#3 - Vs. Maractus

Assoviava aproveitando o caminho das ruas que eram o limite da cidade. Olhava pra o estreito sul pensando na besteira emque tinha me metido. Voltar atrás não seria uma opção.

Chegando no restaurante, já sentamos e Joshuy parecia pirar no cardápio. Quando a garçonete chegou me adiantei.

- Vamos querer dois pratos da casa e dias sodas. Me traz também duas porções de comida Pokémon e um pote de sorvete, por favor?

Olhei para meu amigo e pisquei torcendo para que a especialidade da casa suprisse nossa fome. Quanto as porções, seriam uma para os Pokémon dele e outra para os meus, sendo que já tonha sacado que Cléo não comia. O sorvete era óbvio que seria para Gunter.

Ao término, partiria dali assim que pudesse, mas sem pressa. Quase nunca curtia os lugares que passava.

Eu tinha ciência de que pudíamos almoçar em casa, pois sairia de graça - não menos não ia sair do meu bolso - e também era gostoso. Contudo, experimentar novos sabores era incrível. Eu também merecia. Estava estudando as formas de me tornar de fato um stylist e também tinha um emprego. Minha primeira missão estava quase concluída e só faltava entregar no sindicato a esfera do Zorua diferente.

- Algum dia você vai se dar mal por causa de comida. Ainda não sei como aquela velha em Chermont não te jogou dentro do caldeirão e te jantou. - brinquei liberando Mako e Gunter.

Dividia a comida para os dois. Provavelmente o sorvete só chegaria mais tarde.

O ambiente era bem agradável e não parecia ter muita gente em volta. E uma coisa dentro de mim começou a me incomodar. Eu nunca tinha tido um amigo tão próximo quanto ele por tanto tempo assim, nem mesmo na escola. Sentia que pudia fazer confissões e perguntar algumas coisas mais íntimas... Antes de falar eu devo ter ficado vermelho, pois sentia as orelhas arderem.

- Josh, você já namorou antes?

"Lembrete mental: Joshuy é um aproveitador quando se trata de comida"

Só foi terminar o almoço que ele já se adiantou pedindo a sobremesa e não tive nem tempo para argumentar, pois, similar a garçonete, fiquei atônito com o que tinha acabado de acontecer com o Totodile ali. Ele comeu uma comidinha e... evoluiu? Mas que diabos tinha acontecido aqui e o gladiador nem deu importância? Só tinha certeza que aquelas presas assustavam ainda mais que antes, só que o olhar bobão de criança tinha sumido e escondia alguma coisa ali. Gunter, diferente de mim, não se impressionou, voltando para seu delicioso sorvete. Mako sorriu e parecia parabenizar o outro aquático. Este sim era ainda o mesmo com ou sem a mudança externa. Ainda me perguntava quantos anos ele tinha com aquela alma tão serena.

Com o pedido já feito não tive muito mais o que fazer, só esperar que chegasse e para minha surpresa não demorou muito, só que veio com uma gracinha da parte do ruivo quando perguntei sobre namoro. Com o toque dele nas minhas mãos nuas, claramente me zoando, senti o rosto enrubescer e, de reflexo, dei um tapão na mão dele escondendo-as nos bolsos da calça.

- Idiota. - declarei ao final - Perguntei porque... no deserto, eu vi uma miragem tão real que pensei ter tido sorte, só que não passava de algo da minha cabeça misturado com insolação. Mas lembra daquela ruiva que eu estava conversando ontem? Foi o mais perto que eu cheguei de ter alguma coisa com uma garota. E pensando aqui, isso é meio triste... talvez quando eu ganhar alguma fama como stylist eu tenha chance com alguma fã ou alguma papa-fama.

Era óbvio que estava brincando quanto a última parte. Não fazia a mínima ideia de como ser influente no meio artístico e ainda ser fiel ao meu sonho. Eu tinha escrito algumas coisas no meu caderno, mais ainda não estavam completas.

- A conta, por favor! - pedi à mocinha que nos atendia.

Escutava o que o ruivo dizia sem julgamentos, apesar dele me contar que a auto-estima dele não era tão melhor quanto a minha. Por fim a conta chegava e eu também fazia o mesmo e retornava meus pequenos para a esfera de cada um. Ainda estava impressionado com o poder e o avanço de Mako e assustado com aquele Croconaw, mas que parecia mais amadurecido.

Como eu tinha prometido, pagava inteiramente a conta e agradecia à garçonete e pedia desculpas pelo susto que passou com o crocodilo azul. Ao sair do estabelecimento, meu amigo retornava ao assunto e eu respondia:

- Quer saber, eu acho que você tem razão... e o seu pai também. Mas me parece tão impossível chegar assim do nada e flertar. Sei lá...

Talvez se pudéssemos sair de noite para curtir um pouco em Twister eu até tentaria, porém, com essa do toque de recolher, Cornélios estragava minhas chances de evoluir também. Por mais que eu tivesse despertando curiosidade com garotas, a minha insegurança tentava me puxar para o conforto do que já era conhecido.

Subíamos a avenida à nordeste quando avistei uma construção incrível. Simples e bem colonial, com um jardim verde e um letreiro que ainda estava meio embaçado.

- Cara, que prédio enorme é aquele ali? - espreitei os olhos e não acreditei quando li - Aquilo é um museu de arte? Ou uma galeria? Josh, a gente precisa ir até lá e visitar.

Meus olhos com toda certeza estavam brilhando. Eu sempre tive fascínio por artes junto da minha paixão pelo mar. Me sentia igualmente livre desenhando quanto nadando. Era como se não houvesse regra nenhum e eu pudesse ser e agir como quisesse. Sem julgamentos. Sem incertezas. Só eu.

- Como se eu fosse a pessoa mais indicada pra isso... - resmungava sobre o fato de ter que me tornar também motivo de inspiração. Isso era o menor dos meus problemas.

Quando revelei que gostaria de visitar a galeria, ele, de deboche, disse que seria interessante. Dei-lhe um soco fraco no ombro e pensei em retrucar, mas eu já tinha vencido a discussão.

Dentro, o prédio mantinha uma sofisticação que eu desejava para a minha vida. Simples por fora e magnífico por dentro. Havia algo melhor que um belo enigma? Mais para dentro chegamos numa recepção e me adiantei:

- Tira duas por favor! - já dava os pk$10 para o moço que nos cobrava. - Me diz, tem algum guia por aqui com grupos? Adoraria saber um pouquinho sobre a casa e as artes expostas.

Eu estava tão empolgado que se surgisse a oportunidade, perguntaria dos meios para expor algo meu ali também. Contudo, ainda não me sentia preparado. Eu não era nenhum profissional e precisava de algum estudo.

- É o seguinte... - comecei a cochichar para Josh - ... já que você falou que eu preciso ser inspiração e tal, vou fazer uma aposta contigo. Eu vou chegar na primeira garota que você escolher e depois de mim, você vai ter que fazer o mesmo. Topa?

Enchia as bochechas de ar quando descobria que teria de seguir só com Josh pelos corredores apenas tentando adivinhar o que estaria expresso em cada tela ou escultura.

De qualquer forma, seguimos caminhando deparando com uma escultura do Pokémon sagrado. Era uma bela obra, eu tinha que admitir, mas Mushiro ficou mais encantado que eu. Não tinha muito apreço por imagens entalhadas. Assim que ele mudou e caminhou na direção da próxima, fui junto no mesmo passo. No mais, estava achando ele pensativo demais.

Eu tentava descobrir o que Joshuy via naquelas lendas. Força e valentia? Para mim eram seres normais que não tinham muito mais que alguns de sua espécie até que foram extintos como outras raças que não via exposta aqui. De qualquer forma, a representação na escultura era firme como rocha. Talvez o que ele devia significar. Já com os quadros e escolas que me recordo de algumas, ele não mostrou a mesma reverência.

- Pra você pode até ser, mas pro artista que fez, é tudo tão claro como se tivesse forma. O problema não está nos olhos, mas sim na mente que não se abre, meu amigo. Mas deixa isso pra lá, admito que não tem nenhuma grande obra por aqui. Eu vi uma galerinha vindo dos fundos com sacolas. Devem vender itens de pintura por aqui e eu estou precisando de tintas. Vamos ver o que a gente acha.

Estava decidido a comprar o básico e talvez me matricular numa aulinha de especialização, caso oferecessem ou indicassem.

Lá comprava um cavalete, sete telas grandes e seis médias, assim como uma espátula e tintas aquarela e também a óleo. Pensava se dava para usar os pincéis de escavação para pintar, mas era melhor nem arriscar então pegava avulso um de cada número dos macios e também dos mais duros. Contava o valor de tudo e dava o dinheiro equivalente. Teria me doido a alma se não fosse para um bem maior. Levava tudo ao caixa com o dinheiro de três níveis finais de pintura, que seria para a especialização na área.

Off: Relaxa ^^
Para simplificar fora - 7 telas grandes; 6 telas médias; 1 cavalete; 1 espátula; tinta aquarela; tinta a óleo; 6 pinceis (3 espessuras macias, 3 espessuras duras).

Já via que ele não curtia nem um pouco as pinturas expostas hoje na galeria. Ao menos ele tinha se interessado em algo. Ao entrar na lojinha e rumar para as compras, era bem atendido e entregava de volta o sorriso que o atendente com toda a sua paciência tivera para comigo. Ao final, quando me alistei para o curso no estabelecimento ele me perguntava se ficaria para a primeira aula de hoje.

- Claro, eu começo hoje sim. - olhei para Josh e fiquei meio pensativo - Vai me esperar sair do curso ou vai me encontrar em casa?

Indiferentemente da resposta dele eu permaneceria. Após ali, pretendia ir para o sindicato e entregar a esfera de Zorua e ir na estação de trem, pois estava para receber algumas encomendas. Pensava também em administrar meu tempo para cursar criação de contos na biblioteca da cidade, visto que não consegui terminar em Chermont, mas as crianças, junto da bibliotecária gostaram muito das minhas palavras.

Tudo bem, ele não me acompanharia... de novo. Fazer o quê? Acorrentar era errado. Não é mesmo?

Enfim a espera pelo professor tinha acabado e pela turma também. Por um momento cheguei a pensar que eram aulas particulares, mas agradeci por não serem. Apenar dele parecer boa pessoa, era meio estranho. Talvez o sotaque, ou a forma como se vestia para a aula. Faz por que eu me importava tanto? Ele era um artista também, certo? Aproveitaria para tirar minhas dúvidas sobre cores e misturas. Quando me perguntado sobre minha experiência, só dizia que sabia pintar, mas que não tinha estudo de fato. Então eu era julgado. E depois de ser julgado já tinha dever de casa. Encontrar um amor. Era isso que ele me dizia ao final da aula. Encontrar um amor e pintar de todo o coração. Talvez eu descobrisse meu grande amor quando terminasse o curso.

Ao final saía da galeria correndo, tentando pegar o sindicato aberto. As ruas eram longas, mas eu iria chegar no centro em algum momento.

Exausto com o dia de tarefa e o peso do material, chegava no prédio do sindicato e entregava na recepção o item que Mike pediu por telefone. Recebia uma boa quantia como pagamento e ficava feliz por aquilo, mas tinha algo que me incomodava ainda:

- Com licença, eu pensei melhor e será que eu poderia receber aquele Venonat que me ofereceram como parceiro para ser pesquisador? Ele tem habilidades que são realmente úteis no trabalho.

Tendo minha resposta, seguia para a estação que estava perto do edifício. Algo em especial acontecia ali, mas eu me atentava em resolver minhas coisas primeiro. E dentre os itens que eu aguardava, duas esferas de Pokémon estavam no meio. Uma era escarlate como a de Mako e Cléo e tinham a assinatura de um admirador nela, já a outra era comum, mas nada dizia a respeito, mas ali eu via um patinho e me alegrava num sorriso.

Agora era atravessar mais uma rua, chegar em casa e jantar para no dia seguinte ir na biblioteca e fazer o curso de criação de histórias de manhã nos quatro níveis que me faltavam e o de pintura de tarde durante o tempo que me exigissem para obter o certificado.

A noite foi tranquila. Eu não tive sonhos, foi apenas um espaço negro.

Ao acordar já tomava café e me despedia do pessoal. Pegava o skate e o material que usaria nos cursos e me encaminhava primeiro para a biblioteca, tendo que terminar o conto que iniciei em Chermont, pegando as dicas da senhora Worthington e as transpassando para o papel. De tarde, voltava para a galeria e, como aluno, era questionado sobre minhas paixões. Infelizmente ainda não tinha uma musa. Eu ainda tinha que pensar. Ou serpa que devia sentir?

Ao voltar para casa eu tinha a sensação que juntando o que eu gostava de fazer teria a resposta antes do final dos cursos até.

Os dias de aprofundamento passavam tão depressa que nem sentia o tempo, apenas observava minha evolução tanto nas aulas de letras quanto nas de artes. Ambos meus professores não tinham muito trabalho comigo e me elogiavam quase sempre, mas em uma coisa eles concordavam sem ao menos se conhecer: faltava amor nas minhas expressões.

De dia era redação, de tarde pintura e de noite criação. Gunter, Mako, Cléo, Hyoga - o Ducklett, Watson - o Venonat - e o Ditto que ainda não tinha apelidado se davam bem num geral. O mais problemáticos de todos fora o pato. Ele não conseguiu nem encarar a Maractus sem chorar. Tudo bem que ela tinha uma personalidade forte e queria ser rainha sempre, mas ficar espantado toda vez que ela dava uma risadinha perversa era demais(de certa forma divertida, e dolorosa de se ver). Gunter acabava tendo que bancar o paizão, ficando do lado até que o pato se acalmasse. Já Mako e o Ditto se divertiam juntos. A forma gelatinosa do Pokémon ciano deixava as brincadeiras do mais forte do time bem mais divertidas. Watson era bem mais profissional r parecia gostar dos meus contos. Bem, ele nunca disse o contrário. O que me deixava mais despreocupado nisso tudo era a harmonia que me deixava trabalhar nas telas ao final de cada dia. Meu quarto virara parte ateliê e Joshuy foi obrigado a dormir na sala pelo espaço e pelo cheiro forte das tintas.

Por mais que eu procurasse por um amor, no fundo eu sabia o que era minha inspiração. Era a liberdade! Minha "muse" era o mar. Era a literatura. Era o vento no meu rosto. Era o coração palpitante. Eram meus Pokémon.

Se eu estava finalizando ambos os cursos queria fazer valer a pena o investimento em mim mesmo. Já me informava sobre possíveis datas para fechar a galeria para expor minhas obras. Pensava em contratar um musicista e em quanto colocaria os ingressos. Talvez se convidasse uma pessoa influente o número de visitantes seria maior. Era uma questão de contatos. Será que Mike viria?

Naquela dia a volta para casa seria repleto de pensamentos, mas depois de tanto estudo eu precisava de um tempo para me preparar. Talvez Joshuy me ajudasse com alguns detalhes.

Acordar no dia seguinte a formação de criação de contos foi tão bom, pois me sentia de férias. As noites agora eram repletas de sonhos majestosos. Eu nunca mais tive os mesmos sonhos onde afundava numa escuridão molhada sem fim.

O café da manhã naquele dia estava simples, mas seria o suficiente. Cumpri as necessidades do dia e fui para o quintal com todos os meus companheiros ali, inclusive Joshuy.

- Certo! - me levantei decidido com os afazeres que tinha em mente. - Já que terminei os cursos e ainda não recebi proposta nenhuma de trabalho, vamos nos divertir.

E com divertir eu tinha a atenção de Mako e Hyoga. Mas fora Gunter o único que entendeu as entrelinhas. Cléo estava no cantinho aproveitando o Sol e o Ditto tinha sumido do meu campo de visão, provavelmente se tornado um objeto. Watson se mantinha curioso e calado. Mexi nas minhas coisas e saquei uma Lucky Egg a dando para o Ducklett segurar e fui buscar umas técnicas para ensinar a alguns.

Ducklett: Safeguard + Fly
Piplup: Ice Beam
Venonat: Captivate

Feito isso, os dividi em dois times. O time das aves contra o Wartortle e Venonat.

- Vai funcionar assim time: eu vou passar as instruções e quero ver como se viram quando estão em equipe. Quando pedir para atacar, visem apenas um. Quando pedir para defender, lembrem-se do seu amiguinho, ok? Ah, lembrando de uma coisa: sem destruir o jardim!

Hyoga parecia um pouco assustado com a ideia e também com todo mundo olhando pra ele, mas Gunter estava ali dando um apoio moral e o fez relaxar um pouquinho. Watson parecia indiferente enquanto sua dupla bem animada e dançante. Olhar para Mako sempre me fazia sorrir enquanto o espírito de líder de Gunter me dava uma pontada de inveja ao mesmo tempo que orgulho.

- Então vamos começar! Hyoga, usa Safeguard e em seguida Hail sobre nosso campo. Gunter, use Growl e distraia-os com Bubble! - respirei e olhei para o lado oposto - Mako use Withdraw e revide com Bubble para neutralizar o golpe de Gunter. Watson, quero que mire em Gunter com seu Supersonic. Caso não consiga de primeira, tente mais uma vez. Caso acerte, avante com Tackle.

Minha intenção com aquilo não era feri-los ou causar desconforto e esperava que compreendessem. Aprendi com o Piplup desde o início que batalhas os fortalecem. Nos deixam mais próximos e também é uma fonte grande de aprendizado. Não foi atoa que Squirtle evoluiu quando foi preciso. Ele já estava preparado! Gostaria que os mais novos integrantes visualizassem isso. Eu não precisava ir tão longe.