[RPG OFF] Desventuras em Série

Todos pareciam aprender alguma coisa com aquele treinamento, observando com atenção cada dupla que se enfrentava, analisando com atenção, vendo falhas e acertos para depois trabalhar em cima do que haviam descoberto. Era raro ver Vladimir daquele jeito com algo que não envolvesse itens, o que animava ainda mais a loira.

Juan se livrava da confusão e, mais experiente, conseguia evadir do ataque que poderia ser critico para ele. A luta virava novamente, com Juan se recuperando e Vladimir caindo no chão. Aquele treino era mais complexo do que o treino de Kronk, mas a raposa era o Pokémon mais jovem e, consequentemente, inexperiente da equipe. Juan aprendia a enfrentar oponentes alados, Vladimir aprendia a usar todo o espaço que tinha para desviar e enfrentar oponentes mais fortes.

-Vladimir, não desista! Alcance os céus novamente e combine mais uma vez o Astonish com Leech Life no momento mais oportuno! Não se esqueça de evadir quando necessário! Juan, não facilite para Vladimir! Tente combinar Bullet Seed com Magical Leaf para tentar derrubar Vladimir e torná-lo um alvo fácil! Tente evitar os ataques!

Novamente a careta surgia em campo, mas invés de se afastar, Juan surpreendia ao saltar direto para a imagem assustadora de Vladimir. O Roselia parecia pequeno contra a careta, sendo “engolido” pelo inimigo. Melissa ficou surpresa, mas preocupada com o que se passava na cabeça do Grass, pelo menos até a careta se deformar e explodir, exibindo um show de fogos coloridos e sementes brilhantes.

A combinação gerou brilho, quebrando a aura assustadora. Vladimir caia, Juan se exibia. Aquilo com certeza seria útil num Contest. A loira sorriu, batendo palmas para a dupla.

-Vocês foram muito bem! Podem descansar agora. Castiel, ajude eles com Heal Pulse, certo?

A jovem pedia para o psíquico, esperando ambos se afastarem do campo. Faltava apenas dois Pokémon para treinar: Castiel que teria que esperar para terminar de curar os companheiros de time; e Totodile, mas a jovem não tinha certeza se ele iria querer participar.

-Totodile, quer participar do treino? Ou prefere apenas observar por hoje? Se quiser participar, a ideia inicial era você praticar com o Castiel, mas se quiser enfrentar alguém diferente, tudo bem também.

Ofereceu, dando opções de escolha para o crocodilo. Não queria forçar o mesmo a treinar se ele não quisesse, mas gostaria de ver o potencial do mesmo. Na pior das hipóteses, teria que deixar o treino de Totodile para algum dia que ele quisesse colaborar (ou numa batalha contra alguém que ele quisesse vencer), deixando Castiel para enfrentar outro Pokémon.

Apesar de Totodile parecer atento as batalhas e querer participar, claramente não seria naquele dia que iria querer treinar junto da loira. Embora esperasse uma resposta negativa, a loira ficou um pouco desanimada em recebê-la.

Mirando os outros Pokémon, percebeu que todos estavam cansados. Alguns mais, outros menos, mas um pouco de descanso cairia bem.

-Certo. O treino do Cass vai ficar pra mais tarde, acho que um descanso cairia bem agora, não é?

Comentou com um meio sorriso para o pequeno grupo de monstrinhos. Ainda era cedo pra buscar sua pedra, o treino por enquanto teria que ficar para depois, sobrando o ginásio e o café, mas ambos não seriam visitados no momento.

Por enquanto, deixaria seus Pokémon interagindo, brincando e conversando. Ofereceria para Vladimir a opção de voltar para a Pokébola, caso o sol estivesse o incomodando muito. Sem nada para fazer naquele breve momento, além de vigiar para que ninguém se metesse em confusão, Melissa pegou o celular e discou o número de Victória, querendo saber como a mulher estava. Quem sabe ela tivesse visto sua apresentação e pudesse dar dicas?

Acomodada em um banco de frente para o Centro Pokémon, mantendo um olho atento em seus cinco monstrinhos de bolso. Todos descansavam em algum lugar, com Kronk tirando um cochilo e Juan fazendo fotossíntese ao seu lado. Totodile, único com energia, tentava chamar a raposa para brincar, mas obviamente o Vulpix precisava daquele cochilo. Utau deitava próxima da criadora, enquanto Castiel ficava sentado ao seu lado e perdido em seu mundo.

A loira aguardava alguém atender o telefone, levando um susto quando ouviu um grito do outro lado. A conversa fluía animada, com Melissa feliz pela amiga. Aparentemente, ver o Contest realmente a animou.

-Muito obrigada! Mas confesso que não foi fácil preparar uma apresentação com só um dia sobrando... – Comentou, lembrando-se das dificuldades e do pouco tempo que tinha. O rosto levemente corado pelos elogios. – Não sabia o que esperar das batalhas de Contest, foi a primeira vez fazendo um combate desse estilo... Acho que peguei a ideia... Vou praticar mais pra deixar os ataques bonitos, obrigada pela dica! – Respondeu animada, agora que já sabia como treinar seus Pokémon melhor, talvez conseguisse criar mais combinações e melhorar o uso dos ataques de forma individual. – E você? Como está? – Perguntou, querendo saber como ela estava indo. Havia um pouco de preocupação em sua voz.

-Minha mãe diz que uma bebida quente sempre ajuda o sono chegar. – Melissa sugeriu, sorrindo levemente. Ficava feliz por Victória poder ficar com a família de novo. – Vou me esforçar ao máximo no próximo Contest, prometo. E em troca, você vai ter várias boas noites de sono, combinado?

Brincou com a mais velha, tentando animar um pouco ela. Sabia que não era tão simples, mas esperava que ela se recuperasse logo. Anotou mentalmente em visitar o sitio, quando passasse na cidade.

Victória comentava sobre um Contest em Cerulean, o que abria mais as opções da loira, mas também a forçava a treinar mais e tentar, com a esperança de conseguir a fita. Melissa esperava que os ginásios fossem mais fáceis, visto que disputaria contra líderes e não com os treinadores, pelo menos até a liga...

Perante a brincadeira, Melissa dava uma pequena risada. – Adoraria ir, mas provavelmente perderia a hora... – Entrou na brincadeira da mais velha. – Vou ir almoçar também. Te ligo outro dia, tudo bem?

Se despedia, esperando a outra desligar antes de chamar seus Pokémon para almoçar.

O lugar estava cheio, muitos treinadores com seus iniciais se localizavam ali. Talvez fosse o esperado, afinal era o primeiro ginásio que deveriam enfrentar. Preferiu evitar chamar a atenção das pessoas, servindo seus Pokémon e a si mesma, ocupando um lugar mais afastado.

A refeição foi tranquila e, após todos terminarem, a jovem levou os monstrinhos para o quarto. Cada um se acomodava aonde queria, com Kronk se aninhando perto da loira e a mesma cantando uma cantiga de ninar para ele. Duas horas de cochilo cairiam muito bem.

Melissa despertava, percebendo que havia passado da hora. Vladimir assistia alguma coisa, a jovem não sabia como. Cass olhava a janela fechada, nada de diferente. Juan e Totodile ainda dormia e Utau despertava, mas a loira sabia que havia algo errado, revirando os travesseiros e lençóis. Onde estava Kronk? Ver a porta entreaberta a desesperou.

-Cass, Vladimir, vocês viram quando Kronk saiu ou para aonde ele foi?

Chamou alarmada, o que deixou Utau mais desperta. O chamado provavelmente despertaria os outros dois. Se recebesse uma negativa, mandaria Vladimir para uma busca aérea e Castiel tentaria localizar a raposa desaparecida.

Melissa queria encontrar Kronk rápido, antes que ele encontrasse problemas.

Aparentemente, ninguém havia visto a raposa, para aumentar o desespero da loira. Todos, exceto Totodile, se moviam para procurar Kronk. Melissa sentiu-se desapontada com o aquático, esperava que ele ajudasse, visto que parecia se dar bem com o Vulpix. No entanto, a preocupação com a raposa encrenqueira era maior do que dar um sermão que Totodile não ouviria.

Por sorte, Kronk ainda estava no Centro Pokémon, mas infelizmente o caos já estava instalado. A loira se aproximou do rapaz, dividida entre alivio por ele estar bem, e incrivelmente irritada.

-Ele é meu... – Esticou os braços, para pegar o Pokémon, a bronca já na ponta da língua, mas teria que esperar. – Sinto muito por tudo o que ele aprontou... – Se desculpou com o rapaz e com Joy, pedindo para o Kirlia usar Heal Pulse no Raticate, voltando depois a encarar Kronk. – E você vai pra Pokébola até eu terminar de arrumar sua bagunça, daí teremos uma longa conversa.

Melissa não deixava dúvidas para o filhote que ele estava em maus lençóis, o retornando para a esfera e a guardando, suspirando desanimada. Não era o primeiro bebê que cuidava, mas Juan era infinitamente mais tranquilo... Não gostava de dar broncas, no entanto ele precisava aprender a não sair por ai sozinho. Agora rezar para que Joy e o rapaz não estivessem irritados...

-Eu posso limpar a bagunça dele... – Ofereceu para a enfermeira, como um pedido de desculpas pelo vaso quebrado, claramente constrangida pelo caos que seu Pokémon havia causado.

O rapaz tinha um olhar reprovador, claramente não estava nada feliz com a bagunça que Kronk havia feito. Isso só aumentou o constrangimento da loira, que não conseguia olhar o rapaz diretamente nos olhos. Não havia como tentar argumentar naquele momento, ficando em silêncio enquanto ele ia embora, suspirando cansada.

-Elétrico até demais...

Melissa suspirou, passando uma das mãos pelo rosto e respirando fundo. Se despediu da rosada, desculpando-se mais uma vez, antes de voltar para o quarto. Primeiro teria que ver se Totodile ainda estava lá, se ele estivesse, liberaria Kronk da esfera e o miraria com olhar severo.

-Kronk, eu nem sei por onde começar. Sabe o susto que você deu em todos? Não pode sair assim, sem avisar ninguém! E se tivesse se machucado, ou roubado, ou coisa pior?! E quando te encontro, tem um vaso quebrado, um Raticate machucado e o treinador dele irritado. O que foi que aconteceu lá embaixo?

Era difícil dar uma bronca em Kronk. Ver a raposa de orelhas baixas e choroso era de cortar o coração, ainda mais quando ele inclinava as patas, mas a loira não iria ceder dessa vez. Sabia que ele era jovem, mas precisava entender que havia errado.

-Kronk, um Pokémon se machucou... E a mulher que cuida desse lugar tem muito trabalho: ela cuida dos doentes, prepara as refeições e mantêm tudo limpo; você acha legal dar trabalho extra pra ela?

Continuou a bronca, olhando desapontada para o Vulpix, se abaixando e ficando mais próxima do olhar dele.

-Como você se sentiria se, ao acordar, alguém que você se importa tivesse sumido? Sem saber para aonde ele foi, ou se está bem? Você iria gostar?

A loira deu uma pausa, esperando uma resposta do Pokémon. Esperava que ele entendesse o que ela queria dizer.

-Vou contar uma história, quero que preste muita atenção nela, certo? – Sentou-se na cama, mirando o Fire. Utau deu um olhar questionador, mas não interferiu. – Essa é uma história minha e da Utau. Ainda não havíamos conhecido nem mesmo o Castiel na época.

Começou a narrativa, sem prestar atenção nos outros monstrinhos pelo quarto. Era uma história que apenas ela e Utau conheciam e, por ser dolorosa, não haviam compartilhado com os outros.

- Estávamos caminhando por uma rota no começo da noite, quando encontramos um Sentret. No começo ele fez Utau de boba. – A loira sorriu de leve, apesar do olhar triste. – E então apareceu uma pessoa ruim... É conhecida como Dakota, uma ladra cruel que queria o Sentret. Ele me pediu ajuda e estava assustado, mas eu e Utau não podíamos enfrentar ela, não éramos fortes para isso na época. Ainda não somos, na verdade... Então jogamos baixo. Utau atacou Dakota diretamente e corremos o máximo que podíamos. – Melissa respirou fundo, não gostando da parte que viria. – Infelizmente, nos perdemos um do outro. Os três ficaram sozinhos, perdidos no escuro e tentando fugir dos Pokémon da Dakota, enquanto tentávamos nos reunir de novo. Só que... Os Pokémon da Dakota encontraram Sentret e eu primeiro... – Estremeceu com a lembrança, mordendo o lábio de leve. – Doeu... Muito... Não tínhamos a menor chance... Fui salva na última hora pelos Pokémon de uma criadora, que também encontraram Utau. – O olhar triste se focou no Vulpix, acariciando o pelo vermelho do mesmo. – Sentret... Teve que ir pra um lugar muito longe, onde ninguém iria machucar ele, mas eu e Utau nunca mais pudemos ver ele.

A loira aguardou alguns instantes, esperando o Pokémon absorver as informações que havia recebido, antes de se pronunciar novamente.

-Por isso não quero que você... Que qualquer um fique longe. Se eu não souber onde vocês estão, não vou poder fazer nada para ajudar, entende?

A loira abraçou a raposa, fazendo carinho no pelo vermelho enquanto tentava acalmar o Vulpix. Mirou os outros monstrinhos, sorrindo em uma tentativa de acalmar eles, embora compartilhasse o medo de reencontrar a mulher. Respirou fundo, acomodando Kronk em seu colo.

-Prometo que vou fazer todo o possível para proteger todos vocês, mas vocês tem que facilitar pra mim e não sumir sem avisar. – A última parte foi direcionada a raposa. – Ninguém vai ficar sozinho. Um dia, seremos fortes o suficiente, então não teremos mais que ter medo dela, ou de qualquer um que tente nos ameaçar. Pode demorar, mas vamos chegar lá, tenho certeza.

Prometeu, as palavras sérias e confiantes, apesar de saber que seria difícil. Faria tudo que estivesse ao seu alcance para tal feito. Esperou Kronk se acalmar, antes de fazer mais uma proposta para seus Pokémon.

-O que me lembra... Como vocês sabem, como Criadora, meu principal objetivo é me aperfeiçoar na cura, mas também sou Coordenadora. No entanto, existem também os ginásios. Oito ginásios, cada um especialista em um tipo especifico e, pra quem vencer, entregam uma Badge. Quem completar as oito Badges, pode enfrentar a liga e tentar alcançar o título de Mestre Pokémon. Não tenho tanto interesse no título em si, mas acredito que é uma boa forma de nos testarmos e ficarmos mais fortes. O que acham? Querem enfrentar os líderes de ginásio e tentar vencer a liga?

Ofereceu, esperando a resposta do pequeno grupo de monstrinhos. Sabia que Berseker e Barbie concordariam sem pensar duas vezes, Castiel não se manifestaria, mas queria a opinião dos outros.