Desventuras no Deserto

Após algumas tentativas frustrantes de acertar Haunter, para depois ser interrompida pelo cabeça de fósforo, finalmente a moto era desenterrada. E posso garantir uma coisa: não quero mais uma moto. O sol estava se pondo, não iria demorar para anoitecer, mas isso não importava. Sentia meu coração bater mais rápido que o normal, e olha que não era pela adrenalina de estar fugindo de algo/alguém.

-Eu não sei...

Respondo com sinceridade. Estou nervosa, aflita, ansiosa, assustada... Como ela está? Como vou contar pra ela que sou Armagedon? Como vou contar pra ela da Aisha? Como vou falar que fiz uma confusãozinha de nada aqui e outra lá, e sendo paga por isso? E... Ela vai me reconhecer? Essa última pergunta era a que mais me assustava.

-Acho que não tem como estar preparado pra isso...

Comento mais para mim mesma, nem sei se o foguinho ouviu, mas não me importa muito. Vamos aos poucos e deixar acontecer, por enquanto.

Kate se sentia nervosa com o reencontro e Ethan parava a moto um pouco afastado da estação de trem. A morena descia da moto, retirando o capacete, enquanto o Meowth (ainda algemado em Ethan) permanecia sentado no veículo.

- Fica fria, vai dar tudo certo. - Ele tentava consolar ou animar Kate, bagunçando o cabelo da mais nova.

As últimas quadras que separavam a dupla do restante do grupo eram superadas a passos lentos. Kate logo avistou Lisa, Arthur e Yuri em pé, na frente da estação de trem, com uma mulher muito mais velha do que a das lembranças de Kate.

O rosto já apresentava diversas rugas da idade, o corpo estava magro e um pouco curvo, demonstrando o cansaço e os efeitos da prisão. Os olhos também não se erguiam, como ela tivesse medo de sofrer alguma punição. A visão de sua mãe despertou remorso, ódio, rancor e tristeza em Kate. Como os cadetes puderam fazer isso com ela? Ela somente havia conhecido o homem errado... E como Kate não a encontrara antes?

- Até que enfim chegaram. Resolveram passear na roda gigante por acaso? - Yuri questionava, chamando a atenção do grupo para a dupla.

Kate não ouviu o que Ethan respondeu, tampouco o novo comentário de Yuri. Os olhos da morena estavam fixos na mulher mais velha que erguia muito lentamente os olhos para a adolescente, como se procurando o nome em um passado distante.

- Kate? - Ela murmurou após alguns minutos de silêncio e erguendo um pouco mais a cabeça a fim de mirar a adolescente.

Ethan parava a moto e finalmente desço, tirando o capacete e respirando fundo, quando o foguinho logo bagunça meu cabelo (não que ele estivesse muito arrumado, pra começo de conversa) e tenta me animar. Dou um sorriso fraco e aceno. Espero que ele esteja certo e tudo termine bem, reforçando esses pensamentos a cada passo em direção a estação.

Não demorou para encontrarmos Lisa, Arthur e Yuri, junto com uma mulher claramente mais velha do que me lembrei. Ela parecia tão magra e cansada... Me sinto culpada por ter levado tanto tempo, mas também sinto mais desprezo pelos cadetes e mais vontade de acabar com aqueles que a levaram. O único crime dela foi não chegar e perguntar “Você não é um Apocalipse, certo?”, não havia necessidade de prendê-la!

Nem percebo quando algum deles falou, os comentários ao meu redor parecem muito distantes agora. Me esqueço como respirar, enquanto finalmente encontro o olhar de minha mãe. Uma das várias perguntas que eu tinha era respondida e sorrio. Um misto de alegria e alivio, como se um grande peso tivesse saído dos meus ombros. Nem percebi quando meus pés se moveram sozinhos, correndo até ela, só a abracei. Muito menos quando comecei a chorar. Bom, como alguns dizem: na dúvida entre rir e chorar, ou qualquer outras duas opções, faça as duas, não é?

Kate se desmanchava em emoção, não se importando com a imagem que passaria ou com o que qualquer um que passasse por ali pensaria dela também. As lágrimas, o riso e os soluços se misturavam, querendo dizer tudo o que a menina não encontrava voz para falar. Demorou um tempo para Kate perceber que sua mãe também chorava e ria, compreendendo todas as mensagens não ditas e passando as suas próprias.

- Que reencontro emocionante. - Yuri comentava mirando mãe e filha. Os demais mantinham-se em silêncio, deixando as duas aproveitarem seu momento. Naquele instantes eles sabiam que tinham feito a coisa certa ao atender o pedido de Natasha, pelo menos até o celular de Ethan tocar.

- KATE VALQUÍRIA GRAY! QUANTAS VEZES TEREI DE REPETIR PARA NÃO EXPLODIR CIVIS E POKÉMON INOCENTES?!

A voz de Natasha, que podia ser ouvida por todos mesmo que o celular ainda não estivesse no viva voz, ganhava a atenção de todo o grupo. Kate se via mais uma vez mirada por sua mãe, a qual ainda lhe abraçava, e dessa vez com interrogações no olhar e não a pura felicidade de antes.

- Quer que eu coloque no viva voz Nathi? - Ethan perguntava temeroso com o Meowth ainda pendurado em seu pulso.

- AINDA NÃO COLOCOU?! FAÇA O FAVOR PARA QUE EU POSSA BRIGAR COM ELA DIREITO!

As noticias voam e o mundo da voltas, não é?

Num momento, eu estava abraçando minha mãe, num misto de choro, soluços e risos, percebendo que ela me abraçava e fazia o mesmo, o que só aumentou minha vontade de rir e chorar. O resto do mundo poderia esperar, queria ficar aqui só mais um pouco. E queria que esse “mais um pouco” se prolongasse cada vez mais.

No momento seguinte...

-Isso não é tão ruim quanto parece...

Comento, tentando responder e não responder as perguntas de minha mãe. Por Arceus, estou frita! Natasha vai me matar! E como eu vou explicar o pequeno caos que fiz em Twister? Ai meu santo Jirachi, me vê um milagre, por favor!

-Nathi, tenho certeza que os cadetes estão fazendo isso parecer pior do que realmente é. Você sabe como eles são... E como estão as coisas ai?

Respondo, tentando desviar do assunto. Eu realmente queria que viessem vidas extras na fantasia... Será que posso fugir na Chantilly se a coisa ficar feia?

Kate rezava por um milagre, cogitava fugir nas costas de Chantilly e começava a pensar em usar Amore contra o celular... Precisava se livrar daquela conversa constrangedora antes que sua mãe descobrisse as coisas da pior maneira e antes que Natasha batesse o martelo para matá-la.

- NÃO MUDE DE ASSUNTO KATE!

- O que você aprontou Kate?

Kate mirava primeiro o celular e depois sua mãe. Ambas claramente exigindo respostas e explicações que seriam complicadas de oferecer. Ethan ainda segurava o celular no viva voz a altura do rosto de todos e parecia não estar se divertindo com isso. Kate queria muito que ele desligasse o aparelho e chegou a ignorar o Meowth que lhe oferecia uma mangá pintada de rosa, como se para animá-la ou consolá-la pelo que viria adiante. Da mesma forma Kate ignorou Amore que saiu da Pokébola e tentou resgatar a fruta cor-de-rosa, quase ignorando o braço quebrado da esquila. Ethan tentava manter o celular alto enquanto os dois Pokémon lutavam sobre si, o que claramente era complicado, considerando a algema que o prendia ao felino ainda.

- Isso será interessante... - Arthur comentava como se saboreasse a visão de Kate lutando contra um complexo quebra-cabeça.

Isso não está saindo como eu tinha planejado, não que houvesse algo planejado, mas dá pra ter uma ideia de que não estou gostando disso. Natasha está furiosa, minha mãe está me fazendo perguntas, Ethan não desligou esse maldito celular, os outros estão apreciando o “show”. Arceus, isso é por causa do bolinho?

-Nada! Nadinha de nada! Não aprontei nada!

Falo apressada, provavelmente com expressão de criança que foi pega no flagra com a mão no pote de biscoitos. Considerando que o pote de biscoitos no caso é uma cidade que foi levemente explodida. Nada demais. Imploro ajuda divina, mas recebo uma fruta rosa do Meowth. Arceus, isso é por causa do bolinho?

-Não te apresentei o pessoal! Mãe, quem tá falando no outro lado do celular é Natasha. Esse é Ethan, Lisa, Yuri e Arthur. Tá calor aqui, não acham?

Comento ainda apressada, tentando desesperadamente mudar de assunto.

Kate fazia de tudo para tentar desviar o assunto enquanto Ethan lutava contra os dois Pokémons que disputavam a manga rosa em cima de si sem desligar o celular. Os demais miravam a adolescente com pequenos sorrisos, claramente não indo embora para apreciar mais da pequena confusão que a adolescente se encontrava.

- Você é a mãe da Kate?

A adolescente sentia que aquela pergunta seria o tiro final para sua morte. Natasha tinha que prestar atenção justamente naquela informação? E o que a ruiva poderia querer com a mais velha?

- Faça-me o favor de dar um jeito nela! Jack já me ligou me questionando o que eu queria trazendo Apocalipses para dentro da organização! E não vem me dizer que você não tem culpa de nada Kate! Os canais de televisão estão todos falando de uma mulher fantasiada de gato explodindo casas com Voltorbs de basebol! Quanto você bebeu para resolver usar Voltorbs como bolas de basebol?!

Kate mirava o celular imaginando a ligação de Jack para Natasha, o que não indicava nada de bom (embora fosse possível imaginar ele falando como se comentasse uma piada), porém novamente os pensamentos eram desviados pelas palavras de Natasha e pelo olhar de sua mãe.

- Você bebe?! - A genitora perguntou/alegou com o olhar inexpressivo, o que assustou muito Kate. Se suas lembranças estavam certas, aquilo significava que ela explodiria em breve.

Fiquei confusa quando Natasha perguntou se quem estava lá conosco era minha mãe, mas logo essa confusão se transformou em medo. Muito medo. O que ela queria? O que ela iria perguntar, ou pedir? Ou pior ainda: que informações ela daria para minha mãe? Ai meu nada bondoso Arceus, isso é pelo bolinho?

Em poucos segundos, Natasha revelou que eu era Armagedon, explodi algumas casas e usei Voltorbs como bolas de baseball. Ah, e que eu bebo alguns poucos drinques de vez em quando. Imagino que Jack não tenha sido tão sério quando Nati fez parecer, mas imaginar esse homem sério é um pouco difícil de qualquer maneira...

Bom, não que eu possa imaginar, visto que agora minha mãe está quase explodindo de raiva. Que alegria...

-Er... Não?

Eu meio que respondi, meio que perguntei, mas eu já sei que estou frita. Bom, não estou raciocinando muito bem. E Haunter vermelho de tão bêbado, do meu lado, me oferecendo uma garrafa de rum, comigo segurando minha mão para não aceitar, não deve ter ajudado.

-Com certeza o Jack estava apenas fazendo uma piada... E tirando os dois cadetes, acho que ninguém se machucou tanto assim... Quer dizer, não mais do que nos acidentes de transito... E eu tinha que chamar a atenção e pensei que uma explosãozinha pequenininha ia chamar a atenção, mas não foi nada demais... Sabe como a mídia é exagerada, não é? E... E...

Eu comentava, me encolhendo perante o olhar da mamãe. Me sinto como se fosse criança de novo e fiz algo que não devia...

-E... Bem... Ah mãe, é uma história muito engraçada... Você sabe... Bem... Com certeza vamos todos rir no final...

E acho que tive algum tipo de colapso nervoso, junto com um bom folego, visto que tudo o que eu disse depois veio sem pausa para respirar.

– Depois que você foi presa eu e Aisha fomos para o orfanato de Mengun mas Aisha me pegou e fugimos de lá e fomos viver nas ruas onde roubamos para sobreviver e fizemos outras coisas que não foram muito boas mas depois de alguns anos estávamos em Nyender e ouvimos um tiroteio e nos escondemos mas o cara que tava sendo perseguido se escondeu no mesmo lugar e ele era um Armagedon que é da mesma organização do cara que nos roubou e atraiu os cadetes pra nossa casa e nós acreditávamos que você estava morta então Aisha se descontrolou e ameaçou o cara que reagiu e cortou a garganta dela e ele me ameaçou e perguntou se eu ia dedurar ele pros cadetes e eu disse que não já que eu ia matar ele da mesma forma que ele matou Aisha e isso seria difícil se ele estivesse na prisão então ele disse que ia esperar e sumiu e acho que fiquei um pouco maluquinha da cabeça e não conseguia mais dormir e sofria com pesadelos e terror noturno até que eu parei em Chermont e vi uma garrafa de bebida e um cara desmaiado de bêbado e pensei “Oh dane-se!” e bebi já que não tinha ninguém pra brigar comigo mesmo e foi assim que conheci a Natasha e comecei a beber até desmaiar todos os dias desde que eu tinha uns 13 ou 14 anos pra não ter pesadelo e no meu aniversário de 16 anos eu descobri que ela – Apontei para o celular – Recruta os Armagedons e fiz uma missão pra me juntar a gangue já que Natasha disse pra não julgar todos com base em dois e durante a missão descobri que tem um arquivo com o nosso nome na delegacia de Chermont e eu fiquei querendo saber o que tinha lá mas não podia sumir com ele lá então terminei a missão e ingressei na gangue e consegui o Hellhound que é o meu inicial e tá agora me encarando com cara de “Hein?” e fiz algumas missões pra gangue que envolve um apocalipse Zumbi em Chermont e coleta de itens e arruinar a festa da diretora do teatro de Chermont o que rendeu no Zé aparentemente não ir com a minha cara e foi lá que conheci o Cabeça de fósforo Ethan e a namorada não-namorada dele a Sakura e o noivo cabeça de limão dela que não é noivo e cujo nome não importa mas eu ainda estava curiosa com o arquivo com o nosso nome e negociei com Katarina que é A Katarina e dei pra ela algumas mega stones que estavam sobrando em troca do arquivo e não sei como ela conseguiu mas não me importei e estava curiosa e assustada com o que ia ter no arquivo então teve um festival em Erobring onde eu aproveitei um pouco e pedi pra Arceus devolver minha família e depois fui pra Grung pra evitar missão infernal por causa de uma festa rave que Haunter e as Pink Ladies organizaram e em Grung eu finalmente li o arquivo e descobri que papai era Apocalipse e que Arceus meio que atendeu meu pedido e descobri que você estava presa e precisei desabafar e liguei pra Natasha que me mandou ir pra Chermont e eu conheci Lisa e Yuri e Arthur e reencontrei Ethan e fizemos um plano para te libertar e eu estava com muita raiva dos cadetes e Apocalipses então explodi um pouco o templo das memórias e antes que o padre fosse me bater os cadetes chegaram e tentaram me bater então os zumbis os atrapalharam e lutei com eles antes de fugir e chegar até aqui e não sabia como te contar tudo e com certeza essa não é a melhor maneira mas eu não sabia como contar e agora não consigo parar de falar e... e... Desculpa!

Encerro enterrando meu rosto nas mãos, sem coragem pra encarar a pessoa que eu explicava. Se fosse qualquer um me pedindo explicações, eu teria soltado uma resposta irônica e/ou sarcástica, talvez simplesmente ficado em silêncio, mas não era qualquer um me fazendo perguntas.... Sinto meus Pokémon me encarando, e provavelmente, todo mundo está me encarando... Bom, foi um tempinho sem respirar, então espero não ter que falar de novo.

O silêncio reinava após a longa e sem pausas explicação de Kate, quebrado simplesmente por um arroto de Haunter. A confusão da mais velha era palpável, bem como a dos demais que desconheciam tanto assim da história trágica da adolescente.

Até mesmo Meowth e Amore paravam de brigar pela fruta pintada de rosa (o que era bom, visto o risco do ruivo receber um choque da esquila durante a briga) e agora miravam a morena. Até mesmo Natasha parecia ter ficado quieta do outro lado do celular.

- Tem... Tem alguma coisa que não me contou? - A mãe de Kate murmurava repentinamente, quebrando definitivamente o silêncio do local.

Não sei esse silêncio é bom ou não, mas simplesmente não consigo erguer o rosto para ver a expressão dela. Não tenho coragem para isso. Eu gosto de irritar os outros, mas geralmente sou rápida pra fugir, então coragem naturalmente não é algo lá muito comum no meu dia a dia.

Logo mamãe pergunta se eu não contei alguma coisa, o que me faz finalmente erguer o rosto e olhar pra ela, processando a pergunta. Bom... Ela já sabe que sou Armagedon, que bebo, faço missões, Aisha morreu, além de outras ações nada honestas que ficaram nas entrelinhas, faltou alguma coisa?

Enquanto penso, sinto as fitas de Aishi enrolando meu pulso e a miro. Ela só quer me dar apoio, uma boa Pokémon. Susan realmente me deu bons presen... Oh *****!

Encaro Aishi, Amore, minha bolsa e minha mãe no final. Acho que repeti isso umas três vezes, mas não tenho certeza. Vou repassando tudo o que eu disse mentalmente, e chego numa conclusão: Oh *****! Não contei pra ela que roubei uma garota parecida comigo e nunca vi a cara dela!

-Er... Não?...

Sensação de Déjà vu, não acham?

Kate murmurava a mesma resposta pela segunda vez. Uma resposta que dizia o completo oposto do que as palavras proferidas. A mãe de Kate a mirava com o olhar impassível, sem que a adolescente pudesse decifrá-la. Porém a Arruaceira sabia que a mais velha devia estar tentando colocar a mente em ordem e isso demoraria, assim como demoraria para ela própria assimilar a ideia de que sua mãe estava viva e na sua frente. Estavam juntas novamente.

- Você está de castigo.

Embora o começo não fosse muito positivo...

- Castigo? Sério isso?

A voz de Natasha saindo do celular fazia Kate imaginar que sua mãe a colocar de castigo não seria a pior coisa que lhe aconteceria naquele momento.

- Ela é minha filha e eu decido isso.
- Ela é uma Armagedon e precisa aprender a não explodir tudo o que encontra pela frente. Já conversei com Jack e ele vai cuidar disso. Se prepare Kate, suas próximas missões serão muito diferentes.
- Próximas missões? Não quero minha filha vinculada mais aos Armagedons!
- Não sei se sabe madame, mas essa gangue te tirou da cadeia e está reconstruindo a cidade onde você está se escondendo! Ou não percebeu que os cadetes ainda não prenderam uma fugitiva?
- Meu passado não interessa e minha gratidão não reflete no futuro da minha filha! Não quero ela em um cartaz de procurado por aí!
- Isso já é tarde demais para isso! Abandonar a gangue agora é ser um cartaz de procurado no celular do Jack e ele só não é pior que o Cornélios quando resolve pegar alguém.
- Para quem se diz amiga dela você não parece preocupada!
- Eu sou a Recrutadora! E eu a ajudei a não morrer de cirrose ou em um beco qualquer por causa de uma briga sem sentido! Sem falar que se não fosse por nós, nem você ela teria nesse momento!

Kate ouvia as duas mulheres brigando e tentava intervir, mas a voz de ambas se erguia e a morena não sabia como parar aquele momento. Yuri, Lisa, Arthur e Ethan também estavam mudos, mas nenhum dos curiosos iam embora. O único que tinha desculpa para permanecer era Ethan, cujo celular estava sendo usado por Natasha para brigar com a mais velha.

Perdida em pensamentos, Kate não percebera quando as duas pararam de brigar e passaram a negociar. O pior é que nesse aspecto elas pareciam estar se dando bem... Natasha falando algo sobre Kate dar valor aos princípios da reconstrução e a mãe de Kate falando sobre proibição de sair a noite e retorno às aulas.

- Estamos de acordo então? – Natasha perguntava.
- Sim, Kate terminará os estudos pela manhã e depois do almoço irá trabalhar para vocês. Depois das 20h ela não irá sair do quarto.
- Sem computadores e sem bebida. Qualquer mudança Jack mandará para o celular dela.
- Que estará comigo.
- Certo.
- Quero te dizer nada não Kate, mas acho que sua vida será muito monitorada agora... – Ethan comentava o óbvio para a morena.

Acho que são coisas demais para processar para minha mãe, mas não posso dizer muito... Eu também tenho muito que processar e vai demorar um pouco para me acostumar, afinal foram anos uma longe da outra e...

-Castigo? Fala sério!

Eu estou realmente feliz, mas o começo podia ser mais produtivo... E algo me diz que Natasha não ia melhorar a situação... E agora eu vou receber missões diferentes por explodir uma coisinha ou duas, que injustiça... E as duas estão brigando e não sei como interromper, afinal só consigo falar “er...”.

Suspiro e penso no que fazer para interromper a briga. Vejamos, geralmente eu daria de ombros e ia beber, mas estamos falando de mamãe e Natasha, então não é viável. Infelizmente, quando presto atenção de novo na conversa, percebo uma coisa muito estranha:

Até ontem, número de mães: 0;
Hoje, número de mães: 2;

Odeio matemática, mas até eu vejo que tem coisa errada ai... Olho para Ethan, com o olhar que dizia claramente um sarcástico “Jura? Não tinha reparado...”. Isso não está indo nada bem...

-Tá, eu explodi algumas coisinhas, mas acho que causei bem menos acidentes se comparar com o caos que o Arthur causou no trânsito. Não é justo só eu levar bronca.

Reclamo, provavelmente de uma forma meio infantil, mas quem liga? E meu saco de pulgas concordando com as duas só piora ainda mais a coisa toda...

Ao ouvir o comentário de Kate, Arthur começava a se afastar de mansinho e assoviando baixo para não chamar atenção. Contudo a adolescente achava que mesmo que ele saísse tocando bateria, sua mãe não teria reparado.

- O que esse delinquente desmiolado faz não me interessa. Você é que é assunto meu.

Arthur protestava pelo delinquente desmiolado, mas era ignorado pela mãe de Kate e Natasha. A ruiva dizia que os acidentes de carro foram causados por pessoas apressadas no volante que tinham sua parcela de culpa. Já os pobres Voltorbs estavam neutralizados e chances de se defenderem.

Kate estava ficando frustrada demais. Seu reencontro com sua mãe não estava nada parecido com o que imaginara (não que tivesse realmente imaginado muita coisa além de choro e abraços com risadas).

- Vocês poderiam me liberar? Eu precisava pegar o trem... - Ethan pedia tentando encerrar a conversa, mas só recebia duas ordens simultâneas para ficar quieto. O Mewoth ainda estava algemado a sua mão, esticado e tentando alcançar Amore com a manga rosa. A esquila, que ainda segurava o braço ferido, só mostrava a língua para ele, se recusando a entregar a fruta colorida.

É... Mães são realmente assustadoras quando querem... E acho que mesmo que Arthur estivesse saindo com baterias e gaitas de fole de fundo, Naty e mamãe não teriam reparado... E olha que ignorar uma banda dessas é realmente difícil...

Isso estava ficando frustrante demais. Não sei como sair dessa, e bem que seria bom a plateia sair... Respiro fundo, tentando pensar com clareza, mas isso não está funcionando no momento. Arceus, você não leu o livro que te dei? Eu tenho sérias suspeitas que não!

Começo a massagear a cabeça. Prevejo uma enxaqueca, e não é por excesso de bebida, o que não é legal. E Amore ainda ta escalando o cabeça de fósforo por causa de uma fruta pintada...

-Amore, depois você pinta talvez uma melancia ou a cabeça de alguém que eu não conheça de rosa, mas sai de cima do suporte pra celular, sim? Precisamos cuidar do seu braço. O que me lembra... Pessoal, antes de continuar a conversa, vamos primeiro tomar um banho e ter uma boa noite... Ou dia de sono? Tenho duas rosadas com alguns ossos quebrados, e até onde sei, gente com osso quebrado gosta de descanso e é saudável.

Eu realmente não estou acostumada com essa situação... Geralmente, quando começa um barraco, eu só assisto de longe até ficar entediada, e depois saio. Mesmo quando causo. Tentar normalizar a situação é inédito, e altamente chato.

Kate lamentava a origem da próxima enxaqueca. Já estava acostumada com elas, mas quando provinham de longas noites regadas a álcool. Seria a primeira vez que a dor de cabeça surgia por problemas que desejava resolver de outra forma.

Os olhos de Amore brilhavam perante as propostas de Kate e, quando a Arruaceira mencionava os ossos quebrados, Amore rapidamente se virava para a mão de Kate, erguia pata machucada e fazia uma expressão de filhote sofrendo. A Armagedon só erguia a sobrancelha, enquanto a mais velha erguia a esquila no colo começando a dizer termos como coitadinha, dodói e tadinha usando voz típica de quem está falando com um bebê. Conhecendo a esquila, Kate sabia que ela se aproveitaria e muito da situação.

- Muito bem, por hoje acho que podemos encerrar. - Natasha dizia do outro lado do telefone, cedendo aos Pokémon necessitados de cuidados. - Amanhã ligo de volta.

A ruiva se despedia com beijinhos e logo o celular era desligado. Ethan parecia o mais satisfeito com isso, guardando o aparelho no bolso e alongando o pulso. Meowth aproveitava o momento em que ficava mais perto do chão para tentar pegar a manga rosa, sem obter sucesso ainda. Kate, querendo muito tirar proveito da trégua, se virava dando um tchau para o grupo e congelando ao mirar o outro lado da rua, onde um homem muito parecido com a adolescente e que ela não via há muitos anos as mirava com ar feliz e sorridente.


- Olá, garotas.

Amore parece feliz com minha sugestão, o que significa que, ou vou ganhar uma melancia pintada de rosa, ou alguém vai ficar com cabelo rosa e rezar pra este alguém levar na brincadeira e/ou não ser forte suficiente pra quebrar meu pescoço. Gosto do meu pescoço exatamente como e onde ele ta: inteiro e garantindo que minha cabeça fique junto com o resto do corpo.

E agora minha diabinha rosada ta bancando a fofa, manipulando minha mãe. Ela recém saiu da prisão, então fico na duvida entre deixar ela aproveitar ou revelar a identidade de Amore... Duvida muito cruel... Bom, posso deixar pra escolher amanhã. Ou pra quando me lembrar disso de novo.

Me despedia de Natasha e me preparo para me despedir do pessoal. Quero agora um bom banho, uma refeição quente, doze horas de sono e, só depois, conversar com mamãe e responder o que ela tiver que perguntar. Ela precisa de algum tempo pra digerir tudo e... Que... Diabos... Eu... Bebi?!

Fico mirando meu pai, com o mesmo ar feliz e sorriso que sempre teve. Sinceramente, se estivesse brincando de estatua agora, eu já teria ganhado. Não consigo nem piscar, tamanho meu choque.

-Oi...

Murmuro, ainda em choque, assimilando. Isso não tem graça Arceus, sério. Para de cismar com o bolinho! Foi só UM bolinho! O fato de eu começar a rir e sentir os olhos lacrimejarem não quer dizer que você possa ficar fazendo esse tipo de pegadinha na minha vida! Nem sei quando eu disse em voz alta que isso não tem graça e corro até ele, pronta para abraçar meu pai. Um pai que eu pensei que estivesse morto... Que descobri que era Apocalipse... E que, como está vivo, deixou mamãe mofando na prisão e nunca procurou suas duas filhas...

Okay, corrigindo, corri para dar um soco no rosto do papai enquanto xingo em alto tom minha avó e minha mãe. Não é minha culpa se os xingamentos mais conhecidos e usados para ferir um homem é ofender a mãe e esposa dele, e afirmar que ele joga no outro time.

Ao mesmo tempo em que Kate acreditava mais veementemente na existência de Arceus, acreditava também que o Sagrado Pokémon não possuía nenhum senso de humor e ainda por cima era rancoroso. Nenhuma das duas características favoreciam quem havia roubado um bolinho dele e ainda feito graça lhe oferecendo um livro de piadas...

Apesar disso tudo, lá estava a comédia divina bem na sua frente, materializada na figura de seu pai. A felicidade de ter os dois genitores de volta na sua vida no mesmo dia se mesclava com a raiva por descobrir que ele estava vivo e não se mexera para resgatar sua família.

O homem abriu os braços ao ver Kate começar a correr em sua direção, o sorriso tão familiar de seu passado exposto na face. Contudo, quando a expressão chorosa virou irada e os xingamentos começaram, o homem virou de costas e começou a correr, fugindo da própria filha sem efetivamente se afastar do grupo. A mãe de Kate seguia boquiaberta, mirando a dupla que corria em círculos, carregando Amore em seus braços ainda.

- Calma, tigresa, porque não conversamos antes de você tentar me matar? - O homem perguntava sempre longe do alcance de Kate e sempre correndo. Naquele momento a morena percebia que ele era mais rápido e mais resistente, ou só estava mais descansado...

Já entendi! Aprendi a lição! Nunca mais roubo um bolinho seu Arceus! Mas Haunter roubou e comeu DOIS! Eu roubei e comi só UM! E eu não vejo esse fantasma sofrendo mais do que outras almas penadas por ai! Na verdade ele é bem feliz! Pokémon extinto metido a Deus mais rancoroso e sem senso de humor, eu hein!

Daqui a pouco, viro seguidora de Arceus... E ai de quem falar pra mim que Arceus não existe! Olha a comédia divina aqui! Estou correndo atrás do meu pai, usando todos os xingamentos que conheço (e olha que aprendi muitos quando estava nas ruas), e ele fugindo. Resultado: nós dois correndo em círculos.

E estou cansando... Talvez ele mereça a chance de se explicar, e não digo isso porque ele está mais descansado do que eu, então pode correr por mais tempo. E ele teve treinamento Apocalipse possivelmente... Esquece, adrenalina voltou!

-Conversar?! Você quer conversar depois de praticamente dez anos?! Onde você se meteu todos esses anos?!?!?!

A ira se sobressaia ao cansaço de Kate, motivando-a a seguir com a perseguição ao seu pai. O restante do grupo de resgate se despedia de Ethan, pedindo para que o ruivo enviasse fotos e imagens da luta para que soubesse do final, já que por motivos pessoais não poderiam ficar para assistir. Ao final, restavam somente o ruivo e a mãe de Kate como espectadores da cena.

- Estava e ainda estou fugindo do Loki, querida!

A resposta do homem atingia Kate de forma certeira. Era algo óbvio... Ele abandonou os Apocalipses, seria caçado por Loki. Kate se lembrava do homem na festa que aconteceu no apartamento de Natasha, bebendo cerveja e vendo televisão. Não era o tipo de homem que se gostaria de ter nos calcanhares. Mas seria essa justificativa forte o suficiente para que Kate deixasse de querer bater em seu pai pelo abandono e aceitasse parar e conversar um pouco?

Nem reparei quando todo mundo saiu, mais concentrada na pequena perseguição que rolava ali. Estava um pouco concentrada em esganar alguém para me importar com o resto do mundo, sabe? No entanto, logo ele me dá a resposta do porque não apareceu, e devo dizer que era meio lógico.

Parei de correr atrás dele, piscando algumas vezes e digerindo a informação. A imagem do homem ranzinza, bebendo cerveja enquanto assistia à televisão, como dizer... Não era exatamente ameaçadora. Esfrego a ponte do nariz, enquanto respirava para me acalmar. Sim, Jack e Loki muitas vezes eram comuns. Comuns demais. Acabo me esquecendo fácil de quem eles são, ou de que estar na lista negra de um dos dois é a mesma coisa que andar por ai com um alvo na cabeça e outro no peito e costas, junto com placa dizendo “me mate”. Por Arceus, tem vezes que acordo e nem lembro que sou de uma organização altamente procurada e me distraio jogando cartas com alguém!

É uma boa justificativa, mas era tão boa assim? Tento normalizar minha respiração e me acalmar. Coisas demais, acontecendo rápido demais.

-Você tem quinze segundos para me explicar toda a situação.

Comento com as mãos no quadril e tentando parecer séria. E eu devia ter colocado outro sapato, essas botas ainda não foram muito amaciadas e estão me matando!

Com Judy ainda petrificada com a cena a sua frente, Kate cessava a perseguição ao seu pai, concedendo 15 segundos para que ele explicasse melhor a situação. Efetivamente a morena se lembrava que ser um exilado em uma organização perigosa só não era pior do que ser um cadete traidor. Embora fosse difícil determinar quem irá pior de se ter como cão farejador de seus passos: Loki, Jack ou Cornélios?

O pai de Kate parava, refletia um pouco nas palavras escolhidas e, respirando fundo, desatava a falar, misturando palavras e sentenças, sem intervalo, sem vírgulas ou pontuação, fazendo com que tudo parecesse uma frase só. Repentinamente Kate se lembrava de quando ligou para Natasha. Será que a ruiva ficara com a mesma expressão intrigada?

Ao final, vendo que ninguém entendera nada, o homem recomeçou mais calmo, considerando que seu tempo aumentara.

- Depois que me levaram de casa, eu lutei muito para me soltar de Loki. Nenhum de meus Pokémon sobreviveu ao combate. Todos morreram naquele dia ou pouco depois, por causa dos ferimentos. E sempre que eu chegava em uma cidade nova, tinha poucas horas para tentar descobrir se alguma de vocês estava por lá antes de fugir de novo. Infelizmente nunca tive acesso aos arquivos para saber onde Judy estava e você se escondeu muito bem durante todos esses anos Kate. Era difícil te achar nos registros do sistema.

Estou agora numa dúvida cruel: quem é pior de se ter correndo atrás de si, farejando mais do que um Growlithe, com intenções nada legais? Jack, Loki ou tio Corny? Sinceramente, acho que dos três, tio Corny é o que mais me assusta, mas prefiro não apostar seriamente nisso. Meu pescoço no lugar que tem que estar é minha prioridade.

Mas voltando ao foco: entender o que papai acabou de falar. É... Já sei de onde puxei meu hábito de falar tudo num fôlego só... E cor de cabelo... E cor de olhos... E cor de pele... De tanta coisa pra herdar, porque fui herdar o quadril da mamãe? E pelo olhar dela, acho que comentei isso em voz alta, mas não importa no momento.

Toda a situação agora era esclarecida, e devo confessar que senti uma dor no peito. Eu conhecia os Pokémon do papai desde que nasci, brinquei com eles, me mentia em encrencas com eles, e alguns me ajudavam a fugir do castigo. Cresci com eles. Pensar que alguns deles morrerem em batalhas, ou de ferimentos pouco depois, me fez lembrar do desafio da ministra no festival. Não gosto desse tipo de batalha, muito menos de ser apenas uma espectadora.

-Sinto muito por eles...

Respondo, sem saber exatamente como falar. Nunca parei pra pensar no que aconteceu com eles, mas era o lógico. Talvez esperasse que tinham sido enviados para o storage da gangue, mas não tenho certeza... Queria perguntar como e quando ele chegou em Kalled, mas dessa vez, mamãe foi mais rápida. Ela se aproximou dele com calma e noto que tocou no rosto dele, como se quisesse ter certeza de que ele era real. Era algo bonito de se ver, até pelo menos vir o som alto de quando mamãe acertou um tapa nele.

Esse tapa doeu em mim.

E agora Sakai (nome de meu Haunter, para quem não sabe) está do lado dela, todo prestativo oferecendo o taco de baseball, enquanto Amore da uma nota para ela. E pior que a nota não é muito justa. Esse tapa não é nota 7, é 8,5 no mínimo!

off: sorry a demora exagerada =x

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O som do tapa ecoava alto e fazia com que os poucos espectadores fechassem os olhos pela dor solidária que sentiam. O pai de Kate, no entanto, estava caído no chão, com olhar perdido e murmurando que também amava Judy.

Kate só podia lamentar a sorte de seu pai que, diferentemente de sua mãe, não era recepcionado com beijos, abraços e verdades bombásticas. Embora ele merecesse por ser uma verdade bombástica nelas e isso fazia Kate refletir por 2 míseros segundos se era assim que o resto do mundo se sentia quando ela falava o que não devia, deixando-os sem chão. O pensamento, no entanto, logo era esquecido.

- CUIDADO! - O grito de seu pai chamava sua atenção e a morena via como em um micro pulo seu pai abrira as pernas e pulara para trás, enquanto o taco de basebol atingia o chão recém exposto. As mãos fechadas sobre suas partes íntimas. - Amor, queria mesmo quebrar as joias da família? - Ele questionava ainda chocado.

- Vou quebrar é você inteiro por ter sumido, sem-vergonha!

Logo Kate assistia sua mãe perseguindo seu pai, que desviava com certa facilidade apesar do cansaço e sempre alegando que a amava e que a estava procurando, ouvindo inúmeras ofensas como resposta. Judy possuía uma maneira muito distinta de demonstrar saudades.

- Olhando esse reencontro amoroso, só posso agradecer por não ser um parente perdido seu... - Ethan murmurava para a mais nova, esboçando um sorriso divertido no rosto. O motivo dele ainda estar ali era claro: ele queria se divertir mais um pouco com a comédia a sua frente.

É... Papai não está com muita sorte hoje... Nada de abraços, beijos e revelações, mas ele é uma revelação, então não se aplica a regra de qualquer maneira. Me questiono se todo mundo se sente assim quando falo alguma coisa, mas deixo isso para depois. Tenho coisas mais importantes para me preocupar agora.

Mamãe demonstra seu “afeto”, quase o impedindo de procriar novamente. Quase tenho pena. Mas ela não desiste facilmente e o persegue, pronta para dar seu “amor”. Um amor que vai doer muito se ele não for rápido. Quase tenho pena, de novo.

-Náh... É só a forma que esses dois demonstram que se gostam. Ou terminava em sangue, ou terminava em muitos filhos. Daqui a pouco eles param, se bem que é muitos anos pra compensar.

Comento para o palito de fósforo, me divertindo com a situação, mas com uma pontada de tristeza. Não queria ter me lembrado dos três irmãos que perdi, e os outros que poderiam ter vindo se os Apocalipses não tivessem atacado. Mamãe mudou tanto depois disso, mas papai parece que não mudou nada...

-Ele está exatamente igual da última vez que o vi...

Comento para ninguém, sem me importar se alguém iria ouvir ou não, enquanto me deixo perder em lembranças. Não reparo nem nos meus pestinhas... Sakai está torcendo por minha mãe, usando a cueca de Chatots como chapéu. Não sei quando, mas Amore já está ao meu lado, descansando enquanto aprecia o show. Hellhound do outro lado, também mirando a confusão, enquanto meu cabelo já está sendo atacado por Aishi e sua mania de encher tudo de laços, ou pelo menos é o que ela está tentando, visto que Chantilly resolveu usar minha cabeça como apoio...