Tape - I - The search for the unknown...

Navier observava a “batalha” entre Cornélios e um jovem aspirante e percebia que teria que passar por aquilo. O jovem aspirante tremia de medo e já estava ajoelhado em prantos. Cornélios fazia sinal para o felino para que este terminasse aquele tedioso teste. Persian pressionava com mais força os Pokémons fazendo-os gritar de dor. O aspirante, sem aguentar mais aquela visão, correu até o centro do campo e começou a implorar pela vida dos companheiros. O comandante não mudou a expressão e nem passou perto de se compadecer, apenas chamou Persian para perto deixando os Pokémons sangrando no campo. O jovem chorava ao vê-los naquele estado, mas engoliu o choro quando Cornélio começou a falar.

― Oficial, recolha estes Pokémons e tire esse incompetente da minha frente.

Uma cadete que estava acompanhando a segunda etapa do teste pegou as pokébolas e recolheu os inicias. O jovem aspirante estava paralisado diante o fracasso. A feição assustada e o rosto molhado pelas lágrimas. Vendo que o jovem não sairia dali tão cedo, a cadete se aproximou dele na tentativa de reanima-lo.

― Se você não sair, vai acabar virando o jantar dele ― a oficial sorriu e apontou com o olhar para o Persian que estava ao lado do comandante. O jovem, mas assustado ainda, se levantou quase que correndo e deixou a ginásio. ― Pode vir o próximo! ― a oficial olhou por cima dos óculos na direção de Guilherme. Assim que o jovem se posicionou no campo, Persian se posicionou novamente. O olhar do felino criava arrepios e parecia indicar que nenhum ato de clemência poderia vir daquele Pokémon.

― Mostre-me o que sabe. ― foram as únicas palavras do comandante.

Navier percebeu que aquela etapa do teste não seria nem um pouco prazerosa. Como cadete, ele precisaria enfrentar situações bem piores. Mantendo-se firme, o jovem liberava seu Meowth na arena. O pequeno felino não parecia perceber a grande ameaça à sua frente e ficava admirando o Persian e como seria quando evoluísse. O grande felino mantinha uma expressão um tanto maligna.

Ao perceber que o Meowth não tomaria iniciativa, Persian saltou e lançou uma rajada de estrelas que atingiram um pouco à frente do pequeno felino. Apesar de não ter sido um golpe direto, a explosão foi forte o bastante para lançar o felino para longe e levantar uma grande nuvem de poeira. Meowth se levantou com um pouco de dificuldade, mas não sofrera grandes danos, apenas sentiu o impacto de ter sido lançado. Quando a poeira baixou, Navier percebeu que haviam seis persians espalhados pelo campo.

Navier parecia não ser muito concorde com aquele tipo de teste e logo ele percebia que ali era mais questão de sobrevivência do que propriamente vencer. A Meowth se recuperara do impacto e tentava se manter no combate. O aspirante a cadete sabia que precisaria agir senão ele não teria chances de ser aprovado na atual etapa.

A felina, ouvindo o comando de Guilherme, abriu um berreiro alto e agudo que ecoou por todo o campo. Os seis persians sequer se mexerem ou sentiram algo. A expressão sombria dos felinos parecia dizer: “é só isso o que você tem?” Sem esperar por outra reação da Meowth, os seis felinos partiram em direção à pequena. Todos os seis a cercaram em um círculo e ficaram correndo por um tempo até o momento que o original surgiu, pegou a felina e a lançou para o alto a uns cinco metros de altura aproximadamente. A Meowth caiu no chão sentindo todo o impacto da altura e da gravidade sobre si. A felina mal conseguia se levantar e gemia de dor. Se não bastasse, Persian se multiplicara outra vez ficando com onze felinos no campo.

O grande felino de Cornélios parecia estar se aborrecendo com a fraqueza da adversária e um olhar assassino começava a surgir. O comandante permanecia observando todo teste sem nada pronunciar e sem nem ao menos repreender as atitudes do seu Pokémon.

- Use o Howl seguido de Ember! - Guilherme manteve a calma para trazer seu pequeno cão em campo. Estando Meowth machucada não seria fácil tirá-la de lá. A única coisa que Navier viu em meio ao amontoado de Persians era a cauda trêmula da felina.

"A cauda?! É isso!"

- Houndour agarre a cauda da Meowth e tire-a de lá agora! - o jovem esperava que tal estratégia desse certo, tendo em vista que o pequeno cão adorava fazer isso quando ainda estavam no laboratório e desta vez a felina não tinha como escapar e para o bem dela seria bom que ele conseguisse.

O segundo Pokémon era trazido a campo. Nas atuais condições da Meowth, ela não conseguiria terminar o teste sozinha. O Houndour surgiu após a luz vermelha e logo percebeu a situação nem um pouco favorável. Navier avaliou rapidamente as possibilidades e usou o amor do canino pela cauda da felina a seu favor.

Houndour começou a correr com os olhos focados na caída Meowth. Instantaneamente, os Persians fizeram o mesmo. Alguns saltavam por cima da Meowth o que a deixava com mais medo por estar ali desprotegida; outros corriam na direção de Houndour na tentativa de distrai-lo; mas um estava parado diante a felina. Com uma expressão terrível no rosto, o Persian pegou a Meowth com a boca e a lançou com força na direção do noturno. O impacto entre os dois fez eles caírem feridos. Com uma velocidade estupenda, Persian saltou para cima dos dois Pokémons e começou a pressionar as cabeças com as patas dianteiras. A dupla gemia de dor, principalmente a felina que sofrera muitos danos desde o início. Pela expressão da Meowth, ela parecia estar passando muito mal e a ponto de desmaiar.

Guilherme se impressionava ao ver o modo como Cornélios conduzia o teste e se questionava sobre o conhecimento dos superiores dele sobre esse modus operandi. O comandante continuava sem falar nada, somente observava o teste. Os Pokémons do aspirante a cadete continuavam a sofrer com a pressão do Persian. Guilherme sabia que precisava sobreviver à luta se quisesse passar no teste. Tentando pensar em algo para livrar seus Pokémons, o jovem logo montou uma estratégia.

O Houndour tentou lançar as brasas, mas com a pata do Persian pressionando fortemente contra o chão, o canino não conseguia abrir a boca. Apenas um pouco de fumaça foi visto saindo pelas narinas do noturno. Persian olhava com desdém a tentativa falha e apertou com mais força a cabeça do canino. A Meowth, que estava com feridas mais graves, tentava obedecer ao comando do aspirante. Com as garras brilhando, tentou arranhar o felino, mas este já havia saltado para longe quando ouviu seu nome pronunciado por Cornélios. O homem não disse nada, apenas se virou e deixou o local. A Meowth de Guilherme parecia haver desmaiado com o último esforço físico. A cadete secretária ajeitou os óculos e se aproximou da Meowth. Tomando o pulso da felina, a mulher olhou seriamente para o jovem.

― Ela está viva, mas precisa ser levada ao hospital. Para sua sorte, o comandante Darbas estava de bom humor. Agora recolha seus Pokémons e me siga.

A mulher se levantou e começou a caminhar sem ao menos esperar pela reação de Guilherme. Os dois deixaram o centro de treinamento e voltaram para o prédio da academia. Navier olhou para o céu e percebeu que o clima estava fechando. As tonalidades cinzas já começavam a dominar.

De volta à academia, a mulher guiou o jovem até uma sala e o deixou ali apenas dizendo para encontrá-la na Recepção quando terminasse. O jovem abriu a porta e viu um homem sentado em uma cadeira e com os pés sobre uma mesa. Ele parecia estar “lendo” uma revista nitidamente proibida para menores de idade. Ele só percebeu a presença de Guilherme quando a porta bateu. O homem quase caiu da cadeira e se preocupou logo em esconder a revista.

― Ah! É só um novato! ― o medo fugiu do rosto do homem ao perceber que não se tratava de um cadete. ― Classe e local...

Guilherme ainda estava preocupado com seus pokémons que foram feridos durante o teste. Apesar de tudo, o jovem havia sido aprovado e estava na última etapa para finalmente se tornar um cadete. Informando o local onde desejava a tatuagem, o jovem ergueu a bainha da calça e aguardou pelo tatuador. O homem colocou uns óculos e pegou a máquina com a agulha. Um sorriso sarcástico surgiu no rosto dele quando ouviu que Navier era um cadete novato. A primeira impressão é que ele falaria algo, mas hesitou. O toque da agulha não foi nem um pouco gentil. O tatuador parecia ter uma mão pesada e nem um pouco delicada, ou ele o estava fazendo de propósito.

Após alguns minutos de dor, o brasão dos cadetes estava definitivamente na pele do mais novo oficial de Shinki. O tatuador fez algumas recomendações de cuidado e limpeza e dispensou o rapaz. Guilherme se dirigiu até a recepção onde encontrou novamente a cadete secretária.

― Parabéns pela sua admissão. Aqui está a sua licença. Mantenha-a sempre contigo ― a mulher entregou o papel para o jovem e voltou o olhar para o computador. ― Não esqueça de levar seus pokémons ao hospital.

Diante de si, um novo mundo se abria para o cadete Guilherme. O céu escuro continuava a ameaçar uma chuva. O vento começava a soprar mais forte. As flores de cerejeira caíam ao gosto do Outono.