Tape - II - It is time to fight!

O hospital ficava extremamente próximo à Delegacia, possibilitando que Guilherme pudesse ver o enorme movimento de cadetes logo que saísse do hospital. Talvez Guilherme tivesse que participar de alguma missão que exigisse trabalho de uma grande equipe, mas ainda era cedo para supor.

Graças à sua Luna, Guilherme agora teria uma progresso mais rápido que antes. Ter se encontrado com a garota realmente foi algo de extrema ajuda para o jovem de Twister.

Chegando a delegacia, Guilherme percebia que nem todos ali eram cadetes, muitos podiam ser facilmente identificáveis como gladiadores e stylist graças às suas tatuagens.

-Sobre o que você acha que se trate esse recrutamento em massa que estão fazendo? - Guilherme escutava um stylist dizer.

-Não sei, mas ouvi dizer que estão montando uma força tarefa para dominar Ragnarok e que essa equipe será tão grande que estão convocando mesmo os que não são cadetes. - respondia outro rapaz.

-Sem chances. Aposto que deve ser apenas uma inspeção de rotina do louco do Cornélios. - retrucava o primeiro.

Após algum tempo esperando, Guilherme pode perceber que a maioria do pessoal que se encontrava na fila não eram cadetes. Um breve click veio a mente de Guilherme, cadetes nunca dariam tratamento iguais para seu próprio grupo e meros Gladiadores e Stylist, provavelmente cadetes deveriam ter algum acesso especial para adentar no prédio. Se Guilherme opta-se por esperar ali provavelmente aquilo iria lhe custar o restante do dia, considerando a velocidade da fila. Por outro lado, abandonar a fila poderia ser considerado um abuso de poder, caso o privilégio para cadetes fosse real.

O frio começava a bater, mas ainda era ameno, muitas pessoas sequer usavam vestimentas de inverno.

Definitivamente os cadetes estavam recebendo tratamento preferencial na espera pelo atendimento. Guilherme podia escutar Gladiadores e Stylist reclamando do rapaz não obedecer a ordem da fila simplesmente por ser um cadete, e por isso ser privilegiado. De fato as reclamações não eram infundadas, por Shinki afora cadetes tem privilégios em quase tudo, desde coisas pequenas até grandes.

Independente do que os não-cadetes pensavam, Guilherme deveria ficar aliviado com sua situação, assim que entrou na delegacia foi rapidamente atendido por uma das recepcionista, que o avisou que Cornélios o esperava na sala de projeções C. Definitivamente não seria uma boa ideia deixá-lo esperando.

Aproximando-se da sala Guilherme pode ver que a porta estava fechada, mas graças a uma pequena tela de vidro ele podia ver que dentro dela Cornélios se encontrava ao lado da planta de uma casa projetada em uma tela, explicando algo para outros três cadetes. Deveria Guilherme já estar ali dentro ou estaria ele adiantado?

Ps.: Favor descrever como seu personagem irá entrar na sala, caso ele resolva entrar, assim como suas reações, expressões e atos.

-Atrasado. - dizia o comandante em ofício em tom inexpressivo - Você deveria esperar a ordem de entrar no recinto após bater na porta, se esqueceu de sua posição recruta? - ainda que sem levantar a voz, as palavras de Cornélios eram ríspidas.

Definitivamente a pergunta havia sido com intuito de menosprezar Guilherme e dispensava resposta.

Sem falar mais uma palavra, Darbas seguia rumo a fora da sala, mesmo passando ao lado de Guilherme, o capitão sequer olhava para rapaz, simplesmente agindo como se ele não estava ali.

-Eu já terminei por aqui, informações adicionais estão nos papeis em cima da mesa. - dizia Cornélios saindo pela porta, mas logo antes de sair ele falava mais uma vez com Guilherme - Você será penalizado por sua inadimplência, e realmente espero que você não tente omiti-la no relatório.

Cornélios então saia de vez da sala, deixando Guilherme ali com os outros três cadetes. Nenhum deles pronunciava uma palavra sequer, talvez estivessem esperando para ver como o rapaz reagiria ao tratamento de Cornélios, que apesar de rígido e indelicado poderia-se facilmente considerá-lo em um dia bom.

Apesar de não conhecer nenhum dos cadetes que estavam ali, Guilherme podia notar que todos eles deviam ter a mesma faixa etária. Um deles era um rapaz de cabelos castanhos e olhos azuis, seu penteado não era tão diferente assim do de Guilherme, porém um pouco mais curto; ele também usa óculos e possuí duas pintas abaixa do olho esquerdo. Havia também um que parecia mais ser um stylist que um cadete, ele possuía a pele suave e traços finos, juntos de seus afáveis olhos verdes e que por vezes se escondiam atrás de seus cabelos loiros, ele também parecia ser razoavelmente menor que os demais ali na sala. O último tinha pele morena e cabelos negros, um par de óculos escuros escondiam seus olhos, definitivamente sua característica mais marcante a sua enorme definição física, ele poderia facilmente ser um fisiculturista.

Guilherme de certa forma ignorava os outros três cadetes, que começavam a conversar entre si assim que Guilherme começava a ler as informações contidas nos papéis. Nos vários documentos continham informações referentes a uma casa na Rua Diamond, diversas provas sobre o local ser um esconderijo ilegal de pokémons.

As informações deixavam claro que o local se tratava de um ponto de armazenamento para tráfico. Havia ficha de doze envolvidos que revezavam na guarda do local, assim como diversas outras de pessoas que poderiam estar incluídas no esquema. A faixa etária dos meliantes era bastante diversificada, contendo desde de crianças com menos de oito anos, até idosos com mais de setenta e cinco. No total eram trinta e oito investigados.

Um dos documentos se diferenciava dos demais, era de ordem de missão. Neste as palavras deixavam claro, a missão deveria ser uma emboscada sorrateira, todos envolvidos no local deveriam ser exterminados sem direito a perguntas, eles se tratavam de criminosos de altíssimo grau de periculosidade. Os pokémons deveriam ser resgados e retornados para delegacia, os cadáveres poderiam ser deixados no local, uma força tarefa específica faria a limpeza do local mais tarde. Definitivamente a natureza da missão era diferente das demais que Guilherme já tinha escutado falar sobre, o conceito da tarefa em si não parecia ser algo certo.

Passando pelas fichas criminais dos envolvidos no esquema era de se espantar a quantidade de crimes. Haviam diversas ocorrências de estupros, latrocínios, sequestros, dentre diversos outros crimes, de certa forma um amenizante para a tarefa que precisava ser realizada. O mandante da quadrilha atendia pelo codinome de Paizinho, e o nome Victor Valverde, apesar da falta de foto, a descrição dele dizia que o sujeito seria facilmente reconhecível pela enorme cicatriz que cobria o rosto quase inteiro, havia ainda menção sobre a cicatriz ser devido a queimaduras para evitar possíveis confusões. A quantidade de informações contidas ali era quase incessável, se Guilherme fosse ler tudo provavelmente gastaria mais de um dia.

Após tirar uma foto da planta do local onde deveria ir, Guilherme se voltava para seus parceiros perguntando "Há algo mais que eu deva saber?".

-Finalmente resolveu se socializar - respondia o mais forte dele em tom de deboche.

-Não seja duro com o novato, Jesse. - falava o rapaz de óculos - Meu nome é Adrian, esse é Ivan, e o rapaz brincalhão é Jesse. Eu, como patrulheiro, estarei chefiando essa missão, mas não precisa me encarar como um chefe em si, eu gosto de dar liberdade para que todos possam ajudar na elaboração dos planos.

-Frouxo - dizia Jesse em voz baixa.

-Como estava dizendo - continuava Adrian - Imagino que já deve ter realizado sobre o que se trata nosso objetivo. Precisamos agir furtivamente e eliminar todas ameaças sem dar chances de reação, como pode perceber por esse ponto e esse - Adrian apontava para o mapa - conseguiremos adentrar e manter escondidos no sótão, que também servirá como posto de observação. Segundo nossas fontes, eles se reúnem para comer todos dias no mesmo horário, com todos juntos não teremos problemas em eliminá-los. Alguma dúvida ou observação?

O plano parecia já estar traçado, porém algumas coisas não haviam sido deixadas claro, como de qual forma eles iriam retalhar, o que eles fariam se nem todos estivessem lá, o que fariam caso fossem descobertos, dentre diversas outras coisas. Possivelmente todos os pontos já haviam sido esclarecidos mais cedo durante a reunião com Cornélios, fazer perguntas demais poderia atrasar o andamento da missão, mas se Guilherme não estivesse devidamente informado poderia acabar cometendo algum erro.

Off: Hey Maninho o/
Assumindo a sua rota até o retorno do Yoshiki. Espero que possamos continuar o excelente trabalho que já foi iniciado ^^

Ok! Navier estava convocado para uma missão delicada, que parecia ser apenas uma busca por Pokémons de pose ilegal, mas que essas pessoas que mantinham essas pessoas sob o seu domínio não passavam de vários bandidos, com uma ficha penal bem recheada. Aquilo não era normal para uma estreia como recruta, mas com um patrulheiro no meio, a situação poderia ser diferente, afinal, tinha mais experiência do que os três juntos. Mas Guilherme ainda tinha algumas dúvidas da missão.

Jesse sorria da postura do loiro. O rapaz “brincalhão” e também de difícil convivência parecia saber que a resposta era bem óbvia. O que deixava a situação aparentemente mais desconfortante para Guilherme.

- Estamos indo prender uma quadrilha e você se preocupa em como reagir caso for descoberto? Você é mesmo um cadete? – a pergunta, que misturava humor com deboche, parecia ressoar naquele momento.

- Menos, Jesse. – repreendia o patrulheiro. – Não iremos ser pregos. Se formos, possivelmente muitos fugiram. E além disso, não temos dados específicos na verdade. Talvez sejam mais do que o esperado ou menos. – respondia Adrian, de modo calmo e bem sincero – Não seja pego, ok? Mas se for, apague o alvo para que ele não denuncie para o resto e se for toda a quadrilha... Bem, iremos adianta o plano, apenas. – finalizava o cadete, com grande habilidade na fala.

- Então será uma missão de três etapas: observação, planejamento do horário e ataque, correto? – Ivan parecia planejar tudo em sua mente, como se criasse um filme. Deixava a situação mais visível, embora a missão permanecia cheia de lacunas.

- Satisfeito, calouro? – Jesse perguntava de modo de deboche, com um sorriso “espertalhão” na cara e um jeito mais desengonçado. – Podemos continuar com o plano ou você tem mais alguma pergunta boba? Só não vou cobrir suas costas, entendeu? – Jesse esclarecia muito bem, sem precisar de mais palavras para fazer Navier entender que se ele precisasse de ajuda do recruta, não teria.

- Só mais uma coisa, você tem medo de altura? – Adrian perguntava com bom humor. A pergunta era séria, embora o rosto dele parecesse uma brincadeira. Jesse e Ivan sorriam.

Navier se calava diante das piadinhas que era obrigado a ouvir, mas em seu íntimo ao lhe incomodava, mas era melhor que ele ficasse calado, ou acabaria falando mais do que devia. As informações já estavam definidas, comandos designados, só faltava colocar o plano em prática e assim, ele concordou com o Patrulheiro.

- Sem mais perguntas! - o Cadete guardou o celular em seu bolso e esperou por ordens de início da missão. Por mais que ele não gostasse da companhia que tinha no interior daquela sala, ele precisaria se sujeitar a companhia do cadete engraçadinho por mais algum tempo.

- E então, quando começamos? - perguntava Navier.

Diante de deboche de Desse, que parecia fazer isso até contra o seu próprio superior, Guilherme pareceu satisfeito com as poucas informações que detinham... Se desse algo errado, ou ele finalizava a missão, adiantando o plano de prender todos ou ele eliminava, do seu jeito, o intruso e retornava ao posto. Mas havia mais coisas que não se encaixavam, como o fato do grupo ali estarem se divertindo muito com a situação.

Seguiram todos para o terraço do prédio que eles estavam. Desse queria ir na frente e fazia questão disso. Ivan mantinha-se do lado de Adrian, sempre bem tranquilo e esperando informações. No terraço, era possível ver todos os prédios de Nyender. Ventava muito naquela tarde e Guilherme conseguia contemplar o céu levemente nublado dali.

- Como iremos para aquele galpão, não podemos ter o descuido de ir a pé até lá, pois seríamos facilmente notados... Pensei até em um helicóptero, mas o barulho seria bem inconveniente... Restou algo legal... – explicava o patrulheiro.

- Hapel! – Ivan não aguentava a emoção e denunciava o modo em que eles chegariam até o galpão. Naquele terraço, vários equipamentos, como um sinto com um gancho, protetor de pé, e braços, assim como cordas de aço bem grossa e resistente. Desse não esbanjava surpresa, talvez estivesse dentro das conversas do começo, em que o recruta faltou.

Com um movimento simples, Ivan liberava o seu Taillow, que segurava na ponta da corda de hapel, com o gancho, e levava para o prédio ao lado, bem mais alto do que aquele em que o grupo estava. A ave prendia o equipamento no prédio ao lado, mais alto e ali eles poderiam usar a corda para seguir com cautela.

- Quer ir primeiro?! – perguntou Adrian, mas Desse logo assumia a frente e pegava na corda, que ligava o prédio ali até o prédio vizinho. Ele prendia o seu sinto na corda, enquanto Guilherme recebia o equipamento (protetor de perna, braço e cinto com fivela fixadora) e assim ele abraçava a corda, usando suas pernas para se manter fixa (para isso que servia os protetores de perna!) e assim usava sua força para se puxar pela corda até o prédio vizinho... Seria um pouco de resistência...

O movimento de Guilherme era semelhante ao de Desse. Embora o outro cadete esbanjasse muito mais habilidade, Guilherme conseguia avançar pela corda resistente, enquanto o Taillow de Ivan observava tudo. O patrulheiro seguia, assim como todos e não demoravam para ir até o prédio vizinho e depois desciam de hapel até o balcão. Não era muito longe dali e aquele movimento de chegar por cima acabou não levantando nenhuma suspeita.

Agora, tinham que penetrar para a segunda parte do plano: ir para o sótão do galpão e lá observar como as coisas funcionavam lá dentro. Ivan parecia bem ansioso com a missão, recolhia seu Taillow e esperava o próximo passo. Desse era o mais sério e só saia encostando o seu ouvido na estrutura de madeira e batia, procurando sons ocos que revelavam que ali era uma passagem para o sótão, mas não tinha muita sorte.

- Vamos gente... – chamava o patrulheiro em sussurro. – Alguém tem alguma ideia de onde fica o sótão dessa estrutura? – os cadetes pareciam se dispensar em cima do gigantesco galpão. Eles precisavam ao menos saber onde era o sótão, para poder entrar, o que seria parte da adaptação do plano que se seguia...

Agora os rapazes estavam diante de um pequeno entrave, encontrar de forma segura, a passagem para o sótão, evitando fazer qualquer tipo de barulho que viesse a chamar a atenção. Guilherme observou a cena por alguns instantes e pediu licença o Adrian, achegando-se um pouco mais perto do grupo.

- Acho que tenho a solução para isso! - o Cadete sacou um esfera bicolor e dando o click em seu único botão fez com ela dobrasse de tamanho. A capsula se rompia liberando Julieta, uma Duskull jovem, mas bem esperta, irmã gêmea de Romeu que, por sinal, encontrava-se com sua prima, Luna. A fantasminha girou em volta de seu dono que sorria ao ver a cena. - Ju, precisamos que você encontre o sótão para nós, mas em hipótese alguma você deve ser vista, entendeu? - a bruxinha consentia com a ordem dada e passava por entre os rapazes até sumir pela parede.

- Agora é só esperarmos! - dizia Navier.

Diante da dificuldade de encontrar o lugar certo do sótão, Jesse solicitava a ajuda dos companheiros para pensarem em alguma forma de entrarem no sótão após localizá-lo, tudo isso em total segurança. Todos pareciam sem ideia alguma, até que Guilherme pediu permissão à Adrian e liberou uma Duskull alegre, que rodeou o cadete num sinal claro de felicidade ao ser solicitada.

- Sério que vamos brincar com esse fantasma sorridente? - debochou Jesse.

Ignorando o deboche, Navier deu ordens à fantasminha para que ela procurasse o sótão sem ser vista, já que era um fantasma e poderia esconder-se dos olhos humanos. Com alegria, a Duskull sumia. Ivan parecia bem ansioso pelo retorno da fantasma e sua excitação com a missão era bem visível. Adrian mantinha-se calado e esperava notícias da ghost, enquanto que Jesse continuava dando leves tapinhas no telhado à procura do sótão. Não demorou muito para que a Duskull voltasse indicando a localização do sótão, um pouco mais a frente de onde Jesse estava.

- Estão vendo?! Eu estava quase lá. - gabou-se o cadete.

- Jesse, vamos manter o foco. - disse Adrian que rapidamente liberou um Scyther, ordenando que o pokémon cortasse o telhado na área do sótão e, com extrema maestria e agilidade, o pokémon louva-deus fez uma "tampa" na parte da casa onde os cadetes observariam tudo. - Muito obrigado, Silent. Retorne. Agora vamos prosseguir, rapazes.

Os quatro desceram e estabeleceram-se no sótão do galpão, local que serviria para eles como ponto de observação, através de grades de ventilação que davam vista para o corredor principal, agora eles só precisariam entrar no ritmo dos bandidos e logo depois poderiam realizar a emboscada. O cômodo da casa era grande e continham muitas caixas, provavelmente cheias de documentos e objetos já não tão utilizados, mas a falta de poeira no local indicava que fora limpa há pouco tempo.

- Vamos aguardar até o anoitecer, quando as atividades aqui parecem diminuir para podermos espalhar algumas escutas que eu trouxe e fazermos o reconhecimento do ambiente. Todos de acordo? – os rapazes assentiram.

Com a chegada da noite, o galpão parecia estar vazio. Jesse, que ficara responsável pela observação do corredor principal, fez sinal para que saíssem do sótão e seguissem para o corredor. Adrian liderava, seguido de Ivan e Guilherme. Jesse ficara no sótão para avisá-los de qualquer movimentação estranha pelo rádio. Navier ficara responsável por instalar uma escuta na cozinha e, de acordo com os dados que recebera, sabia que ela ficava no final do corredor principal. Caminhava com cuidado, quando se assustou com o chamado do rádio.

- Pessoal, não esqueçam que daqui a 40 minutos acontece a ronda dos seguranças pelo galpão. Sejam rápidos! E espero que não fique com medo do escuro, novato. – debochava Jesse.

Atento, determinado e sendo auxiliado por sua fantasminha, o jovem recruta chegara à cozinha com certa facilidade. Como a primeira ronda da noite ainda aconteceria, os corredores estavam vazios e seguros por enquanto.

Guilherme reparou que a cozinha era bem simples, contendo apenas o que era essencial para as refeições que eram feitas ali. Geladeira e fogão estavam lado a lado, acompanhados de uma pia de mármore sob um armário onde louças e comida se misturavam entre as portas. Uma mesa retangular grande preenchia o vazio do ambiente e um arranjo de flores amarelas e delicadas repousava sobre a mesa. Com a missão de instalar a escuta, Navier optou pela instalação no interior da geladeira, onde seria muito difícil de encontrar o objeto espião e daria uma boa vantagem ao grupo Cadete, assim a fantasminha recebeu e cumpriu a ordem dada. Quando já estavam saindo da cozinha, a Duskull ficou maravilhada com algo e correu para mostrar ao seu mestre, entregando-o uma foto onde um homem com uma cicatriz enorme no rosto e uma garotinha sorriam alegres acompanhados de pokémon nativos de Nyender. E não foi só isso, Julieta havia encontrado 3 álbuns de fotos guardados em um armário próximo à pia e fez questão de trazer todos para seu mestre cadete. Guilherme ficara espantado com o que vira.

De acordo com os dados disponibilizados para ele e seus companheiros, aquelas pessoas eram traficantes, assassinos e ladrões profissionais, mas as fotos e suas legendas eram diferentes. Nenhum deles exibia armas nas fotos, apenas sorrisos e abraços, além de diversas legendas com “Ação de resgate à pokémon maltratados em XX/XX/XX, Nyender City.”. Aquelas pessoas pareciam mais uma equipe protetora aos pokémon de Nyender, ou seria aquilo só uma máscara? Com o horário apertado, o recruta guardou a primeira foto recebida e rumou de volta ao ponto de encontro.

- Estão todos bem? Nenhum problema, certo? – falava um atencioso Adrian assim que vira Navier e Ivan retornarem.

- Sem problemas, chefe! – dizia Ivan.

Navier repetia as palavras de Ivan e juntos seguiram de volta para o sótão em segurança. Jesse fez algumas piadinhas que foram ignoradas pelo recruta novato que estava imerso à pergunta sobre a veracidade das fotos encontradas e talvez daquela missão. Olhando rapidamente para Ivan, pôde jurar ter visto o rapaz limpando sangue de um canivete ou será que estava vendo coisas?

- Rapazes, trouxe alguma comida suficiente apenas para dois dias, então logo deveremos concluir essa missão. Vamos nos preparar para qualquer possível imprevisto e concluirmos essa missão com sucesso.

A atitude inusitada de Julieta bombardeava sem pudor algum a mente do Cadete. Contudo, a atitude dela não fora proposital, apenas quis ajudar. Navier retribuía a atitude de sua pequena bruxinha com um afago que fazia ela se deleitar nos braços do rapaz que sorriu e tão logo eles rumaram de volta ao sótão.

Durante o percurso de volta, Navier tentava refletir sobre a veracidade de sua missão, bem como a veracidade das fotos que ele vira instantes atrás, no entanto, até o presente momento ele não tinha provas para justificar tais fatos, nem para negá-los. Logo, era melhor que isso ficasse apenas sobre conhecimento dele e de sua Duskull e foi assim que ele a orientou que ninguém mais deveria ser informado sobre isso. A fantasma concordava e colocava as mãos em algum lugar que localizava-se sua boca. - Muito bem! - falou ele.

De volta ao sótão, Guilherme era submetido novamente as piadas de Jesse que, a essa altura já haviam perdido totalmente o cunho humorístico. O cadete começava até a considerar a ideia de deixá-lo para trás caso a oportunidade surgisse. Assim, vendo que todos haviam retornado sem maiores problemas, Ivan informava que tínhamos poucos mantimentos e deveríamos agir em breve para que o estoque não chegasse ao fim.

Contudo, mesmo todos tendo retornado em segurança para o sótão, Navier não pôde deixar de ver o canivete machado de sangue nas mãos do recruta, mas preferiu ficar calado, afinal ele estava em minoria ali e com toda certeza os outros dois cadetes certamente ficariam do lado de Ivan, mesmo que não quisessem. - Certo! - dizia Navier com relação as ordens de Ivan.

Com as escutas espalhadas pela casa da maneira escolhida pelos cadetes, a missão estava oficialmente iniciada. Guilherme reparara no canivete manchado de sangue de Ivan, mas nada falara devido à improvável reação dos cadetes à seu favor. Mas será que não seria melhor ter avisado aos companheiros? A noite passara tranquila, as rondas noturnas era feitas pelos seguranças do local de hora em hora e um rodízio de guarda fora montado para que os Cadetes pudessem descansar em segurança. O primeiro turno de guarda ficou com Jesse, depois Adrian assumiria, seguido de Ivan e, por último, seria a vez de Navier.

Navier demorou para dormir, estava um pouco tenso, mas precisava relaxar para aguentar o dia seguinte. Nem percebera quando dormira, pensando nas fotos encontradas, no canivete ensanguentado de Ivan e em sua prima. Infelizmente, muita coisa iria mudar.

- Ei, Novato! Acorda aí! - Jesse falava com um tom diferente, parecia preocupado.

Navier acordou e apenas vira Adrian saindo pelo buraco no teto do sótão de forma apressada. Jesse olhava para o corredor principal e estava com o headphone das escutas, pronto para ouvir qualquer ruído. Navier tentou falar, mas Jesse fez menção para que ele ficasse calado. O Sol ainda não nascera e o recruta novato olhava para o visor do seu celular. 3:45. O Sol nasceria logo mais e ele não vira Ivan. Será que ele saíra com Adrian?

- Novato, você vai ter que descer e procurar o Ivan! Ele sumiu! Não está em lugar nenhum. Você tem 15 minutos para encontrá-lo, antes da próxima ronda. - Jesse falava apressado. - Adrian foi procurá-lo lá fora e eu fiquei ouvindo as escutas. Ouvi passadas indo da cozinha para o corredor dos quartos. Pode checá-los? Tenha cuidado, parece que tem alguns pokémon perabulando pelos corredores.

Julieta balançava a cabeça com sinal de positivo para a pergunta de Guilherme, aparentemente a ideia do cadete de mandar a fantasma como batedor foi bem sucedida. Ela gesticulava com suas pequenas mãos pedidndo para que Guilherme a seguisse.

Ainda que acompanhado de duas pokémons, e outros a sua disposição caso precisasse, a tensão era palpável. A casa estava em silêncio absoluto e por mais que Guilherme tentasse ser furtivo, cada passo parecia ecoar mais que o devido. Ao menos Guilherme ainda não tinha visto ou ouvido nada com o qual precisava se preocupar.

Duskull guiava o cadete e a felina rumo ao corredor onde ficariam os quartos, Guilherme conseguia se lembrar bem da planta da casa, o corredor era longo e estreito, fazendo uma curva em forma de "L" no final, ele levava para diversos cômodos, cerca de oito, onde suspeitava-se ser mantidos pokémons em cativeiro e armazenado qualquer outro tipo de armas e ou mercadorias para tráfico, além de possíveis alojamentos. Claro a planta que Guilherme havia visto não indicava o uso atual de cada sala e ele só havia verificado a cozinha até então.

Todos as portas estavam fechadas e Guilherme podia ver pela fresta inferior que todos estavam com luzes apagadas, diferente do corredor, que convenientemente estava com a luz acessa.

Chegando próximo a curva, Nira alertou Guilherme sobre um possível som vindo de um dos quartos que se encontrava logo na esquina. Guilherme não conseguia ouvir nada, mas logo percebeu que a luz do mesmo estava ligada, provavelmente alguém estaria ali dentro. Julieta então apontava para o cômodo, definitivamente ela indicava que Ivan estava ali dentro, mas era difícil imaginar porquê ele havia saído sem avisar os outros e o que estaria fazendo ali.

Antes que Guilherme tivesse muito tempo para pensar no que fazer, seu rádio começava a reproduzir a voz de Adrian com um leve ruído de fundo "Guilherme, está na escuta?". Havia sido um descuido de Navier ter deixado o rádio no modo aberto, além de tudo em um volume razoavelmente alto. Não, Guilherme dificilmente cometeria esse erro, era mais provável que alguém tivesse mexido no aparelho enquanto ele dormia, mas por que motivos eles fariam isso? Talvez essa hipótese fosse fantasiosa demais e o cadete havia realmente apenas se descuidado.

Independente do motivo do rádio estar daquela forma, Guilherme tinha certeza que  a pessoa que estiva dentro daquela sala podia ouvi-lo. O tempo para fazer qualquer coisa era curto, pela fresta embaixo da porta Guilherme pode ver a luz se apagando e agora começava a ouvir passos em direção a porta. Era bastante provável que fosse Ivan, já que Julieta não havia avisado sobre nenhum perigo, mas ao mesmo tempo que o fantasma dava a entender que estava seguro, a postura de Nira indicava que ela estava pronta para batalha, como se pressentisse que algo estava prestes a acontecer.

Guilherme ainda não tinha respondido o chamado no rádio, e provavelmente se não o fizesse seria chamado novamente, a não ser que silenciasse o mesmo. Ele ainda sabia que caso quisesse tentar se esconder em dos outros dois cômodos mais próximos ele teria que agir rápido para que não fosse visto.

"DROGA!"

A mente de Guilherme o condenava por não ter ajustado o volume de seu rádio, mesmo sabendo que ele não cometeria um erro como aquele em uma missão de um nível tão difícil e já diminuía o volume do aparelho a um nível que só ele ouviria. A fantasma contornou seu corpo e apontou para uma das portas ao lado do rapaz. Ela sumiu adentrando o local e verificou que este estava vazio, ela chamou seu dono para segui-lo e assim ele o fez.

Julieta, Navier e por último Nira adentraram o local e fecharam a porta o mais rápido e silenciosamente que conseguiram. O rapaz orientou Ju que ficasse de olho no corredor pelo lado de fora e, é claro, sem ser vista por ninguém. Nira e Guilherme aguardavam no interior do quarto prontos para tomar possíveis medidas drásticas.

O som dos passos do lado de fora ainda podia ser ouvido, enquanto na escuridão do quarto a dupla aguardava por mais informações da fantasminha.

Questionar-se é uma coisa muito comum do ser humano, aliás, essa é uma das principais virtudes humanas, a consciência. Um erro como aquele em uma missão importante como aquela não parecia algo que Navier deixaria passar e diversas teorias surgiram em sua mente antes de tomar uma decisão quanto ao rumo que tomaria para a situação na qual encontrava-se. O tempo corria e o jovem cadete precisava decidir entre encarar o dono dos passos que aproximavam-se da porta adiante ou esconder-se e esperar. Julieta não parecia alterada, dava claros sinais de que tudo estava bem, porém a felina ao seu lado não parecia indicar o mesmo. Algo estava errado. Navier optara por recuar.

Como vira antes, a maioria das portas do corredor estavam fechadas, mas Julieta deu um jeito de abrí-la para seu mestre. Dentro da sala a escuridão era total e o cadete não enxergava nem um palmo à frente, mesmo que seus olhos já estivessem um tanto acostumados à escuridão do cômodo. Tateando o local, Navier trancou a porta assim que Nira entrou e esperou. Os passos que ecoavam pelo único quarto iluminado, agora ecoavam pelo corredor e paravam perante a porta onde Navier entrara. O indivíduo forçara a maçaneta, mas como estava trancada, deixou o local. Navier enfim respirava um pouco mais aliviado. Com os passos longe e checando o relógio para ver o horário da próxima rota, o rapaz conseguiu tatear uma poltrona e usou a fraca lanterna do celular para iluminar a sala. Uma mesa estava no final do cômodo, algumas poltronas estava à frente da mesa e uma cadeira giratória do outro lado. Parecia um escritório, provavelmente o covil de toda aquela quadrilha. Navier reparou nas estantes cheias de livros e a mesa estava lotada de papéis. Pelas paredes diversos porta-retratos mostravam pessoas sorridentes e alguns pokémon sorriam nas fotos também ou expressavam alto nível de felicidade. O que estava acontecendo ali?

Pegou alguns papéis e neles estavam datas de entrada de alguns pokémon, características e tratamentos necessário, como alguns remédios para as doenças diagnosticadas por um médico licenciado, pelo que Navier checou pelo código no carimbo. Ler com pouco luz era um desafio, mas se acendesse a luz da sala poderia chamar atenção da ronda ou daquele que quase o encontrara. Além disso, ainda não havia respondido ao primeiro chamado de Jesse. Será que seria uma boa hora para tal? Onde estaria Ivan e Adrian? Será que aquele no corredor era mesmo o cadete sumido? A imagem da faca ensanguentada surgiu na mente de Navier, deixando-o um tanto pensativo. Voltou à olhar para os papéis sobre a mesa. Eram diversos pokémon que pareciam ter recebido cuidados naquele local e muitos já haviam sido soltos, restando apenas alguns poucos no galpão. Navier contou 10 pokémon típicos de Nyender sobre os cuidados das pessoas ali. O que realmente era aquela missão? Cornelius deixara bem claro que queria todos mortos, mas não para o jovem cadete que chegara um tanto atrasado à reunião, mas fora o que os outros passaram.

Ainda haviam diversos papéis a serem checados, mas a próxima ronda se aproximava e provavelmente eles teriam alguma chave extra daquela sala caso o cadete fizesse qualquer barulho, o que poderia significar seu fim. Fora isso, ainda precisava responder à Jesse, seu parceiro de missão. O que fazer em seguida? Não havia como saber se havia algum perigo fora daquela porta, pelo menos Navier não podia prever isso, não é mesmo?