#02- Ruas de Nyender... Uma cidade extensa!

O jovem cadete caminhava pelas ruas, sentindo sua cabeça confusa. Seu coração pesava e estava em duvida. Até onde, suas ações eram certas? Algumas palavras podiam ferir mais do que armas feitas para matar.

Com passos lentos, John se dirigia para o restaurante, sem prestar muita atenção ao seu redor. A tarde era quente, mas uma brisa refrescante acariciava a face do ruivo com leveza. Algumas pétalas rosadas pareciam dançar na sua frente, tentando animá-lo, mas logo iam de encontro ao chão e eram pisoteadas. Nada parecia animar o rapaz, que só queria esquecer tudo o que ocorria. Entretanto, antes de alcançar seu objetivo, algo o fez parar.

-Que carinha é essa? Tá deprimido por quê?

Uma voz feminina e infantil atingia os ouvidos do rapaz. Olhou ao redor, tentando encontrar quem havia se pronunciado, mas sem ver nada.

-Mais pra cima rapaz.

Ao erguer o olhar, pode ver que na árvore ao seu lado, sentada em um dos galhos, havia uma criança. Devia ter, aproximadamente, uns 5 anos. Os cabelos longos e negros estavam emaranhados, os olhos de tonalidade mel o fitavam, tendo um sorriso travesso na face. As roupas imundas e rasgadas, provavelmente uma criança de rua, sem ter para onde ir. O cadete ficava confuso brevemente, não respondendo.

-O rapazinho fala? Ou um gato comeu sua língua?

A menina se pronunciava novamente, se mostrando uma pilantra que não pensava antes de falar. Não demonstrava medo, embora o normal fosse as crianças se esconderem.

A cabeça do cadete estava cheia de pensamentos, duvidas e sentimentos. Estava cheia demais. Entre tantas opções do que sentir, o rapaz só podia sentir raiva, de si mesmo e de suas ações. Decepção por descobrir que não era, de fato, uma pessoa boa. Medo e angustia de suas próximas ações. O que o futuro lhe reservava?

Respondeu a criança, sua irritação visível era capaz de espantar um murkrow que estava na árvore, mas a menina continuou o encarando, sem tirar o sorriso travesso.

-A, então você fala! Você é bem esquentadinho, não?

Ela respondia ao cadete, ainda o observando, apoiando o rosto em uma das mãos. O jovem tentava se redimir consigo mesmo, tentar fazer uma boa ação, aguardando uma resposta da menor.

-Você é cego? Eu lá tenho cara de quem tem ao menos um nome? Mandão.

John conseguia uma resposta carregada de ironia. A criança parecia querer implicar com ele, mas revelava, talvez de forma acidental, não ter ninguém para socorrer quando precisasse. Fizesse sol ou chuva, só podia depender de si mesma e da caridade dos outros.

-O que você é? Você não tem cara de quem tem idade pra ter licença da academia...

Ela perguntou, jogando o corpo para trás e ficando pendurada pelas pernas, vendo o cadete mais de perto. Parecia curiosa. Cutucava de leve a testa do mesmo, como isso a ajudasse a descobrir alguma coisa.

Aquele dia parecia ter sido destinado a ser um péssimo dia para o jovem cadete, a sensação de azar parecia ainda querer rodear o rapaz por mais algum tempo, antes de permitir ao mesmo um dia mais calmo. Ainda havia muito a se aguentar antes de ter paz.

John conseguia, em poucas palavras, descrever a menina com perfeição: Persistente, mala e chata. Exatamente o tipo de pessoa que ninguém gostaria de ter por perto, todavia, ainda era apenas uma criança. Aguentar um possível berreiro podia deixar o dia ainda mais estressante, era melhor tentar mascarar o desgosto. Não demorou em mostrar a licença para a menor.

A criança parava de cutucar a testa do cadete, olhando a licença e ouvindo a proposta do rapaz. Arqueou uma das sobrancelhas, começando a rir da cara do mesmo em seguida. Se o rapaz queria alcançar o ponto fraco dela, para que a mesma se abrisse com ele, parecia ter falhado.

-Brincar com seu Pokémon?  Eu cresci na rua, se tem algo que estou acostumada, é com Pokémon. Você não é muito bom com crianças, não é moço?

A garota dizia, descendo da árvore e ficando em pé, na frente do rapaz. Analisando brevemente, como se estivesse pensando no que devia arriscar.

-Bom, já que insiste... Dizem que minha mãe me chamou de Penélope, mas meu tio me chamava de Candy antes de desaparecer. Todos os outros me chamam de criança, menina... Se quiser tanto um “nome”, fica com Penélope Candy. Não tenho casa, moro onde puder. Não deu pra notar isso antes?

Ela respondia razoavelmente as perguntas do cadete, indicando sua atual condição como pista para sua moradia. As vestes rasgadas, o cabelo imundo. Colocou as mãos dentro dos bolsos da jaqueta azul dois números maiores que seu tamanho.

-Um cadete, não é? Bem, tenho uma espécie de... Aposta. Quero que tenha uma batalha Pokémon comigo, se eu vencer, você irá pagar 10 refeições completas, até que eu e meu Pokémon estejamos cheios. Se você vencer, bom... Eu perambulo muito pelos becos e ninguém da bola pra uma criança. Quem sabe eu não tenha escutado algo que possa ser do interesse dos cadetes? O que me diz.

Candy se pronunciava, fazendo uma proposta. O sorriso, pela primeira vez, mais doce, enquanto esticava a pequena mão, aguardando talvez um aperto de mãos. Aguardava uma resposta. Uma batalha contra uma criança, a perda resultaria em apenas um pequeno gasto, deixando uma garota e seu Pokémon de barriga cheia por enquanto, mas uma vitória poderia resultar em alguma informação que pudesse ser interessante. Não parecia haver muito a se perder, bastava o rapaz decidir entre aceitar ou não.

Uma criança que parecia ser inteligente como uma raposa. Aquele tipo de criança fazia ser mais difícil saber o que fazer. O cadete estava neste tipo de dificuldade, sem saber se confiava ou não nela.

A menina chata fazia o rapaz de idiota, ria do mesmo e depois fazia uma proposta. Não era algo que acontecia todo dia. Havia uma boa vantagem, mas gangsteres não iriam se importar de usar uma criança para atrair vitimas. Ela podia estar sendo sincera, ou era uma peça na armadilha de alguém.

Apesar do pequeno risco, o rapaz aceitava, apenas pedindo para curar sua Pokémon primeiro. Candy colocava as pequenas mãos dentro dos bolsos da jaqueta, um sorriso satisfeito na face.

-Tudo bem. Pode curar seu Pokémon, depois eu te encontro.

Penélope dizia, aceitando a condição do rapaz com tranquilidade. Voltou a escalar a árvore com facilidade, sentando-se no galho que estava outrora.

O recruta se encontrava em um estado de confusão. Não esperava que ela fosse aceitar tão facilmente sua proposta. Acreditava que havia algo de errado e suspeito, mas aquilo era natural dos cadetes. Tinham que desconfiar até daqueles que parecessem mais inocentes.

Enquanto andava pelas ruas, o rapaz percebia vários fatores sobre Penélope. Era nova demais para ter um Pokémon, se prontificando a questioná-la quando reencontrasse a menina. Todavia, primeiro, teria que recuperar seus companheiros. Ignorava as conversas e boatos sobre a comandante, se deparando com a atendente que “trabalhava”, mexendo no celular distraidamente e não percebendo a presença do cadete no começo.

John pigarreou, chamando a atenção da moça, que suspirou entediada. Ela largava o celular e se ajeitava, olhando para o rapaz com ar de desdém.

-Posso ajudar? Se veio recuperar um Pokémon ou precisa de tratamento, preencha esta ficha.

Ela dizia, entrando a ficha para o rapaz, voltando a mexer no celular em seguida, sem dar muita atenção para o cadete. Parecia nem mesmo notar que o mesmo era da ordem policial.

Dados pessoais

Nome: ___________________________________________________
Data de Nascimento: __/__/__
Sexo : ( ) M ( ) F
Ocupação: _________________
Motivo: ___________________________________________________

Dados do Pokémon

Nome: ____________________________________________________
Tipo: _____________________________________________________
Sexo : ( ) M ( ) F
HP: _________________________Status: _______________________

O cadete preenchia a ficha, tendo pensamentos não muito positivos em relação ao prédio em que se encontrava. Só podia observar a fila de espera que tendia a crescer a cada segundo. Quando o homem pigarreou, sem nem ao menos olhar os dados, a mulher pegou a ficha e a colocou numa pilha, junto com dezenas de outras.

-O doutor Gregory ainda não chegou, então o atendimento irá demorar.

A mulher informava, sem tirar os olhos da tela do celular, dando pequenos risinhos para o aparelho. Sem muitas escolhas, o cadete se sentou numa cadeira e esperou. Aparentemente, ia demorar até poder decifrar a menina que iria batalhar em breve.

-Oi moço.

Ou não... O rapaz olhou para o lado, estando surpreso. Penélope estava sentada na cadeira ao seu lado, comportada, mas de forma invertida. Os pés no encosto da cadeira, enquanto o cabelo tocava levemente no chão. Um pacote de salgadinhos em sua mão, sendo estendido para o cadete.

-Quer um?

O sorriso arteiro, porém meigo. Típico de uma criança que gostava de aprontar, mas não tinha maldade.