02| A Fuga

Chris Storm agora era um gangster, mas a que custo? Em apenas uma noite, sequestrou um pokémon e quase matou o seu dono. Ou matou. Talvez aquele cadete não tenha sobrevivido ao ferimento. E isso era o motivo suficiente para ele dar o pé daquela cidade o mais rápido possível. Enquanto caminhava pelos becos vazios e escuros da Nyender, coberto por um manto de cor verde musgo que escondia seus cabelos ruivos e o seu rosto, o jovem se questionava sobre o destino do pokémon que sequestrara há alguns minutos.

Lembrou-se que tinha um parceiro agora, mas evitou liberá-lo de sua esfera bicolor. Limitando-se a encará-la vez ou outra, ansioso pelo primeiro encontro, e depois guardá-la no bolso de sua jaqueta. Sabia que Rhyhorn é um pokémon pesado e grande, não seria nada agradável se alguém o visse acompanhado por um.

A madrugada estava fria e escura, mas Chris sabia que logo mais o dia iria clarear e as pessoas começariam a sair de suas casas para servirem o sistema com seus trabalhos certinhos. Dessa forma, seria bem mais complicado não ser visto. Tinha que sair da cidade antes do amanhecer e antes que os cadetes descobrissem o seu crime e começassem uma busca polvorosa por ele. Alguém com cabelos ruivos e um tapa-olho não era um tipo muito comum, ou seja, logo chegariam até ele. Assim, continuou seguindo rumo à saída, buscando sempre os caminhos mais escuros e mais vazios.

Por mais que o rapaz de manto verde tentasse se esquivar das áreas mais movimentadas, não foi possível evitar a passagem por algumas ruas onde havia mais visibilidade. E foi enquanto caminhava por uma rua bem iluminada pelas luzes dos postes que ouviu uma voz grave o chamando.

Gelou e parou de andar assim que a ouviu. Pela força da voz e a ordem que dera, sabia que se tratava de um cadete. Estaria ele procurando pelo agressor, ou – pior – assassino, do seu colega? Chris engoliu em seco e resolveu se virar, visando conferir a identidade do sujeito. Ao lançar um olhar com a cabeça meio baixa, teve a confirmação que buscava: pelos trajes do sujeito, se tratava realmente de um cadete. Mas não era possível ver o seu rosto, estava um pouco distante da luz.

Uma brisa gelada passou por aquela rua, balançando o manto de Chris e contribuindo com o clima atordoante que se tinha ali. O mais novo membro dos Armagedons fez aquilo que lhe pareceu mais sensato: deu as costas ao homem e correu, buscando fugir do mesmo. Se teria que enfrentar aquele homem, seria melhor que o fizesse em algum lugar afastado e que as chances de alguém o interromper fossem pequenas.

OFF: Sem problemas, estive fora por essa semana. ^^

Ao correr por algum tempo em direção a saída da cidade, Chris parou em um beco escuro, apoiou-se na parede fétida e respirou fundo. Exausto, percebeu que não fora seguido. Talvez o cadete tenha ficado em alguma parte do caminho ou se quer tenha iniciado uma perseguição. Enfim, agora tudo que ele tinha que fazer era caminhar um pouco mais.

E assim o fez, marchando em passos curtos enquanto recuperava sua energia. Reconhecia o caminho, foi o mesmo que pegou quando chegou à cidade há alguns dias, o que significava que a rota 1 estava perto. Seu sossego, porém, não durou muito. Logo uma criaturinha rosada surgiu no final do beco e se pôs em sua frente, encarando-o com uma expressão de felicidade.

Era tudo que não pretendia encontrar, um Skitty. Conhecia aquele pokémon; durante a sua estadia na cidade havia topado com alguns vasculhando contaniers de lixo em busca de algum alimento, até chegou a dividir um sanduíche com um lá na periferia que ficara hospedado. É um pokémon travesso, que se mete onde não deve, mas, no geral, não gera muitos problemas.

Por mais que estivesse ansioso para dar o fora de Nyender, a presença daquele pokémon de rua despertou no jovem Armagedon uma vontade insana de batalhar. Lembrou-se do seu parceiro, da quase-batalha que teve com o pokémon do dono do restaurante e de como seria interessante participar de uma de verdade. Costumava negar essa prática, mas sabia que, caso quisesse ficar forte para confrontar os cadetes, as batalhas para que seus parceiros evoluam se farão necessárias. Por que não encarar uma agora?

– Saia, Rhyhorn! – Sussurrou o rapaz ao lançar a esfera bicolor no ar. De dentro desta, saiu uma criatura cinzenta, de olhos vermelhos e chifre pontudo. Ele pôde sentir um pequeno tremor no solo quando o seu parceiro tocou o chão com seu corpo pesado e rochoso. Era o primeiro encontro dos dois e Chris não sabia bem o que fazer. – Olá, companheiro. Como vai? – Cumprimentou, aproximando-se da criatura. Ficou ao lado da cabeça do monstro de pedra, agachando para que o mesmo pudesse ver o seu rosto. – A partir de hoje, seremos uma dupla. Contarei com você para que nosso ideal seja propagado no mundo e possamos assim construir uma realidade menos desigual. – O pokémon encarava o humano com curiosidade, ignorando a criaturinha rosa a sua frente. – Para isso, teremos que participar de algumas lutas. Penso que não será problema para você, certo? – Chris sorriu, levando sua mão até a cabeça do seu parceiro e a acariciando logo em seguida. A sensação era a de estar tocando uma estátua de pedra, o rapaz se perguntava se o pokémon sentia alguma coisa... Pela reação do mesmo, acreditou que ele estava gostando do carinho. – Que tal começar agora? Vê aquele pokémon? Vamos dar a ele um pouco de diversão. – Propôs, levantando-se logo em seguida. – Eu estudei sobre você, sei o que é capaz de fazer. Logo, comece com um Tail Whip para distraí-lo. Após esse primeiro movimento, avance com um Horn Attack! – Rhyhorn encarou o seu possível adversário e bateu com uma pata traseira no chão. Parecia estar convencido pelo discurso do seu treinador.

Chris sabia que seu pokémon tinha um corpo resistente e dificilmente sofreria muito com as investidas de um frágil Skitty, mas o pequeno felino mostrou a ele que nem tudo se resumia a força. O pokémon normal era ágil e, com isso, conseguiu se esquivar do primeiro movimento do Rhyhorn. O gangster sabia que tinha que terminar aquela luta o mais rápido possível, então resolveu tentar outro ataque.

– Rhyhorn vamos tentar acabar logo com isso. Mire bem o Skitty e então avance para golpeá-lo com o Horn Attack. Tente usar a força do golpe para lançá-lo contra a parede. Aproveite quando ele estiver caído para usar o Stomp!

Rhyhorn era bastante pesado em relação ao seu adversário; se o Stomp pegar, o pobre felino estará em apuros.

Rhyhorn é um pokémon barulhento, e com o seu tamanho não poderia deixar de ser. A cada passada ou movimento que fazia na batalha, mais o gangaster temia que aquilo pudesse chamar atenção de algum curioso. Ele olhava inquieto para os lados e para cima, vendo a escuridão da madrugada aos poucos dar lugar ao céu cinzento da alvorada. Vivia uma corrida contra o tempo, mas sabia que seu pokémon tinha total condições de vencer aquele duelo. Se bolasse melhor suas estratégias, a luta talvez não demorasse tanto.

– Rhyhorn, não se mova. Eu quero que você mantenha sua concentração ao máximo enquanto aguarda pela investida do adversário. Quando ele o atacar, faça de tudo para morde o seu rabo. – Explicava ao parceiro o seu plano com calma, para ter certeza que o pokémon estava entendendo. – Conseguindo isto, jogue-o para frente e, sem permitir que o mesmo se recupere, parta para cima dele com um Horn Attack . Ele provavelmente será lançado para alguns metros a frente da estrada, então não interrompa sua corrida; aproveitando-se que ele estará no chão após o primeiro ataque, salte sobre ele usando o Stomp!

A cada movimento barulhento causado pela luta, mais Chris se desesperava. Começava a achar que o melhor que poderia ter feito seria fugir do Skitty e ter adentrado na rota 01... Afinal, o que aquele pequeno felino poderia fazer contra ele? O dia já raiava e não demoraria muito para que as pessoas começassem a sair de suas casas ou, pior, chamassem um cadete. O rapaz precisava acabar logo com aquela luta e, para isso, estava decidido a apelar.

O corpo do Rhyhorn era bastante pesado, se conseguisse cair sobre o pequeno pokémon e frágil normal, dificilmente ela iria continuar em pé. Era algo arriscado, que poderia até por a vida do pokémon selvagem em risco, o que o rapaz não desejava que acontecesse, mas era necessária para se vencer.

Rhyhorn estava sobre o pokémon felino, mas tinha cuidado para não esmagá-lo por completo. No fim das contas, o pokémon de pedra tinha um coração bom, mas a luta ainda precisava ser vencida. Para evitar muito barulho, o gangster resolveu não exigir muita movimentação do seu parceiro.

Não eram os ataques do pequeno Skitty que preocupavam o gangster, mas a barulheira que a batalha estava causando em uma hora em que o silêncio predomina e qualquer sussurro poderia tomar a proporção de um berro. Chris já até conseguia ouvir as reclamações de alguns moradores dentro dos seus prédios e a movimentação que indicava que estes já estavam acordando.

Ao encarar o adversário, percebeu que ele já estava um tanto machucado e que seu parceiro de luta poderia finalizar a luta apenas com mais um golpe. E era isso que pretendia fazer.

Rhyhorn enfim vencia a luta, deixando o bravo Skitty desacordado no chão. Nesse tempo, um homem sai de seu apartamento, encarando Chris e seu pokémon por um breve instante. Deveria imaginar que se tratava de um sujeito fora da lei, ainda mais pelo pokémon que portava. O gangster vira o seu rosto e rapidamente recolhe o seu parceiro para sua pokéball. Para piorar a situação, era possível ouvir um apito soando de longe. O rapaz de cabelos vermelhos, não desejando esperar para ver quem apitava, logo correu o mais rápido que pode em direção a saída da cidade. Estava perto e ele sabia bem o caminho, não teria como se perder.