Cap. 10 - De volta a Cidade Natal

A sala era convidativa e, diferente dos outros cômodos, mas silenciosa, no entanto, ainda assim era possível ouvir as crianças na cozinha desfrutando do almoço. Dria se recordava de cada cena de sua infância ali. Irmã Consuelo acariciava o felino em seu colo com grande alegria e satisfação. O gatuno ronronava, parecia à vontade e sem pressão de estar nas ruas para vistoria ou missão, para ataque.

- As coisas vão bem. O número de crianças cresce a cada dia. A prefeitura nos ajuda, mas ainda assim temos que nos virar com o pouco. Não mudou muito desde que você e o seu grupo saíram. O trabalho sempre crescente... a única coisa que mudou de fato foi ter mais irmãs para ajudar, afinal, a nova madre da Igreja nos ajuda muito... minha xará! Marie Consuelo. É nova, mas sábia e bondosa...

Irmã Consuelo deixou Auros tão à vontade que o gatuno dormia em seu colo. Parecia mágica, e Dria se lembrava bem. Irmã Consuelo não era fofa só fisicamente, mas também espiritualmente. Consolava muitas crianças que tinham pesadelos de noite e essas usavam o corpo da mulher para dormirem melhor. Era uma vantagem a se notar...

- Pronto, cheguei! – Irmã Yukiko reaparecia com uma bandeja com comida. Trazia pratos com guisado quentinho. As verduras davam um colorido na refeição e o cheiro estava tão delicioso que até Dria que havia acabado de tomar café-da-manhã sentiu a sua boca aguar perante o almoço. – Natu, pode nos ajudar...

Ao lado dos pratos, havia a ração de Lumineon e assim o Pokémon psychic reaparecia voando e pulando no ar. Seus olhos brilhavam e logo a ração era distribuída no aquário enquanto as irmãs davam toda atenção para Dria.

Dria sorriu ao ver que Auros adormecia no colo da grande Irma, ela mesma havia feito isso inúmeras vezes durante a infância quando se sentia triste ou apenas queria um pouco de atenção, sentando-se ao lado da mulher Dria acariciava a cabeça do felino escutando as palavras da mesma.

Cuidar do Orfanato era algo difícil e grandioso, mesmo assim a Cadete ficou feliz em saber que suas antigas Tutoras tinham ajuda, e mais do que nunca Dria se sentia feliz em saber que seus velhos amigos haviam seguido com a vida a sua forma.

Quando Yukiko chegou a jovem não perdeu tempo em pegar ela mesma a ração de peixe indo alimentar o belo Lumineon, como um velho costume Dria colocou umas pequenas pitadinhas a mais em agrado ao peixe, voltando a se sentar ao lado das irmas a jovem esperou ser servida antes de contar sobre suas ultimas missões e desfrutar um pouco mais da companhia de suas antigas tutoras.

A menina logo sentia a sua infância bater na porta mais uma vez. Dria não resistiu e ia até o aquário e alimentava, fazendo Natu piar em agradecimento. A ave sumia para perto de sua senhora e a cadete alimentava o peixe, que no momento nadava em felicidade. Certamente comer um pouco a mais no dia deixava o peixe borboleta feliz.

Dria retornava à mesa e ali era servida pelas irmãs. As duas olhavam para a morena sem disfarçar o orgulho que sentia. O guisado estava maravilhoso e não era só o cheiro. A menina sentia o mesmo tempo de criança e naquele momento sentia-se em casa. As irmãs não paravam um segundo de fazer perguntas, desde missões, passando pela alimentação da cadete e terminando em seus lazeres.

- Fale tudo, não esconda nada... – ria a irmã Consuelo.

Dria sorriu contente o tempo todo, a conversa e a comida a deixavam mais do que nunca satisfeita com tudo:

- Desde que a Comandante Angélica entrou de licença eu não tive mais descanso. Mas consegui um tempo para aprender a cozinhar enquanto estive em Chermont e Lirio e eu vamos para o Festival de Inverno. Depois devo deixa-lo em Nyender nosso tempo juntos acaba logo e seria bom entrega-lo para a mãe.

Sentada confortavelmente no sofá, Dria viu Auros acordar preguiçosamente e se esticar indo para o chão, o felino deu uma volta pela sala até ir se deitar nos pés da Cadete, Dria por sua vez esfregou as costas do mesmo com o pé enquanto dizia:

- Um capitão com que eu fiz as missões de Chermont me chamou para jantar na casa dele... Eu só preciso fazer o pudim de leite que ele tanto adora!

Comentava a garota já um pouco rubra.

Dria conversava com as irmãs. Falava da mudança de vida quando Cornélios assumiu o gabinete da comandante, falava de Lírio e de seu fim de tempo com ele, onde a menina cresceu muito, tanto quanto o rapaz, senão, mais. Auros, já nos pés da menina, ronronava na presença do carinho. As irmãs nem piscava enquanto a menina falava de tudo. Até o peixe prestava atenção em Dria, em sinônimo de saudades.

Quando a recruta comentava do seu suposto encontro em Nyender com Doumeki, as freiras gritavam e ficavam apaixonadas com a possibilidade de um namoro, enquanto Dria ficava cada vez mais vermelha. Até Auros ria nesse momento, mostrando que tinha alguma coisa entre Dria e o patrulheiro. Antes que a menina pudesse explicar, lá estavam as freiras imaginando o casamento de Dria, irmã Consuelo chorando com um lencinho alvo, irmã Yukiko levando o véu e a madre Marie Consuelo celebrando o matrimônio. As boas risadas valeram a pena.

A menina continuava conversando sobre tudo. Falou do teste, dos meninos novos, dos problemas com disciplina que alguns estavam enfrentando ali. Depois disso tudo, ainda falavam sobre alguns amigos de infância de Dria. Comentavam sobre Cynthia, que trabalhava na estação de tratamento de água de Chermont, Marcelo virou bombeiro, Eren cadete e alguns outros que Dria não lembrava, mas confirmava a sua vida. O grupo bebia um pouco de café após o almoço e não via o tempo passar.

Mais vermelha do que nunca Dria tentou usar Auros como escudo da enxurrada de gritinhos vinda das irmãs, surpresa com a reação do felino a jovem o apertou até este ficar sem folego para depois coloca-lo no chão novamente.

Levando algum tempo para convencer as duas que o suposto encontro com Doumeki não era nada demais e que o rapaz deveria ter apenas interesse na amizade, por fim a noticia de que seus velhos amigos estavam bem encaminhados fez com que a jovem comentasse:

- Ainda não acredito que o encrenqueiro do Eren virou Cadete!

A conversa agradável fez com que Dria não percebesse o tempo correr e quando o fez ficou surpresa, esticando-se preguiçosamente a jovem se levantou comentando sobre o horário:

- Por Arceus! Como o tempo voa, infelizmente eu preciso ir... Amanha pretendo seguir para Erobring e seria bom garantir lugar no Dormitório da cidade antes que falte espaço para isso!

O tempo corria de forma veloz, enquanto Dria e as irmãs matavam as saudades. Entre piadinhas que insinuavam que a morena estava apaixonada, entre outras conversas, a morena se levantava surpresa com o quanto que demorou conversando com as duas irmãs. Elas, por sua vez, estavam felizes pela visita, mas Dria sabia bem que ir, se quisesse seguir diante do seu plano de passar os últimos dias com o seu aprendiz.

Irmã Consuelo já fazia cara de choro quando a morena levantava, enquanto Yukiko era mais compreensiva. As duas irmãs pareciam amar muito a morena, de um jeito especial. O abraço final foi regado de um gostinho de quero mais, inclusive do Lumineon que se via regrado a sua dieta de antes. Auros passava sua pelagem entre as pernas das irmãs, demonstrando sua afetividade com elas.

- Dria, você está linda! Volte sempre que quiser, pois será muito bem-vinda! Por favor, não esqueça de nos visitar sempre que vier aqui, ok? – dizia Yukiko, com seu olhar orgulhoso e cheio de amor.
- Você será ricamente abençoada e saiba que estaremos orando por você sempre. – Consuelo quase chorava nas palavras, mas se segurava. No fim, elas trocavam telefone, a fim de manter o contato e Dria estava livre para ir.

Dria fez forca pra não chorar, a jovem se despediu de cada uma das irmas com um grande e forte abraco, ate mesmo a pequena ave e o belo peixe ganharam uma caricia antes da jovem se retirar, a promessa de sempre visita-las quando passasse pela cidade foi refeita enquanto os números eram trocados, por fim quando Dria saiu do velho e conhecido prédio a jovem não pode conter a lagrima silenciosa que escorria por seu rosto e a saudade que já lhe apertava o coração.

Ao lado de Auros a jovem escolheu o caminho mais rápido para voltar ao dormitório, os pensamentos da garota voavam longe e de certa forma a jovem sabia que seria melhor partir o mais rápido possível:

- Vamos ver se o Lirio ja esta e melhor e pegamos o trem!

Comentava a jovem para Auros que parecia aceitar bem a ideia de mestra.

Diante da despedida da morena, Dria se mostrava forte, embora seus olhos ainda lacrimejassem. Auros reconhecia aquela força. Dria não conseguia deixar de notar que estava diante de uma situação delicada, mas Auros sabia que a sua mestra era a melhor. As irmãs choravam, eram mais sensíveis que a recruta e a despedida de um a um foi feita de modo demorada. Dria nem percebia, mas já eram 16h37min, o que avisava que a morena ficou um bom período com suas tutoras.

Já nas ruas da cidade de grandes prédios, a morena se via chorando, com a saudade apertando seu peito. Auros sorria discretamente, aparentemente o gatuno julgava que aquela onda de emoções em sua senhora era aceitável. A dupla de cadetes avançava pelas ruas nos altos. Os andares de Grung eram enormes e só crescia em vista para o vento. Auros e Dria pegavam pontes e elevadores que interligavam os prédios-passarelas até chegarem no dormitório.

Diferente da delegacia que estava movimentada, o dormitório estava bem calmo. A morena foi para o andar de Lírio e bateu na porta. Demorou um pouquinho, até que alguém abria a porta. Dria abaixava a cabeça e logo se deparava com Umi, sorrindo para ela. Entrando no quarto, Lírio estava deitado, todo desmantelado na cama, com um pijama azul-turquesa listrado e uma faixa nos olhos. O rapaz tinha uma respiração profunda e abraçava Lola, deixando a gatuna com um olhar bem de tédio. Rosa parecia vigiar o quarto do alto da poltrona, estufando o peito e deixando tudo debaixo de seu controle.

A companhia silenciosa de Auros fez bem a Dria, a velha cidade lhe trazia um misto de velhas lembranças que marcaram a vida da garota, enxugando as lagrimas ao entrar no prédio do Dormitório a jovem sorriu para o companheiro.

Dria estranhou a demora da resposta de Lirio e quando foi Umi que abriu a porta a Cadete não demorou muito para perceber o que acontecia, sorrindo e acariciando a cabeça da coelha Dria disse de forma suave:

- Vamos partir amanha cedo, acorde ele ok!

Deixando que o aprendiz continuasse o descansos, Dria rumou para seu quarto, era sua vez de descansar e dormir não antes de um bom e demorado banho.

A menina percebia que realmente Lírio estava acabado e não era para menos. Lírio estava se esforçando muito e desde que realmente resolveu assumir seu lado cadete, tem dado tudo de si para orgulhar Dria e sua mãe. Depois de um tempo na presença do menino e advertindo a coelha que amanhã os dois partiriam, a recruta se retirava para ir ao seu quarto, deixando o quarto do aprendiz para trás. Auros seguia a menina o tempo todo e assim que Dria chegou no quarto, o Pokémon pulou na poltrona e resolveu descansar ali mesmo.

Dria se recolhia para o seu banho e ali descansava e relaxava. Rever suas tutoras a deixava muito feliz e por conta disso se sentia revigorada e bem por saber que elas estavam bem, assim como o orfanato. Auros deitava-se na poltrona e quando Dria saiu do banheiro, junto com o vapor, percebia que Garuda estava fora da Pokébola e queria esticar as asas. A Pokémon voava ao redor do dormitório cadete e parecia segura de que estava protegendo o local.

Dria dormia cedo, afinal, estava recuperando as energias para se divertir muito com Lírio no pouco período que restava com ele. Logo estariam em Erobing e em seguida iriam para Nyender, rever a mãe do rapaz e mostrar para ela que o filho estava vivo (ainda...).

A noite passava veloz. Dria dormia tão bem que há muito tempo não tinha dormido. Talvez a falta de peso nos ombros proporcionou a morena a dormir tão bem quanto aquele momento. Dria não via Garuda voltar, mas estava tão aquecida com Léo que o tempo passou confortável. Depois de tudo, o sol entrava no quarto e acordava Dria. As batidas na porta era ouvida por todos ali e Dria mais uma vez acordava atordoada, temendo que fosse Bumi, o burguês.

- Dria? – a voz de Lírio abria do outro lado da porta. A morena abria e lá estava o menino com uma bandeja de café-da-manhã, com várias coisas gostosas.- Feliz dia dos solteiros! – dizia Lírio em um sorriso enorme. Umi, Lola, Rosa e Natsume invadiam o quarto, assim como o aprendiz. – Bem, tenho que confessa que ontem não estava dormindo, estava preparando isso. – os Pokémons de Lírio entravam com balões de corações.

A noite de sono fez maravilhas com Dria, a falta de preocupações e deveres fez com que a garota descansasse bem, a melhor noite de sono das ultimas semanas de Dria. com toda a certeza.

Acordando um pouco sobressaltada pelas batidas a jovem se espreguiçou indo atender a porta, a recepção do lado de fora fez com que a garota sorrisse, deixando a pequena trupe passar Dria não perdeu tempo em abracar o aprendiz beijando-lhe a testa enquanto dizia:

- Preparado para o festival?!

Sentando-se na cama a jovem tomou sua xícara de cafe com um sorriso feliz no rosto.

A surpresa realmente foi agradável para a morena, que agora se via tomando café no dia dos namorados, mas comemorando o dia dos solteiros. Uma graça do rapaz. A menina se arrumava e logo deliciava. O quarto enchia de balões vermelhos em forma de coração. Léo e Natsume recomeçaram a corrida, assim como Garuda ficava agitada e saia para fora, acompanhada de Rosa. O grupo se via bem determinado a comemorar o dia. Depois de missões pós missões, a morena tinha tempo de folga.

Após a refeição, a dupla se arrumava. Agora era hora de ir para o festival, onde Lírio estava animado, mas algo incomodava o garoto. No fundo, Dria sabia que ela iria se separar dele em breve, mas não pode evitar de ficar orgulhosa do crescimento do mesmo. Era real a alegria da jovem por Lírio. O grupo se arrumava para poder ir para a estação de trem e antes recolhiam todos os Pokémons, deixando apenas Auros e Umi.

Nas ruas, o felino e a coelha lideravam o caminho até a estação. As ruas aéreas da cidade, com prédios que pareciam não ter fim de altura ainda fascinava o garoto. Dria já estava acostumada. A estação ficava no primeiro andar e por isso desciam sempre até lá. No caminho, algumas pessoas estavam fazendo declarações de amor em público e dando presentes. Grung estava mais agradável do que nunca. A estação estava calma, embora estivesse cheia ainda.

O cafe da manha regado a brincadeiras e risadas logo foi encerrado para que Dria pudesse se arrumar, por fim os dois Cadetes recolherem os demais pokemons preparando-se para partir.

Dria notou a leve incomodação do jovem, curiosa a garota perguntava de forma calma:

- Tem algo te incomodando Lirio?

Para Dria voltava a ser instintivo andar pelas ruas de Grung, a cidade natal da garota deixava claras marcas na mesma e por isso a jovem nao precisou de muito para guia-los em segurança ate a estacão, olhando para o aprendiz Dria sorriu ao comprar as passagens para Erobring ainda esperando pela resposta do mesmo.

Na estação, o pessoal continuava com o mesmo espírito de amizade. A estação estava levemente decorada com corações, indicando que era dia dos namorados ali também. A atendente de cabelos curtos e um broche de coração bem atrativo vendia as passagens para a morena, enquanto essa percebia que Lírio estava diferente ali.

Um trem acabava de chegar, mas não era o dos cadetes. Auros se mantinha em posição nobre, todos que olhavam percebiam que ele era um cadete. Umi ficava admirando as decorações e hora ou outra cutucava o gatuno apontando para algo que achava bonito ou fofo. Lírio sentava-se no banco mais Dria e suspirava.

- Não... É que... Tá chegando o dia de nos separar... Já tenho 18 anos e tenho que assumir o teste com Cornélios... – lembrava Lírio. Depois de tanto tempo com Dria, o menino ficava pensativo e reconhecia que teria que começar a sua jornada sozinho como cadete... Não poderia seguir com Dria, pois logo eles seriam da mesma patente...

Pagando pela passagem e ouvindo as palavras de Lirio a jovem concordou com a cabeça, o tempo estava acabando para os dois, e a certeza nao era animadora, logo Dria teria que treinar outro aprendiz e Lirio se tornaria um Cadete.

Já sentada em seu lugar na cabine Dria sorriu dizendo:

- Isso não é uma despedida... e alem do mais vamos nos encontrar durantes missões e folgas... Até mesmo porque logo sera sua vez de treinar alguém e isso é um grande passo!

Bagunçando um pouco o cabelo do aprendiz Dria apenas comentou:

- Você me ajudou muito Lirio, esta na hora de ajudar outras pessoas também!

As palavras sábias da cadete pareciam proferidas por alguém de alta patente, mas Dria era apenas uma recruta ainda. As missões da morena ficavam cada vez mais difíceis e logo ela pegaria um novo aprendiz para ensinar. Lírio achava aquelas palavras bem comoventes e sentia que teria que dá o seu melhor para quando se formar como cadete, orgulhar Dria.

O tempo passava até o trem chegar. Na cabine, os dois dividiam o mesmo espaço e deixavam Grung e seus prédios altos para irem para Erobing, onde estava acontecendo o festival. Os olhos dos dois circulavam de modo atraente e não demoravam para perder a ponta da cidade de vista.