I - Wait For Me

Infelizmente, com todo o seu charme, Titânia havia conseguido apenas um desconto, no entanto, não bem isso que a apocalipse queria. Diante do vendedor que era claramente um cadete, pelo seu uniforme, esse tentava ser menos indiscreto com a sua cliente. A mulher de cabelos tingidos e curvas envolventes, ia até a porta e a trancava, fazendo com que o cadete engolisse em seco, assim como suas palavras. Sensualmente, Titânia tentava levar as armas, objetivo de sua missão, sem pagar.

- ... Senhor... Senhorita, eu n-não sei se posso fazer alguma coisa, m-mas eu estou aqui p-para melhor a-atendê-la... São Pk$5400...

Entre gaguejos e tropeços, o cadete tentava informar o preço, tentando desviar o olhar das partes mais chamativas da arruaceira, enquanto olhava para cima, um pouco pensativo do que fazer em situações como essa onde a academia não prevê...

Titânia não pretendia sair da loja sem as coisas que ela precisava para a missão. O cadete era um recruta e estava só. Algumas pessoas até chegavam perto da loja, mas ao ver o aviso que estava fechada, davam de ombros e saia. A gangster parecia bem envolvente em sua fala, sedutora e um pouco esperta demais. O cadete engolia em seco diante das palavras provocantes da mulher de cabelos tingidos. Quando a mesma sequer encostou os lábios na orelha do recruta, o mesmo arrepiou todo e teve que afastar.

Mas a arruaceira não desistia. Ao tocar nas algemas do rapaz, ela tentava brincar com ele. O cadete certamente não sabia o que fazer. Por um lado, ele estava diante do seu trabalho, mas não era todo dia que alguém como Titânia dava em cima dele. O cadete saia dando pequenos passos para trás, tentando falar alguma coisa, mas não sabia bem o que era.

- A-a câmera...

Quando Titânia deu por si, já havia algemado o rapaz em uma parte do balcão, revelando que atrás de si, no alto, havia uma câmera filmando tudo. Certamente ela teria um cartaz depois daquela missão, mas para o seu alívio, agora os itens estava em cima do balcão, dando livre espaço para a jovem, enquanto cadete ainda não entendia como aquilo estava acontecendo com ele.

A apocalipse parecia estar em um palco de teatro, onde conseguia mostrar toda a sua desenvoltura e sensualidade para o mesmo. Após conseguir prendê-lo ali, a arruaceira começava a tirar a roupa do mesmo. O cadete ainda estava dividido entre deixar ou não, mas logo ele era deixado de cueca samba-canção, rosa de corações vermelhos. A mulher de cabelos tingidos sorria, seduzia mais o rapaz, antes de nocauteá-lo de vez ali na loja.

Titânia nem se importava mais com aquele elemento deixado ali no chão. Fazia sinal de ofensa para a câmera e chamava sua Trapinch para fora. A Pokémon criava montes de areia no chão usavam suas patas para poder sujar as câmeras do estabelecimento. Algumas cargas elétricas envolviam o aparelho e assim a câmera aparentemente desligava-se. Hellant seguia a sua treinadora, que pegava as armas e deixava a loja para trás, ainda fechada.

A movimentada Twister parecia nem ter notada a presença da criminosa. Seu primeiro dia como apocalipse e Titânia já mostrava extrema habilidade para com tudo o que ocorria. A mulher de cabelos tingidos tinha em uma sacola as várias armas e do seu lado, o inicial Apocalipse, no qual chamou a atenção de um cadete que aparecia ali. Alto, cabelos negros, olhos cinzentos. Parecia que o Trapinch havia chamado sua atenção.

- Sua licença, senhorita, nome e tatuagem, por favor.

Titânia se deparava com outro cadete. Apesar da grande Twister abrigar vários refugiados, a apocalipse teve o azar de achar uma bem em frente da loja de armamentos, percebendo que os ditos senhores da lei se localizavam mais no centro da cidade do que na periferia, uma vez que o centro de recrutamento apocalipse ficava mais afastado. A mulher de cabelos tingidos percebia o seu erro! Deixar um Pokémon tão raro como Trapinch chamaria a atenção  e embora os cadetes sempre pudessem duvidar da origem do Pokémon, uma licença resolveria tudo.

Com uma desculpa tirada no alto da mente, a mulher tentava despistar o cadete ali na rua. Os carros passavam de um lado para o outro. O movimento na rua Lumiose continuava constante e a estação de trem estava próxima, bastava atravessar a rua Tyrogue, que cortava a rua onde a arruaceira estava, e assim chegaria. Todavia, nada disso era feito enquanto a mulher não se livrasse do moreno em sua frente.

- Missão?! – o cadete parecia suspeito. – Não fui informado de nada disso... Então, poderia me provar com o seu Meowth ou Persian? Eles sempre acompanham os cadetes nas missões... E se tem um recruta lá dentro, seria conveniente você prender ou deixar o Trapinch com outro cadete até os reforços chegarem... Ou está querendo se apoderar de um Pokémon apocalipse? Não conhece as instruções desses casos?

O cadete parecia ser mais esperto do que o que foi deixado lá dentro, o que significava que traria mais trabalho para a apocalipse. Por outro lado, sua Pokémon aproximava-se tentando um contado com o cadete, não entre inimigos, mas sim, como amigos. A Pokémon tentava se equilibrar entre as patas traseiras, buscando que o cadete a pegasse no colo...

A mulher de cabelos tingidos se via entre desculpas e mais desculpas. O céu com várias nuvens parecia ser escondido pelos diversos prédios altos que estavam dispostos pela cidade de cassinos. Titânia percebia que o cadete estava bastante desconfiado. O mesmo parecia analisar todas as palavras da apocalipse, enquanto pegava a Trapinch no colo, comprovando que a mesma era bem mansa... No entanto, entre pensamentos que guiavam a arruaceira a desejar uma licença falsa e um outro pensamento que fazia com que ela terminasse de vez com aquilo fugindo, a morena só torcia para que a sua Pokémon atacasse o homem fardado.

Seja por inocência ou por falta de carinho, a ground debruçava-se no colo do cadete que percebia que a mesma era bem calma e uma Pokémon que gostava muito de conhecer novas pessoas. Sua cara parecia não acreditar como uma Pokémon como aquela poderia estar em uma situação e em posse de bandidos. Os carros paravam, obedecendo uma sinaleira em uma em uma rua. As pessoas passavam ao longe, não percebendo o que acontecia ali.

- É verdade... Bem calma! Mas a própria delegacia de Twister poderia transferir essa Trapinch para Nyender... Mesmo aparentemente calma, ficaria surpresa ao perceber como os Pokémons são treinadas para serem verdadeiros espiões. Mas só me aguarde fazer uma ligação para Kibato que assim eu te liberarei. Como disse, sua missão foi feita, então não há porquê manter segredo... – dizia o homem pegando o celular e mantendo a Pokémon ainda nos seus braços...

O cadete parecia insistir em “ajudar” Titânia, mas a mulher só queria se livrar de tal importuno. Se a ligação para Kibato fosse efetivada, tudo estaria perdido, ela seria desmascarada e a missão não seria bem sucedida.

A gangster se aproxima do homem e tomava novamente a pokémon em seus braços enquanto falava que recebera ordens diretas de Angélica.

O cadete começava a discar os números, se algo não fosse feito tudo estaria perdido.

As ordens eram cochichadas para Hellant: o celular precisava ser destruído. A pokémon parecia hesitar no primeiro momento, mas ela percebeu que se não o fizesse Titânia estaria encrencada.

Quando o cadete levava o celular em direção aos ouvidos, a pokémon ground saltou dos braços de Titânia e abocanhou o aparelho e pôs-se a correr. O oficial ficou estupefato com o que havia acontecido enquanto via Titânia correr atrás da pokémon.

- Es-espere! Parem essa pokémon! – o homem corria atrás da dupla.

Hellant seguida pela apocalipse que por sua vez era seguida pelo cadete. Parecia uma perseguição de desenhos animados. A pokémon ground entrou na rua Tyrogue, guiando assim seus perseguidores até um beco ao lado do Kazumi Hotel.

O plano da gangster ia como planejado. Hellant conseguira abocanhar o celular, infelizmente sem causar dano ao cadete (talvez a própria Trapinch tivesse tido esse cuidado), saíra correndo e Titânia desempenhava seu papel de perseguir a pokémon. O único imprevisto foi que o cadete passou a seguir a dupla. Após uma breve perseguição, o trio chegou a um beco.

Enquanto a jovem recuperava o fôlego, ela percebeu que a estação de trem era do outro lado da rua. Assim que se livrasse do cadete, ela poderia finalmente concluir sua missão. Não passou muito tempo e o mesmo chegava ao beco logo pedindo explicações. Enfim a farsa acabava. Após a ordem da apocalipse, a Trapinch destrói o celular.

- Mas o que você pensa que está fazendo? Quem é você? Identifique-se! – o cadete já demonstrava impaciência já imaginando que havia caído em uma espécie de armadilha.

A mulher insultava o cadete, mas também estava ansiosa para finalmente entrar em ação. Com a ordem para que a pokémon ground usasse Sand Attack, ficava claro para o cadete que ela era hostil e que o mesmo estava sendo enganado.

Hellant, mesmo não concordando muito com a situação, demonstrava-se agressiva e preparada para imobilizar o oponente. A pokémon preparava seu golpe; uma grande quantidade de areia era lançada em direção ao oficial. Mas, para surpresa de ambas, o jovem dava um salto mortal para trás e se esquivava do golpe.

- Garota, você não sabe com quem está lidando! – o jovem esboçava um sorriso sarcástico enquanto segurava uma pokébola em sua mão e logo em seguida a lançava para o alto – Taillow, apareça!

O pássaro aparecia já preparado para uma batalha. Titânia não teria escolha, precisaria eliminar esse obstáculo.

O destino parecia conspirar contra Titânia, ou ao menos dificultar um pouco as coisas. Ela estava tão próxima, mas tão distante da conclusão de sua missão. Tudo teria sido mais fácil se o inconveniente cadete não a houvesse seguido.

A gangster respondeu rispidamente à ordem do oficial para que ela se identificasse. A jovem não poderia se dar ao luxo de ter seu belo rosto estampado em um cartaz de procurada. O oficial respondeu dando um sorriso irônico para ela e liberando seu pokémon flying. A batalha seria inevitável.

Após o sinal da apocalipse, Hellant se prepara para a batalha. A jovem não gostou por ter sido subestimada pelo cadete. Com certeza ela o faria se arrepender por tal atitude. As primeiras ordens eram dadas à pokémon ground que logo começava a se preparar para lançar seu movimento de areia.

Uma grande quantidade de areia era lançada por Hellant, mas o pokémon pássaro descia velozmente esquivando-se do ataque e passava a voar rente ao chão em grande velocidade. A Trapinch já abria suas grandes mandíbulas para desferir um golpe certeiro, mas a diferença entre a velocidade de ambos os pokémons era grande. Taillow chegou a tempo de desferir seu golpe fazendo com que Hellant fosse lançada dois passos para trás.

- Por favor, não chore! Me sentiria culpado! - parecia que o cadete queria irritar a gangster ao usar tanto sarcasmo com ela, ou talvez estivesse se vingando por ela ter tentado enganá-lo - Taillow agora é sua vez de ter iniciativa! Use Growl para baixar o ataque de Trapinch e depois use Focus Energy!

O que mais incomodava Titânia não era o fato de ter iniciado a batalha com o pé esquerdo, mas devido o seu adversário ser muito irritante além de machista. A jovem já pensava em alguma maneira de virar o jogo a seu favor. Ela precisaria contornar a dificuldade que a velocidade de Taillow apresentava ser.

Se o cadete queria ataque verbal; ele teria! A gangster rebatia sua fala/insultos com o mesmo tom de ironia e já dando seus comandos para sua pokémon. Hellant voltava a se recompor não gostando nem um pouco do modo que a ave a havia atacado. A pokémon ground mais uma vez se posicionava e se preparava para executar as novas ordens.

- Muito bem, flor! Pode vir quente que eu estou fervendo! – o oficial rebatia a ironia da jovem e mandava um beijo irônico para ela.

Taillow já abria o bico para realizar seu Growl, mas antes que realizasse percebeu que a Trapinch se movimentava de forma estranha. Por um breve momento a perdeu de vista tempo suficiente para que recebesse um golpe furtivo pelas costas. Devido à grande força de Hellant, Taillow foi lançado diretamente ao chão. Feint Attack é um movimento traiçoeiro que nunca falha. Era esse o momento perfeito para Hellant!

A Trapinch passa a correr em direção à ave já com suas grandes mandíbulas preparadas, mas o som de um assovio dominou o lugar. Titânia percebeu que o som havia vindo do cadete que a essa altura já estava sorrindo de volta para ela. Com o barulho, Taillow consegue se levantar a tempo e esquivar da feroz mordida. De voltar ao ar, um brilho forte envolve o pássaro sinalizando que este acabara de realizar seu Focus Energy.

- Não pense que sou um cadete qualquer. Desse jeito você me insulta. Aliás, você me desacatou por me chamar de babaca. Prender você é uma questão de honra – o cadete piscava para a gangster.

A mútua troca de ironias continuava. A gangster não poderia deixar que a última palavra fosse a dele e respondia dando uma bela gargalhada. Por outro lado, ela também percebia que a batalha já estava findando e que só bastava mais um golpe certeiro.

Ambos os pokémons se preparavam para atacar. Hellant já se movimentava como antes e se aproximava do pássaro. Taillow aguardava o momento certo para atacar. O cadete não parecia muito preocupado com sua eminente derrota. Ele sabia que não havia nada que poderia fazer para se esquivar do Faint Attack. Os pokémons se chocam mas, como previsto pelo oficial, Taillow cai nocauteado no chão.

- Parece que me descuidei – falava o oficial enquanto retornava seu pokémon em sua pokébola – Não tenho mais nada o que fazer aqui. Meu celular está quebrado e meu Meowth está na delegacia – ele suspirava decepcionado – Seja lá o que for que você esteja fazendo, saiba que eu ainda vou atrás de você – o cadete se retirava acenando enquanto desaparecia pela Rua Watson.

Titânia comemorava sua vitória sobre o cadete falastrão e criticava a classe de homens que nunca davam conta de lidar com ela.

A necessidade de guardar Hellant em sua pokébola era de suma importância. Muitos problemas já haviam ocorrido devido a exposição da pokémon, pois realmente Trapinchs quase nunca são vistos com pessoas credenciadas. Exibir sua pokémon era usar uma placa onde está escrito: sou uma gangster!

A jovem subia a escada de incêndios para deixar sua pokémon para ser curada. Seu posicionamento geográfico era perfeito: estava ao lado do hotel que dava assistência aos gangsteres e em frente ao local de conclusão da sua missão.  Quando chegou a uma janela no segundo andar, a mulher notou que Edmundo passava e o chamou.

- Vocês estão cada vez mais criativos! – o gerente pegava a pokébola e desaparecia pelo corredor.

Agora que Hellant já seria curada, bastava concluir a missão. Ali mesmo na escada a apocalipse se trocava e vestia a roupa de cadete que outrora havia roubado. Mesmo estando tão perto, ela não poderia arriscar se meter em outra confusão.

A gangster saía do beco e começava a atravessar a rua. A visão da estação de trem era confortante: finalmente! Quando estava no meio da rua, a jovem sente alguém pegar no braço dela como se fosse um companheiro ou namorado. A voz não era desconhecida.

- Sabe flor... fiquei curioso sobre o que você iria fazer e achei que fui rude ao sair sem me despedir devidamente – o cadete falastrão falava baixinho ao pé do ouvido da gangster – então, estamos indo à estação? A julgar pela sua Trapinch você deve ser uma apocalipse não é? Ah! Você fica linda como cadete! Certamente esse uniforme foi roubado.

Era inacreditável a atitude do recruta que misturava ironia, gracejo e flerte em suas palavras. O cadete parecia ter se tornado um karma para Titânia. O jovem acompanhava a mulher grudado no braço dela. Pareciam um casal de cadetes. Ele não parecia se importar nem um pouco, pois acenava sorridente para as pessoas.