#5 - Vs. Froakie

Passado pelo episódio na Usina de Elektrowni, tentei não comentar com meus pais sobre o ocorrido. Eu ainda me sentia preso de uma forma ou de outra e só a ideia de falar sobre isso me aterrorizava. Por que eu devia ter que reclamar minha independência? Por que eles simplesmente não me deixam seguir sozinho sem ficar todo o tempo me importunando sobre minhas escolhas? Por quê?

Ficar pensando demais também me atormentava e me fazia perder o foco. Era algo pequeno que me confundia. Que me machucava.


A semana seguinte passava rápido, pois era onde eu estava terminando meu estudo de cores para as últimas obras. Era ótimo fazer meu quarto de ateliê, embora por diversas vezes tive que fazer uso do quintal por conta do cheiro forte exalado das tintas. Pintava o que era reflexo do que estava sentindo. Pintava minhas experiências. Pintava também o que me inspirava. Minha "muse", como dissera meu professor, não era uma pessoa... Era o meu íntimo! O Nico reservado que não se abria por meio de palavras, mostrava quem era com o pincel e algumas cores.

Ainda nessa semana fui surpreendido com uma festa de aniversário planejada às minhas costas pela minha família e Mushiro. O melhor sabor de chocolate meio-amargo e chocolate branco numa única fatia! Todos os meus Pokémon também estavam presentes na hora de cantar para mim. Eu ficava olhando para eles e lembrava do que pensava deles. "Serão apenas meu professores. Relação estritamente profissional". Acontece que me apeguei. A todos eles. No final, meus pais me presentearam com um jaleco de pesquisador com o meu nome bordado. Dei um sorriso de lado, agradecendo enquanto ouvia eles falarem que estavam orgulhosos por essa escolha. O que não me permitiu sorrir por completo foi por não terem comentado sobre minha arte, mas fingi que não importava. Já Joshuy disse que o presente dele era muito melhor. Uma caixa de doces finos que fez questão de abrir por mim. Acabamos dividindo metade da caixa e contando histórias de viagem, tentando esquivar alguns acontecimentos de Elektrowni.

As noites que seguiam eu ficava na cama escrevendo para ocupar a mente e ficava a observar a lua e tentava enxergar também as estrelas - algo quase impossível em Twister -, mas com o toque de recolher ficava fácil, visto que a vida noturna estava morrendo e com isso as luzes da cidade. Gunter e Hyoga gostavam de dormir juntos nos pés da cama. Era até confortável ficar com eles por perto. Por algum motivo eu tinha medo deles me deixarem. Agora que Hyoga sabia voar e se ele decidisse numa hora dessas partir? E se Gunter não me achasse mais merecedor de ser seu parceiro? E se os outros seguissem o mesmo exemplo? O que restaria de mim? Um Stylist frustrado que não sabia o que fazer, pois queria nadar, e se perdeu nas artes, confundindo a profissão de pesquisador e escritor...

Eu só podia respirar e tentar não pensar.


Numa manhã eu acordei e já tinha quase completado todas as telas. Faltava apenas uma que estava em branco. Os rascunho presos ao cavalete. Estava na hora de marcar minha exposição. Não sabia se estava pronto, mas era isso. Tinha me preparado, tinha o dinheiro para financiar, tinha apoio e tinha vontade. Peguei o telefone e disquei para a Galeria Smeargle's Art da cidade, aguardando ser atendido.

- Olá, me chamo Nicolas Cannon, gostaria de reservar uma data para fechar a galeria com uma exposição das minhas obras...

Assim que atendido e eu revelava minha proposta foi-me informado que não tratavam de agendamentos por telefone. Claro, devia ter um contrato ou algo do tipo. Eu entendi e confirmei com ela ainda nesta manhã:

- Tudo bem, eu devo demorar uns 30 ou 40 minutos e já chego ai. Qual seu nome mesmo pra eu procurar?

Assim que marcado com a atendente, faria meu café rápido e convidaria Joshuy pra ir comigo. Fazia algum tempo que não nos divertíamos. Talvez eu devesse ir na praia. Faziam semanas que não sentia a brisa no meu rosto. Na verdade fazia muito tempos mesmo e pensar nisso começou a me deixar inquieto.

Com ou sem companhia eu pegaria o skate e partiria logo para a galeria antes que mudasse de ideia e fosse visitar o litoral.

Anotando o nome da mulher, eu fui me sentar à mesa para comer antes de sair, após me arrumar, em vista que minha mãe estava terminando de arrumar as coisas e Mushiro faminto - digo pelo olhar.

- Bom dia mãe. Parece que a noite foi bem reveladora pra mim. Vou tentar fechar a galeria essa semana para expôr meu trabalho. - dizia enquanto arrumava o que comeria. - Quer ir comigo Joshuy?

Durante o café meu celular tocou e recebi uma ótima notícia. Um conto que tinha mandado para o concurso da editora 3 Lagos tinha sido selecionado para formar o livro na categoria de romances. Segundo as informações tinham depositado uma quantia em dinheiro e a primeira edição na estação de trem da cidade. Eu mal podia conter minha emoção. Subi na cadeira e contei sobre o feito a todos ali. Foi quando notei que meu pai não estava presente. De qualquer forma, engoli a bebida depressa e já levantava para sair de casa.

Esperando na porta, recebi outra mensagem. Desta vez do meu contato ilegal. Assim que li, apaguei. Devia passar na delegacia antes de ir na estação de trem e por último na galeria.

Tentei procurar ignorar os modos do meu companheiro, mas era difícil. Foi só fechar a porta pra eu abrir a boca:

- Você não muda, né? Eu to pensando em entrar pra uma academia, o que acha? Digo, de irmos juntos e os dois fazermos exercícios periódicos.

Só assim pra ver se ele mudava de hábito. Já tinha ouvido falar que alguns tomam gosto pela vida fitness e largam das besteiras do mundo. E de quebra eu ganhava alguma massa muscular. Fortalecer braços e pernas era fundamental pra uma boa performance na água, ainda mais quando se nada no mar.

Aos passos que dávamos em direção ao centro era possível ver a cidade bem movimentada, o que era estranho se pensado em toda uma vida onde de dia a cidade dormia para os serviços noturnos. Eu só estava pensando nas boates que não pude aproveitar por estar completando a maioridade agora. Enfim, o prédio da delegacia já era visto e com ele, muitos cadetes aos arredores. Além do toque de recolher, esses policiais estavam caçando. Ao menos estávamos com a documentação nas exigências do coronel rabugento e se fossemos parados não haveria o que contestar. Só tinha medo do que viria em Piesok.

- Já volto! - avisei entrando no lugar afim de usar o sistema de transferência e comecei a trabalhar requirindo os que tinha capturado recentemente. De todos, só ficaria Pachirisu, aguardando com Gunter e os outros a minha volta, com exceção de Mako, que iria me acompanhar.

Quando terminasse, caminharia para fora do edifício chamando Joshuy e procuraria por uma praça ou lugar livre na direção da estação de trem para fazer o Smeargle aprender Water Spout do Wartortle, antes de enviar.

Off: Vou retirar os cinco primeiros do Storage e deixar Makoto{Wartortle} junto com eles na ficha, e fazer o Smeargle aprender o Water Spout do Mako por meio de Sketch.
Off²: Se quiser deixar a ficha como está, tudo bem, porque eu vou voltar pra pegar eles depois, já que ta no caminho pra galeria.

Após realizar minhas trocas na delegacia, eu saia dali e dava de cara com o quê? Isso mesmo! Mais comida e Joshuy na mesma cena. Que bonito! Eu quis comentar. Contudo, me restei apenas a olhar e suspirar desacreditado. Tinha que cuidar de mim primeiro.

Caminhando na direção da estação, eram me reveladas praças das quais haviam outros stylist de apresentando ou treinando com Pokémon. Eu me sentia um excluído por não participar daquilo, mas por hora tinha algo a fazer e uma menina que brincava com água e uma bailarina me lembrou disso. Parei ali mesmo e liberei Makoto e o Smeargle.

- Certo Mako, utilize Water Spout. Smeargle, copie com seu Sketch.

Feito isso, os recolheria e caminharia de forma rápida à estação de trem que não tardaria muito. Chegando lá, haveria de enviar para Erobring, no nome de Jussara Courtnay, o Smeargle com Water Spout, o Voltorb shiny, Blitzle, Marrep e Emolga, pagando também as taxas de transferência. Estando uma vez lá, buscaria também os pacotes em meu nome.

Por mais que eu não quisesse me atrasar, parecia que o destino fazia de propósito! Foi só chegar na estação que tive que ficar batendo a cabeça por mais de trinta minutos esperando ser atendido, mas quando foi a minha vez, consegui despachar as Pokébolas e ainda recebia meu livro com os contos dos vencedores da 3L edição romântica. Simplesmente demais! E com isso, uma quantia boa que me ajudou a pagar parte dos envios.

Saia de lá mais uma vez e falava pra Joshuy que precisaríamos dar uma corridinha. O próximo passo era a Galeria! Mas antes, passaria na delegacia uma nova vez para reaver Gunter e os outros, deixando ainda o pequeno Pachirisu lá.

Mal podia esperar para conversar com o pessoal de lá e fechar o espaço pras minhas obras. Parecia uma realidade tão distante... Tudo graças ao instituto que patrocinou o evento no deserto! Se no caminho da delegacia para a galeria passar algum ônibus pra lá, não hesitaria em pegar já que não tem uber.

Eu sabia que estava atrasado e não queria perder o horário com a mulher da galeria, então corria com os meus outros compromissos.

Após enviar os Pokémon que me foram encomendados eu passava uma nova vez na delegacia e saia de lá teclando uma SMS pro destinatário. Foi assim que o infelizmente acidente aconteceu. Uma criança derramou sorvete em mim e saiu andando como se não fosse culpada. Eu estava pronto para ouvir risadinhas, só que não estava pronto pra voz de Mushiro, tanto que dei um soco no braço delepra calar a boca. Nesse meio tempo Gunter saiu da bola e olhou para os lados perdido. Ele então viu o sorvete derramado e se ajoelhou chorando por ele.

- Tenha dó!

Por sorte eu levava uma jaqueta na bolsa e tirei a camisa, ficando só com a roupa de inverno. Não estava mais afim de andar, então aguardaria no ponto o ônibus que iria pra lá.

Eu ainda estava rezando para que o dia melhorasse com o fechamento da galeria, pois aqueles dois já conseguiramme tirar do sério logo cedo! Em Gunter eu dei um jeito, levando-o de volta à pokebola. Já o ser humano com o dobro do meu tamanho não era tão simples assim. Já estava tramando ótimas vinganças assim que retornarmos.

Apesar de perder um preciso tempo com brincadeiras, conseguimos chegar no espaço belo que antes era minha instituição de ensino e me desejava ter um dia o nome gravado nas placas de aço abaixo de cada obra assinada e bem emoldurada. Meus olhos chegavam a lacrimejar só de lembrar do sonho se tornando realidade.

Assim que entramos, à recepcionista diria:

- Com licença, procuro por Débora Mills. Marquei de conversar com ela está manhã. Sou Nicolas Cannon.

Era de se esperar que a mulher estivesse ocupada. Eu não queria levar o dia inteiro ali, mas nãotinha nada mais a fazer alémde terminas minha última obra. Apenas pedi para avisar que cheguei.

Não fazia muito tempo desde a última vez que passei por aqueles corredores. Mesmo assim, a sensação de passar entre as obras era indescritível. Artistas consagrados ao lado de amadores, todos sendo apreciados pelos mesmos olhos. Josh que de nada entendia de arte, caminhava observando com atenção. Não a técnica ou o que o artista sentia no momento da criação, mas a arte final.

- Mal posso esperar para ser o próximo... - comentava comigo mesmo enquanto percorria os corredores da galeria seguindo Mushiro.

Reparei não ser o único ali que almejava expôr, porém, não conhecia rosto algum. Eu realmente precisava começara sair mais e fazer novas amizades.

- Valeu cara! - disse dando dois tapinhas na cabeça dele como se fosse Makoto.

Ele conseguiu tirar de um um sorriso frouxo. Logo depois, uma mulher passou por mim com um odor agradavelmente doce e parou diante da tela que representava o novo continente. O fim dos tempos e o início de nova vida. Não era possível saber o que se passava na mente dela, mas com toda a certeza a obra tocou seu coração. E assim como chegou, sumiu a passos leves, me deixando a cena em mente.

Me voltei à tela do Pokémon primogênito. O lendário com tanto poder e compaixão de mesmo tamanho representado pelas mãos de um artista. Depois do que presenciei, essa Owen tinha meu respeito.

- Gostou de algum Josh?

Seráque algum dia ele vai mudar? Ou será que eu que terei de me acostumar com esses micos constantes? De qualquer forma quase me exaltei ao perceber a mulher atrás de nós. Seria ela a senhora que estava me esperando?

- Sou eu. Me chama de Nico, por favor. Esse é meu amigo Joshuy que não vai mais repetir o que fez, não é mesmo?

A pergunta era retórica, mas voltava minha atenção para a mulher diante de mim querendo saber se já seria atendido.

Era visível que Joshuy tinha ficado sem graça e um pouco inibido. Ele não fazia por mal, mas já me deixava preocupado essa gula incontrolável. De qualquer forma, estava ali, pronto para fechar o início da minha carreira como stylist antes de ir para Piesok, a desejo do Cornélios.

Assim que sentado e com os pensamentos em ordem, respirava fundo e dizia:

- Então, eu fiz alguns cursos aqui e já estava pensando de reservar a galeria para uma exposição particular, no próximo fim de semana se possível. Sexta, sábado e domingo. Daria tempo para fazer propagandas e as entradas poderiam ser mais baratas que o normal para atrair visitantes. Que tal a Pk$1? Eu tenho a licença de Stylist e 12 obras prontas. Estava em dúvida quanto a minha décima terneira, mas acho que já me decidi. Estava pensando em convidar uma banda para o dia de estreia e contratar um pequeno buffet, o que acha? Também gostaria de vender todas as telas, não menos que 300 as médias e não menos que 500 as grandes. Só tem uma delas que já tem dono. Quando eu às trouxer, colocarei escrito um papel atrás.

Não diria qual delas e nem quem era o dono, mas iria fazer o convite pessoalmente. Gostaria muito que Hakeza aparecesse, mas havia dias que não a encontrava em casa. De qualquer forma era tudo isso de meu desejo. Três dias somente meus!

- Eu já trouxe o dinheiro para dar a entrada nos papéis. Como ficamos? - perguntava empolgado.

Enquanto eu dizia ela anotava e ao final me fazia uma sugestão. Era algo melhor que buffet. Bebidas leves e refrescantes para as tardes de exposição, já que eles deviam estar fechando também pela noite.

- Se puder cuidar dos coquetéis por mim eu agradeço. Vai ser ótimo! E não me importo em ser apenas nesses dias. Contanto que tenha tudo sobre controle, eu tenho certeza que será demais.

Quase esquecia de Joshuy que estava logo atrás de nós. Tão silencioso que nem parecia ele.

- Mais alguma coisa que precisamos pra fechar os dias?