III - Breakfast Can Wait

Apesar de ainda estar pela parte da tarde, era nítida a mudança na cidade. O caos estava instaurado e as trevas dominavam. Tudo parecia estar congelado. Uma cidade como Twister depende muito da eletricidade. Sinais de vandalismo já eram vistos. Algumas pessoas se aproveitava do ocorrido para saquear lojas. Sirenes de ambulâncias e carros da polícia eram ouvidos. Murmúrios na rua questionavam o que estava acontecendo.

Titânia não se importava com os gangsteres de mente pequena que apenas se satisfaziam com esses roubos. A jovem olhava a lista que havia feito no dia anterior e riscava o item “Mareep”. Isso indicava que estava um passo mais próxima de ter seu desejado time. Após checar a nota de rodapé nas anotações, a gangster lembrou que uma encomenda chegaria para ela.

A dupla se dirigiu para a estação de trem. A confusão estava grande. Os trens estavam apresentando problemas e muitas pessoas estavam descontentes. Eren permanecia afastado para “garantir a segurança” da jovem, mas isso não convencia a jovem. A apocalipse não tentaria mais corrigir o modo como cadete(?) se comporta, mas se lembrou que depois precisaria ter uma séria conversa com ele. Muitas perguntas estavam sem respostas. Mas o desejo da gangster era um belo banho relaxante após uma cansativa missão. Titânia se aproximou do balcão e pediu para retirar um item que havia chegado para ela. O atendente parecia estressado. Um grande volume de papéis estava sobre o balcão.

─ Moça, você chegou em uma péssima hora. Estamos sem sistema e não podemos checar nada. Posso atende-la, mas demorará um pouquinho. O sistema me informaria o que chegou, para quem chegou, e em que seção e prateleira está. Agora terei que fazer tudo manualmente. Deseja fazer algo mais além da retirada? ─ a jovem dizia sobre o pokémon que gostaria de enviar para New Nyender. O atendente analisava uma tabela de preços e explicava o valor. ─ Serão 800 Pk$ pelo envio até o porto de Mengun mais 500 Pk$ do porto de Mengun para o porto de New Nyender. O total será de 1.300 Pk$. Deseja pagar agora ou o destinatário irá pagar na retirada?

Após ter esperado em uma longa fila, agora Titânia era obrigada a ouvir uma explicação sobre taxas e tributos à qual ela não se importava nem um pouco. Ela optava em deixar o gladiador pagar na retirada. O atendente pegava uma caixa e colocava a pokéball dentro.

─ Só preciso que você assine esses papeis com informações para o envio. Vou buscar sua encomenda. ─ O homem colocou umas dez folhas que precisavam ser assinadas. Só de olhar já cansava. Tudo seria mais simples se houvesse energia. O atendente se retirou e desapareceu por uma porta. Titânia ficou com a “missão” de assinar e preencher tudo aquilo. Desde escrever informações do remetente, destinatário e sobre a encomenda, era tedioso tudo aquilo.

O funcionário retornava com uma pequena caixa enquanto a gangster terminava de preencher tudo. O humor da apocalipse não poderia ser um dos melhores. Após receber o item, ela simplesmente deu as costas para o atendente. Para surpresa da jovem, Eren não estava mais ali. Ela fez o caminho até a saída da estação, mas não encontrou o cadete(?) ali dentro.

Twister continuava um caos. A tarde já começava a cair, ela havia perdido muito tempo na estação. Um carro estava pegando fogo mais ao longe. Várias lojas estavam sendo saqueadas. A força policial já começava a agir. Algumas batalhas já eram vistas pela cidade. Quanto mais a noite se aproximava, mais problemas surgiam.

Após tudo estar resolvido, Titânia finalmente poderia ter sua conversinha com Eren. Mas o fato do jovem não estar mais ali irritava a apocalipse. Onde ele poderia ter se enfiado? Será que ele havia abandonado Titânia ou apenas saiu sem avisar?

A gangster deixou a estação irritada e nem mesmo a visão caótica de Twister conseguiu animar a Rainha Titânia. A jovem tomou o caminho para o Kazumi. A prioridade agora era descansar e se acalmar, depois ela teria a conversa com o senhor-sumido.

As ruas de Twister estavam muito perigosas. Por sorte o hotel ficava em frente à estação. Desse modo a jovem não precisaria se aventurar naquela selva de pedra por agora. Ao chegar no hotel, o olhar do gerente não era um dos mais animados. Ele já imaginava que a apocalipse fosse a fonte daquele caos. O homem entregava as chaves do quarto para a jovem e Titânia seguia o caminho já conhecido.

Para surpresa da jovem, o ambiente dos gangsteres estava bem iluminado. Certamente deveria haver um gerador próprio para aquele andar. O banho quente estava garantido.

Titânia não tinha nenhuma pressa em encontrar Eren. Certamente ele devia ter ido fazer alguma idiotice por aí. Depois ele voltaria, apesar de a gangster preferir que ele se explodisse por aí. Assim daria menos trabalho.

A jovem adorava o caos instaurado e esperava que algum corajoso procurasse problema com ela. Seria bom para se divertir um pouco batendo em um trombadinha. Mas o caminho curto para o Kazumi não deu tempo para momentos de diversão na rua. Entretanto, tudo indicava que aquele caos estava apenas começando.

A apocalipse não se importou muito com o olhar do gerente. Afinal de contas, ela trabalhava para uma das pessoas que paga o salário dele. A jovem deixou as três pokébolas para que os pokémons fossem tratados e rumou para o quarto. O corredor dos gangsteres estava quase vazio com pouco movimento. A jovem entrou no quarto e, em 12 segundos, tirou a roupa e rumou para o banho.

A água quente suavizava o corpo da jovem. Era muito bom relaxar e se renovar para o próximo passo. Uma rainha deve estar sempre bela e majestosa. O banho terminava e a apocalipse voltava para o quarto. Sobre o criado-mudo, estavam uma bandeja com o jantar e as três pokébolas.

Após um relaxante banho, Titânia libera seus três companheiros. Hellant surge toda animada e feliz por ver a gangster. Essa personalidade da ground precisaria ser concertada. Hiroshima rolou para um canto do quarto, enquanto a Mareep já pulava para a cama. A apocalipse se aproxima da ovelha elétrica e se apresenta formalmente aproveitando a ocasião para nomear a ovelha. Ororo bocejava e assentia com a cabeça antes de cair no sono. Titânia aproveitava a maciez da lã de Ororo e deitava ao lado da ovelha. Era melhor aproveitar a cama, já que em breve ela iria para o deserto. Mas antes de qualquer coisa, era preciso encontrar Eren.

Batidas na porta do quarto despertavam a jovem gangster. Sem pressa, Titânia se levanta e percebe que dormira muito, pois já era 6h17 da manhã. Uma jovem com o serviço de quarto trazia o café da manhã e recolhia o prato do jantar que estava intocado. A gangster não pedira a refeição, mas aceitava.

O café da manhã cheirava bem: panquecas com mel e chocolate quente. Mas a jovem percebeu que havia um pedaço de papel grudado ao fundo do prato. Titânia pegou o bilhete e não acreditou no que leu.

Ao acordar, Titânia percebeu que realmente precisava daquela longa noite de sono. A jovem olhava o bilhete e o interpretava imediatamente. Ela não podia imaginar outra forma de Eren conseguir ser mais brega. Recolhendo seus pokémons, a apocalipse se dirigiu para a porta da esquerda.

Ela bateu e esperou alguém responder, mas nada. Girou a maçaneta e percebeu que estava aberta. Titânia deu uma olhada rápida no quarto e enxergou um Taillow estava empoleirado em cima do abajur e um Poochyena que estava babando enquanto dormia aos pés do jovem.

─ Bom dia, Flor! ─ Eren percebia a presença da jovem e retirava os fones de ouvido que estava usando. ─ Foi mal. Eu não escutei você batendo. ─ O jovem abria um sorriso e parecia não se importar com o fato de ter sumido na noite anterior. O cadete(?) estava encostado na cama com um notebook sobre o colo. Certamente ele dever ter feito algumas “comprinhas”.

Titânia concluía que o impulsivo do Eren realmente havia aproveitado o caos da noite anterior para pegar algumas coisas para si. A jovem se equipava com um sorriso cara de pau digno de Eren e questionava se havia algum presente para ela e informava que gostaria de realizar algumas perguntas para o jovem. Eren engoliu em seco, olhou para os lados e deu um sorriso sem graça. Era evidente que ele não havia pego um presente para a gangster.

─ Desculpe, flor. Acabei esquecendo de pegar algo para você. Apenas deu tempo para eu passar na loja de eletrônicos e depois fui perseguido por cadetes. Por sorte, eles não identificaram meu rosto devido a escuridão. E pode perguntar o que quiser. Isso é um bom sinal. Indica que o nosso casamento está próximo. ─ Eren não perdia a chance de sempre soltar suas piadinhas sarcásticas enquanto mirava algo que chamava sua atenção na tela do notebook.

Titânia se irritava ao ver Eren no modo “cara de pau sem limites”, ainda mais quando ouviu sobre um suposto casamento. A gangster disparou várias perguntas para o jovem fazendo-o arregalar os olhos. O silêncio dominou o quarto por alguns segundos sendo interrompido somente por um ronco de Poochyena. Eren deu um longo suspiro e abriu um sorriso.

── Sim, eu me chamo Eren. Eu acho ── ele fazia uma expressão como se duvidasse do próprio nome, mas depois percebeu que não era hora para brincadeiras. ── Cadete ou gangster? Essa pergunta é difícil de responder porque sou os dois ── o jovem deu um sorriso sorrateiro e voltou a falar. ── Eu sou o mais belo, carismático e talentoso gangster armagedon. Poochyena foi meu inicial na gangue, mas ── a expressão do jovem ficou mais séria ── antes eu era um cadete. Armaram para mim. Plantaram minhas digitais em uma cena do crime e passei a ser perseguido. Fugi com meus pokémons, mas logo fui encontrado. Meu Meowth foi morto para me dar a oportunidade de fugir. Só me restou Taillow ── a ave voou em direção ao jovem e pousou no ombro fazendo um carinho no rosto do jovem. ── Não gosto de me lembrar disso. Gostava muito daquele Meowth. ── Titânia percebeu que uma música triste ecoava ao fundo. Eren havia colocado a música para tocar para fazer sua história mais comovente. Realmente o jovem era um palhaço por natureza mesmo falando sobre coisas sérias. Eren se sentou na borda da cama e olhou bem nos olhos de Titânia. ── Por que eu te sigo? Sabe flor, sou muito fiel aos meus amigos. Uma amiga pediu para que eu cuidasse de você ── a gangster já ia perguntar quem seria tal pessoa quando Eren lançou o nome. ── Lilith.

O falatório de Eren não deixava Titânia certa se deveria confiar naquilo tudo. Mas a última parte da conversa fez com que o coração da gangster disparasse. Fazia muito tempo desde que soubera notícias sobre Lilith. O fato de saber que a antiga amiga estava viva e que ainda se preocupava com ela deixava Titânia feliz. Era difícil para a apocalipse explicar o que sentia. De fato, Eren era um gangster armagedon e agora acabara de ganhar alguns pontos com Titânia.

A jovem não tardou em fazer uma segunda bateria de perguntas. Mas desta vez um certo tom de preocupação saiu na voz da jovem. Uma leve preocupação sobre a situação de Eren. O jovem abriu o largo sorriso arteiro de sempre.

── Calminha aí, flor! Não vá ter um ataque do coração ── o gangster passava a mão sobre o cabelo e olhava com uma certa ternura para Titânia. ── Não se preocupe comigo. Aqueles malditos só queriam um bode expiatório. Me voilà! Eu fui o contemplado. Tudo aconteceu em Erobring. Acredito que meu cartaz ainda não tenha se espalhado por toda a Shinki ── Eren piscou para a jovem e continuou. ── Sobre Lilith, sim eu a conheço. Ela me ajudou quando ingressei na gangue. Ela é como uma madrinha para mim. A última vez que a vi pessoalmente foi há 3 meses em Kalled. Não sei se ela está lá ainda. Aliás, eu tinha o número dela em meu celular, mas ele foi destruído ── o jovem lançou um olhar irônico e pegou algo no bolso. ── Mas agora já tenho um novo, ha ha! Só não lembro o número dela de cabeça. Esse papo todo está me dando fome ── o jovem pegou o telefone, ligou para o serviço de quarto e pediu o café da manhã.

O fato de Lilith estar viva preenchia a mente da jovem, mas a gangster não tinha certeza se a antiga amiga se uniria à sua empreitada. Nem mesmo Eren sabia das ambições de Titânia. Com base nas novas informações, Titânia planejava seu próximo destino. Ela desejava ir à Village of Fire. Kalled seria uma parada quase que obrigatória. Assim ela poderia matar dois Bunearys com uma cajadada só.

Por algum motivo, a gangster pedia a ajuda de Eren para conseguir licenças falsas e um encontro com Lady Katarina.

── Mas eu tô com fome, flor! ── o armagedon fazia uma cara de Meowth piedoso. ── Quanto às licenças falsas, acho que posso conseguir. Agora, o caso de Kataryna é mais difícil. Na verdade, ninguém a encontra. Nós que somos encontrados por ela. Mas não custa tentar, não é? ── Eren se espreguiçou e se despiu ali mesmo para poder tomar banho. Titânia ficou abismada ao ver a falta de vergonha do armagedon. Na base das costas, a tatuagem da gangue parecia mirar a apocalipse. Eren acenou de costas e entrou no banheiro. A jovem observou que uma pequena foto caíra no chão quando Eren jogou as roupas na cama.

Eren entrava despreocupadamente no banheiro agindo como se fizera a coisa mais natural do mundo. Titânia gritava, mas logo depois pensava que poderia ser chamada a atenção pelo gerente do Kazumi. A única opção era esperar o armagedon terminar o banho e comer antes de partirem.

A apocalipse percebeu a foto no chão e, em um ímpeto de curiosidade, a pegou para saber do que se tratava.


A gangster virou a foto e viu que haviam algumas coisas escritas.

verso da foto escreveu:

Dria, Marcelo e eu
Amigos para sempre até o dia do retorno de Arceus!
14/12 - Orfanato de Grung

Alguém batia na porta e dizia ser o serviço de quarto. A jovem recebia o café da manhã e ainda olhava as informações contidas no verso da foto. Um coração contornava o nome de Dria e a informação sobre o orfanato era intrigante.

Eren saiu do banheiro envolto em uma toalha e ficou vermelho ao ver que Titânia segurava a foto. O jovem se aproximou e pegou a foto das mãos da apocalipse. Ele pegou as roupas sobre a cama e olhou fixamente para Titânia. Seu olhar não transmitia raiva, mas a jovem pode perceber um vazio nos olhos do jovem.

── Você poderia me esperar lá fora, flor? Acho que você não vai querer me ver nu novamente ── o jovem forçou um sorriso.

Aos poucos o passado de Eren se revelava para Titânia. Pela reação do Armagedon, aquela foto guardava uma forte carga emocional. A jovem respeito o pedido do jovem e se dirigiu para fora do quarto. Era estranho ver um sorriso não costumeiro no rosto do jovem. O sorriso nem mesmo se encaixava no perfil do moreno.

Demorou alguns minutos até que a porta do quarto se abrisse novamente e Eren se revelasse. Ele aparentava estar normal. Normal na escala Eren de ser normal.

── Então flor, meu contato que consegue licenças falsas mora em Kalled. Acho que você já sabe que a cidade é nossa! ── o jovem sorria de forma triunfante. ── Talvez consigamos alguma notícia sobre Lilith. Mas você decide.