Backstage (Oneshot)

As cortinas ainda estavam fechadas, mas meu coração já se encontrava descompassado desde que entrei em meu camarim. Não entendia muito bem esse nervosismo antes de uma performance, já que eu estava na minha segunda turnê, porém minha mente continuava à pregar-me peças. As mãos ficavam constantemente molhadas de suor, a respiração irregular como as batidas do meu coração, as pernas ficavam bambas e eu tinha que fazer o meu “ritual habitual antes da apresentação”, em frente ao espelho, para esse pânico todo sumir: um gole de água, um sorriso cativante, mais um gole d’água, um sorriso emocionado, um novo gole e repetia em voz alta a palavra ‘foco’ cinco vezes. Depois disso, era certeza eu ir sempre ao banheiro antes de subir ao palco. Mas não nessa noite. Nessa noite eu estava com ela ali, depois de tantos anos. Nessa noite tão importante, minha mãe me abraçou e tudo passou. Antes de deixar o camarim, peguei a foto que estava presa ao espelho e guardei-a no bolso interno do smoking, próximo ao coração. Estava na hora de ir.

Estava pronto para me apresentar. De trás da cortina podia ouvir o público fazendo barulho de platéia, como se fosse algo já ensaiado anteriormente. O mestre de cerimônias, aquele que divertia o público enquanto eu me preparava, anunciaria minha entrada. Era o maravilhoso e divertido comediante Petros Montgomery e estava comigo desde minha primeira turnê fazendo um show de comédia antes do momento mais aguardado da noite, minha chegada. Meu smoking dessa vez fora bordado com paetês negros cintilantes, o que me daria destaque durante a apresentação, mas eu não me sentia muito confiante nele. Sei lá, tinha minhas dúvidas. Bem, sempre tinha dúvidas antes de subir no palco. Então, o momento se aproximava, faltavam apenas quinze minutos para meu momento de glória e brilho, já que aquela noite também seria a noite de gravação do meu primeiro DVD como Stylist. Havia sido uma longa jornada, anos, meses, semanas de preparação para o auge da minha carreira, aquele era meu momento, meu ano, tudo estava dando certo. Tantos problemas que enfrentei. “Dez minutos!” gritou meu produtor. Reuni a equipe toda e oramos juntos. Estava realmente acontecendo e eu tinha que agradecer ao Criador por poder estar ali, fazendo o que eu amava como sempre sonhei, almejei e batalhei para continuar firme e focado. Com lágrimas terminamos a oração, emocionados com tamanha conquista. “Cinco minutos!” gritou um comovido produtor. Chermont fora a cidade da minha primeira performance, no picadeiro de um circo, onde minha estréia nos teatros acontecera à 5 anos atrás. Nada mais justo que o povo que me acolhera com tanto amor e carinho participasse do meu primeiro DVD. Subi ao palco, ainda atrás das cortinas.

Fechei os olhos. A platéia gritava meu nome, as cortinas logo se abririam, mas na minha mente um curto filme passou diante de meus olhos. A morte do meu pai, o sumiço da minha mãe, o primeiro encontro com Angélica Thompson, o segundo encontro com Angélica Thompson, a chegada de Blazy, Sentury, Pollaree, o reencontro com minha mãe, a ascensão nos teatros de Shinki, a emoção de ser eleito Stylist Revelação, o prêmio da Academia. Porém, nada fora mais determinante que ele em minha vida. Tirei a foto do bolso, olhei mais uma vez para o rosto sorridente ao meu lado na imagem. Estava ali sempre comigo, mesmo quando não podia fazer-se presente. Beijei a foto com tamanha ternura. Olhei para o backstage e lá estava ele com o mesmo sorriso da foto, dando-me o apoio necessário mais uma vez. “Eu te amo”, sussurrei. “Eu amo mais”, ele sussurrou de volta. E como um jovem bobo apaixonado eu corei. O ruivo sorriu mais uma vez. Eu estava completo. Três, dois, um... E as cortinas se abriram.