#001 - Rosas Podres

Misutani sussurrava baixinho com sigo mesmo, mas Buck pareceu notar ou ouvir as falas do jovem, pois pousou seu olhar no mesmo pelo canto do olho, voltando então a olhar para o papel, escrevendo algumas palavras no relatório e largando a caneta em seguida. O Cadete se levantou, espreguiçou-se e assobiou. Saíndo de uma outra sala, um felino de pelagem amarelada, orelhas com alguns pelos negros e uma jóia em sua testa entrou no local, soltando um rosnado ao ver Misutani.


O felino foi até seu mestre e soltou outro rosnado, como se perguntasse a situação.

- Guie aquele imbecil ali até a sala de interrogatório. - Buck apontou o dedo indicador para Misutani e alertou-o: - Se tentar fugir, Persian não hesitará em matá-lo, verme.

A tranca da cela abriu-se e o garoto saiu da mesma, indo até o felino. Persian mostrou suas presas, rosnando e em seguida começou a empurrar o aspirante em direção a uma outra sala, passando por um corredor longo. O garoto poderia tentar fugir, mas ele arriscaria ser perseguido por um Pokémon tão forte e experiente como aquele que o guiava?

A chance de escapar estava ali, tentadora e sedutora, mas o risco estava ao seu lado, cruel e sádico. Acompanhar o felino amarelado podia ser a melhor escolha. Quem sabe fosse liberado no final? Podia ser considerado apenas um tolo azarado, embora seu nome já estivesse entre aqueles em que os cadetes prestariam mais atenção, sendo extremamente ruim para um rapaz que almejava ser gangster.

O rapaz pedia para o Pokémon guia-lo entre os corredores, recebendo um rosnado como resposta. A mensagem de Persian era clara: Não se dirija a mim. Pelo menos, de forma amenizada e muito mais suave.

O som dos passos de Yashida ecoava entre as paredes grossas. O Pokémon normal a sua frente, agindo como guia e carrasco. Parecia esperar que ele tentasse fugir, para ter uma desculpa para afiar suas garras letais na carne do jovem. Ele parou e se sentou ao lado de uma porta, o mover da cabeça indicando – ou ordenando – para que Misutani adentrasse ali.

As mãos forçadas a ficar juntas, por culpa das algemas, dificultavam a tarefa de abrir a porta, mas assim que entrou, o garoto pode ver uma sala vazia, tento apenas uma mesa e duas cadeiras. Uma única janela, alta demais para se alcançar sem algum apoio e gradeada. Ele deveria aguardar até alguém ir interrogá-lo.

O rapaz optava por atuar. Fingir ser bom para tentar enganar os cadetes. A questão era: Os oficiais se deixariam levar pelas palavras do jovem? Ou pouco se importariam? A resposta era oculta pelo nevoeiro do destino sombrio.

O garoto falava, atuando e agindo como se fosse uma peça que poderia ser descartada a qualquer momento por sua inutilidade. Ao ver dos homens e mulheres da lei, muito provavelmente, todos aqueles que não eram cadetes se encaixam em tal descrição.

Embora a encenação, o aspirante a gangster ainda planejava formas de sair daquele local. Poderia amarrar Cadete e Pokémon, mas os pulsos algemados e as garras do felino podiam “complicar” a situação. Ser interrogado também podia ser ruim, podia sem querer deixar vazar alguma informação que o condenaria. Monitora as palavras, sem levantar suspeitas, enquanto sob o olhar ameaçador do Pokémon normal, não era uma tarefa muito fácil.

O som da porta se abrindo chamou a atenção. O delegado encarava Yashida com superioridade, era um homem metido, de personalidade forte. Não parecia que iria se compadecer com qualquer história triste.

-Bem, bem, bem... Que história dramática eu terei que ouvir hoje, antes de jogar mais um para apodrecer na prisão?

Um sorriso cínico surgia nos lábios do cadete, que se sentava. O cotovelo sobre a mesa, a mão servindo de apoio para a face. O felino se manteve em silêncio, mas o jovem sentia o olhar sedento por sangue direcionado a sua nuca.

O gangaster - ou aquele que tentara ser - tentava dar argumentos compreensíveis. Agora, pensava em se tornar um adepto do senhor. Seguir o Divino, suas palavras tentavam demonstrar isso. Contudo, o homem meramente ligava, enquanto observava a mesa e em seguida, iniciava seu falatório.

- Nossa... Que chocante! - ele fazia uma cara assustada, como se triste com a história do outro, em seguida, continuava: - É realmente uma pena que não aceitemos historinhas como essas, sabe? - bateu a mão na mesa, com força. Então continuou - Sobre o Kiga... Bem, nem sei por que tentou isso. Pfft, merecia uma panelada dele! Que garoto insolente! Perguntar à um homem como Kiga! - ele olhou para os olhos de Misutani, fixamente. - Deveria ficar para sempre na prisão! E ainda mais, está tentando fugir dizendo coisinhas religiosas?! Ah, pelo amor de Arceus! Você é só mais um que pensa enganar-nos! Agora, fale logo o que tem de importante, tenho mais o que fazer além de olhar pra você e ouvir suas baboseiras!