Primeiro Passo

Off: Pode deixar que eu a crio. Eu já tenho uma idéia de como ele deve ser, e como ele vai se encaixar na história.

Quando Victor chegou, Lua ainda estava tremendo. Ela simplesmente contou tudo em um único fôlego. Sem nem pensar muito. As palavras foram saindo e saindo até ter contado tudo o que se passou. Estava chocada e amedrontada com a possibilidade de ser vista.

Victor tentou acalmá-la, mostrando o que tinha trazido para comerem. A fruta estava suculenta e a carne apetitosa. Lua não percebeu como estava com fome até que sentiu o cheiro de comida.

- Vamos dividir a comida aqui mesmo. É mais seguro. Ela vem de uma loja onde o humano que cuidava de mim buscava as coisas e um rapaz sempre me presenteava com algo. Quando ele me viu, foi logo buscar algo para mim. Mas não podemos contar com isso sempre. Agora nós temos que cuidar de nós mesmo. Precisamos arrumar um lugar para ficar, e você precisa aprender algumas coisas para que possa sobreviver. Principalmente identificar em quem pode ou não confiar.

A cidade ainda estava agitada, e estava se tornando um lugar muito perigoso para um Pokémon inexperiente. Lua deveria aprender tudo o mais rápido possível para não serem capturados ou mortos.

Victor se deu conta que estava planejando tudo na premissa de que Lua viria com ele. Ela poderia ter planos diferentes, e ele nem sequer se dera o trabalho de perguntar a ela.

- Acho que estou sendo precipitado. Você quer ficar comigo? Acho que juntos teremos mais chances de viver nessa cidade ou procurar outro local para ficar. Você deve saber que eu quero treinar e me tornar melhor. Para um dia poder, estar forte o bastante para reparar o fato de ter deixado Guns naquela situação. Eu tenho alguma experiência e posso ajudar você. O que você quer fazer?

- Concordo com você, o clima nesta cidade está muito confuso e perigoso. Primeiro temos que definir para onde vamos e o que podemos fazer para ficar mais fácil ir até lá.

Victor observou a sua volta tentando identificar algum perigo e se aqueles seres asquerosos não estavam por perto. Giratinistas era a coisa mais devastadora que poderia acontecer a um pokemon sozinho. Cuidadosamente desceu da árvore e começou a caminhar.

-Vamos dar uma volta até encontrar água e eu vou tentar te mostrar do que nós temos que manter distancia. Você deve ficar atenta a tudo o que se passa ao seu redor. De uma maneira geral você deve manter distancia dos humanos, eles não são confiáveis. Principalmente os que estiverem acompanhados por um pokemon flutuante cinza com olhos vermelhos, ou um pokemon rastejante roxo.

Eles pararam para atravessar uma rua, podia-se sentir a presença de água nas proximidades. Recuaram porem, pois duas pessoas acompanhadas de um grande felino passaram por eles. Uma das pessoas estava com as mãos imobilizadas e o rosto inchado com marcas de sangue que iam por toda a sua roupa.

Quando surgiu uma oportunidade, eles atravessaram a rua e encontraram uma pequena fonte rodeada de pedras. Arceus estava sob ela e a água saia de sua boca. O pokemon não se movia e parecia feito do mesmo material que cercava a fonte. Eles beberam da água fresca e cristalina que havia ali. Victor continuou a falar.

- A maioria dos humanos vai tentar te capturar, mas os que tem esses pokemon, segundo meu antigo mestre se chamam giratinistas e só querem te matar. Nem todos os que tem aquele pokemon de fogo são assim, mas aqueles que tem aquele pokemon giratório, também pertence ao mesmo grupo de pessoas. Com o tempo você vai aprender a identificá-los. Você tem algum lugar especifico que você queira ir?

Lua não sabia dizer para onde ir, ela queria um lugar seguro onde pudesse viver em paz, mas para que lado estaria esse lugar.  Seu cérebro a torturava com lembranças de quando vivia com sua mãe e irmãos. Ela daria tudo para voltar aquele tempo, mas isso era impossível e ela deveria definir seu novo caminho.

Victor e Lua caminharam aparentemente sem destino, passaram por muitas ruas, praças sempre se escondendo da vista dos humanos. Para sorte deles, os humanos pareciam não dar muita atenção a eles. Eles estavam mais preocupados com a agitação da cidade.

A noite se aproximava e logo mais eles necessitariam encontrar um lugar onde pudessem descansar em segurança. Novamente encontraram uma grande árvore, onde puderam descansar. O noite estava escura  e Lua observou as luzes que acendiam dando um novo aspecto a cidade. Havia vários prédios iluminados com luzes de cores diferentes e em alguns as luzes piscavam e se movimentavam executando uma dança única e bela.

Num dado momento a Lua surgiu no céu quando algumas nuvens se afastaram e o seu brilho veio competir com as luzes da cidade. Lua ficou maravilhada por um tempo observando a beleza daquela que era seu homônimo. Ela fez uma prece silenciosa para que a Lua no céu cuidasse do caminho da Lua aqui na terra. Ela precisava definir para que lado ir, mas como definir qual o melhor caminho?

Lua estava confusa e duvidava da sua sanidade. O que ela não sabia é que o universo está sempre disposto a responder as nossa perguntas. Só precisamos fazer as perguntas corretamente, foi o que ela fez. E aquela voz em sua mente era prova disso.  Ela olhou para o céu e sentiu uma presença, que a acalmava e a fortalecia. Agora ela sabia o que fazer. Olhou para Victor desejando que ele se sentisse assim. Ele estava no galho mais abaixo e dormia, mas seus sonhos eram agitados e se mexia constantemente, tanto que Lua estava preocupada com a possibilidade dele cair da árvore. Logo ele se acalmou e Lua resolveu dormir. Assim que fechou os olhos caiu num sono sem sonhos.

Victor estava dormindo profundamente. Ele sonhava com a batalha e nela ele era forte o suficiente para derrotar aquelas pessoas e salvar seu amigo. Foi quando ele viu Guns, ele estava ao seu lado. Não havia nenhum machucado nele.  Seu pelo brilhava a luz do luar e seus olhos bondosos olhavam para Victor.

- Victor, não se preocupe comigo. Eu estou com meus pais em um lugar magnífico. Aqui há imensas pradarias e alimento em abundancia. Muitos de nossos amigos estão aqui e quando chegar a sua hora eu estarei aqui esperando você. Mas não se apresse, há muita coisa para você aprender e há também a pequena Lua. Ame-a e cuide dela, como você sempre cuidou de mim. Nunca se sinta só, eu sempre estrarei com você em seus sonhos.

Victor deu um longo suspiro e dormiu um sono reparador. Ele não se de conta do que  acontecia ao seu redor.

Lua acordou, de repente, ouvindo um som estranho, parecia uma música suave. Olhou ao redor e estava envolta em uma neblina suave e luminosa. Não conseguia enxergar nada com muito detalhe. A uma certa distancia não conseguia enxergar praticamente nada. Chamou por Victor, mas ele dormia profundamente e não acordou, mesmo chamando várias vezes, ele não se mexia.

Lua estava amedrontada e olhava em todas as direções a procura de algum perigo. Foi quando notou um movimento a sua direita. E ela quase caiu da árvore, tamanho foi o seu susto. Shiny estava ali, a uma pequena distancia de onde estavam. Seu coração disparou, e ela não acreditava no que estava vendo. Isso era praticamente impossível, mas era ele. Ela conhecia aquela cor e todos os detalhes que havia no seu irmão favorito.

Ela sentia tanta saudade dele, que não conseguia se mexer. Ela não conseguia pensar em mais nada, apenas em correr onde ele estava e abraçá-lo.

Olhou novamente para Victor e tentou acordá-lo. Vitor porem continuou dormindo.

Shiny olhou para a árvore e caminhou na direção da neblina mais densa. Lua chamou por ele, mas ele não ouviu e continuou andando. Ela deveria se decidir e rápido, logo mais não poderia mais vê-lo.

Quando não conseguiu acordar Victor, Lua decidiu que não poderia perder a oportunidade de falar com Shiny. Ela desceu da árvore e começou a segui-lo.

Por cautela, Lua decidiu manter uma certa distancia para não cair em uma armadilha.

Shiny olhou para trás para ver se estava sendo seguido, ele deu sorriso satisfeito. Afinal o objetivo
era levar Lua para um local onde pudessem conversar a sós.

Caminharam por uns quinze minutos, mais ou menos, mantendo essa situação. Shiny caminhando a frente  e Lua seguindo-o ainda meio desconfiada.

A neblina ficou mais densa e quase não se via nada ao seu redor.

Da distancia em que estava Lua não conseguia mais enxergar Shiny. Seu coração se apertou, ela ouvia sua respiração ofegante e podia determinar onde ele estava, mas se não se aproximasse mais, não conseguiria vê-lo.

O som de uma ave noturna sobrepôs-se a todos os outros sons. O ambiente estava macabro e sinistro. Lua usou seu faro e ficou mais tensa ainda, pois era o cheiro de sangue, como naquela noite no beco onde Guns se sacrificou.

Ela pensou em voltar, mas a neblina tomava conta de tudo. Por mais que tentasse não conseguia determinar de que lado tinha vindo. Tudo estava acinzentado,e aquela sensação oprimia a mente de Lua. O cheiro se sangue fazia com que ela pensasse coisas terríveis, ao mesmo tempo em que não via uma saída dali?

Pensou em Victor dormindo em sua árvore, deveria ter sido mais persistente em acordá-lo. Isso também era estranho, Victor tinha um sono leve e sempre estava tento a tudo que se passava ao seu redor.

Esse foi seu último pensamento antes de tudo ficar escuro...

Lua tinha certeza de que caíra em uma armadilha. Principalmente quando conseguiu juntar todos os fatos.

Tudo levava a crer nisso, mas como Shiny se encaixava nesse plano. Lua tinha certeza que ele não colaboraria com um plano desse, não por livre vontade. O que teriam feito com ele para que participasse disso. Onde ele estaria? E o que teriam feito com ele?

Alem disso com fizeram Victor dormir daquela maneira?

Ninguém havia se aproximado deles. Ele não comeram nada que pudesse ter esse efeito. Não encontram ninguém com aparência suspeita. Nada que ela pensava poderia ter acontecido.

Lua tinha muitas perguntas e nenhuma resposta. Seu cérebro parecia estar preso em um circulo de possibilidades, mas não  conseguia chegar a nenhuma conclusão.

O cheiro de sangue ainda pairava no ar. Isso era perturbador.  Ela podia sentir que havia mais alguém ali com ela. Podia sentir sua presença. Isso fez com que seu pelo se arrepiasse todo. Afinal porque não dera ouvido aos seus instintos, eles bem que tentaram não coloca-la nessa posição.

Agora tinha que encontrar uma saída. Ela olhou a sua volta, mas não consegui identificar para que lado deveria ir.

De dentro da neblina, Lua ouviu um som. A principio bem baixinho, mas foi aumentando aos poucos até dominar todos os sons a sua volta. Era aquela estranha música que a acordara.

Lua tinha muitas questões sem respostas, e cada vez que pensava responder uma, várias outras surgiam. Aquele cheiro de sangue era perturbador, a ponto de turvar a mente de Lua.

Ela analisou a situação e chegou a conclusão de que estava sendo vítima do Sing, mas havia alguns efeitos dele que não se aplicava ali. Ou ele era imune a ele ou algo estava errado.

E havia também aquela sensação de uma presença. Havia alguém ali, e suas intenções eram um completo mistério.

E aquela música que não parava, onde quer que ela fosse a música a seguia sem variar de tom, como se fizesse parte do ambiente.

Ela decidiu combater ferro com ferro e se distanciar daquela música. Começou cantar uma pequena canção que Shiny cantava para ela. Ela imaginou Shiny cantando a mesma canção e seu coração se encheu de alegria ao se lembrar dele.

A sensação tomou conta dela e ela percebeu que a pressão que o ambiente exercia sobre ela diminuiu. Ao fundo ela escutou um eco de sua canção em uma voz infantil e cristalina. A voz acompanhava a música que ela cantava com bastante entusiasmo.



Assustada, Lua parou imediatamente de cantar. Olhou para todos os lados, mas a neblina não permitia definir nenhuma imagem, nada que parecia ser a 'criança' que ela procurava.

Uma sensação de tristeza a envolveu, sentia-se só e abandonada, queria a companhia de alguém que fizesse essa sensação passar. Ouviu então uma voz  triste que saia da neblina.

- Por que você parou de cantar? Eu gostei de sua canção. Quem é esse ser brilhante e afetuoso que canta essa música para você? Cante comigo, eu estava me sentindo faminta e sozinha. Essa música me faz feliz.


off: sem problemas, eu provavelmente vou ter uns cem anos e ainda vou ser criança.

off: Tudo bem. Poste no ritmo que você acha conveniente.

Lua se assustou ao ouvir a voz acompanhando sua música e quando ela parou se assustou mais ainda com a voz que falava em sua mente.

Ela tentou se comunicar,mas sua pergunta foi seguida de um longo silencio. Lua começou a pensar que havia assustado o dono da voz, devido ao tamanho do silencio que se fez.

Apenas aquele sentimento de tristeza, que envolvia seu coração, permanecia. Isso indicava que quem quer que fosse ainda estava escondido pela neblina.

Lua sentiu as sensações mudarem, de tristeza passou a sentir medo e apreensão. Algumas imagens passaram em sua mente, mas eram apenas flashes, nada conclusivos. Mãos e pé humanos que batiam e chutavam, mas nada indicava quem estava batendo e quem estava apanhando, e se era real ou só sua imaginação pregando peça. Havia também a sensação de ser arrastado e jogado em algum lugar. Depois tudo escuro, somente a escuridão e a neblina.

- Tenho medo ... Se você me ver você vai se assustar e fugir de mim me deixando sozinha. Eu não quero ficar sozinha. Cante aquela música que aquele ser amarelo cantava. Você se sente feliz cantando ela. Quem é Shiny ? Você gosta muito dele. Conte a história dele, eu quero saber. Quem sabe eu possa confiar em você e eu possa me mostrar para você.

A voz se mostrava ansiosa e carente, falava tudo rapidamente quase sem esperar resposta. Estava esperando pela música e pela história.

Um pensamento invadiu a mente de Lua por um instante, onde estaria Victor e o que estaria fazendo ?

Lua tentava entender o que aquelas imagens significavam. Ela estava apreensiva com o que acontecia com o ser que falava com ela. Olhou para a neblina tentando imaginar.  Mas eram apenas suposições e nada comprovava que eram verdadeiras, ela podia estar totalmente enganada.

Lua levantou os olhos para o céu, pensou em Shiny e começou a cantar. Conforme cantava um sensação de prazer a envolvia e logo uma voz surgiu ao fundo acompanhando a música que ela cantava.

A sensação permaneceu durante toda a canção, uma sensação de leveza, como se ela estivesse levitando e dançando entre as nuvens num dia de sol. Quando terminou de cantar, contou a história de Shiny com algumas alterações. O que sentia ao seu redor mudou completamente, foi como se tivesse caindo em um abismo.

- Você me pede para confiar em você, mas você está mentindo para mim. Não, você está contando meias verdades, o que na realidade é a mesma coisa que mentir. Você fala que Shiny é seu amigo. Isso ele é, mas ele é muito mais que isso. Você me falou que ele é um Smeargle, mas a imagem que vejo em sua mente, mostra que você está mentindo. Eu não quero lhe fazer mal, mas você não deve mentir para mim. A propósito não há ninguém me controlando. As imagens que você viu ocorreram a muito tempo. Seus temores são infundados. Você sabe fazer outra coisa alem de cantar? Você sabe contar histórias?

Após descobri alguma informação sobre a misteriosa voz. Sabia que não havia ninguém controlando a voz e isso deu a ela uma pequena satisfação. Ela não queria a ver irritada, mas os fins justificam os meios.

Ela tentou explicar sua postura e argumentar com a voz na expectativa dela se mostrar.

Como ela não conseguiu o que queria , ela decidiu tomar outra atitude e tentar um meio de localizar Victor.

Começou a caminhar em linha reta usando todos os seus sentidos.  Andou um pouco e tentou ver onde estava, mas a paisagem não se modificou. A neblina continuava densa como antes e não havia nenhum ponto que pudesse usar como referencia. Ela poderia estar se aproximando de Victor, como também poderia estar se afastando dele. Ou pior poderia estar andando em círculos.

- Porque você está fugindo de mim? Eu não posso aparecer. A última vez que eu fiz isso, me machucaram muito. Como eu vou saber que você não vai me machucar? Você deixou seu amigo dormindo desamparado e se alguma coisa ruim acontecesse com ele? Você o abandonou, não se importou com ele. Quem garante que você não vai me machucar e ir embora?

Lua estava cheirando o ar a procura de alguma informação. Ouviu um som como de algo orgânico sendo rasgado. Um cheiro característico encheu o lugar. Uma imagem tomou conta de sua mente. Victor caminhava em sua direção. Seu pelo, normalmente brilhante, estava arrepiado. Ele mancava e havia um corte que abria todo o seu peito. O sangue corria por esse ferimento e era essa a origem do cheiro que sentia. Mais o mais assustador era que no lugar dos olhos, havia somente as órbita vazias e negras. Ele vinha chamando por ela.

- Lua... Onde está você?  Lua... Porque você me abandonou? Eu estou com muito medo.

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