmo e tranquilo, sem alterar a expressão ou a sua postura. Por fora, permanecia imutável, por dentro, sentia que as coisas começavam a ferver, isso se já não estivessem fervendo.

Era difícil dizer qual dos dois era mais inabalável. Ambos mantinham seus olhares imutáveis desde o começo. A mais velha, de forma bruta e até sádica, testando o jovem. O aspirante a gladiador, desejando derrubar a face durona da capitã pelo pensamento, mas não permitia que seus sentimentos fossem notados com facilidade.

Com pensamentos nada amigáveis para com o felino, ficou em silencio, aguardando enquanto vários pensamentos preenchiam sua mente. Acreditando que poderia tirar a mulher do posto com velocidade e que, durante a prova, poderia perceber deslizes no psicológico da morena. Respondia de forma direta, voltando ao silencio.

Imaginava os tipos de reações que Tompson teria. Poderia negar a prova, começar um ataque de risos, mas ela não pareceu se impressionar com a escolha. Apenas revirou os olhos, acostumada a jovens desejando seguir tal caminho, estando mais entediada aparentemente.

-Identifique-se e me diga por qual motivo deseja licença para ser um Gladiador.

Novamente, dizia como se fosse uma ordem. Sem comentários sobre sua aparência ser mais digna de um Stylist, ou qualquer comentário semelhante.

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Não comentou nada a respeito, mas certa parte de seu pensamento se abalou com a sutil reação de um girar de olhos. Não era como se aquilo o desmotivasse, não mesmo. Mas, sinceramente? Aquele mero ato acabara de desbancar boas pesquisas que concluíra sobre Tompson. Nesse exato momento, o rapaz apagara os traços que tinha a certeza que conhecia sobre a mulher, optando apenas por decifrá-la ao máximo durante a prova.

Ele conteu um sorriso.

Aquilo poderia ser divertido.

Com o novo questionamento, um suspiro inconsciente e baixo partiu dos lábios do moreno. Sinceramente? Não acreditava que realmente precisasse responder a tão inútil pergunta. Em que aquilo ajudaria? Muita coisa, provavelmente. Porém, cada classe é bem óbvia a qual caminho seguir. Cadetes? Patético. Querer justiça, enquanto seus reais objetivos podem simplesmente resumir-se ao poder. Stylists? Entreter a plateia, obter a glória, a felicidade alheia. A fama. Gladiadores? Oras, não é óbvio? A sede por sangue, por vitórias. Esta era uma estrutura inabalável, algo que sempre essa mulher encontraria em finais respostas de cada classe, não importando de qual modo seja dita. Fisicamente, mentalmente, verbalmente. Era tolice pensar que Angélica rebaixara-se a questionar um motivo tolo para aplicar uma mera prova, visto que uma simples fala sobre a finalidade de cada ordem acarretasse em possível admissão. O que esta mulher arrogante pensava que poderia surgir como resposta? “Quero abalar a estrutura do mundo e obter uma nova hierarquia.”? Bobagem.

Bem, acontece que, desta vez, seria diferente.

O rapaz perdia-se em pensamentos por alguns momentos. Como poderia responder devidamente esta resposta? Tinha quase a certeza de que qualquer coisa faria a mulher ceder à prova, no entanto, não poderia se dar o luxo de lançar seu destino nos braços da sorte. Deveria ser algo calculado, como sempre fizera.

Deveria tentar uma base sólida.

- Haineko Minazuki – Começou meramente pelo começo, enquanto seus pensamentos trabalhavam velozmente em busca de uma cartada final... Para esta etapa – Meus motivos... Eu... – Ele respirou profundamente, antes de focar-se novamente nas orbes violetas ensanguentadas da mulher – Eu não acredito que realmente existam motivos – Seu timbre era calmo e um pouco baixo, mas não ao ponto de que fosse necessário Tompson esforçar-se para compreender. Era natural. Seria tolice dar-se ao luxo de buscar que ela entendesse por si própria, visto que o interessado ali seria o próprio que esta simples criatura vos narra. O rapaz buscava principalmente não deixar vazar seus verdadeiros pensamentos, afinal, não pretendia soar como psicopata, maníaco ou até mesmo homicida na frente da Comandante. Isso seria suicídio, além de que teria de viver sob eterna vigilância. E não era estúpido a ponto de permitir que suas expressões dominassem e o manipulassem à testemunho de mentira. Era nessas horas que sua impassibilidade mais o auxiliava, coisa que ele muito bem sabia agradecer... Secretamente. – Não é algo que vem da cabeça, mas sim da alma, do coração. Algumas coisas podem te impulsionar a seguir tal caminho durante sua história, mas, no fundo, sabemos desde o início cada coisa que queremos. Só é preciso descobrir – Suspirou - Não sei se isso é um “motivo” para a Senhorita, mas é o que eu sinto. Mas, no fundo, creio que saiba a finalidade de cada pedido para licença. Afinal, as classes sempre tem algum foco... – Falou pacientemente, percorrendo sua face com o olhar - Gladiadores batalham. Arenas e combates, talvez estes sejam meus incentivadores. – Ele concluiu, antes de finalmente silenciar-se.

Na teoria, a pergunta requeria uma resposta pessoal.
Isso não poderia ser negado... Certo?

A reação de Angélica foi, simplesmente, inesperada. O comportamento apresentado pela mulher ia contra qualquer expectativa do jovem. Aparentemente, ela se deparou com outros jovens de aparências bem mais inesperadas para as profissões desejadas. Haineko apagava as informações que tinha certeza, tentaria decifrar a personalidade da comandante durante o teste.

Uma espécie de batalha, ou um jogo, parecia se iniciar ali.

A pergunta supérflua e inútil não parecia demonstrar realmente algum sentido. Não havia motivo para a mesma, se deparando com a mesma história repetidas vezes. Era estranho ver essa pergunta ser feita, mas talvez fosse algo padrão, que a mulher tivesse que fazer sendo importante ou não.

Após algum tempo pensando em como responder, o rapaz se pronunciava calmo. Não permitia que seus pensamentos fossem vistos, não deixando parecer ser alguém que pudesse representar um perigo. Ali na academia, perante a capitã, isso seria loucura. Pacientemente dizia seus “motivos”, enquanto analisava a face da mais velha.

Ela permanecia inalterada, demonstrando frieza e tédio.

-Um rapaz que viveu, praticamente, apenas nas regiões gélidas de Shinki? Boa sorte em atravessar o Kuwabara Desert, branquinho.

Tompson se pronunciava brevemente, adentrando na sala e se dirigindo até a mesa, abrindo uma gaveta e pegando algumas folhas. Seu persian a seguindo, ronronando alegremente, ainda na esperança de receber algum comando para “brincar” com o rapaz.

-Vamos ver se você tem alguma coisa que não seja vento na cabeça.

1) Nas batalhas, certos ataques podem causar mudanças de status em seu pokémon, cite três movimentos (um especial, um físico e um de suporte) que causem no adversário o status poison e a probabilidade de causar a mudança de status.

Um raio transpassou pela alma do garoto e, enquanto Tompson caminhava pacientemente para a sala, atravessando-o com facilidade, ele estreitou suavemente o olhar. Aquela mulher... Estava brincando com a sorte. Ela não sabia o que podia fazer e não tinha certeza de quanto ela sabia de sua vida, porém, era impossível ter a consciência de suas habilidades.

Respirando fundo, retornou à sua impassibilidade e frieza, antes de dar meia volta e adentrar a sala, tocando a superfície fria da maçaneta antes de girá-la e encontrar a soleira da porta com a própria. Claramente, ligou o interruptor após fazê-lo, visto que a própria Comandante os deixara na escuridão.

Ele fitou o felino amarelado caminhar ao lado de sua dona, emitindo irritantes barulhos em constante ronronar. Se esse animal avançasse em si, não hesitaria em mata-lo... Sério. Esperou pacientemente a morena revirar uma gaveta de seu móvel plano, antes de algumas folhas serem retiradas do local.

Por muito pouco não chegou a retrucar sua fala rapidamente, porém, notou em exato momento que seria tolice fazê-lo, afinal, ainda estaria em desvantagem na Academia. É, definitivamente não se dava bem com lugares quentes... Se é que dava para entender.

Observando a questão escrita no papel, permitiu-se perder em lembranças, buscando neste mar de imagens uma resposta coerente com tal frase inicial. Por fim, apoiou o papel na mesa, escrevendo rápidas e simples linhas. Era melhor assim; O silêncio deveria reinar no local e, com sorte, terminaria aquilo mais rápido do que o previsto.

1) Poison Tail. É um tipo de movimento físico, podendo causar um dano crítico e possuindo 10% de chances de envenenar o alvo.

Poison Powder. É um tipo de movimento de status – suporte -, com 100% de chances de ocasionar envenenamento no alvo, caso consiga o acerto. Não possui nenhum dano adicional.

Sludge Wave. É um tipo de movimento especial, com 10% de chances de envenenar o alvo.

Ele não acrescentou mais nada, pois isso era tudo que Tompson havia pedido na questão. Essa havia sido extremamente fácil... Permaneceu observando a mulher ao virar o papel de ponta cabeça para que assim ela pudesse ler com apenas um simples passar de olhos, impassível.

Seria assim por todo o teste?

Tompson conseguia fazer com que pensamentos hostis preenchessem a mente de Haineko. O jovem estreitava o olhar, sem saber o quanto ela sabia de sua vida ou do que era capaz, mas tinha certeza de que a mulher desconhecia suas habilidades. Ela não poderia saber tudo... Poderia?

O jovem fechava a porta e acendia o interruptor. A mulher não parecia se importar se, o ambiente no qual se encontrava, estivesse escuro ou claro. O aspirante a gladiador fitava o felino amarelado, tendo o desejo de matar o Pokémon, a pelagem talvez rendesse um lindo tapete, para decorar alguma casa.

Angélica parecia perita em despertar o desejo de retrucar de qualquer um, incluindo aqueles que eram submissos e nunca reagiam. Com Haineko, isso também ocorria, ao mencionar o grande deserto que, muito provavelmente, seria um grande obstaculo. O rapaz não combinava com o calor.

Respondia a pergunta em silencio, sendo direto. A questão não foi desafiadora. Os olhos róseos ensanguentados da capitã passaram pelas letras, analisando brevemente a resposta.

-Correto. Próxima!

Dizia, sem demonstrar alguma reação, apenas a frieza de sempre, enquanto tirava outra folha com outra questão. O persian deitava-se no chão, próximo de Angélica.

2) “Pokémon do tipo Grass/Poison, podem ser encontrados em pequenos grupos e são altamente territoriais. Vivem em florestas ou pântanos e se alimentam de insetos ou de presas maiores, podendo digerir até aço com os seus ácidos internos super potentes. Quanto mais presas digeridas, mais doce é o aroma de seu acido.” Estas informações descrevem qual Pokémon? Onde ele é encontrado em Shinki e quais a probabilidades de encontrá-lo? Se tiver, fale sobre sua cadeia evolutiva.

Observando a próxima questão, o rapaz hesitou por algum tempo. Nunca mais iria cantar vitória antes da hora. Ele respirou profundamente, perdendo-se em pensamentos. A questão era bem elaborada e, sinceramente, chegava a confundir o moreno. Onde já havia lido isso antes, se é que já o fizera?

Graças aos tipos, já poderia riscar uma boa parcela de pokémons de sua lista, mas isso não amenizava seu trabalho completamente. No entanto, não poderia dar-se ao luxo de dar o prazer do erro à Tompson. Se negaria a perder até mesmo uma minúscula partícula de pontuação nesse teste.

Foram alguns segundos perdidos, antes de algo chamar sua atenção. “Quanto mais presas digeridas, mais doce é o aroma de seu acido.”. Não era o resto que o auxiliaria a desvendar esse animal, mas sim, essa simples frase banhada em sutileza.

Mesmo com essa pequena sorte, ele não sorriu. Limitou-se a tornar a escrever no papel, pois era a única coisa que o faria avançar nesta prova.

2) O Pokémon a qual as informações se referem é Victreebel – Utsubot -. Ele não poderá ser encontrado em Shinki, mas há a possibilidade de encontrar Bellsprouts na Seimei Forest, com 15% de chances. Também é possível encontrar sua evolução posterior, Weepinbell, caso ocorra a evolução de Bellsprouts em Seimei.

Victreebel só poderá ser encontrado em Shinki nas seguintes ocasiões:
- Quando Bellsprouts que evoluíram em Weepinbell's encontrem uma Leaf Stone.
- Quando não é um pokémon selvagem e seu Mestre possua uma Leaf Stone durante a etapa Weepinbell da cadeia evolutiva do animal.

Ele é o último de sua cadeia evolutiva, sendo esta:
Bellsprout – Weepinbell – Victreebel.

Bellsprout possuí um corpo mole e fino, fazendo uso de seus pés para se reabastecer com água, assim como estes servem de isolante para com a eletricidade. Sua metamorfose ocorre quando o animal atinge o nível 21.

Weepinbell já possuí um ácido interno, exalando um líquido neutralizante para impedir que o próprio corpo seja derretido por seu ácido. Os músculos de sua boca são bastante desenvolvidos. Sua passagem para a última transformação ocorre quando o animal entra em contato com uma Leaf Stone.

Victreebel é a última evolução, cujas características estão contidas na questão em si.

Novamente, virou a folha na direção da morena, paciente. Estaria correto?
Esperava que sim.

A questão fez com que Haineko ficasse algum tempo pensativo. Cantar vitória antes da hora, não era aconselhável. A quantidade de informações dadas chegavam a confundir a mente do rapaz.  A pergunta se mostrou bem elaborada e exigindo conhecimento detalhado sobre os Pokémon.

O aspirante a gladiador se recusava a perder até mesmo 0,1 ponto naquela prova, não se permitia errar. Para sua sorte, uma frase o fez recordar de um ser especifico, sendo a “chave” para descobrir qual era o ser. Respondia a questão e virava para ser avaliada.

Novamente, os olhos de Angélica observavam a resposta, analisando com atenção. A mulher se pronunciava novamente, mas sem demonstrar descontentamento ou felicidade. Mantinha-se indecifrável.

-Correto. Próxima!

3) Ataque tipo normal em que o usuário cria lâminas brilhantes e cortantes que são lançadas em direção do alvo. Em Pokémon alados cria-se uma corrente de ar contendo tais lâminas. Movimento do tipo especial, com poder ??? e accuracy 100. Efeito adicional: ???
Bulbasaur e Totodile são dois exemplos que podem aprender este movimento por Egg move.
Que movimento é esse? A base do Power? Qual o efeito adicional? Diga 5 Pokémon que aprendem por nível e em qual nível aprendem.

Um suspiro aliviado ficou preso em sua garganta após a correção da questão. Bem, pelo menos, todo seu esforço não havia sido em vão. De todo modo, não poderia ter sossego por enquanto, principalmente quando Tompson apenas corrigia a resposta que entregava, rabiscava uma nova pergunta e dava-lhe para responder.

Tal ciclo poderia chegar a ser cansativo mais tarde, porém, não era hora para pensar nisso. Era hora apenas de pensar, escrever, entregar.

Observou a mais nova pergunta feita, suspirando baixo. Demorou em torno de dois minutos antes de virar novamente a folha, desta vez com suas anotações, para Angélica.

O movimento cujas informações são citadas é Razor Wind. Sua base de poder é 80 e, como efeito adicional, possui chances elevadas de ocasionar um dano crítico.

Cinco pokémons que aprendem este movimento por nível são:
- Pidove, no nível 32.
- Scizor, no nível 33.
- Nuzleaf, no nível 37.
- Floatzel, no nível 41.
- Absol, no nível 57.

Haineko sentiu um alivio ao descobrir que havia acertado a questão demoníaca, embora não tenha demonstrado. Seu esforço e estudo não haviam sido em vão, muito pelo contrario, ajudavam imenso naquele momento. Infelizmente, Angélica não dava trégua, lançando mais uma pergunta.

Aquele ciclo se repetiria algumas vezes ainda, mas não podia pensar nisso. Respondia a nova questão e a virava para a capitã, que novamente avaliava em silêncio.

-Correto. Próxima!

4) Os Pokémon Eevee, Axew e Riolu, são dados como prêmio para aqueles que atingirem o terceiro rank da classe Styist, Gladiador e Cadete, respectivamente. Estes Pokémon podem ser encontrados no meio selvagem, ou adquiridos de alguma outra forma? Se sim, em qual local e qual probabilidade de encontro? Onde mais é possível e como é possível conseguir um?

Ele encarou a mais nova questão por algum tempo, um tanto quanto hesitante em sua resposta. Perguntas desse tipo eram terríveis, mas, já que eram necessárias, o que poderia fazer? Não era louco o suficiente para errar propositalmente.

Respirando fundo, emergiu em seus pensamentos, em silêncio. Agora, apenas existiam ele, a caneta e o papel. Não tinha a certeza sobre a resposta, no entanto, precisaria raciocinar e lembrar-se bem de cada coisa, do contrário, todo seu esforço até o momento teria sido em vão.

Embateu levemente a ponta da caneta na folha à sua frente por algum tempo, antes de inclinar-se um pouco e tornar a escrever, impassível.

Sim, é possível adquirir estes pokémons, sem ser necessário atingir o Terceiro Rank. Tanto Axew quanto Riolu podem ser capturados no The Village Of Fire, com 5% de possibilidade de encontro. Eevee também possui a mesma porcentagem, no entanto, é encontrado no Holy Garden. Também é possível obter estes pokémons através de Breeding ou de Troca, além de que, com um pouco de sorte, poderá encontrar algum no Orfanato Pokémon.

Mais uma questão cansativa aparecia, para testar e chatear o rapaz. A questão extensa parecia pedir para o moreno errar de propósito, sendo mais simples, mas Haineko não pretendia fazer isso.

Vasculhava sua mente, tentava responder, escrevendo conforme as informações surgiam em sua mente. Estava incerto, mas terminava de responder, deixando a mulher avaliar. Angélica demorou um pouco mais de tempo para dar alguma informação, dizendo se estava certa ou errada.

-0,5 pela questão. Acertou os locais e probabilidades, mas minhas fontes informam que, os ousados que enfrentam as arenas ilegais, recebem um destes seres como prêmio. Saiba que se eu suspeitar que você tenha entrado em uma destas arenas, será jantar do meu Houndoom.

5) Qual destes Pokémon, é o mais raro de ser encontrado:
a) Litwick
b) Tyrogue
c) Magikarp
d) Sentret
e) Tentacool

Ao perceber o erro que havia feito, o rapaz permaneceu calmo. Além de ser apenas meia questão, falava justamente sobre Arenas Ilegais. Não pretendia demonstrar todos os seus conhecimentos sobre tais locais, e pagar como pato por supostamente não ter o conhecimento de mais este local não era tão ruim. Seria menos vigiado, afinal. Infelicidade, no entanto, era saber que Tompson possuía conhecimento de tais mundos ‘inferiores’.

O moreno não se intimidou pela ameaça. Pelo contrário, apenas a ignorou e voltou sua atenção para o papel, pacientemente, lendo a questão e rabiscando o item correto rapidamente, antes de entregar novamente a folha.

C) Magikarp

Embora agora pudesse se passar por um rapaz desinformado sobre as arenas ilegais, sendo menos vigiado, Haineko sentia-se desanimado por Angélica conhecer sobre as mesmas. Apesar da ameaça, não se intimidava, continuando a prova.

-Correto. Próxima!

6) Existem muitos itens espalhados por todos os lugares, alguns deles são fabricados, outros são naturais. De um exemplo de um item natural que sirva para recuperar HP do pokémon.

Ele encarou o papel, rabiscou uma resposta e revirou a folha para que a morena pudesse corrigir. Neste momento, questionava-se quantas mais questões faltariam para que aquela cansativa prova finalmente se findasse.

Um breve suspiro se entalou na garganta do rapaz.

Oran Berry. Recupera 10% do HP. Possui uma mistura de sabores que se espalha na boca. Costuma crescer muito ao meio-dia.

Haineko começava a ficar cansado, questionando-se quantas questões teria que acertar para poder ter sua licença. Algum fim teria que ter...

-Correto. Próxima!

7) Suponha que um Gladiador, rank Lorde, esteja enfrentando um duelo com seu Rufflet, pokémon do tipo normal e voador que evolui por nível. Seu pokémon necessita de 200 pontos de experiência para evoluir. O adversário utiliza um Hitmochan. Caso o gladiador vencesse a batalha, seu Rufflet receberia 300 de experiência. Entretanto, a certeza de que um pokémon voador venceria facilmente um lutador fez o Lorde assumir uma postura imprudente e arriscar um ataque de contato. Para sua surpresa, o adversário conhecia o movimento ThunderPunch, derrotando facilmente o Rufflet. Após o desafio, Rufflet irá evoluir? Justifique

Ele observou a questão. Enfim, algo com conteúdo. Quer dizer, pelo menos, aos olhos do rapaz. O moreno fez suaves movimentos com a mão, um tanto quanto cansado de escrever tanto. Talvez, seu silêncio completo e foco na escrita tivessem sido um tanto quanto... Precipitados.

Procurou ignorar, pensando consigo mesmo que poderia estar mais perto do fim do que imaginava. Não fazia sentido desistir agora, não teria motivos para abandonar seus tremendos progressos já feitos.

Não fazia sentido obrigar Tompson a perder seu tempo com um desistente, enquanto tantas outras pessoas a aguardavam lá fora.

Escreveu rapidamente sua resposta, a revisando antes de, enfim, entregá-la à morena.

Não, Rufflet não possuiria a capacidade de evoluir. Primeiro: Mesmo que fosse possível alcançar a experiência desejada – O que não é, pois um derrotado não iria adquirir experiência -, um Pokémon nocauteado não poderia ter a chance evoluir. A ave necessitaria ser tratada e ir à um novo combate – além de obter a vitória -, caso desejasse fazê-lo.

Finalmente uma questão que havia algum conteúdo, ao ver do moreno já cansado de tanto escrever. O teste se tornou cansativo, desanimador.

A possibilidade de estar se aproximando do final animava o jovem. Não devia faltar muito. Foi longe demais para desistir agora, fazendo ser apenas perda de tempo da capitã e aumentando a ansiedade dos outros jovens.

-Hum... Está certo, entretanto, perde pontos. Mesmo perdendo, o pokémon receberia experiência. 1/4 para ser mais exata. Tem certeza de que quer continuar no teste?

A pergunta direta soava mais fria que o costume de Angélica.

Por meio segundo, o moreno congelou ao ouvir a resposta de Tompson. Sua mente embaralhou rapidamente, e ele precisou engolir um suspiro pesado para não acabar perdendo o controle de suas palavras. O que havia feito? Tinha consciência do ganho de experiência dos pokémons, no entanto, aparentemente, escrevera exatamente o contrário.

Pela primeira vez, sua mente parecia cansada, dependente de um relaxamento. Haviam sido muitas questões que necessitavam de um longo pensamento para que as respostas pudessem se esvair para o papel. Sinceramente? Fazia um bom tempo que não se sentia tão estúpido.

Errar uma coisa que tinha a certeza da resposta.

O rapaz mordeu fracamente a própria língua, silencioso. Desviou o olhar da mesa para encarar Tompson, que agora o fitava friamente. Foi preciso muito autocontrole para não responder de modo extremamente frio e grosseiro na frente da Comandante mas, sinceramente, não estava lá com muita paciência para aturar esse tipo de tolice, ainda mais após ter feito algo frustrante para a própria mente.

- Não teria sentido vir até aqui para desistir à essa altura. Continuemos isso, por favor. – Haineko retrucou pacientemente, ainda que seu cérebro gritasse para que fizesse o contrário. O puro ódio fervia em seu sangue, em completo contraste com sua expressão fria e imutável, tal como o gelo.

Enquanto esperava a continuação do ato, ele relaxou finalmente, buscando refrescar os pensamentos e também seu pulso, que há tanto implorava por alguns segundos de pausa. Ignorava a frieza de Tompson, o sadismo de seu felino. Tudo que precisava agora, bem, era concentração.

Como se sairia nesses, com sorte, últimos momentos?

O choque de ter cometido um erro, mesmo que parcial e pequeno, foi o suficiente para embaralhar sua mente. Era inteligente, mas os livros se embaralhavam em sua cabeça. O teste já estava o cansando, esgotando, fazendo-o cometer deslizes durante a prova. Necessitava de alguns minutos de folga, mas isso não era permitido ali, naquele momento.

Teve que morder a língua fracamente, trancando um suspiro pesado em sua garganta. Mantinha-se no mais completo silencio. Tinha vontade de responder, mas se conteve. Respondendo pacientemente, embora sua mente gritasse para reagir. O ódio correndo por suas veias.

Tentou relaxar por alguns instantes, mas ao ouvir a resposta, Angélica logo se pronunciava.

-Melhor não desperdiçar mesmo meu tempo. Próxima questão!

Aparentemente, a mente do rapaz não iria ter trégua até encerrar aquele teste maldito.

8] Dadas as informações: “Suas asas são realmente oca, apesar de sua aparência, o que lhes permite viajar até 180 mph (300 km / h). Apesar de ter sido coberto com uma armadura extremamente durável, ??? são surpreendentemente rápido em voo. São altamente territoriais e atacam quem os ameaça. Eles também optam por construir seus ninhos de espinhos afiados. Podem levar os seus treinadores em voo.” Responda:
a) Que Pokémon é este?
b) Se existir, onde é encontrado em Shinki?
c) Se possuir, qual a sua cadeia evolutiva e como evolui?
d) Se possuir, diga pelo menos duas imunidades.

Logo, a chance de recuperar-se de tantos escorregões aparecia-lhe. Já havia perdido um ponto inteiro, caso fosse contar tudo até o momento. Necessitaria acertar consecutivamente caso quisesse míseros 90% de conclusão. Sem mais apressar-se, o rapaz avaliou a questão por alguns segundos. Não foi necessário perder-se em pensamentos. De algum modo, aquela questão parecia ser clara, justamente por culpa das informações. Bem, o que mais restava-lhe, que não escrever e se concentrar?

Ele não mais se importava com Tompson ou seu felino, mas sim com o próprio orgulho, que recebera bastantes ofensivas em tão curto espaço de tempo. Agora, outra coisa também lhe vinha à mente. Só o que faltava, era que a Comandante pudesse ler pensamentos. Quer dizer, mesmo que nada esvaísse por suas expressões, aquela estranha mulher parecia saber exatamente o que passava por sua cabeça. Urgentemente, necessitava saber mais coisas sobre esta morena atrevida.

Por fim, focou-se apenas na questão e, enquanto a ponta da caneta percorria a calma travessia pelo papel, o rapaz submergia em lembranças. Lembranças estas que poderiam mostrar-se de grande auxílio para o tempo que ainda possuía com aquela mulher.

A) Skarmory
B) Pode ser encontrado em Kalled City.
C) Não há.
D) Poison/Ground.

Hesitando por alguns momentos, ainda que bem mais tranquilo que pouco antes, o rapaz separou a caneta do papel, virando-o na direção da Oficial e aguardando em completo silêncio.

Aguardando o julgamento para o avanço.