Loneliness

A adolescente sorria ao mirar a placa da joalheria. Uma ideia de repente surgindo em sua mente. Logo depois, os orbes dourados vasculharam a região atrás de um objeto grande para quebrar a vitrine e causar uma pequena distração. O guarda-chuva era fechado. Kate teria de se molhar, já que o objeto a atrapalharia no momento.

Após caminhar até o final da quadra, a jovem achou o que procurava: uma lata de lixo que alcançava sua cintura e cheia até a metade, ou seja, pesada o suficiente. O lixo também era um bônus, já que os cadetes atraídos teriam de identificar se não haveria nenhuma pista sobre o suspeito. Depois de puxar a dita lata e coloca-la perto da vitrine, garantindo assim que Poochyena acertaria o alvo, Kate voltou para o final da quadra, ficando oculta no beco.

O comando foi dado e a lata voou após o impacto do Astonish e atingiu a vitrine. Os cacos de vidro atingiram o chão ao mesmo tempo em que o alarme soava alto. Poochyena saiu correndo antes mesmo da lata atingir a vitrine. Correndo perto dos prédios para se aproveitar das sombras, Kate viu quando dois Swellows passaram voando sobre os edifícios, em direção a joalheria. Certamente mais cadetes estariam por lá. A distração deu certo, mas a questão era o quanto deu certo. Quantos cadetes teriam ido verificar o motivo do alarme? E quanto a chuva atrapalharia o faro dos pokémons cadetes de lhe perseguirem?

Balançando a cabeça, Kate pensou na parte dois do plano: chegar na delegacia. Parte executada sem maiores problemas. O prédio alto agora estava bem a sua frente e sem nenhum guarda. Contudo a porta de trás era protegida por uma grade e cadeado, assim como as janelas, o que explicava a falta de guardas. Um tubo, possivelmente para escoamento de água, estava preso por toda a altura do prédio. Kate mirava janela por janela, porém todas estavam fechadas e todas apresentavam grades. O que era deprimente. Aparentemente a única sem trava era uma pequena no quarto andar, que estava levemente aberta. Kate observava, mas temia ficar presa na abertura tão pequena. Olhando ao redor a jovem só identificava duas latas de lixo vazias no beco escuro. Poochyena a seu lado esperava o próximo comando, que deveria vir rápido antes que alguém os percebesse nos fundos da delegacia.

Kate agradecia sua capa, sempre fornecendo uma boa proteção contra a água e o vento, apesar de não ser completa, ajudava em muito. A lata com lixo funcionaria bem, já que os cadetes teriam que vasculhar mais e o odor, somado com a chuva, ajudaria a disfarçar o seu rastro. O alarme não era nada discreto, quem sabe chamasse atenção de alguns civis, dando uma distração extra aos cadetes? Seria bom, mas talvez a morena não desse tanta sorte.

A morena e Pokémon corriam, usando as sombras para se ocultar melhor, vendo alguns Swellows voando e acelerando mais o passo após a visão. Agora era questão de ter sorte de vários cadetes irem investigar, visto que era uma joalheria e devia ter alguns itens caros.

A segunda parte foi fácil, chegando rapidamente na delegacia. Nada de guardas, ponto bom! Portas e janelas estavam com grades e trancadas, ponto ruim... Gray franziu a fronte, pensando no que fazer, olhando a pequena janela. Sabia que era magra, mas era tanto assim? Respirou fundo, tirando a capa e amarrando-a, formando uma espécie de “saco”, podendo escalar e levar a Pokémon junto ao mesmo tempo. Sempre teve facilidade em escalar, mas escalar em uma tempestade enquanto carrega um Pokémon consigo não sabia dizer...

Rezando para que sua distração tivesse atraído muitos cadetes, a adolescente retirava a capa que lhe fornecera proteção e a amarrara simulando um saco. Poochyena ficou relutante em ser carregada durante uma escalada de quatro andares, mas devido a falta de opção, aceitou o desafio. Kate mirou mais uma vez a janela e, apoiando as mãos no cano, começou a subir.

A água e o peso extra dificultavam gravemente a situação, entretanto a menina não desistia. Poochyena choramingava, colocando a pata no braço de Kate. O medo da Pokémon era justificável, já que a queda machucaria as duas seriamente. Gray disse algumas palavras de consolo e voltava sua atenção para a escalada. As grades próximas ajudavam a distribuir o peso, até porque o cano às vezes rangia, portanto não seria bom exagerar.

Ao alcançar a janela, a adolescente sentiu-se aliviada. Lentamente, debruçou-se no parapeito e mirou o interior. Seus olhos encontraram um pequeno banheiro, com a luz apagada e a porta fechada. A pia estava pingando e o som da descarga ainda era ouvido, evidenciando que alguém estivera ali há pouco tempo.

Após confirmar que estava tudo vazio e, obviamente, sem câmeras, Kate lançou Poochyena, com capa e tudo, para dentro do lugar. A cachorrinha correu para perto da porta, tentando ouvir se estava tudo seguro. Com a Pokémon já no interior, Kate lançou a mochila para dentro do banheiro e preparou-se para a parte mais difícil: ela mesma entrar. Primeiro os braços, a cabeça, o tronco... O espaço era curto e incrivelmente apertado, exigindo certo esforço. Quando o quadril tentou passar, encontrou certa dificuldade e Kate sentiu-se entalada. Poochyena a mirou intrigada.

Escalar um prédio de quatro andares, sem nenhuma segurança, geralmente não se mostrava um desafio para a adolescente. No entanto, escalar um prédio de quatro andares, sem nenhuma segurança, durante uma tempestade, tendo que carregar um Pokémon consigo, já era outra história...

A água era o que mais atrapalhava, dificultando a visão e tornando tudo escorregadio. Tentava se mover com cuidado, para tentar evitar que a Poochyena caísse, mas ela ainda parecia com medo. A morena não a culpava, tentando acalmar a Pokémon. Evitava pensar na queda, isso não ajudaria muito, usando as grades várias vezes como apoio.

Finalmente chegava ao seu objetivo, olhando para o interior da janela e verificando se estava tudo bem. Um pequeno banheiro vazio, quase perfeito. Seria melhor se fosse a sala com o documento que teria que pegar, mas é a vida... Poochyena era jogada para dentro, junto com a capa molhada. A Pokémon verificando se não havia ninguém se aproximando. Mochila dentro também. Agora colocar o próprio corpo para dentro. Conforme conseguia passar, Kate se animava, pensando que talvez tivesse se preocupado a toa, mas a história mudava quando era a vez do quadril. Estava entalada... A morena fechou a cara, não achando a menor graça da situação. Apontou rapidamente para a mochila, num pedido silencioso para que a canina a alcançasse. Pegava a corda que estava no interior, segurando firmemente uma ponta, enquanto jogava a outra para a Pokémon Dark, pedindo para que esta puxasse de leve. O objetivo era apenas fazer com que seu quadril passasse e Kate pudesse entrar finalmente. Se desse tudo certo, a morena primeiro fecharia a porta, se secaria rapidamente, secando Poochyena em seguida. Não queria deixar uma trilha de água por onde passava.

O puxa e puxa era quase tão desagradável quanto ficar entalada. Kate segurava a corda com força e Poochyena fazia força para ajudar, contudo a janela parecia realmente pequena para o quadril de Kate. O medo que alguém chegasse e as visse na situação fazia as duas darem tudo de si para que a adolescente entrasse logo no prédio. Depois de algumas tentativas, finalmente o último puxão e a morena estava dentro do banheiro. Poochyena tapou os olhos ao perceber que parte das calças da adolescente tinham sido arrastadas e garantiu um pouco de privacidade para a morena se arrumar mais uma vez. Enquanto se arrumava, após trancar a porta, Kate constatou que arranhara os dois lados do quadril para conseguir entrar. Sair por aquela janela seria praticamente impossível.

Triste com o fato, a morena terminou de tirar os sapatos e as calças, aproveitando para torcer uma por uma de suas roupas sobre a pia do banheiro. A quantidade de água retirada de suas meias era alarmante. Poochyena revirava os olhos um pouco constrangida, mas mantinha as orelhas atentas a qualquer ruído.

Após vestir as calças, as meias e os tênis novamente, a morena tratou de espremer o cabelo, a camiseta e a capa.  Muita água em muita pouca roupa. Com as vestimentas sem ficar pingando água, Kate tratou de acabar com todo estoque de papel higiênico e para secar mãos que encontrou, garantindo que ela e Poochyena estavam o mais secas possível. Agora era hora de pensar em como descer um andar e achar a sala.

A porta era aberta com cautela e o corredor era analisado por uma fresta minúscula. Nenhuma câmera ao alcance dos olhos de Kate. No final do corredor, uma porta que indicava um refeitório, possivelmente com diversas máquinas e uma cafeteira. Do outro lado do corredor, quatro salas com portas fechadas no mesmo lado em que o banheiro e outras três a frente dessas. Bem no final deste lado, uma escada para o andar de baixo. Do refeitório saia uma luz fraca e som de televisão, aparentemente os cadetes que restaram estavam vendo a novela...

Ficar entalada ou ser puxada, o que era pior? Eis a questão... Kate começava a amaldiçoar seu próprio quadril, não querendo acreditar que este estava tão preso assim. Porque não colocaram uma janela maior?! A adolescente torcia para que ninguém entrasse naquele momento. Seria, no mínimo, humilhante...

Por sorte, finalmente estava dentro. Porta trancada, garantindo privacidade, mas agora seu quadril estava arranhado, além de que teria que buscar outra rota de fuga... Parecia estar sem sorte. O frio e a água eram um incomodo, a morena não estava a vontade com a ideia de deixar uma trilha de água para trás, começando a se secar, não se importando com a Pokémon que estava presente, focando-se mais na quantidade de água que tirava de suas vestes.

Kate, após estar seca e vestida e ter secado um pouco a Pokémon, abria a porta e analisava o corredor. O som de uma novela chegava aos seus ouvidos, fazendo-a arquear uma sobrancelha. Entalou na janela, cadetes assistindo novela, e não podia esquecer-se de comprar canela... Seriam necessários muitos drinques para que esta situação parecesse mais plausível...

Silenciosamente, Kate saia do banheiro e se dirigia para a escada. Poochyena ao seu lado, o faro e orelhas atentos. Com sorte, muitos cadetes estariam assistindo a novela, deixando boa parte da delegacia vazia.

Os passos de Kate e Poochyena eram silenciosos e lentos. Tudo para causar o mínimo de ruído possível. De repente a canina parou, com um principio de rosnado que não poderia ser ouvido por quem não prestasse atenção. Os pés de Kate pararam de avançar e se concentraram na escada. Para a tristeza da adolescente, dois cadetes subiam a escada juntos. A jovem deu um passo para trás, pensando em voltar ao banheiro, quando a porta do refeitório se abriu. Para a sorte da garota, o cadete que saia ainda conversava com os do interior. Sem tempo, a jovem entrou na sala ao lado.

Outro banheiro... Dessa vez masculino. A jovem olhou desanimada para o lugar, mas por precaução, fechou a porta e não acendeu a luz. O cheiro deste banheiro era pior do que o outro, chegando ao ponto de Poochyena espirrar duas vezes e Kate torcer o nariz. A adolescente mantinha os ouvidos colocados na porta, na esperança de ouvir quando os cadetes iriam embora. Contudo, suas esperanças se esvaíram quando a maçaneta girou e um dos homens tentou entrar.

- Ué. A porta emperrou de novo?

O cadete que tentava entrar perguntou. Os outros dois responderam que não sabiam, porém ficaram com o outro do lado de fora, conversando.

A adolescente tentava evitar todo e qualquer ruído, o que prejudicava sua velocidade. A jovem mirou a Poochyena, um pouco confusa quando esta parou, mas logo se fixou na escada. Cadetes... Era pedir demais que todos os oficiais fossem fã de novela, liberando as escadas, salas e corredores, para que ela pudesse perambular por ai sossegadamente? Sem tempo para pensar na resposta de sua pergunta retórica e com um oficial saindo do refeitório, Kate entrou na sala mais próxima.

Novamente trancada dentro de um banheiro e com luz apagada... Mas o outro cheirava melhor... Bom, em breve os cadetes iriam embora... Ou não. Porque, de tantas salas, tinha que ter entrado no banheiro masculino? E porque os oficiais tinham que ter vontade justo agora?!

-Só um minuto...

A morena respondia, a voz chorosa. Tentava tirar a lâmpada e jogá-la pela janela o mais rápido que conseguia, fazendo sinal para a Pokémon se esconder. Puxava a descarga e lavava as mãos, o plano já em mente, mas sendo constantemente repassado. Respirou fundo e abria a porta.

-Foi mau, o desespero era tanto que nem vi que era o banheiro errado! Nunca mais como comida chinesa na vida...

Kate dizia, respirando fundo, como se tivesse passado por algum sufoco. Uma das mãos no estomago, uma leve careta. Demonstrava calma, como se estivesse acostumada com aquele ambiente.

O plano de Kate começava a entrar em ação, embora Poochyena estivesse chocada demais para entender. Como a morena respondia para os cadetes? A canina observava em transe a adolescente retirar a lâmpada, jogá-la pela janela, puxar a descarga e lavar as mãos. Em seguida a Pokémon se escondia atrás da porta, enquanto a jovem a abria sem medo e começava seu teatro.

- Quem é você?

Um dos cadetes finalmente perguntava, após alguns minutos de confusão. Um dos outros cadetes mirava a jovem Kate de cima a baixo, tentando identificar a mentira, contudo era difícil duvidar de alguém que estava no banheiro do quarto andar. Contudo eles mantinham-se desconfiados.

A morena não prestava muita atenção na Pokémon, embora imaginasse que ela estivesse surpresa. Qualquer um que não a conhecesse bem, ou não soubesse ler mentes, provavelmente teria tal reação. Invadir a academia e ainda atender quando um oficial chama, pode ser uma grande estupidez, mas a adolescente sabia como tirar proveito disso.

Ao ouvir a pergunta do cadete, por um lado, ficou desapontada. Não queria ter que bolar respostas elaboradas. Uma história complicada poderia ficar enrolada demais. Ainda teria que atuar...

Kate se virou para eles, uma das mãos na cintura, enquanto arqueava uma das sobrancelhas. Claramente pedia alguma confirmação de que realmente havia ouvido a pergunta, classificando a questão como inútil.

-Quem sou eu? Sério que pergunta isso pra quem saiu do banheiro do quarto andar? Homens... Cada dia que passa, entendo mais o porque Angélica preferir mulheres no comando! Tenho certeza que os boatos são verdadeiros, mas fico me perguntando quem serão as novas delegadas...

A morena dizia, parecendo pensativa, como se imaginasse quem serão as escolhidas para substituir os Kibatos, antes de dar de ombros.

-Bom, não importa. Pensem melhor nas perguntas rapazes, e só adiantando, aconselho a deixar a porta do banheiro um pouco aberta antes de entrar, que o cheiro não deve estar agradável...

Após o ultimo aviso, a morena se dirigia para as escadas. Parecia estar totalmente relaxada e a vontade com o lugar. Esperava que Poochyena conseguisse sair do banheiro, enquanto os cadetes ainda estavam focados na jovem.

Enquanto Kate se afastava do banheiro e se aproximava da escada, os olhos dos cadetes a acompanhavam, ainda intrigados. Era claro para os homens que eles tinham muitas dúvidas, porém a colocação da jovem e a lembrança de que era o banheiro do quarto andar deixava a situação muito irracional. Contudo nada poderia ter sido mais letal para os oficiais do que o boato que a adolescente lançava sobre possíveis delegadas. Perdidos, os homens correram para o refeitório, a procura de Kibato para saber a veracidade dos fatos.

No terceiro andar, Kate suspirava satisfeita por sua pequena fofoca ter tido o forte resultado esperado. Pessoas que veem novela normalmente não resistem a uma pequena intriga. A adolescente mirava o longo corredor, com cinco portas de cada lado, todas fechadas, todas iguais e nenhuma identificada. Poochyena chegava logo depois, mirando a garota claramente impressionada com o desenrolar da conversa e do método para despistar os oficiais.

Alguns passos na escada indicavam que, possivelmente, os cadetes já encontraram o Kibato e agora estavam a procurando novamente, para saber mais sobre a história das delegadas e buscando a origem da informação. Kate teria de sair do corredor o mais rápido possível.

A jovem sentia os olhos dos cadetes ainda a seguindo, mas nada que um bom boato para um bando de noveleiros se distraírem por algum tempo, deixando a morena livre e possibilitando se afastar. Infelizmente, agora que Kibato estava no meio, teria que se apressar.

Quando chegou ao terceiro andar, Kate suspirava feliz. Os oficiais talvez debatessem por algum tempo sobre a veracidade de sua fofoca. Os orbes amarelados fitaram o corredor e as dez portas ao todo. Verificar sala por sala, até encontrar a porta correta... Isso não é divertido... E os cadetes noveleiros não dariam tempo, querendo saber mais da fofoca. Para a tristeza deles, a adolescente não tinha o menor interesse em enrolar mais ainda aquela história.

Se movendo de forma rápida e silenciosa, Kate entrou numa das primeiras portas que aparentasse estar vazia. Esperava ter sorte e de ser o local onde havia os casos em andamento, ou quem sabe outro banheiro para continuar sua mentira de estar mal do estômago... Se bem que uma sala com uniformes cairia muito bem também, dando alguma liberdade extra.

Com Poochyena a seu lado, Kate abriu a primeira porta a direita, esperando ansiosamente por encontrar a sala dos processos em andamento, ou de repente uma sala de uniformes, ou, na pior das hipóteses, um banheiro, já que poderia manter a mentira. Contudo, o que achou era incrivelmente decepcionante: uma sala com vassouras.

A adolescente mirou os baldes, vassouras e panos pendurados, bem como os produtos de limpeza e outros apetrechos que a jovem não reconhecia no primeiro momento. A canina ao lado foi mais prática, percebeu que não era o que buscava e, em seguida, partiu para a próxima sala. Kate, após parar de amaldiçoar sua falta de sorte mentalmente, fechou a sala de limpeza e partiu para a próxima.

Outro banheiro... Nenhum passo na escada. Saber onde poderia encontrar sua próxima desculpa era útil, contudo ainda não se fazia necessário se esconder. As primeiras portas de cada lado foram perda de tempo. Era hora de vistoriar a segunda porta do lado esquerdo e, para completo desgosto da morena que já sentia vontade de gritar, um quarto banheiro. Poochyena precisou esfregar a pata na perna da adolescente para controla-la.

Passos na escada foram ouvidos. Aparentemente maior que o do grupo original. Kate poderia tentar a sorte em uma das outras portas ou se esconder no banheiro a frente.

Kate rezava para encontrar logo a sala que buscava, ou algum uniforme que a tornasse invisível naquele lugar, mas no lugar disso, encontrou vassouras. Decepção era pouco para descrever o que a morena sentia. A porta número dois foi um pouco mais lucrativa, no entanto não era o que a jovem procurava. Apenas um banheiro, mas já serviria de esconderijo e desculpa, já que a adolescente estava “passando mal”...

Dizem que a terceira tentativa traz sorte, mas não para Gray. Mais um banheiro... Aquele local parecia ter banheiros demais... E para finalizar sua situação, mais passos no corredor. Sem pensar muito, Kate entrou no banheiro junto com a Poochyena.

Torcia para que todos passassem reto e ninguém batesse. Havia um banheiro livre próximo mesmo, então não havia motivos para baterem! Mas por precaução, já bolava algumas desculpas.

Os passos avançaram até metade do corredor em que Kate estava e a adolescente pode ouvir diversas portas sendo abertas, porém logo os cadetes pareciam perder o interesse e optar por procurar no andar de baixo.

No banheiro, Kate e Poochyena suspiraram aliviadas. Estavam livres temporariamente por mais algum tempo. Contudo seria bom tentar evitar acender mais luzes.

Cautelosamente, a dupla se retirou do banheiro. Kate abriu a terceira porta a direita, enquanto Poochyena, após um salto, abria a terceira porta a esquerda. A adolescente percebia diversos arquivos no interior de sua sala, porém, após ouvir o chamado de Poochyena, a morena virou o rosto para a sala da frente e percebia mais uma sala repleta de arquivos.

Os passos avançavam e portas eram abertas, fazendo a morena suar frio. Por sorte, quem estivesse lá logo ia embora e o som de passos se afastava. Estariam procurando por ela? Kate não sabia, mas sabia que teria que se apressar e terminar logo o que tinha ido fazer...

Ainda com cautela, adolescente e Pokémon procuravam nas próximas salas, ambas repletos de arquivos... Kate ficava em duvida de qual entrar, mas resolveu verificar a sala que Poochyena havia aberto primeiro, encostando a porta quando entrou e verificando um arquivo, tentando ver se era um caso em andamento ou se fosse algo diferente. Se não fosse o que procurava, guardaria o arquivo no lugar e iria para a outra sala.

A primeira sala de arquivos era vistoriada. Uma pasta aleatória era aberta e as informações lidas com velocidade. Muitas linhas puladas até que, na última página, a garota percebia que o caso havia sido resolvido e a pessoa descrita nas páginas estava presa. Uma segunda pasta, de um armário diferente, só para ter total certeza e, após algumas páginas, confirmou que aquela sala só possuía casos encerrados.

Sem querer perder o animo, a adolescente foi para a sala da frente e passou a verificar os arquivos encontrados. Duas ou três pastas depois, a jovem confirmou que eram casos arquivados também, simplesmente esperando encerrar o prazo para irem para o depósito.

Kate suspirou desanimada e debruçada sobre o arquivo. A jovem começava a contar as portas e lembrando o que tinha em cada uma. A primeira e a segunda a esquerda eram os banheiros. A primeira a direita era o armário das vassouras. A terceira sala de cada lado do corredor tinha arquivo encerrados ou arquivados. Falta ainda inspecionar a segunda sala da direita, as quarta e quinta sala de cada lado. Cinco salas ainda... Kate suspirou desanimada e tentando imaginar quanto tempo teria.

Kate analisava o documento, lendo com velocidade e pulando informações que não interessavam, ficando decepcionada quando viu que a sala era dos casos já resolvidos. Não era a sala que procurava. Só mais um arquivo, de um dos armários, para ter certeza, demonstrando claramente que não era a sala desejada.

Na sala em frente, a história não foi muito diferente. Mais casos encerrados e que em breve seriam arquivados, nada de real interesse para a adolescente. A jovem sentia-se desanimada, repassando mentalmente as salas já vistas e o que tinham. Faltavam ainda cinco salas e o tempo era limitado.

Rápida e silenciosa, Kate se dirigiu para a próxima sala, estando bem ao lado da que estava atualmente, enquanto Poochyena verificava a sala que foi “pulada”. Se não fosse a sala dos casos em andamento, a morena rezava para que fosse sala de produtos de limpeza, banheiros, ou coisas assim, para que ela não perdesse tempo verificando mais documentos inúteis.

Poochyena abria a porta da sala "pulada", contudo a deixava para trás rapidamente, após perceber diversos computadores e nada mais no interior. Kate abria outra sala, ansiando por concluir logo seu trabalho. Não queria mais verificar pastas inúteis e perder seu tempo com isso. Ansiava por retornar até o restaurante de Natasha e, com sorte, o cadete de lá já teria ido embora e a adolescente poderia beber. Isso lhe dava um animo a mais...

A nova sala continha mais arquivos. Kate suspirou. Teria de verificar as pastas. Após abrir um arquivo qualquer da pasta mais próxima, a morena confirmou que aqueles eram casos em andamento. Exatamente os que buscava. Ansiosa, a jovem começou a verificar os arquivos e as letra gravadas nos mesmos, em busca daquele que continha a letra G. Contudo, naquela sala, só haviam casos em andamento que começavam com a L em diante.

A Pokémon verificava uma sala, que logo era considerada inútil. Computadores não tinham utilidade para a dupla. Kate já se deparava com outra sala repleta de arquivos, o que a fez suspirar desanimada. Verificar mais papeis... Isso não era lá muito divertido... Mas se não o fizesse rápido, poderia entrar numa grande encrenca.

Após olhar um dos documentos, a morena se animou ao ver que eram os arquivos em andamento. Agora era só procurar os de letra G e bater as fotos do arquivo Grace, antes de pensar em uma forma de se mandar! Infelizmente, aqueles eram da letra L adiante... Nada de G... Kate guardou tudo em seu lugar rapidamente, rumando direto pra sala em frente. Se ali era a sala de casos não encerrados, então a outra deveria ser a da frente ou do lado, certo? Tomara que sim... A morena só queria terminar aquilo rápido, comprar a canela para Natasha (não, ainda não havia esquecido), voltar e encher a cara. Tanto tempo sem álcool no sangue estava fazendo mal!

Kate começava a se animar. A sala que buscava possivelmente era a da frente ou a do lado. Poochyena mantinha-se atenta a sons estranhos no corredor, já que os cadetes não deveriam demorar a voltar e procurar a adolescente, a fim de obter mais informações sobre o boato que ela espalhara. Já a morena tinha em mente somente comprar os itens que Natasha pediu, bater as fotos e voltar para o Kiga para beber.

Na sala da frente, uma decepção. Por um momento a jovem olhou os arquivos e pensou que tinha achado. Contudo eram mais casos encerrados. Tempo desperdiçado, já que Kate buscou a letra G antes de confirmar os casos que haviam na sala. No entanto, após fechar a porta, a adolescente se voltou para a porta ao lado dos casos em andamento da letra L em diante.

Um segundo ou dois parada em frente, pedindo a Arceus para que aquela fosse a última sala a explorar. Porta aberta, mais arquivos cinzas. As longas gavetas que guardavam as pastas suspensas estavam devidamente etiquetadas e Kate começou a buscar a que procurava. Letra G. Após abrir a gaveta, a adolescente encontrou a pasta identificada com Grace, contudo, para sua surpresa, nessa gaveta também havia uma pasta com o nome Gray. Poochyena chamou a atenção de Kate para passos no corredor. Era hora de serem rápidas.

A sala certa estava próxima, isso era certo. A morena se alegrava com isso. Em breve terminaria tudo o que precisava fazer e poderia beber! Mas o tempo era curto, visto que os cadetes provavelmente iriam querer mais informações em relação ao boato.

A sala seguinte possuía apenas mais casos encerrados, desperdiçando tempo precioso, algo que a adolescente não podia se permitir. Sem perder tempo, Kate rumou para a próxima sala, bem ao lado dos casos em andamento, rezando para ser a sala que procurava. Buscou o documento que precisava, sorrindo satisfeita ao localizar o arquivo Grace.

Por alguns instantes, a morena acreditou que estava perto de acabar, mas seus olhos se arregalaram ao ver outro arquivo. Gray. O último nome de sua família. Porque havia um documento em andamento com o nome de sua família? Seu pai fora morto, a mãe levada pelos próprios cadetes, Helena provavelmente estava morta, Aisha morreu diante de seus olhos, só havia sobrado a morena. Estariam investigando algo que ela fez? Ou havia alguém que ainda estava vivo? Os dedos de Kate ficaram tentados a pegar o documento. Apenas uma olhada...

Poochyena alertava a adolescente, avisando sobre alguns sons no corredor. Não podiam perder tempo. Respirando fundo, Kate pegava a câmera na coleira da Pokémon e começava a bater as fotos do arquivo Grace. Os olhos constantemente miravam a porta, temendo que fosse aberta a qualquer momento. Depois de bater as fotos, guardaria o arquivo e esperaria, tentando ouvir os passos dos cadetes, esperando que fossem para as escadas e, dessa forma, correr para o banheiro.

Kate batia as fotos apressada. Os sons no corredor cada vez mais próximos. A micro câmera difícil de manusear. Os olhos constantemente se voltando para o arquivo Gray e o corpo se forçando a realizar a tarefa com velocidade. Poochyena resmungava, pedindo para a jovem se forçar a ser só um pouquinho mais rápida. Os passos cada vez mais perto.

A gaveta era fechada com as pastas Grace e Gray em seus respectivos lugares. Em seguida, Kate se escondia atrás dos arquivos, esperando não ser vista. A Pokémon canina em seu colo e ambas bem encolhidas entre a parede e o arquivo. Com sorte ninguém a veria.

A porta da sala em que estava era aberta e a adolescente ouvia os passos de uma pessoa entrar. A voz rindo e falando com alguém que, aparentemente, ficara no corredor. Uma gaveta era aberta e fechada. Guardaram um arquivo? Ou retiraram um?

- Sinceramente, eu já teria arquivado esse caso.

- Eu também. Mas ordens são ordens...

Os passos se afastavam e a porta era fechada. A luz era apagada e, aparentemente, os cadetes não estranharam a luz estar acesa quando chegaram. Kate estaria sozinha? Seu coração batia rápido e a respiração de Poochyena era sentida através dos dedos da morena, também ansiosa.

A câmera, apesar de discreta, era complicada de se usar, principalmente para alguém que via uma pela primeira vez. Kate tentava se concentrar, mas as perguntas sobre o arquivo Gray a faziam desviar os olhos algumas vezes. Poochyena a apressava. A situação não era muito fácil. Por sorte, a garota conseguia bater as fotos, guardar o arquivo e se esconder com a Pokémon bem a tempo.

Encolhida no canto, a adolescente ouvia a porta ser aberta e dois oficiais conversando. Falavam sobre algum caso, enquanto abriam uma gaveta, deixando a morena em duvida sobre o que estavam fazendo ou qual caso estariam comentando. Por sorte, não pareciam ter vista as invasoras, se retirando do local.

Ainda ansiosa e desconfiada, Kate mirou Poochyena, seu olhar perguntando claramente se ela ouvia alguma coisa no corredor ou na sala, ou se estava farejando alguém por perto. Se não houvesse ninguém por perto, a adolescente tentaria sair da sala e ir para o banheiro. Levantaria menos perguntas se a encontrassem, e arriscar não era lá muito interessante. O coração ainda batia rápido e a curiosidade era forte, mas não desejava ser presa.

Após a retirada dos cadetes, Kate ficou parada em alguns instantes mais no mesmo lugar, questionando com o olhar se Poochyena ouvia ou farejava algo. Após a canina confirmar que estava tudo limpo, a adolescente se ergueu devagar. Com os passos cautelosos, a jovem se aproximou da porta, colando o ouvido na mesma.

Silêncio....

O total e completo silêncio do lado de fora. Kate ouvia sons do andar de cima, mas absolutamente nada fora da sala em que estava. A canina ao lado, com orelhas inquietas e atentas também.

Kate olhou para trás uma última vez, para o arquivo onde estava a pasta Gray. Poochyena analisou a adolescente, esperando pela próxima ação da mesma. Após respirar fundo, a jovem se retirou da sala e se escondeu no banheiro que ficava mais perto das escadas. Conseguira se afastar. Era hora do próximo passo. As janelas tinham grades e estavam trancadas. A janela que entrara era pequena demais para sair. O primeiro andar certamente estaria cheio de cadetes. Kate precisava pensar...