04. Conclusões e Treinamentos

qui, 18h03
60 dias para Piesok

O jovem se animava com a proposta da mãe. Depois de tanto tempo, finalmente poderiam ser uma família novamente. E em Jorvet! Por sua amada mãe, abandonaria até mesmo seu sonho de se tornar um famoso stylist e de viajar com os amigos que fizera pelo caminho. Já se virando para deixar o beco e buscar suas coisas no hotel, algo incomodou o stylist. Se sua mãe estava presa, sem comunicação, como o achara naquela cidade? Diante tal pergunta, a mulher calou-se por algum momento. Uma leve brisa gélida passava pelos dois e agitavam levemente seus cabelos.

― Meu coração dói diante tantas perguntas como se desconfiasse de sua própria mãe. ― A mulher dava uma entonação de decepção e tristeza à voz. ― Eu te achei aqui com a ajuda de seu pai. Ele está nos esperando na vila.

qui, 18h05
60 dias para Piesok

Assim que ouvira falar de seu pai, o jovem stylist congelou ali mesmo onde estava. As palavras da mulher foram firmes quando pronunciadas. Como seria possível tal afirmação ser verdadeira se o pai morrera há anos atrás quando o pequeno Emme possuía apenas 4 anos de idade? Os olhos do jovem já estavam cheios de lágrimas novamente. Ao ver a reação do stylist, a mulher ficara um pouco desconcertada.

― Claro meu filho! Ele que me ajudou a escapar e a encontrar você. Você não está mais lembrado de seu pai?

qui, 18h08
60 dias para Piesok

A fala da mulher era confusa. A contradição com a realidade era evidente. Era impossível o pai do stylist estar vivo e ela agia como se ela nem ao menos soubesse que ele havia morrido. O jovem dava alguns passos para trás tentando entender o que estava acontecendo. Dúvidas surgiam na mente do jovem. A imagem diante de si era de sua mãe, mas algo estava muito errado. As lágrimas escapavam dos olhos enquanto ele questionava a mulher sobre o que estava acontecendo. A torchic saía de sua esfera sentindo toda a tensão que se formava naquele beco. A mãe ficou em silêncio e olhou fixamente nos olhos do filho.

― Depois de tanto tempo... depois de tanta procura... é assim que você me trata? ― A mulher começava a se alterar e o tom de voz era agressivo. ― Você não faz a mínima ideia do que eu passei para estar aqui agora. E o que eu recebo em troca!? “O que eu sou???” Eu sou uma “coisa” para você fazer esse tipo de pergunta para mim? SEU INGRATO!!! ― A fúria nos olhos da mulher era nítida. Toda a doçura de antes se transformava em uma espécie de espectro repleto de ódio. Repentinamente, a mãe começa a rir de forma cruel e um pouco psicótico. ― Você é patético. Até que tudo isto estava divertido, mas parece que vou ter que acabar com você agora mesmo. ― A imagem do rosto de sua mãe começava a se desfigurar revelando outra pessoa. Uma joveme de cabelos azul-marinho surgia diante de Emme. O olhar maníaco, a expressão enlouquecida, aquela não era uma pessoa com quem se pudesse estar em um beco deserto. ― Espero que você goste de sentir dor. ― A jovem sorriu como se fosse uma criança que acabara de encontrar a boneca que tanto queria. Detrás dela, um Beheeyen surgia apenas olhando a situação. Três brilhos rubros surgiam e revelavam um trio de pokémons: um Rufflet, um Swadloon e um Ralts.

E então tudo desmoronou bem a minha frente. Minha mente estava pregando uma peça ou minha mãe não era minha mãe? Realmente as coisas estavam se encaixando e uma mulher de longos cabelos e rosto maléfico. Seu olhar vazio me arrepiou e logo ela já soltava insultos para minha pessoa. As lágrimas não caíram mais de meus olhos. Eu estava com raiva. Muita raiva. Essa mulher brincara comigo, divertira-se com aquilo que era mais importante para mim e agora lançava alguns pokémon em campo. O que aquela mulher queria comigo? Me roubar? Eu não a deixaria brincar assim comigo!

Blazy tomou a dianteira em minha defesa. Eu olhei para minha pequena, tão determinada e forte, perante a minha fraqueza em agüentar essa enxurrada de sentimentos. Ela sustentava minha determinação e me mantinha focado em batalhas. Sempre! Eu queria sorrir, mas o momento não me deixou. Eu queria gritar, chamar por Roy, pedir que ele viesse e encarasse essa situação para mim. Queria ele comigo como antes, mas estávamos distantes. Não podia querer depender dele sempre. Até quando continuaríamos relutantes em falar sobre a rota 3? Quando ele se abriria para mim? Tantas perguntas... Mais uma vez minha mente voara para Roy, desconcentrando-me do campo da batalha. Os pokémon dela encaravam-me de forma assustadora ou será que era imaginação minha? Lancei Pidove e Mimmy em campo. Era hora de agir.

- Blazy, vamos começar com Double Team e Flamethrower nesse Swadloon. Mimmy, use Fake Out e Thunderbolt no Rufflet. Sky... – olhei para a pidove que voou baixo e pousou em meu braço – Seu nome será Sky. Quero que use Steel Wing duplo no Ralts. Vá com tudo, garota!

qui, 18h11

A verdade era revelada e a imagem da mãe desaparecia totalmente diante os olhos do stylist. A jovem de olhar frio diante dele não imaginava o quão delicado era mexer com a mãe de sua vítima, mas ela não parecia ser do tipo que se importava com sentimentos alheios. As lágrimas cessaram e deram lugar a uma raiva. A imagem sacra de sua mãe era corrompida por um artifício pensado para o roubo. Emme não a deixaria sair como vencedora após tal invasão.

Blazy, sempre conectada aos sentimentos de seu mestre, se posicionava para defendê-lo e obedecê-lo. O modo elétrico e bravo da Torchic era um complemento a Emme. Porém, era inevitável, no momento de fragilidade em que seus sentimentos foram expostos, não pensar em Roy. O ruivo sempre se mostrara um bom companheiro e amigo, mas o acontecimento na rota 3 deixou tudo um pouco mais estranho. Esse rompimento não deixava de ser doloroso, mas o stylist precisaria se concentrar na ameaça à sua frente.

Com Mimmy e a recém nomeada Sky em campo, os comandos eram dados de forma inteligente para aproveitar as fraquezas dos oponentes. A jovem riu enquanto alisava os cabelos.

― Rufflet, comece com leer e siga com seu ataque de asas nesse projeto de galinha. Swadloon, use Protect e em seguida electroweb nessa pidove. Ralts, comece com seu Teleport e se aproxime da galinha e continue com disable. ― A jovem parecia excitada com a batalha e, após dar os comandos, levantou o olhar para Emme, você não deveria me subestimar, honey.

Swadloon elevou sua barreira e se manteve envolto nela. Mimmy seguiu correndo em direção ao Rufflet e, com suas duas patas dianteiras, criou uma onda de choque que empurrou a pequena águia para trás e a impossibilitando de executar seus comandos. Aproveitando a proximidade e o efeito que causara no Rufflet, a Skitty liberou seu choque do trovão deixando a ave paralisada.

Enquanto isso, Blazy se dividira em mais 5 cópias e fizera uma espécie de muralha entre a impostora e Emme. Por cima da muralha, passou voando Sky com suas asas emitindo um brilho metálico em direção ao pequeno ralts. Porém, antes que pudesse atingi-lo, o psíquico se teleportara para trás de uma das Blazys. As Blazys encheram seus pulmões e lançaram seu fogo em direção ao inseto, mas as chamas iam de encontro à proteção erguida pelo swadloon. Do outro lado da proteção, a jovem rira de Emme.

Com o lança-chamas terminado, Ralts agiu como se isso fosse sua deixa para agir. Ralts fez um gesto com o braço direito e emitiu algumas ondas que se chocaram com Blazy e criaram uma áurea azulada ao seu redor. Porém, para surpresa do psíquico, a trochic desaparecia na sua frente revelando ser apenas uma das cópias. Sky aproveitou a distração de Ralts e voou rapidamente contra o psíquico novamente com suas asas preparadas. O lado fairy de Ralts sentiu o dano das asas metálicas com mais intensidade deixando-o um pouco ofegante. Swadloon também viu uma oportunidade. Vendo que a Pidove estava de costas para ela, lançou sua teia elétrica porém acabou errando o alvo.

info:

― Não cante vitória antes do tempo, bebê chorão. Rufflet, se recupere! Vamos de novo com leer e seu ataque de asas. Ralts, use seu dazzling gleam nessas galinhas e siga com seu toxic quando a original surgir. Swadloon, use seu grasswhistle na gata e siga com seu electroweb novamente da pidove.

O primeiro turno passava com poucas dificuldades para mim, meus pokémon continuavam inteiros e eu sabia que muita coisa ainda iria acontecer e eu precisava estar focado na batalha. Lembranças de Roy nos ensinando algumas coisas enquanto treinávamos. Pensar no ruivo me extasiava, podia setir o toque dele e ver seu sorriso largo e simpático, caloroso e divertido, pelo qual meu coração acelerava. Limpei minha mente, não era hora de ficar viajando até Roy. Eu precisava focar na psicopata à minha frente.

Eu possuía algumas vantagens, mas os pokémon dela eram fortes e ágeis. Eu me preocupava com os movimentos da Ralts e nunca havia precisado tanto de um Taunt. Blazy estava com suas cópias, mas o ataque em área destruiria-as. Eu precisava pensar em algo.

- Blazy, use suas cópias para distrair o Ralts, enquanto isso acerte um Flamethtower nesse Swadloon, Depois use Double Team. Não vamos perder para essa mulher! - reparei no olhar empolgado de Blazy e me perguntava se aconteceria novamente o que se deu durante a batalha com Mimmy - Mimmy, proteja-se com Protect e depois Swift no Rufflet para distrai-lo. Sky, aproveite a proximidade da Ralts e use duplo Steel Wing nela. Tenha cuidado com o ataque do Swadloon!

Eu esperava que minha estratégia funcionasse, mas não conseguia parar de olhar para aquele Beheeyem. Seus olhos pareciam hipnotizar-me, algo nele me faz querer sair correndo. "Assustador!", pensei. O olhar vazio da mulher à minha frente também era assustador, ao ponto de eu querer correr dali. Porém, ela mexeu com meus sentimentos, com a memória de minha mãe, não havia perdão para ela. Os olhos assustadores de Roy apareceram em minha mente. Estremeci.

qui, 18h16

Emme suspirou um pouco aliviado por ter sobrevivido ao primeiro turno da batalha, porém o perigo ainda existia. O stylist ainda se mantinha focado na batalha à sua frente e se lembrava de algumas dicas que Roy dera para ele anteriormente. Era automático o corpo se manifestar involuntariamente quando o pensamento chegava no ruivo. Depois de voltar a si, mais uma vez se concentrava nos pokémon dando novos comandos.

Mimmy ergueu sua proteção verde impedindo que a melodia sonolenta de Swadloon a atingisse. Blazy enchei o peito novamente com suas chamas diretamente contra o bug acertando-o em cheio. Assim que as chamas desaparecem no ar, foi possível perceber que o Swadloon estava já mostrando sinais de fadiga.

Os olhos de ralts adquiriram um tom rosado e, antes que o golpe fosse totalmente executado, as cópias de Blazy partiram para cima do psíquico. Aproveitando da situação, a Torchic conseguiu evadir do ataque, porém Sky, que estava no alcance do dano, fora atingida. As cópias da Torchic que estavam atrapalhando a visão de ralts desapareceram e revelaram uma pidove voando em sua direção com as asas em tom metálico. A fada foi atingida e jogada para trás. O dano do aço fizera com que ralts se apoiasse no chão um pouco exausto. Aproveitando o momento de fraqueza do psíquico, Sky não esperou e prosseguiu com seu segundo ataque de asas de aço. Mais uma vez Ralts fora atingido, mas desta vez não resistira e desmaiara. A luz escarlate surgiu recolhendo o pokémon e Emme conseguiu ouvir algum palavrão proferido pela jovem. Porém, Sky fora pega de surpresa por uma teia elétrica que caíra sobre ela repentinamente. Além de causar muito dano, deixou a ave mais lenta.

Enquanto isso, Mimmy se voltava para o Rufflet que se recuperava de seu recuo. A felina saltou e, com um balançar de sua cauda, liberou diversas estrelas que atingiram a área em que estava o Rufflet e o Swadloon. A jovem impostora com seu Beheeyem quase foram atingidos se não fosse por um Protect criado pelo psíquico. Blazy aproveitou o momento e criou mais réplicas de si em campo e aumentou sua capacidade de evasiva.

Rufflet se recuperou dos danos e levantou voo. Do alto, laçou seu olhar amedrontador para todos em campo e reduziu a defesa dos pokémon de Emme. Depois, mirando bem nas Blazys, elegeu uma e partiu para o ataque. Para o azar de Blazy, Rufflet havia escolhido certo e atingiu a verdadeira lançando-a para fora de seu círculo de cópias.

― Você pode ter derrotado Ralts, mas não serei tão facilmente vencida!!!

E então a Ralts não resistia e era recolhida de campo. Isso dava-me forças para continuar aquela batalha, pois minha mente ainda não aguentava a dor que aquela mulher causara-me. Usara minha mãe para chegar à mim e aquilo doía tanto. Onde ela estaria? Será que ainda estaria... Estaria viva...? Senti meu coração apertar e uma dor percorrer-me como veneno. Minhas pernas tremeram e tive que aguentar para não cair no chão uma vez mais. O suor frio escorria por minhas costas como garras de um fantasma adormecido. Mimmy sentiu algo e fitou-me um tanto preocupada, mas os comandos saíram quase que robóticos.

- Mimmy... Estou bem, apenas... Vamos de Calm Mind e depois Swift. Blazy, crie mais cópias de si e depois ataque a Swadloon com Flamethrower. Sky, quero que aproxime-se do Rufflet e use Attract. Se der certo de primeira, peça que ele ataque a Swadloon e depois ataque com Gust o inimigo que estiver mais próximo. Se não funcionar de primeira, tente uma segunda vez e ordene o ataque na Swadloon.

Meu corpo tremia e meus pokémon não podiam ficar preocupados comigo. Eu só queria estar com minha mãe, sentir seu abraço protetor e reconfortante. Roguei forças à Arceus. Roy não estava por perto, mas eu o sentia me abraçando esse tempo todo e logo a ansiedade e dor foi passando, carregada pela brisa fria de inverno que passou pelo beco. Foi quando notei algo estranho com Blazy. A fire estava agitada de uma forma nada convencional. Parecia com quando... Sim, quando ela batalhava contra Mimmy... Reparei nas pupilas dilatadas quando ela mirou-me rapidamente, antes de correr e avançar sobre o inimigo. Era  a batalha dominando minha pequena e eu ainda não sabia o que fazer.

qui, 18h20

Ver um dos pokémon adversários ser derrotado animou o jovem stylist. A mente enfraquecida pela sádica ilusão proporcionada pela impostora recebia um novo respiro de esperança. Além disso, uma dúvida surgia na mente do jovem: o paradeiro de sua mãe. Pensar na possibilidade de ela estar viva era revigorante, mas ao mesmo tempo doloroso. Porém, à sua frente, outra coisa o preocupava: o comportamento de Blazy. A torchic aparentava os mesmos sinais de quando batalhara contra Mimmy anteriormente.

— Vai precisar mais do que isso, queridinho. Rufflet, afie essas garras e siga com seu ataque de asas na galinha enfurecida. — A jovem riu em deboche. — Swadloon, meu fofinho, continuei com seu electroweb nesse projeto mal executado de pássaro. — A voz saíra quase que histérica e demonstrando um pouco de insanidade. — Quero ver meu filhinho chorar!!!!

Mimmy fechou os olhos e realizou uma breve meditação enquanto emitia um brilho branco. Blazy criava mais cópias em campo, mas era evidente a sua inquietação. Swadloon teceu mais uma teia elétrica e a lançou contra a pidove que não conseguira esquivar a tempo. Assim que terminou sua meditação e aumentara seus stats, a felina saltou e mirou suas estrelas contra os dois adversários em campo. Infelizmente, para acertar o rufflet também, precisou sacrificar alguns dos clones de Blazy. Repentinamente, diversas blazys começaram a correr em direção ao swadloon com o peito cheio de chamas. Com um olhar transparecendo um sorriso um tanto sádico, todas as torchics lançaram suas chamas contra o bug. Por entre as chamas era perceptível ver que o swadloon já havia desmaiado, mas as torchic não cessavam as chamas. Sky e Mimmy olhavam horrorizadas para a cena. A jovem impostora gritara contra a fire para que parasse, mas as chamas continuavam firmes e somente pararam quando a própria torchic se cansara e faltara chamas em seu peito. No lugar onde estava o pequeno swadloon restava apenas um corpo indistinguível e totalmente carbonizado.

— SEU DOENTE!!! Você matou meu pokémon!!! — A jovem gritava com Emme, mas não aparentava sofrer pela morte de swadloon. Apenas perdera uma de suas armas.

Todos os pokémon estavam inquietos com o que acontecera, exceto Blazy e suas clones que brincavam com o corpo carbonizado de swadloon.

Rufflet suspirou por perder seu companheiro de equipe, mas sabia que precisaria lutar caso não quisesse sofrer o mesmo destino que swadloon. A pequena águia afiou suas garras com hone claws e seguiu contra Blazy com suas asas brilhando. O pokémon agora levava a batalha para o lado pessoal e não iria perdoar a assassina. Vencendo a própria paralisia, e conseguiu atingir a verdadeira torchic.

Rufflet estava furioso e nem notara Sky se aproximar com seus diversos corações. Infelizmente a ave não conseguiria vingar seu companheiro agora que estava preso no feitiço do amor da pidove. Com um bater de assas, uma grande ventania se chocou contra o apaixonado e entristecido rufflet fazendo-o se desequilibrar e cair no chão. No rosto apaixonado da águia era possível ver lágrimas saírem ao olhar para seu amigo morto.

— Rufflet, seu imprestável! Pare de chorar e acabe com essa galinha louca! Use seu ataque de asas novamente.

Eu não sabia muito bem o que fazer quando o cheiro nauseante inundou aquele beco. Tudo ocorria em perfeita sincronia, Mimmy e Sky fizeram um bom trabalho, mas o destaque fora totalmente para Blazy. Negativamente, se assim posso avaliar. Eu sabia que ia dar algum problema com Blazy entrando naquele mesmo estado em que ficara ao enfrentar Mimmy, mas o que acontecera em seguida fora algo que eu nunca imaginei.

Blazy torrara o Swadloon. Seu Flamethrower estava bem poderoso e as chamas super-efetivas no inseto o fizeram desmaiar, mas Blazy não parou, ela queria mais! A fire, dominada pelo prazer, gastara tudo que tinha para mostrar seu poder, sua superioridade sobre os inimigos, e reduzira o inseto à pó. O cheiro era enojante e eu senti todo o almoço anteriormente comido, querendo voltar ao ambiente externo. Nauseado, levei uma mão à boca. O que estava acontecendo com Blazy? Ela estava agindo de uma forma que eu nunca imaginei. Estava bem difícil de falar, estava assustado com aquela situação e ainda por cima me sentia mal pela morte do Swadloon e ainda mais por Blazy estar naquele estado. Reuni forças e tentei finalizar a batalha, mas o que fazer com a fire?

- BLAZY?? BLAZY!! Minha pequena, volte para mim! - ela nem me dera o cabimento - Mimmy, finalize com duplo Thunderbolt no Rufflet. Sky, Steel Wing no pássaro também. - olhei incerto para Blazy sem saber o que ela faria. Será que eu deveria mantê-la em campo? - Blazy, por favor, controle-se!

18h30

A cena proporcionada por Blazy enchera Emme de horror. O cheiro do inseto carbonizado se espalhava pelo beco e criava ânsias de vômito no stylist. Da última vez que a torchic se descontrolara não chegara a tal ponto, mas o odor da morte empestava o lugar. O jovem não sabia como reagir ou como ajudar sua pokémon. Blazy estava fora de si e, naquele momento, não se dava conta disso. Além disso, era perigoso para todos ali, pois a fire era uma fonte de chamas. O stylist gritava para Blazy, mas ela não conseguia ouvir sua voz.

Mimmy tentou se concentrar no rufflet por mais que estivesse preocupada com toda a situação criada. A felina almejava um bom banho e ficar o mais longe possível da torchic, mas para isso precisaria vencer aquela batalha. O choque do trovão rasgou o beco em direção à ave e o atingiu tanto da primeira vez como na segunda. A águia já estava exausta e a paralisia não lhe permitia se mover. Jogado ao chão, com as asas abertas, Rufflet mirava o céu. O corpo totalmente imóvel e preso sob um feitiço de amor que o fazia ter batalhas internas dolorosas, além do fato de ter perdido seu companheiro. Sky voou rapidamente com as asas em um tom metálico e atingiu a ave caída. Rufflet crocitou e fechou os olhos.

— Seu maldito!!! — A jovem gritou alto, mas não hora a única.

Blazy deu um pio alto e feliz e começou a liberar seu lança-chamas novamente. De forma descontrolada ela corria pelo beco com seus clones. Mimmy e Sky correram para perto de Emme, sendo que a gata entrou por conta própria de volta na pokébola. A jovem impostora olhava horrorizada. Apesar de ter um beheeyem apto para batalhar, preferiu deixar o jovem à sua própria sorte com a torchic descontrolada e desapareceu com rufflet pelo Teleport.

A fire continuava a correr e Emme sempre recuava para não ser atingido pelas chamas. Quando o golpe finalmente finalizava, Blazy se aproximava piando e saltando com seus clones. Repentinamente, brasas iam de encontro a Emme e algumas delas acertavam sua mão direita. O grito não conseguiu ser abafado. A dor da queimadura era grande, mas não era tão grave se tivesse sido feita por um flamethrower. Blazy abria o bico novamente e novas brasas surgiam, mas uma proteção era erguida em frente ao stylist que impedia as chamas de avançarem. Shai se apoiava firme no chão enquanto sustentava a proteção e parecia disposto a batalhar se preciso fosse.

Ver Blazy daquela maneira era como uma flecha perfurando-me o coração. Mais uma. A inimiga fugira após retornar seu último pokémon, deixando para trás as cinzas nauseantes de um prematuro swadloon. A visão e o grunhido do bicho que agonizou com as chamas ainda estavam em minha mente. Fechei os olhos e balancei a cabeça com a intenção de dissipar aquelas imagens, mas hoje minha mente não estava para conversas. Blazy saltitava pela vitória de forma psicótica, lançando suas chamas descontroladamente por todo o beco em que nos encontrávamos. O que estava acontecendo com ela? Chamei seu nome e fui respondido com um Ember. Minha mão queimava, nada muito grave, mas a dor fizera-me urrar. Sky estava atônita com a situação. Blazy parecia totalmente deslocada da situação, ainda em êxtase pela vitória, lançando novas chamas pelo beco irresponsavelmente, quase atingindo à mim, mas um pequeno ser saltava de sua pokébola em minha defesa.

Shai sempre fora bem tímido, abrindo-se ocasionalmente para mim e tendo uma relação interessante com Sentury. Nunca imaginei que ele seria aquele que viria ao meu socorro sem ser chamado, apenas pela força de meus sentimentos e eu podia sua determinação vibrando enérgica por todo seu corpo. Estava disposto à encarar Blazy, mas eu não deixaria. Certamente, naquele estado, Blazy o machucaria. Como fazê-la parar?

- Shai, obrigado. - alisei o topo de sua cabeça com a mão saudável, enquanto novas lágrimas surgiam em meus olhos. Quantas vezes eu já chorara em situações assim? Era mais fácil contar quantas eu não chorei... Um moleque mimado e carente... Nunca passaria disso? - Shai, destrua os clones com o Swift, por favor, preciso chegar à Blazy. - pedi com carinho, mas nem me atentei para o quão trêmula minha voz saíra.

Shai executara o movimento com prioridade, destruindo os clones e deixando apenas uma pintinha intacta. Ela percebera o ataque furtivo e novas chamas pareciam formar-se, destrutivas como sempre mostravam-se, porém uma rajada de lâminas de ar zuniram em direção à fire. Olhei para trás e vi Sky envolta de uma luz brilhante, a mesma que uma vez circulou Pollaree. Estava evoluindo para Tranquill e um sorriso quis formar-se em meu rosto, mas sem muito sucesso. Minha mente apenas queria minha Blazy de volta. Corri em direção à pintinha que levantava-se com agressividade e já mudava seu oponente. Caí de joelhos à sua frente.

- Blazy, por favor, pare com isso! Não vê que está machucando sua família? - ela fitou-me com seu olhar vazio - Por favor, volta pra mim...

Blazy nada fizera, apenas evoluíra. Suas asas pequeninas tornaram-se braços com garras poderosas e suas perninhas agora estavam bem mais ameaçadoras, porém seu olhar continuou o mesmo enquanto me encarava. A Combusken nada fez por alguns segundos, mas soltou um agudo irritante e levantou suas garras em um Scratch, pronta para me atacar, dando apenas tempo para Sky e Shai agirem juntos e derrubarem a galinha de uma vez. Aparei sua queda com amor e abracei seu corpo cansado e desmaiado. As lágrimas caíam sobre o corpo da fire e eram evaporadas devido ao calor que ela própria emanava. O que estava acontecendo com minha pequenina? Como controlar aquilo tudo? Meu coração estava ainda mais triste. Era tantas coisa acontecendo. Retornei a fire após alguns minutos abraçando-a.


Segui caminhando por Chermont com Shai ao meu lado e Tranquill voando sobre nossas cabeças. Era encantador vê-la voar. Shai estava observando a cidade com certa atenção, mas eu podia senti-lo preocupado comigo. Parecia que tínhamos uma boa conexão e isso era bom, e admito que um tanto inesperado. Porém, minha cabeça continuava à pesar.

Perguntas sobre como eu estava evoluindo junto aos meus amigos e meus pokémon eram bem corriqueiras, digamos que quase usuais. No entanto, eu não sabia bem o que estava acontecendo naquele comigo dentro de mim que tudo que eu mais queria era sentar e chorar. Sim, chorar até meus olhos não abrirem mais devido ao inchaço causado pelo choro excessivo. Chorar de desgosto por não ter sido capaz de proteger àquela que mais amo e amarei indubitavelmente. Deixar as lágrimas carregarem a dor de ver minha pequena alterando-se e causando sofrimento aos outros por prazer. E chorar muito por não poder confiar naquele que fazia meu coração querer saltar do peito. O que mais faltava me acontecer? O que mais eu podia esperar de Shinki? Cheguei ao hotel quase sem perceber. Não sei se vi Emily ou Roy. Na verdade, eu não estava vendo nada, exceto os degraus da escada que levavam para o anda do meu quarto. Shai e Sky já haviam sido recolhidos e eu estava só. Não demorara muito para chegar ao quarto, apenas tirei a roupa e corri para debaixo do chuveiro.

Deixei a água gelada percorrer-me o corpo. Recebia-a com arrepios constantes, mas eu queria senti-la surrando-me. Uma lição. Deixei que ela carregasse toda essa minha dor, que minhas lágrimas confundissem-se com sua fluidez e fossem direto para o ralo. Tudo que eu queria era poder esquecer tudo. Isso, esquecer tudo. Como se tudo não tivesse passado de um sonho ruim e eu acordaria novamente em minha cama, em meu quarto, em minha casa, e veria minha mãe preparar o café da manhã como qualquer dia normal. Cogitei a possibilidade de esquecer o ruivo, mas eu sabia que seu sorriso já havia feito morada em meu coração e pensamentos. Não seria fácil tirá-lo de dentro de mim. Eu quero questionar-me novamente, dizer que era incapaz de tudo, desistir dos meus sonhos e voltar para casa, contudo meu coração mantinha-se firme. Eu não podia desistir, não havia essa opção. Eu era forte! Eu sou forte! EU POSSO! Troquei a opção de temperatura para quente. Meu corpo estremeceu e a água quente acariciou-me o corpo.

O vapor logo subiu e Mimmy foi a primeira à sair de sua pokébola. Achava incrível sua independência quanto à isso, até pensei que me abandonaria, mas ela continuava ali por mais estranho que parecesse. Ela não tinha medo de água, adorava um banho quente e estar limpa após uma batalha nojenta em um beco mais nojento ainda era reconfortante. Peguei o shampoo e comecei à esfregar seus pelos rosas, fazendo-a ronronar. Era a primeira vez que fazia isso e eu estava um pouco surpreso. Sorri. Liberei Shai e Sky logo em seguida, dando-lhes seus devidos banhos e deixando-os brincar um pouco. Não queria liberar Sentury, pois eu sabia que ele sentiria todo aquele peso e ficaria deveras preocupado, melhor seria soltá-lo depois. Tomados banho, era hora de secar todos e comer algo depois que eu colocasse uma roupa. Não estava com sono, não queria cogitar ter um sonho nesse momento.

qui, 19h10

A ameaça fugira, mas uma nova surgia. O surto de Blazy se somava ao corpo carbonizado do swadloon e mantinha o clima tenso no beco. O pequeno eevee ainda sustentava a proteção, mas ela já começava a falhar. Emme sentia que seu pequeno pokémon estava se esforçando para defendê-lo apesar da maior experiência da torchic. As torchics cessaram suas brasas para retomarem o fôlego e foi a deixa para que Shai executasse as ordens do stylist. Apesar das lágrimas escaparem pelos seus olhos, Emme sabia que Blazy era sua responsabilidade. Somente ele tinha o direito e o dever de lidar com ela naquele momento.

A proteção se desfez e Shai saltou lançando suas estrelas no campo e atingindo as torchics. Os clones desapareceram deixando apenas uma pequena fire animada achando que iria batalhar de novo. O peito já se enchia em chamas, mas um air cutter atingia a torchic e impedia o golpe de ser executado. Quando Emme se deu conta, viu a luz da evolução sobre Sky. A ave aumentava de tamanho e suas asas ficavam mais imponentes. A alegria de ver um dos seus pokémon evoluir não era o bastante para arrancar um sorriso do jovem. Blazy se erguia sem ter gostado de a batalha ser dois contra um. O stylist correu e se lançou de joelhos ao chão em frente à fire. Sem entender nada, a torchic deu um piu para o jovem.

Outra luz surgia e a fire crescia assim como Sky. Seu corpo ficava mais robusto e braços com garras afiadas surgiam, além dos pés ficarem mais fortes. Mais poder era dado a um pokémon que mal se acostumara com o que tinha em seu primeiro estágio. A mente da fire era um caos e um grande grito era emitido por ela. Um dos braços se ergueram preparando um scratch que iria machucar muito ao stylist. Antes que Blazy pudesse fazer algo, Sky e Shai agiram rapidamente golpeando a companheira de equipe. O corpo da combusken caía nos braços de Emme. As lágrimas escaparam novamente e encontravam seu ocaso no corpo quente da fire. Muita coisa estava acontecendo com Blazy e o moreno precisava encontrar um modo de ajudar sua pokémon.

O beco se silenciou. A impostora não estava mais ali. Blazy já estava em sua pokéball. O corpo inerte de swadloon permanecia no mesmo lugar sendo sinal de uma péssima memória a ser guardada. O odor da morte aos poucos se dissipou. Shai e Sky olharam um pouco preocupados para o jovem stylist, mas nenhum som. Apenas se retiraram do beco que fora testemunha de vários horrores.

Enquanto caminhava pelas ruas da cidade em direção ao hotel, diversos pensamentos inundavam a mente do moreno. Não era surpresa que Shinki exigia das pessoas muita força, principalmente aqueles que resolviam se arriscar em viajar pela região. O stylist se questionava sobre sua evolução e seus companheiros. Sentir-se fraco. Blazy. Roy. Sua mãe. Tudo o perturbava. Seu maior desejo era apenas se entregar aos seus sentimentos e deixar-se lavar pelas próprias lágrimas. Quando percebera, já havia chegado ao hotel e se dirigia ao seu quarto. O caminho para o chuveiro fora praticamente automático. Em pouco tempo já estava despido e deixava a água gelada assustar seu corpo. O banho atraía as lágrimas uma vez mais e as consumia em suas águas. Entre toda a luta mental, uma nova promessa surgia. O stylist não iria desistir nem de seus sonhos, nem de seu amor.

O banho se encerrara com os banhos em Mimmy, Shai e Sky. O jovem deixou o banheiro enrolado na toalha e logo procurou uma muda de roupa limpa que não exalasse a morte do beco. A discagem para o serviço de quarto fora feita e o jantar pedido. Só agora o jovem percebera que já fazia um bom tempo desde que comera. Não demorou muito para que um empregado chegasse com um carrinho com as refeições de todos. Enquanto comia, uma notificação de mensagem chegava. O número era de Emily.

mensagem escreveu:Onde você está??? Preciso de você agora!!! É urgente!!! Roy e eu vimos aquele homem da rota 3 entrando em um prédio e Roy correu atrás dele. Estou com medo, Por favor venha logo!

{Anexo localização}

Assim que abriu o anexo, Emme viu que Emily também estava no centro da cidade e não muito longe dali.

Engraçado como banhos são revigorantes, não?! Eu acreditava que ficaria muito pior, mas sentir a água carregando tudo para o ralo deu-me a força necessária para não sucumbir novamente. Meus olhos não estavam tão inchados quanto outras diversas vezes, mas eu sentia-os doloridos e clamando por descanso. Talvez fosse bom tirar um cochilo depois de comer. Mimmy e os outros comiam vorazmente, assim como eu, então logo já estávamos cheios e loucos por uma soneca. O momento de descanso foi interrompido por uma mensagem de Emily que quase me fez desmaiar. O Caçador estava de volta e Roy fora atrás dele. Retornei meus pokémon, exceto Shai e saímos do hotel.

Pela localização que Emily enviara-me, ela não estava muito longe do hotel, provavelmente eles nem chegaram aqui após eu ter ficado a sós com a impostora. Um arrepio percorreu meu corpo quando a imagem da mulher que tentara me enganar formou-se à minha frente. Balancei a cabeça para voltar ao que realmente estava acontecendo e importava. Roy estava atrás do Caçador e o encontro com esse homem sempre trazia péssimas consequências. Como evitar aquilo tudo? Minha relação com Roy estava bem fragilizada, mesmo tendo conversado um pouquinho. Na verdade, eu sabia que uma hora teríamos que nos abrir, mas será que eu realmente conseguiria? O que Roy não queria me falar? Será que ele realmente confiava em mim? Estava me perdendo em questionamentos uma vez mais quando avistei Emily um pouco a frente.

- Emily! - chamei - O que está acontecendo?

qui, 19h20

O conteúdo da mensagem perturbara. O último encontro com o caçador, que fora bastante recente, fora muito intensa e perigosa, além de causar atrito entre o stylist e Roy. O fato do homem estar na cidade e de o gladiador tê-lo seguido era preocupante. Emme retornou seus pokémon deixando apenas Shai fora e deixou o hotel. O local onde Emiy se encontrava não era muito longe dali, mas o curto caminho ainda amedrontou a mente do jovem com a imagem da impostora que se passara por sua mãe. O fato de achar que Roy não confiava nele também incomodava o stylist. O desejo de entender a totalidade do ruivo ia de encontro com as reservas do mesmo. Quando deu por si, já avistava Emily parada olhando para um prédio apreensiva.

— Finalmente você veio! — A jovem correu para Emme e o abraçou. — Como foi com sua mãe? — Antes que o stylist pudesse responder, a azulada mudava de assunto para o que interessava no momento. — Aquele homem... ele entrou ali. — A jovem apontou para o prédio à frente deles. O prédio era muito bem estruturado e, de onde estavam, podiam ver uma recepção digna de um hotel 5 estrelas. Apesar de não estar muito movimentado, talvez devido aos altos preços que se cobram ali, era possível ver algumas pessoas transitando pelo hall todas bem vestidas. Era difícil imaginar o porquê do caçador entrar em um lugar como aquele, mas era fácil imaginar o caos que se formaria quando Roy se encontrasse com ele. — Quando Roy viu, correu atrás dele e entrou no prédio também. Eu não sabia o que fazer... — Emily estava preocupada e com uma expressão cabisbaixa sentindo-se culpada por não ter parado o companheiro. Uma togetic que estava voando sobre a cabeça da jovem o tempo todo, e que Emme só reparara agora, se aproximava e tentava consolar a stylist.

Emme olhou novamente para dentro do prédio e percebeu que o hall era grande e bem confortável assemelhando-se muito ao Nokori. Um homem estava na recepção atendendo a todos os hóspedes. Haviam duas escadas: uma que era usada pelos hóspedes para terem acesse ao salão de festas e a outra que era uma escada de serviço que levava aos outros andares. Dois elevadores se posicionavam ao lado da escada de serviços cumprindo o mesmo papel, mas de modo mais sofisticado e menos exaustivo. Não havia nenhum sinal de Roy ou do caçador no hall.

O que fazer em situações que exigem muito de si quando tudo que você deseja é deitar em sua cama, abraçar o travesseiro e dormir para esquecer todas as apreensões que o mundo te faz sentir. Era essa minha vontade naquele momento e tudo que eu menos queria era ter de olhar pra cara daquele Caçador uma vez mais. Eu não sabia seu nome, nem de onde vinha, mas eu não gostava de ouvir seu codinome ou de saber de sua presença. Um arrepio frio percorreu meu corpo e senti minhas mãos começarem à suar.

O abraço de Emily era verdadeiro e preocupado, mas me deu energia para focar no real problema que precisávamos enfrentar. Me obriguei à esquecer a pergunta sobre o encontro com minha mãe, mas que não era minha mãe, e eu não queria ter que explicar aquilo. Porém, felizmente Emily tratou de voltar para o assunto principal do momento. O Caçador e Roy haviam adentrado o hotel Nokori, mas suas direções eram desconhecidas. Escada acima ou escada abaixo? Não havia muito tempo para pensar e, assim que aqueles dois se encontrassem, provavelmente toda aquela calma naquele hotel seria perdida. O que eu deveria fazer?

- Emily, acho que vamos precisar de uma distração... - eu disse, pensativo - Não sei se deixariam eu entrar e vasculhar esse prédio todo numa boa, então preciso que você entre lá e faça alguma coisa para distrair todos. Qualquer coisa, eu me viro com Shai.

Shai bradou em aprovação. Provavelmente eu usaria seu bom olfato para encontrar Roy pelo hotel e eu esperava poder entrar sem ser notado pelos seguranças, assim eu poderia ajudar Roy. Sinceramente, minha mente queria que eu sentasse na porta e esperasse para ver o que aconteceria, mas meu coração não deixava. Roy não se abria para mim, então por que eu tinha que me preocupar tanto com ele? Porque meu coração acelerava só de pensar em perdê-lo? Porque eu tinha que sentir qualquer coisa por ele? Novamente eu me enchia de perguntas e preferia nem pensar nas respostas. Apenas dei continuidade ao plano.

qui, 19h35

O jovem mal digerira os acontecimentos com sua “mãe” e já se via novamente dentro do olho do furacão. Seu caminho cruzava novamente com a do caçador. Era difícil entender o porquê de o destino colocar o homem no caminho do stylist e, principalmente, a rixa natural entre Roy e o homem.

Emilly ouviu o plano improvisado do stylist e assentiu com a cabeça. A jovem pediu as bênçãos de Arceus, piscou para Emme e seguiu até a entrada do hotel. Emme viu a azulada conversar com o atendente e logo a começar a passar mal caindo logo em um desmaio. Pie entrava na atuação e ficava desesperada voando de um lado para o outro. O atendente parecia desesperado e as pessoas que estavam na entrada logo se ajuntavam para tentar ajudar a jovem de algum modo. De uma coisa Roinuj sabia agora sobre a companheira: era uma ótima atriz.

O stylist correu para o hotel e passou pelas pessoas que nem notaram sua presença ali. Shai guiava o caminho escadas acima. O coração já estava acelerado e o fôlego escasso. Vários lances de escada foram se seguindo e algumas pausas iam sendo feitas para que Emme se recuperasse. Finalmente a dupla se encontrava na cobertura do hotel.

Emme respirou fundo e se deparou com um largo corredor. Diferente dos outros, não haviam quartos de ambos os lados e era muito mais luxuoso. Ao fim do corredor, havia uma porta dupla enorme vermelha e rica em detalhes dourados. Para desespero do jovem, ele viu Roy que estava parado junto à porta dupla como se ouvisse o que acontecia dentro. Em um milionésimo de segundo, o gladiador arrombava a porta segurando sua faca em mãos.

A distração proporcionada por Emily foi a melhor coisa que havia acontecido até o momento, visto que parecia nato o talento dela para atuação, pelo menos foi o que percebi durante o tempo em que fiquei observando-a. Meu coração acelerava a cada passo que eu dava para distanciar-me da recepção sem ser notado, parecia ago errado. Shai conduziu-me escada acima.

Não sei dizer ou expressar o que passava em minha cabeça nesse exato momento. Desde que eu me unira à pessoas, muitas coisas ruins vêm acontecendo para nós e me sinto um pouco culpado por isso, mas estamos nos mantendo unidos e sempre contando um com o outro, como uma verdadeira familia. Pensar em familia era horripilante naquela hora. Vi a imagem de minha mãe formada em minha mente, mas como em um sonho ela sumiu e deu lugar à psicótica mulher no beco de Chermont. Muitas coisas estavam acontecendo, sem parar, e eu não sabia se iria suportar mais surpresas e provações. É errado querer sumir?

- Shai, vamos com mais calma. - disse ofegante.

Havíamos subido diversos lances de escada, parecia que nunca chegaríamos ao fim disso, mas Shai estava bem convicto de seu faro e determinado à ajudar-me. Mesmo sendo tímido e quieto, o normal mostrava-se leal e corajoso. Ainda lembro do olhar vazio de Blazy ao saltitar de alegria por vencer uma batalha e a surpresa de Shai ter saído de sua pokébola para defender-me. Ainda sentia a dor da queimadura em minhas mãos, mas a adrenalina do momento e a preocupação com Roy falavam mais alto. Uma vez mais eu não queria preocupar-me com ele, eu sabia que o ruivo conseguia se virar. Era um ótimo gladiador e parecia conhecer o uso de armas. Haviam tantas perguntas sobre Roy retornando à minha mente, mas afastei-as enquanto continuávamos subindo.

Shai não continuou nas escadas, dessa vez ele seguiu para um corredor. Tal corredor era diferente, não haviam portas como de costume em um hotel, apenas um luxuoso corredor com belas luminárias e quadros paisagísticos, além de alguns arranjos com flores exóticas e delicadas. No final daquele corredor estava Roy, adentrando um cômodo com uma porta dupla vermelha e detalhes dourados, enquanto empunhava uma faca. Lá estava ela, ameaçadora em suas mãos. Tentei chamá-lo, mas a voz não saiu. Shai olhou para mim, estava com certo medo no olhar, mas não era hora para temer. Meu coração queria pular pra fora daquele lugar e correr de volta para minha casa, mas minha mente me dizia o contrário. "Fique e lute com ele, seja o que for que estiver atrás daquela porta, lute ao lado dele."

Não demorou para eu dar os primeiros passos em direção à porta. Meus joelhos estavam tremendo e quase fui ao chão, mas respirei fundo e me contive, recompus-me e corri para a porta, parando apenas para abri-la com cautela. Cheguei à conclusão que meu coração era covarde.