04| A um passo de Jorvet

A menção de uma possível terceira besta confundia um pouco o jovem. O que havia ocorrido com o Pokémon desfigurado e quase irreconhecível, não deixava duvidas de que “Mimosa” não merecia tal apelido...

Apesar das dores e de desejar se livrar do aperto, Chris se afastava. Não desejava conhecer mais uma das bestas que a mulher convivia. A serpente ainda o apertava e era apenas questão de tempo para os ossos de seu braço quebrar naquele ritmo, mas parecia que tentar se livrar dela, apenas a instigaria e utilizar mais força. Sua situação era muito delicada.

Rhyhorn e Kirlia ofegavam, ambos feridos e cansados. A Pokémon Psychic era espertava e tinha algumas vantagens, o que dificultava o combate. No entanto, o gangster possuía itens de cura, o que auxiliava o seu parceiro e equilibrava um pouco as coisas.

A fruta de tonalidade azulada era entregue, sendo a ultima que o jovem possuía. Era complicado fazer as coisas tendo apenas um dos braços disponíveis. O Pokémon rochoso começou a correr em direção a sua oponente, tentando acertá-la com seu golpe. Como era previsto, ela usava Teleport, no entanto, a ação dela surpreendeu a ambos.

Bailarina havia se teleportado para as costas de seu oponente, o montando. Rhyhorn ficava irritado e começava a tentar se livrar dela. Aquilo parecia ser um rodeio, a Pokémon se segurando firmemente e sorrindo debochada, sem sair de cima do outro, enquanto o monstro de pedra estava furioso e queria a outra longe dele.

-Eba! Brincar de rodeio! Arriba!!!!

A ruiva dizia com grande alegria, pegando uma bolsa e a balançando como se fosse um chapéu de cowboy, mas aparentava haver algo pesado ali, fazendo o gesto ser um pouco falho.

Tudo o que o jovem tentava fazer, parecia ser inútil. Parecia uma brincadeira de grande mau gosto do destino, fazê-lo confrontar aquela estranha mulher e de suas bestas, que pareciam deixá-lo bem perto da morte. O monstro de rocha não estava contente com sua situação também, visto que agora Kirlia fazia uma espécie de rodeio com ele.

O ruivo mordia o lábio para evitar um grito. A serpente parecia não querer soltar o rapaz. Rhyhorn empinava, Bailarina se segurando para não cair, mas sendo jogada para frente quando ele desceu e usou Stomp no chão. Kirlia dava uma pequena cambalhota no ar, caindo suavemente no chão e fazendo uma pequena reverência, como quem agradece a plateia após um show. Debochava e subestimava seu oponente descaradamente.

Rhyhorn se aproximava, o desejo de esmagar sua adversária. Quando se aproximou, foi surpreendido com um Ice Punch direto na face, congelando parcialmente a lateral da face. No entanto, Stomp não foi parado por aquilo e atingia a Pokémon Psychic. Rhyhorn tentou utilizar seu peso para continuar esmagando sua oponente, mas ela fugia com Teleport, ficando pousada no galho de uma árvore, parecendo querer ficar um pouco longe do monstro de rocha. Ambos claramente ofegantes e exaustos.

As frutas claramente fizeram diferença. Embora a pouca diferença, Kirlia estava mais ferida, mas Teleport e a lerdeza de Rhyhorn era algo que não podia ser ignorado. O rapaz tinha que ser esperto, faltava muito pouco para ambos os lados.

O ruivo tentava fazer um apelo para a mulher. Enganá-la para que a Ekans o soltasse de uma vez. Soava o mais amigável que a situação e a dor lhe permitiam. Os olhos verdes da mulher fitaram o único olho do rapaz, inclinando a cabeça para o lado, como se processasse o que ele havia dito. O tom parecia ter acalmado sua euforia.

-Mas... Bailarina já ta brincando. Ela é a bruxa má e você é o Joãozinho. Você não fugiu, então é amigo. Não é assim que funciona? Fofinha gosta de abraçar e quis abraçar Joãozinho... Abraço não é bom?

A ruiva perguntava, parecendo confusa e coçando de leve o cabelo avermelhado e encaracolado.

Bailarina demonstrava saber o que fazia, mesmo sem ninguém ditando ordens. Era independente, mortal e cruel. A ruiva claramente tinha a mente perturbada, como alguém como ela cuidaria de algum Pokémon? Como iria coordená-los? No entanto, não era o momento para pensar naquilo. O rapaz devia se focar em como se livrar de Ekans e vencer a batalha.

-Mas abraço é bom. Como pode ter alguém que não gosta? – A ruiva perguntava ainda mais confusa. O jovem pensou em acariciar a serpente, mas se recordava de que tocá-la não era a melhor das ideias. O ruivo logo tentava fazer com que a mulher se voltasse contra sua Pokémon. – Bailarina não é Bruxa Má, ela só gosta de brincar de Bruxa Má. A verdadeira Bruxa Má ta em Nyender. Ela não gosta de Fofinha, Bailarina e Mimosa...

O aperto continuava e a dor se tornava cada vez mais insuportável, quando esta ficou forte demais e o gangster não conseguiu evitar um grito. A serpente finalmente o soltava, no entanto, o menor movimento fazia com que a dor voltasse. O braço do gangster havia se quebrado após o tempo em que Fofinha havia “amorosamente o abraçado”. Torcido em um ângulo estranho, o rapaz precisava tratar aquilo rápido.

Rhyhorn avançava contra a árvore, a golpeando. Bailarina saltou, pousando no chão suavemente e preparando outro Ice Punch, no entanto, o monstro de rocha já usava seu Stomp em cima dela. O punho de gelo era usado de mau jeito e a Pokémon era atingida pelo ataque. Por breves momentos, ambos pareciam estar nocauteados, mas o Pokémon do Armagedon se erguia, as patas estando trêmulas.

A estranha ruiva se aproximou de sua Pokémon, pegando-a no colo e deixando que uma bolsa caísse no chão. Aberta, era possível ver a casca de um ovo dentro da mesma.

-Bailarina resolveu tirar cochilo agora? Tadinha, deve ta cansada...

A mulher dizia, embalando sua Pokémon. Ekans se aproximava, enrolando-se na cintura da mulher delicadamente. A estranha saltitou um pouco, voltando a perambular pela rota.

-Bye bye Joãozinho! Espero poder brincar com você de novo!

Ela se afastava. Rhyhorn estava fraco. Um ovo caído no chão, parecendo haver algum dinheiro dentro da bolsa também. O braço latejando devido a dor. Apesar de tudo, todos estavam vivos e alguns poucos raios de sol começavam a surgir no céu. O Armagedon precisava decidir o que fazer com o Egg e para onde ir.

O gangster e seu Pokémon estavam vivos. Isso por si só era um grande alivio. Infelizmente, o Pokémon que havia sido assassinado não fora vingado, como o ruivo desejava. Não havia como fazer aquilo. As criaturas que aquela mulher possuía eram poderosas demais e o gangster, bem como seu Pokémon, estava em seu limite.

O exausto Pokémon era recolhido e, com um imenso esforço, acolhia o Pokémon que ainda iria nascer. O ovo ainda estava quente, o ser ainda estava vivo e agora sob os cuidados de Chris. Não pode ajudar Sentret, nem mesmo fazer um tumulo para o mesmo, mas salvava um Egg desprotegido e que tinha um futuro antes incerto, enquanto nas mãos da mulher.

As árvores aos poucos se tornavam escassas e a trilha de terra voltava a ser visível. Mais adiante, algumas casas. Havia chegado no vilarejo!