Cap.001: A primeira página é escrita!

Adryan sentia seu corpo tremer levemente. Sua mente cada vez mais convencida de que Cornélios era louco. A escolha de teste do homem para um jovem aspirante parecia absurda demais para o garoto. Entretanto, apesar da situação atípica, o moreno tentava manter a calma e liberava o misterioso Pokémon da esfera. A frente do garoto surgia um pequeno Meowth, um pouco pequeno e magro, mas com olhos grandes e brilhantes, talvez até um pouco inocentes demais.

Do lado de fora, o tempo transcorria sem muitas novidades. Meowth estava sentado na janela, admirando o movimento. Adryan tentava analisar a situação, preparando-se mentalmente para o que poderia enfrentar. Contudo, durante sua analise, o jovem começou a perceber alguns pequenos problemas... Primeiro, se os bandidos estariam fugindo, ele não poderia perder tempo descendo as escadas. Certamente perderia o rasto dos foragidos... Por outro lado, não poderia simplesmente se jogar do terceiro andar ou jogar o felino... Descer e procurar outro lugar para esperar seria uma decisão terrível? Não era a ordem de Cornélios, porém era racional...

A mente trabalhava, o frio invadia o quarto pela janela aberta e as pernas reclamavam de cansaço. No entanto Meowth ronronava, claramente feliz por simplesmente estar ali. O relógio no celular de Adryan indicava que já eram quase 17h. No inverno, logo o sol iria se por e o escuro reinaria. Falta de visibilidade não ajudava na escolha sobre o que fazer quando o fugitivo aparecesse...

Pensando em sua mãe, Adryan voltava a mirar as ruas de Nyender enquanto Meowth passava a pata recém lambida pelas orelhas, limpando-as. O felino parecia tranquilo e relaxado, simplesmente interessado em sua higiene. Os minutos pareciam horas e o jovem agradecia por não estar mais chovendo pelo menos, apesar da clara ameaça de recomeçar a qualquer instante.

Começando a ficar entediado, o jovem caipira avaliou algumas caixas e, reparando em uma que aparentava ser bem forte, sentou-se lentamente sobre ela, garantindo que o papelão não afundaria e nem a mercadoria se danificaria. Meowth lambia já a pata esquerda traseira, mantendo-a bem esticada e ainda sem dar muita importância ao que acontecia ao redor.

A dupla seguia mirando a rua. O moreno já quase acreditava que Cornélios teria prendido os bandidos completamente sozinho e o esquecera no prédio, quando uma explosão há duas quadras aconteceu. Imediatamente a gritaria começou. Onde um clarão surgiu e desapareceu mais rápido do que a mente de Adryan levou para assimilar o fato, fumaça se erguia, densa e negra. Era hora de agir... O som de tiros constantes reforçava a ideia de que os bandidos estariam armados...

Adryan saíra correndo do prédio que usava de observatório e correu as duas quadras que o separavam do atentado o mais rápido que conseguiu. Ao chegar perto, usou outro prédio como abrigo. O meowth, ainda em seu colo, protestou, claramente em dúvida se deveriam ou não estar no lugar da ação mesmo. Contudo o jovem tinha o olhar fixo na movimentação a sua frente.

A delegacia estava em chamas. Um Golem usava Rollout contra a parede do prédio, destruindo a estrutura e abrindo passagem de fuga para diversos prisioneiros. De onde Adryan observava, pode ver um Lucario mergulhar contra o Golem quase derrubando-o com um só golpe. O Pokémon lutador logo se afastou e pousou ao lado de Cornélios. O capitão, por sua vez, possuía uma arma em mãos e disparava rapidamente. o aspirante observou os outros cadetes que lutavam, tentando entender seu papel contra o atentado, porém o mais fraco que avistou era um com três estrelas no braço, comandando um Persian, um Swellow e um Riolu. Aquela batalha era para os altos ranks na hierarquia...

Por diversas ruas, prisioneiros fugiam. As roupas laranjas e chamativas os impediria de se esconderem. O reconhecimento seria fácil e rápido. Três desses correram pela rua por onde Adryan viera, porém o aspirante não lhes deu valor. Estava mais concentrado nos gangsters que atacavam o prédio e nos cadetes que tentavam impedi-los. Entretanto, logo o aspirante viu algo que poderia ser mais ameaçador do que toda a pequena guerra junta: Cornélios o analisava. O olhar vazio de sempre e a aura negra de sempre, intimidando. Ignorando o tiroteio, o capitão se aproximou do aspirante, mirando-o de cima.

- Qual era a sua missão? - A pergunta parecia mais violenta do que uma agressão física. Meowth se encolheu no mesmo instante.

Os três homens reduziram a corrida ao ver o Meowth a sua frente, porém quando avistaram o jovem sem uniforme começaram a rir. Adryan, logo comandou Meowth para usar o Scratch em um dos homens e o felino logo avançou para realizar o comando. O aspirante, por sua vez, avançou contra o segundo.

Os foragidos, com seus uniformes laranjas, observavam ainda rindo, porém com outra postura. O felino logo pulava sobre o homem da direita, mas este colocava o braço na frente, recebendo o Scratch no membro e usando o outro braço para segurar o felino. Adryan, por sua vez, atingia um soco na face do homem do meio. O estranho nem ao menos se mexer, mantendo o sorriso. O homem da esquerda logo pegava os braços do aspirante, segurando-o e o arrastando para o beco, longe da linha de visão dos outros cadetes.

- Você acha mesmo que um caipira e um felino desnutrido podem nos deter? - O homem que levou o soco questionava. O outro ainda carregava o gato entre os braços e Meowth lutava para se soltar. Adryan sentia que precisava chamar a atenção de outros cadetes por perto ou separar o trio, do contrário sua vitória estaria ameaçada.

Adryan sentia seu coração pulsar e se preparava para usar uma estratégia arriscada. Em meio a adrenalina, o aspirante não pensava em como chamar ajuda, mas sim em como imobilizar os fugitivos, apesar da desvantagem numérica. Meowth rosnava furioso, tentando soltar-se desesperadamente e assim socorrer o garoto que sonhava em ser cadete.

-Não me interessa que ele não tem licença ainda. Os cadetes e seus filhotes vão pagar por cada dia que passei naquele inferno. - O terceiro homem falava com ódio na voz.

Após contar até três, o jovem aspirante colocava seu plano em ação, se libertando do seu carrasco. Contudo, antes que pudesse atacar o segundo homem, era imobilizado pelo que falara anteriormente, Adryan se debatia para se soltar, sem sucesso. O fugitivo lhe puxou os cabelos, forçando o aspirante a olhá-lo nos olhos por sobre o ombro e, neste momento, o jovem viu o número 121 marcado na testa do bandido. Aquilo significava que aquele homem estava preso por inúmeros homicídios.

-Sangue cadete após tantos anos preso seria um presente para minhas mãos...

A frase ecoava na mente de Adryan, porém, antes que o bandido pudesse fazer algo, um estranho pulou sobre suas costas, derrubando a ele e a Adryan. O aspirante viu outro garoto pulando no segundo homem, enquanto dois Meowhts libertavam aquele que lhe auxiliava no teste. Após uma análise rápida Adryan percebeu que eram mais dois aspirantes e os bandidos se soltavam com certa facilidade mais uma vez. Entretanto agora ele não estava sozinho.

A batalha que se seguia não era o tipo que seria transmitida pela televisão. As transmitidas eram as bonitinhas, com regras sendo respeitadas e sem nenhum ferimento sério. Aquela, por sua vez, era violenta. Cada aspirante, com seu respectivo Meowth, tentava imobilizar um dos fugitivos. Os felinos arranhavam e mordiam, enquanto os aspirantes desferiam socos e chutes, contudo o porte físico dos bandidos era muito maior e isso equilibrava a batalha.

O som de um corpo caindo chamou a atenção de Adryan e o aspirante viu um dos que lhe ajudara ser preso por um fugitivo. O Meowth arranhava e mordia, porém seus ataques eram ainda muito fracos e facilmente ignorados. O outro se debatia, sufocando. O ar escapava dos pulmões e se nada fosse feito, o aspirante poderia ter o pior dos destinos. Adryan pode ver que o homem que sufocava o outro era o homicida e isso fazia seu sangue ferver.

- Já já esse aqui caí e eu pego um desses para vocês. Enquanto isso, podem ir acabando com esses ratos que eles chamam de Meowths. Só não estraguem o pelo. Servirão muito bem de luvas para mim.

O homem falava e ria, como se ter o pescoço do outro preso em seu braço lhe desse prazer. Já os outros dois não pareciam tão calmos assim. Eram menores e estavam tendo mais dificuldades para nocautearem Adryan e o terceiro aspirante. O coração dos garotos batia rápido e os rosnados atingiam seus ouvidos. Ambos tentavam ser mais rápidos para ajudar o companheiro, porém a pressa os fazia cometer erros que lhes custava o precioso tempo.

Os segundos podiam ser sentidos na pele, o som da batalha ao longe, que já se extinguia, não era mais ouvido. No ouvido só ecoava o pulsar do coração agitado, este interrompido pelo som de um tiro. Todos pareceram chocados enquanto o homem com a marca 121 na testa caía morto. No meio da fronte, a marca por onde a bala lhe arrancara a vida. No segundo seguinte, Adryan viu um Mienfoo acertar um chute na face do bandido contra o qual lutava no exato segundo antes desse desferir um soco em seu Meowth. O homem caiu desacordado, porém o aspirante não lhe soltou as costas. O último fugitivo vivo, só então o moreno percebia, era firmemente seguro pelas presas da Persian que carregava a estrela no ombro.

- Posso saber o motivo de tanta demora para algo tão simples?

A voz de Angélica chamou a atenção de todos. Na entrada do beco, a comandante falava com Cornélios, exigindo explicações, enquanto diversos cadetes mantinham as faces constrangidas baixas. Ao seu lado, Houndoom desfazia sua mega evolução, voltando ao normal. O chifre sempre quebrado. Adryan estava sem palavras, porém o outro garoto logo amarrava o bandido que estava sob as presas de Persian antes de ir ver a saúde do terceiro.

- Amarra ele com qualquer coisa que achar, rápido. - O outro sussurrava para Adryan.

Angélica mirou Adryan sem demonstrar nenhuma emoção. Os pokémons da comandante se aproximavam da mesma e, pela primeira vez, o jovem aspirante podia ver o trio lado a lado. Persian, Mienshao e Houndoom. Três dos fiéis companheiros da morena que, ignorando a fala do jovem aspirante, voltou a mirar Cornélios.

- Comandante, Loki liderava um grupo de Apocalipses de elite. Tenho motivos para acreditar que não se tratava de um atentado convencional. Solicito permissão para expor os motivos após retornar para a academia e em particular.

Apesar do tom exigido pela comandante, Cornélios parecia não ser afetado, mantendo sua postura séria e amedrontadora. Após ouvir as palavras do homem, a comandante informou que concederia o solicitado e, em seguida, convocava a todos para o retorno à academia ou encaminhamento ao hospital, conforme o caso, enquanto outros oficiais se aproximavam para isolar a área e recolher os prisioneiros.

Durante a caminhada, Adryan se manteve ao lado dos outros dois aspirantes. O trio mantinha a cabeça baixa, temerosos com a sua avaliação. O caminho de volta parecia maior do que antes e o prédio da academia parecia assustador para os jovens, como se as garras de Persian estivessem destrundi seus sonhos. Mais uma vez os três se encontravam na sala de espera, aguardando o resultado da conversa de Cornélios e Angélica.