01| A procura

A adrenalina foi tanta que nem me dei conta de um corte causado pela rápida passada do felino por mim. Só por aquilo dava pra ver o quão habilidoso era a minha presa. Com uma mão ainda segurando o porrete, levei a que estava livre até o ferimento, visando estancar o sangramento.

– Poochyena, use o Howl para intimidá-lo, mas não exagere. O uivo pode chamar atenção de curiosos. Depois parta para cima dele com tudo usando o Tackle!

Era meio inexperiente em batalhas pokémon, na verdade aquela era minha primeira. Não sabia o quão forte o pokémon canídeo era, suas habilidades e nem se ele iria me obedecer; o que me restava era apelar para o básico.

Ambos os pokémons eram tão velozes que eu, incomodado com a dor e vendo com um olho só naquela escuridão, quase não conseguia acompanhar. Ignorei tudo, tentei focar apenas no felino furioso. A batalha estava intensa, aparentemente o pokémon noturno tinha uma rixa pessoal com o outro tinhoso.

Daquela vez, Poochyena resolveu me dá ouvidos, agarrando a cauda do Meowth e girando-o no ar como fez outrora. Eu estava alguns metros de distância assistindo a tentativa do felino em se fixar no solo. Não conseguiu.

Agarrei firme no taco, disposto a aplicar toda minha força em um único golpe. Se fosse uma bola de beisebol, eu provavelmente não acertaria, mas era um pokémon de corpo maior e com uma brilhante jóia na cabeça. Assim que se aproximou de mim, acertei-o com toda a força que me cabia.

As ruas daquela cidade eram infestadas de insuportáveis cadetes. Quando pensei que chegaria ao restaurante em paz e enfim poderia respirar aliviado, deparo-me com dois dessas pragas fazendo a ronda na rua que dava acesso ao local que precisava chegar.

Limpei com as costas da mão livre o pouco de sangue que ainda escorria do ferimento em meu rosto. O Meowth, se estivesse vivo, poderia acordar a qualquer momento e causar problemas. Se eu fosse até lá, eles poderiam estranhar o saco que carrego nas costas e pedirem para examinar. Seria o meu fim, afinal o que um maltrapilho como eu faria com um dos pokémons dos cadetes?

Olhei para frente e, percebendo que estava só, notei uma loja qualquer do outro lado da rua. Lojas costumam ter sistema de alarme, talvez se eu fosse rápido... Peguei uma pedra no chão e comecei a encarar a vidraça do estabelecimento. Eu teria que atirá-la e, sem olhar para trás, meter o pé pra fora dali. Se eu seguisse pela esquerda, conseguiria dar a volta na rua e chegar ao restaurante de Kiga enquanto eles investigam o que houve na loja. E assim o fiz. Nem esperei ver se a pedra havia acertado ou não a vidraça, assim que a atirei, corri em direção ao meu destino.

Enfim pude me tranqüilizar; já estava no restaurante de Kiga. Este permanecia em minha frente, perguntando se obtive sucesso na missão. Dei um sorriso de canto de boca enquanto tirava o saco de minhas costas e despejava o seu conteúdo sobre um balcão.

– Aqui está. – Respondi. – Não foi nada fácil e cheguei a achar que não conseguiria, mas minha vontade em me juntar a vocês me deu força.

Poochyena saiu de sua pokéball,feliz em estar em seu lar novamente. O Mewoth continuava desacordado, não sabia se estava vivo ou morto. Desejei que estivesse vivo, seria mais fácil pra mim carregar o peso da morte de um cadete do que daquela criatura.

Olhei de relance quando o homem atirou o pokémon desacordado em um freezer. Estaria ele morto? Aquilo não me cabia mais, deveria ter foco. Encarei as esferas brancas e vermelhas sobre o balcão e o coração novamente acelerou. Assim que eu escolhesse uma delas, significaria que eu, enfim, estava dentro dos Armagedon.

Quando ouvia as histórias sobre os Armagedons, imaginava que pokémon escolheria para ser meu parceiro. Cresci em uma região árida e isso fez com que eu acabasse me identificando com criaturas que vivem ou poderiam viver nessas áreas. Era como se eu pudesse entendê-los e assim houvesse uma identificação melhor de ambas as partes. De certa forma, boa parte dos pokémons disponíveis entrava nesse quesito. Porém, um específico sempre me chamou atenção...

– Vou querer o Rhyhorn. – Respondi após matutar um pouco. Sigilyph e Gligar também seriam uma opção, mas tenho uma empatia maior com o pokémon rochoso.