#5 - Vs. Froakie

Aguardava enquanto terminava as anotações e ao que ela terminava de dizer, procurava o dinheiro e colocava encima da mesa com um sorriso, dizendo:

- Fechado! O tema da exposição será: "Minha Musa: Nicolas Cannon". Eu trago meus trabalhos na sexta de manhã, ok?

Só restava ela imprimir os papéis para eu assinar e assim faria, esperando ser liberado para terminar a última tela. Joshuy já devia estar faminto por ser a hora do almoço.

Ao final de toda a agitação da manhã, conseguia enfim fechar o espaço para a minha exposição. Mais que nunca eu me sentia bem. Mostraria ao mundo pela cidade onde nasci, quem eu era pela arte. Como se não bastasse o primeiro livro publicado, agora faria a primeira amostra das minhas telas.

Após nos despedir da galeria, pegamos o ônibus para casa. Não conseguia esconder o riso, pois sonhava alto e pela primeira vez nem imaginava a queda. Pensava num discurso. Então ouvi um estrondo. Era Joshuy? Se fosse, ele devia estar em sérios apuros com a barriga. Ao soltar do transporte, para a sorte dele, o cheiro que vinha da cozinha era convidativo.

Chegando em casa, dei um alô aos pais e fui correndo ao quarto fazer algumas anotações. Com um papel mais bonito e canetas coloridas, preparava convites que seriam entregues em mãos. Só esperei minha mãe chamar para poder comer e sair em seguida para entregar os papéis. Explicaria isso enquanto tinha todos na mesa para que não me perguntassem depois.

Dos lugares que tinha de ir, a biblioteca era o primeiro. Tinha realizado bons cursos com a senhora que tomava conta e que me ajudou a ganhar o concurso de contos. Mostraria a cópia que a editora me entregou e lhe convidaria para a minha exposição, pedindo para que levasse as crianças que costumavam ir lá para ouvir histórias. Depois, visitaria o hospital. Lá, procuraria o médico que cuidou diversas vezes de Gunter e os outros com um sorriso no rosto. Uma vez viu até um ferimento meu é ficou preocupado, sem muita necessidade. Dr. Draccon, era o nome. Tinha um convite com o nome dele é se não pudesse entregar pessoalmente, deixaria com uma das meninas da recepção, fazendo a elas um convite mais informal. Seguindo os passos, havia meu professor de natação que gostaria de convidar, assim como alguns conhecidos do tempo de escola. Faltava meu mestre que ampliou meu olhar crítico e ajudou na prática com óleo e aquarelas. Ele trabalhava na galeria, mas deixaria na caixa dos correios, pois era difícil encontrá-lo. Ali mandaria também o convite de meu supervisor de pesquisas, Mike. Para o teatro e a biblioteca de Chermont, onde tive ótimos mestres que me ensinaram além do que tinha pedido e também para a família de Joshuy em Nyender, qu noe me acolheu sem me conhecer e pediu para ficar de olho no grandão. Por fim, havia a carta que mandaria para o instituto arqueológico que me patrocinou, por assim dizer.

Com tudo feito, voltaria despreocupado para casa, deixando o último papel para a vizinha ruiva, de baixo da porta. Só havia falado uma vez com Hakaze, mas a considerava bastante apesar de nunca mais ter a visto. De volta em casa, trataria de tomar um banho e trocar a roupa suja. Se meu corpo permitisse, iniciaria o esboço ainda de noite para na manhã seguinte terminar a última pintura do conjunto.

O dia tinha sido bem produtivo, ao meu ver, e se fosse feito uma análise por qualquer crítico ele diria o mesmo.

Já era tarde quando estávamos chegando na rua de casa, quase em cima do toque de recolher. Mushiro me alertava do horário quando eu parecia desligado e assentia quando dizia que precisávamos ir. Evitar conflitos era o que eu mais fazia, apesar de estar sempre me metendo em encrenca.

- É... talvez você tenha razão. - disse suspirando antes de me virar e entrar em casa.

Após o jantar, trataria de pintar o grosso para no dia seguinte poder finalizar e detalhar como gostaria. Pintar de noite poderia ser bem produtivo, pois era quando minha criatividade estava no limite, mas era também exaustivo visto que tinha acordado cedo e andado demais no centro da cidade. Só me restava terminar esta última, embalar as que estavam prontas e levá-las na sexta para curtir meu fim de semana mais que especial.

Me sentia orgulhoso. Num geral, estava melhor do que pensei um dia estar. Tudo que foi pintado, foi vivido. Mesmo eu não querendo, acabei sentindo as mais puras emoções juntos de Gunter, Makoto, Cléo, Hyoga e até mesmo Joshuy. Era verídico que ainda era retraído, mas estava evoluindo. Antes nem conseguia me expressar direito e agora já sorria com mais liberdade. Aos poucos enfrentava meus medos e desatava as correntes que me puxam para baixo. É por isso que retratei o que pintei. Minha obra era minha vida. Toda a fonte de inspiração. Minha musa!

Ao passar da semana, com todas elas prontas e dadas os devidos acabamentos, elas eram embaladas e juntadas em um único canto para quando fôssemos levar, nenhuma ficasse para trás. Certo de que a Sra. Millis dava tudo de si para a exposição ser um sucesso, confiava a ela todas as informações que me pedia. Tinha comentado com Joshuy para chamar os amigos que tiraram a licença conosco. Não tínhamos tido um bom começo, mas juntamos forças para derrotar Cornélios. Talvez eles tivessem boas histórias para contar.

Na sexta acordei cedo. Levantei disposto a fazer uma caminhada pela manhã, mas Joshuy fingiu nem ouvir. Eu apenas ri e me juntei a ele para tomar café. Débora já tinha avisado que atenderia alguém pela manhã, então não tinha pressa para chegar. Antes de ir à mesa, recebia uma mensagem de que minha encomenda chegara. Passaria na estação de trem quando terminasse minhas obrigações. Tratei logo de excluir ela e ir comer.

- Pai, você pode me levar na galeria por volta das 9:30h? - perguntava já que de carro seria bem mais fácil que a pé.

Caso ele não pudesse, tentaria o taxista que me trouxe em casa da vez que voltei do deserto. Ele parecia ser um cara legal.

Como sempre, ele estava ocupado. Já nem ligava mais. Terminava minha refeição matinal sem café - me recuso a iniciar esse vício - e tentava contato com aquele taxista. Enquanto isso, Joshuy tratava de ajudar minha mãe a limpar a mesa, mas dá maneira dele... Ela adorava quando eu trazia amigos que apreciavam a comida dela. Josh era quase um deus de tão venerado.

Só restava aguardar pela carona para a galeria, pois as telas estavam todas embaladas para despachar. Pelo que parecia, o tempo hoje seria mais ameno que o anterior. Buscava logo um casaco pra evitar resfriado.

No horário combinado, minha carona chegava. Já estava correndo para carregar as telas quando Josh me dizia que não iria comigo hoje. Fiquei alguns segundos encarando ele e tudo que disse foi para me ajudar a colocar tudo no carro.

Ao menos assim até o motorista dizer que era melhor colocá-las no banco de trás para não danificar nenhuma. Pois bem, já que ele insistia, fazia conforme falava e me sentava ao lado dele, colocando o cinto.

- Para a Galeria Smeargle, por favor. - respondi quando ele perguntou.

Não pude não reparar em como ele estava arrumado. Não lembro de ter visto ele tão bem assim da última vez, só que ele parecia mais contido. De qualquer forma ele me fez lembrar que eu devia separar o que vestir amanhã. Por sorte, quando estava em Chermont, comprei um conjunto lindo que cairia bem na ocasião. Talvez eu tenha deixado um sorriso escapar enquanto olhava para ele. Isso me deixou um pouco constrangido.

Agradecia pela viagem rápida, esquecendo pensamentos bestas. Mills nos ajudou com as obras e foi super eficiente, mais até que eu esperava. Mostrava o nível da galeria no quesito de eventos. Ela devia ser uma das melhores. Talvez porque fosse frequente a procura de stylists para expor no espaço. De qualquer forma, eu mantinha aquele sorriso de canto a canto do rosto. Só avisei a ela que talvez minha família viria junto antes dos outros convidados.

Com tudo certo, me despedi da regrada mulher e voltei ao carro com Miguel. Ele me perguntava para onde iríamos agora, só que de bem mais formal que gostaria. Provavelmente ele devia estar pensando em me levar de volta para casa.

- Pode me chamar de Nico. Eu devo ser só um ano mais novo que você. - dei um sorriso besta e olhei para o outro lado da janela.

Devia estar quase na hora do almoço. Eu não queria voltar agora. Queria aproveitar o momento. Me sentia inspirado.

- Miguel, pode me acompanhar pelo resto do dia? Tipo, de carro e fora dele? Te pago um almoço. - falei a última frase como se ele fosse Mushiro e eu conseguisse convencer com comida. Só depois que disse me toquei disso e ficou um pouco constrangido pelo que ele pensaria.

De toda forma, meu destino era a biblioteca, passando antes na estação de trem para pegar o que estava em meu nome, já que o mundo dos livros ficava do outro lado da cidade e teria que passar por ali.

Off: ao passar na estação, pagar 560dinheiros pra retirar o Froakie(vai pro storage)

Ta, aquilo começou a ficar estranho e familiar. Ele tinha sido bem mais dessa forma da última vez que me lembrava. Me diverti vendo aquilo e não pude deixar de escapar um sorriso. Ele então respondia ao meu convite e sugeria algo.

- Pode ser. - disse com a voz baixa, olhando para os dedos no colo - Sabe, eu sou de Twister, mas não conheço muito bem a cidade. Mal sabia da existência da galeria... Eu só preciso passar na estação de trem antes, tudo bem? Se eu não me engano é caminho, né?

Concordava por fim em almoçar antes de ir onde queria, mas não o faria voltar só para me acompanhar. Esperava não estar fazendo nenhuma besteira. Sair sem Josh parecia tão errado. Mas a tarde nublada me enxia os pulmões de alegria.

A animação dos últimos dias se acumulava cada vez mais. Eu estava feliz. Isso era tão bom que gostaria de parar o tempo nos próximos dias e fazê-los durar uma eternidade.

Ao que parecia, na rua a animação também estava garantida. Nem parecia que estávamos vivendo momentos tensos e que em breve muitos se encontrariam em Piesok. Assim que ele parou, saltei do carro e fiz a breve visita à estação, como prometido. Assim que voltei, assenti, respondendo a pergunta dele. Não estava faminto, então saborearia a culinária que ele estava para me apresentar.

Minhas pernas agradeciam tanto por não precisar andar mais. Nem me importava em quanto sairia aquela brincadeira toda. Eu queria mesmo era curtir meu dia para amanhã saborear as visões sobre minhas obras.

Chegando no restaurante comentado pelo motorista. Miguel abria a porta enquanto eu ainda admirava o charme daquele lugar. Ele estava sendo bem gentil, apesar de não precisar. Então ele pediu para que o acompanhasse, e assim o fiz com os braços dentro dos bolsos do casaco.

Já na mesa, ouvia sobre a história de um prata que me parecia grande demais para uma pessoa só. Ele deve ter percebido meu espanto, pois tratou de se corrigir. Fiquei um pouco envergonhado, mas resolvi comentar ao invés de olhar para baixo como de costume.

- Entendi... Nem pensei diferente haha. Já que nunca vim aqui eu vou querer experimentar esse. - olhei para ver se o garçom anotava - e também soda.

Assim que os pedido tivessem feitos mandaria uma mensagem para Joshuy avisar aos meus pais que eu voltaria mais tarde para casa e para não se preocuparem. Encarando novamente Miguel, guardaria o telefone e tentaria um diálogo:

- Você lembra que já fez uma corrida pra mim? Eu estava no Kazumi, eu acho, e tinha acabado de chegar de uma viagem cansativa, tipo, realmente exaustiva, eu atravessei o deserto correndo, e acabei sendo meio grosseiro... Foi por isso que me tratou formal dessa vez? Ou você trabalha assim mesmo e nem lembrava de mim?

Gostou? Como assim? Como cliente? Aquelas palavras me deixaram perdido e boquiaberto sem ter o que responder.

Então a refeição chegava e eu tinha que me afastar para dar espaço às coisas na mesa.

Ainda estava perdido nas palavras dele. Olhei para o prato e me toquei que tinham chegado, só depois de me certificar com o garçom, que já saía de perto. Pegava o talher e experimentava, já sabendo que adoraria o sabor pelo aroma. E ele estava certo. Realmente espetacular. Não consegui responder, apenas fiz "joinha" enquanto mastigava.

- Hm.. eu sei que te convidei a trabalhar para mim pelo restante do dia, mas que tal me tratar mais que um cliente? Tenho certeza que vou gostar mais. - disse tudo isso olhando para o prato.

Atualmente Joshuy era meu único amigo de verdade. Miguel pareceu ser bem legal da primeira vez que vi e agora tinha certeza conhecendo um pouco sobre ele.

Comia um pouco mais e terminava a refeição pedindo três sorvetes de sobremesa. Um seria de Gunter, pois ainda devia a ele por uma aposta.

Não tive como não sentir o rosto ficar vermelho. Nenhum cara nunca tinha me feito um elogio daqueles. Na verdade, ninguém fora da minha família. É nisso que dá não conviver em sociedade. A gente acaba se entregando nas coisas mais simples, como um elogio daqueles. Eu só não sabia como responder. Devia dizer que gostei do estilo dele? Que a forma com que me trata me faz sentir estranho, mas bem? Eu não conseguia formular nada. Apenas esbocei um sorriso e dei de ombros. Uma bela resposta, não?

Ao retirar os pratos, o garçom estava atento ao pedido e disse que já voltaria. Gostaria mesmo que ele trouxesse o sorvete para então sairmos dali. Comecei a ficar nervoso, não entendia o motivo. Miguel então, percebendo alguma coisa, resolveu mudar de assunto. Só esperava não ter passado impressão errada.

- Pois é... eu consegui fechar a galeria para uma exposição própria... Demorei algumas semanas para terminar as obras, foi bem difícil e um investimento e tanto, mas valeu o empenho. Seria muito legal se você aparecesse lá amanhã, sabe, como convidado.

Dito isso, mexia nas minhas coisas e chamava Gunter para o meu colo e apresentava Miguel. Ele fazia uma simples continência e aguardava saber o motivo de ter sido chamado.

- Você gosta de histórias, Miguel? Onde nós vamos daqui a pouco deve ter uma turminha ansiosa pra ouvir uma. Eu gostei muito da primeira vez que contei histórias para crianças e acho que vou fazer disso um trabalho voluntário. Sabe, não só nas bibliotecas, como também em hospitais e centros de recreação.

Já me sentia mais a vontade de novo, com Gunter junto a mim, e não falando daquela forma embaraçosa.