Desventuras no Deserto

Kate mirava de forma saudosa a demonstração de "afeto" de sua família. Após tantos anos, era bom ter a sensação de segurança e familiaridade. Para melhorar, faltavam os três irmãos perdidos, porém a morena tentava evitar pensar neles. Estava recuperando uma parte de sua família. Seu pedido feito no festival se realizava e deveria ficar feliz por ainda ter alguém de sua família com ela. Não estava mais sozinha.

- Há quanto tempo você não o via? - Ethan pergunta interessado e tentando ignorar o imenso Fearow que repousava a cabeça sobre a cabeça de Kate, como se tivesse preguiça de se manter em pé sozinho. A tarefa era consideravelmente fácil quando se tem um Haunter usando uma cueca como chapéu em campo.

Enquanto aguardava a resposta, a dupla via o homem se desviar fácil da mãe de Kate, abraçando-a pelas costas e imobilizando os braços dela, enquanto a deixava gritar e espernear, extravasando tudo o que sentia.

- Calma... - Ele dizia baixo no ouvido de Judy. - Eu estou aqui... Eu voltei pra vocês.

Após a última frase, ele ergueu os olhos pra Kate, piscando um olho e abrindo um dos braços, chamando a mais nova para um abraço em família.

Quem diria que aquele pedido feito no festival seria atendido? É difícil de acreditar. Mamãe pode não gostar do fato de eu ser Armagedon, mas olha só onde parei? Estou devendo mais do que imagino para Naty... Me permito sorrir um pouco mais honestamente. Era tão boa essa nostalgia...

-Uns dez anos...

Respondo o semáforo, não prestando realmente atenção. Não sei por que ele quer saber, mas não me importo. Não me importo nem com minha cabeça sendo usada como apoio para a cabeça de uma Fearow tamanho jumbo. Sakai com “chapéu” já é normal.

Papai finalmente imobilizava mamãe, piscando pra mim e me chamando para um abraço. Eu fui sem pensar duas vezes. Nem ligo se estou chorando de novo. Não sou sentimental, mas recuperar ambos os pais em um dia pode fazer isso com qualquer um. Isso é real, não é? Parece que daqui a pouco vou ouvir o som de choro e gritos, e que tudo vai desmoronar e me mostrar mais um pesadelo. Arceus, por favor, chega de pesadelos. Se não for real, me deixa aproveitar. Se for real, não tire esse momento de mim.

Kate nunca pensou que rezaria com tanta intensidade para Arceus, mas ver seus dois pais juntos e felizes em um único dia após tantos anos sozinha era mais do que a morena se imaginava capaz de suportar. Quando seu pai ergueu o braço, a Arruaceira correu ao seu encontro sem nem ao menos pensar duas vezes.

O homem mantinha mãe e filha entre seus braços. As duas choravam, riam e xingavam, tudo ao mesmo tempo, mas sem deixar de se agarrar ao abraço com força quase desesperadora. Aishi parecia comovida, nem ao menos se importando com os laços perdidos durante a corrida de Kate. Já Chantily optava pela praticidade, não seguindo Kate e simplesmente passando a se apoiar na cabeça de Ethan.

- Dez anos? - Ethan murmurava, sendo ignorado pela adolescente que não o queria ouvir. Dez anos e ele estava igual. Era bom demais para ser verdade.

- Fiquem calmas meninas, prometo que não vamos mais nos separar. - O pai de Kate dizia, lhe beijando o topo da cabeça e a apertando ainda mais de encontro ao seu peito. O ato era repetido com Judy e Kate se via quase esmagada entre os dois.

Estou praticamente esmagada entre os dois, mas não quero sair daqui tão cedo. Nunca teria imaginado que esse momento era possível, não depois de tantos anos. Não quero ouvir nada e nem ninguém, só ficar aqui mais um pouco.

-Vou cobrar isso.

Respondo, ainda rindo e chorando, após papai fazer sua promessa. Faz quantos anos que não me sinto tão bem? Nem reparo quando Hellhound se aproxima e começa a nos farejar, ou em Sakai chegando junto e entrando no abraço. Nada mais importa.

Nem sei quanto tempo levo até me recuperar e finalmente parar de chorar. Sério, não me lembro de ter chorado tanto assim alguns anos. Sei que, quando momento acabar, vão voltar os problemas. Agora teremos que despistar Loki, e isso possivelmente irá se tornar uma bela dor de cabeça... Não quero estragar o momento, a cidade deve ser segura o suficiente por enquanto, pelo menos é o que espero...

Kate chorava copiosamente de felicidade e alívio. Quanto mais aquele sonho parecia real, mas a felicidade era tanta que chegava a doer no peito da Arruaceira. Estar entre os braços de seu pai e de sua mãe era mais do que poderia imaginar. Em seus pesadelos, isso sempre acontecia só para perdê-los mais uma vez e perceber que dessa vez não era um sonho era um verdadeiro milagre de Arceus. Talvez ele não estivesse tão brabo assim pelo bolinho...

- Teremos muito tempo para colocar a conversa em dia. - O pai dizia desfazendo o abraço acolhedor. - Mas, por hora, é melhor procurarmos um lugar para descansar. De preferência onde eu não seja reconhecido...

Seu pai tinha razão em ser cauteloso. Era muito perigoso ir para o subsolo do Kazumi. Além disso, havia a precaução com a mãe recém resgatada. Pensar já era naturalmente complicado para Kate. Estratégias não eram algo de seu cotidiano. A sorte sempre lhe ajudou até hoje. Porém agora precisaria pensar em cada passo dado.

- Onde estão suas coisas Kate?

Perante a pergunta, Ethan se manifestava, erguendo a mochila. O mais velho se aproximava do ruivo, agradecendo a ajuda e esticando a mão para pegar a mochila.

- Você ficaria incomodado em nos deixar sozinhos esta noite? Teremos muito pra conversar e acho que seria melhor nos reconhecermos como família, pelo menos por hoje. - O pai pedia para o ruivo, o dispensando e afastando.

Obrigada Arceus! Nunca mais roubo um bolinho seu, eu juro! Milagres existem, os malucos religiosos podem não ser tão malucos assim. No entanto, assim que o abraço se desfazia, já surgia o primeiro problema: lugar para descansar.

Vejamos, papai é um traidor. Traidores não são exatamente bem vistos pelos outros. Mamãe também precisa de um lugar para descansar... Mas será que o Kazumi Hotel será tão ruim assim? O lugar deve ser muito bem protegido contra Apocalipses, e Saky pode entrar e sair à vontade, então não deve haver problemas... Espero que Uxie simpatize comigo, visto que pensar não é exatamente meu forte e sempre abuso da sorte, descer o santo responsável pelo intelecto seria muito útil agora...

Novamente minha linha de pensamentos era cortada por uma pergunta.

-Esqueci das minhas coisas por completo.

Murmuro, dando um tapa de leve no rosto e me repreendendo pela desatenção. Normalmente sou um pouco mais cuidadosa com meus pertences, mas mereço um desconto hoje. E além do mais, estavam com o cabeça de fósforo, e ele não é do tipo que sai pegando as coisas dos outros... Pera aí... Ele já fez isso! E com minha bebida!! E tem roupas lá que meus pais não podem ver!!!

-Epa! Melhor mochila ficar comigo! Eu realmente adoro carregar ela! E teremos muuuuuuuuuuito tempo para conversar antes que certas coisas sejam ditas.

Comento, abraçando um dos braços de papai e o puxando de leve, dando meu sorriso inocente, embora digam que meu sorriso inocente mais pareça algo do tipo “você não vai gostar do que vai ver e não quero perder minha pele por enquanto, então me dê tempo pra sumir ou pensar numa boa desculpa”. Nem sabia que sorrisos podiam dizer tanto assim...

-E de qualquer forma, o foguinho ajudou a tirar a mamãe da prisão e estou devendo um grande favor pra ele agora. Então porque não vamos a um bar comemorar? Bebidas pela minha conta pela primeira e última vez na história.

Hellhound começou a rosnar e sinto um olhar nada amistoso vindo de mamãe.

-Ou fazer algo mais saudável e totalmente inocente no Kazumi Hotel? O gerente daqui não me odeia no atual momento, além disso, acredito que não vai haver Apocalipses por aqui para te caçar, e Loki nem parece lá grande caçador...

Dou outra sugestão, embora preferisse a primeira (exceto a parte por minha conta), mas é a vida...

Os pais de Kate se miram com olhar intrigado perante o comportamento estranho da adolescente. Era óbvio que eles ficaram desconfiados com o conteúdo da mochila, porém optaram por debater o assunto em particular, mais tarde.

- Tenho outra proposta. Pagamos uma estadia para ele no Nokori, em agradecimento, com jantar incluso e amanhã almoçamos todos juntos. Enquanto isso, nós três jantamos hoje de noite, para conversar as coisas mais particulares.

- Eu gosto da ideia. E acredito que Kate tenha dinheiro para pagar isso, já que ela estava disposta a pagar bebida para todos, não é? - A mãe de Kate questionava com ar de intimidate de Gyarados.

- Seu amigo poderia até já ir adiantando a reserva de um quarto para nós no Nokori também, ao lado do dele, para amanhã nos encontrarmos mais facilmente. O que acham?

Kate via seus pais fazendo planos para o seu dinheiro e medo começava a nascer em seu coração. Sua carteira seria ainda mais ameaçada que o normal pelo visto.

- Eu é que não vou me opor a uma noite no Nokori, com jantar e almoço de amanhã pagos. - Ethan dizia, colocando as mãos no bolso e sorrindo para Kate.

Para minha sorte, eles não me questionaram sobre o que havia na mochila. Ponto positivo! Resolveram dar pro Sinalizador uma noite no Nokori Hotel com jantar e café pagos. Ponto não tão positivo. E vamos dizer que é difícil contrariar com mamãe pedindo com tanto... Jeitinho... E pelo visto, querem que eu pague quartos do Noroki Hotel para todo mundo...

-Imagino se a dor que sinto no meu bolso é semelhante a dor que alguém sente nos pâncreas...

Comento com a voz e olhar distante, enquanto visualizo meu dinheiro criando asas e voando para tão tão distante... E o Sinalizador claramente não vai se opor... Eu não iria contrariar se fosse eu no lugar dele, mas isso não reduz minha vontade de aprontar com ele mais tarde.

Suspiro derrotada, ainda lamentando baixinho sobre meu dinheiro, quando me vem uma ideia.

-Ou os rapazes podem nos acompanhar para as compras!

Essa ideia me agrada, confesso. Muitos anos sem fazer compras com mamãe, tenho saudades disso. Ela precisa de roupas, eu preciso de roupas para o deserto, Pink Ladies aprovam, Hellhound já está gritando como se fosse o fim do mundo, e Sakai totalmente vermelho abraçando a cabeça de papai... E acho que ele vai arrotar... Ou vomitar... Será que se eu dizer que nunca vi esse Pokémon, alguém acredita?

Kate fazia uma contraproposta igualmente tentadora para o público feminino e assustadora para o grupo masculino. Compras com mamãe depois do inferno vivido nos últimos anos parecia mais que um sonho.

- Acho que podemos fazer as duas coisas. Seguimos meu plano e amanhã, depois do almoço, saímos as compras. Assim sua mãe estará mais forte e descansada para aproveitar o passeio.

A resposta de seu pai fazia sentido e Kate se via agora presa em uma armadilha financeira ainda maior. Mightyena parecia aprovar o tempo extra para planejar sua fuga, enquanto Sakai era segurado pelo pai de Kate com a cabeça virada para o outro lado. O homem era esperto.

- Pelo visto você não vai ser capaz de economizar, Kitty. - Ethan dizia rindo da situação, apesar do sorriso não atingir seus olhos. O ruivo estava desconfiado de algo, mas também não queria se envolver em assuntos de família.

E papai ainda quer ir para o Nokori Hotel... Oh vida... O que ele diz faz muito sentido, e como faz, mas tenho que cuidar de suas pestinhas rosadas, e gostando ou não, só conheço o Kazumi Hotel que possa ajudar nisso.

-É... Percebi...

Comento desanimada. Pelo menos, não tem lojas caras, e talvez Amore e Lief estivessem debilitadas o suficiente para não participarem das compras. Aishi é infinitamente mais fácil de controlar nesse aspecto. Mas confesso que estranho um pouco o semáforo, sorriso dele não atinge os olhos... O miro um pouco, tentando ver se estava tudo bem.

-Bom, de qualquer forma, não vai dar pra fugir do Kazumi Hotel. Tenho duas maníacas por rosa precisando de remendo. E ainda não entendo porque ir pro Nokori Hotel, a cidade é dominada por Armagedons, que não tem nada contra você, os Apocalipses devem estar mais ocupados em passar despercebidos. Não é como se algo pudesse dar errado agora, não é?

Respondo sincera. O que pode rolar de ruim aqui? Loki não tem passagem livre por aqui, bem como qualquer outro Apocalipse. Não é como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento.

Kate tentava argumentar sobre o motivo de não poderem ir para o Kazumi Hotel, acreditando que a cidade seria segura para eles, já que os Apocalipses não tinham salvo conduto pela região. Tanto Ethan quanto seu pai pareciam prontos para lhe revelar algo importante, porém foram impedidos pelo som de uma explosão. À luz das estrelas, com a cidade banhada pela noite, foi quase poético a expressão de Kate perante à resposta para o seu comentário de que nada poderia dar errado.

- Precisamos verificar o que houve.

Ethan mal dera tempo para Kate entender o que ele falara e já partira para o interior da cidade, em direção ao som das explosões. A cidade era atacada e, como uma Armagedon, era dever de Kate verificar o que estava acontecendo e proteger sua cidade. Porém, como filha, era seu dever proteger seus pais recém recuperados.

- Pode ir Kate, eu cuido de sua mãe. Deixa a mochila e vai. - Seu pai praticamente ordenava, colocando um braço sobre sua mãe e esticando a mão a espera da mochila.

Anotado: Nunca mais repetir a frase “Não é como se algo pudesse dar errado agora” Após um momento de paz. Definitivamente. Nunca. Jamais. Never. E menos ainda a frase “Não é como se uma bomba fosse explodir a qualquer momento” logo em seguida. Sério, não teste o humor de Arceus, e muito menos use perguntas retóricas, que ele vai interpretar como sugestões!

O Sinalizador já se mandava, dizendo que devíamos verificar o que aconteceu. Estou dividida aqui... Sou forçada (sim, forçada, já que não quero Jack atrás de mim como um cão de caça) a verificar o que ta rolando nessa zona. Até ai, ta suave, mas recém recuperei meus pais, e ai? Como se faz? Papai pelo menos prometeu cuidar da mamãe.

-Talvez eu precise de algumas coisas aqui. Chantilly, cuida deles.

Respondo e deixo minha nada pequena Fearow pra cuidar deles. Porque ela? Simples meu caro Caterpie: ela pode voar com eles pra longe, mais Protect, mais Roost, então me parece que a soma final é satisfatória.

Agora ir em direção as explosões e colocar ordem na casa. Sinto que troquei de posição com os cadetes de Twister... Cara, é realmente chato ir até a fonte das explosões, mas fazer o quê? Males do oficio... E estou limitada a um saco de pulgas que me morde (porém muito confiável), um fantasma bêbado (alta possibilidade de desastre) e uma maníaca por rosa (que nunca lutou na vida)... Ai Arceus, ainda não me perdoou pelo bolinho, não é?

Para Kate, era óbvio que Arceus ainda não a havia perdoado pelo bolinho roubado no final do festival de Erobring. De que outra forma a Arruaceira explicaria ter que bancar uma cadete protegendo uma cidade que era atacada por arruaceiros exatamente como ela fizera em Twister e em Chermont?

O som dos ataques ecoava de várias direções diferentes, indicando que os alvos eram muitos, o que deixava Kate tonta. Amore e Lief não poderiam lutar, devido às fraturas sofridas no último combate e ainda não tratados. Parando pra pensar, ainda não dormira e fazia menos de 24h que atacara Twister para resgatar uma prisioneira... E ainda estava com as botas da fantasia, nada favoráveis para correr em estradas de areia...

Chantilly ficara com mamãe e papai, para protegê-los e ajudá-los a fugir caso algo desse errado e, neste momento, a Armagedon percebia que só tinha três Pokémon em condições de lutar e experiência em luta (de forma confiável) com somente um deles. Seria o primeiro combate de Aishi, caso fosse necessário, e Haunter já tinha começado a beber... A combinação não era favorável e tudo o que Kate podia desejar é que fosse alguém fraco e escandaloso que estivesse atacando a cidade. Conhecendo sua sorte, quais eram as possibilidades?

Já disse que não gosto de brincar de cadete correndo atrás de arruaceiros fazendo bagunça na minha cidade? Eu não sei para onde ir! Pelo visto, são vários alvos, visto que tem coisa explodindo pra todo lado... Ou não sou a única que usa Voltorb como bola de baseball?

Que situação... Amore e Lief quebradas, ainda não dormi depois da pequena distração em Twister, e fechando com chave de ouro: meus pés já devem ter se tornado um com essas malditas botas. Porque essas botas tinham que ser tão desconfortáveis?! Meus pés estão me matando! Que algum infeliz que esteja atacando a cidade apareça logo, assim não tenho que correr mais!

Espera... Pensando bem... Ignora meu pedido Arceus! Se não for ignora, que seja um fraquinho e escandaloso, viu? Pega leve com a garota que está realmente arrependida de roubar seu bolinho, não é boa em estratégias, está com escassez de Pokémon confiável e está sem dormir um bom tempinho...

Conhecendo minha sorte... Melhor nem pensar, vá que esse Deus Pokémon sem senso de humor resolve esquecer de novo o que é pergunta retórica...

Ao perceber o pedido que estava fazendo, Kate tentava se corrigir com o divino, desfazendo seu pedido e tentando não fazer com que Arceus considerasse sua pergunta retórica uma pergunta real. No entanto, com seu histórico, a Arruaceira devia perceber que o Sagrado Pokémon parecia se divertir realizando seus desejos da pior forma possível.

Quanto a Armagedon virou uma esquina, toda essa realidade pareceu atingi-la com força. A sua frente, um Luxray usava Iron Tail em um poste e em seguida Thunde Fang nos fios de alta tensão, o que causou uma sobrecarga na rede elétrica e, consequentemente, destruiu todos os equipamentos ligados na tomada de várias residências em algumas quadras e apagou as luzes da região, o que, somado a hora avançada, deixava Kalled no escuro total.

Eram cadetes... A cidade dos Armagedon estava sendo atacada por cadetes. Faziam algumas horas que Kate, a Armagedon, fugira de uma cidade que estava sob a guarda dos cadetes por ter atacado a cidade. Agora, ela se via exatamente no papel contrários. Quase uma poesia que deixava claro que Arceus não devia gostar de poesias ou ainda não lera o livro de piadas que lhe fora dado em oferenda. Ou talvez ele só gostasse de humor negro, quem sabe?

O grande leão negro mirou Kate e a Arruaceira sentiu que nem mesmo todos os Pokémon juntos conseguiriam segurar aquele em questão. Os olhos brilhavam na escuridão, assim como as presas expostas, criando um clima típico de filmes de terror. Pela postura e confiança, ele claramente pertencia a alguém do alto escalão dos cadetes. Sem falar que estava atuando sozinho no ataque àquela região, o que demonstrava um grande treinamento estratégico, não somente de ataques.

A boca se abriu, com um rosnado baixo, ameaçando Kate. A morena podia se sentir fraquejar. Porém, antes que fizesse qualquer movimento, a orelha do felino se movimentou e ele pulou. Kate caiu sentada, o que deu alivio aos seus pés e viu Luxray pular por cima de si e sumir rua abaixo. Pouco depois, outros três Armagedons surgiam e questionavam a morena para onde o atacante havia fugido.

E é claro que Arceus atendeu meu “pedido” da pior forma possível... De novo... Me fazendo passar pelo inferno... Mais uma vez... E desta vez, o inferno é um filme de terror, onde um Luxray de olhos brilhantes está rosnando para mim e está tudo escuro... Ficaria feio se eu começasse a chorar?

Porque eu tinha que virar nessa esquina? E justamente no momento em que esse Luxray resolveu apagar toda a cidade. Obrigada Arceus... Era tudo o que queria... –SQN! O que os cadetes querem nessa cidade?! Os Armagedons não podem dominar uma cidade inteira, expulsar os cadetes, e ainda cuidar dela melhor? Que tipo de governo é esse?

E Arceus, você ou é um péssimo humorista, ou um péssimo poeta. Ou os dois. Me forçando a tomar o papel contrario ao que eu tinha feito a poucas horas, que coisa sem graça. Ou será que Arceus gosta de humor negro? Se for isso, então não tem santo que me salve... Ai Arceus, pra quem eu rezo?

E gatinho tamanho família ta me encarando feio... Eu não gosto quando gatinhos tamanho família me olham feio e rosnam. Meu coração está batendo feito louco e não sei o que fazer. Algo me diz que eu podia estar com todos os meus Pokémon, totalmente curados e prontos pra guerra, mas não seria suficiente. Algo me diz que eu não sou rápida pra me mandar daqui... E esse gato tamanho jumbo ta pulando na minha direção!

Nem vi quando cai sentada e ele passou por cima de mim, só sei que acabei de perder uma das 9 vidas que vieram junto com a fantasia.

-Gato tamanho jumbo por ali...

Comento, apontando a direção enquanto respiro fundo. Não é primeira vez que fico perto de me dar muito mal, mas é primeira vez que quase me dou muito mal com um Pokémon desse tamanho... Nada agradável, permita-me dizer. E que esses três não me peçam pra acompanhar eles, por amor a qualquer Pokémon santo que não queira me ver sofrer!

Kate só conseguia indicar o caminho seguido por Luxray, enquanto mentalmente rezava para que ninguém lhe exigisse companhia na missão. Não se sentia apta para enfrentar aquele Pokémon em questão, nem mesmo com apoio de mais três Armagedon (apesar de não saber o potencial deles).

Para a sorte da morena, os recém chegados partiram na direção indicada, sem fazer qualquer outro comentário. Com um suspiro, a morena acreditou estar livre de qualquer mal por alguns instantes. Nesta hora uma grande estátua de Giratina caiu a sua frente, quebrando as pedras de barro que formavam a calçada por onde a Arruaceira corria. A bela estátua parecia um sinal divino, dizendo que era para Giratina que Kate deveria rezar e respondendo, assim, a pergunta da morena. Pelo menos antes da estátua rachar aparentemente do nada.

Com pernas bambas por ter quase sido ataca por um Luxray e, logo após, quase ter sido esmagada por uma estátua de Giratina, Kate se erguia e voltava ao trabalho como Armagedon: proteger Kalled dos Cadetes invasores. Algo nessa frase ainda parecia estranho aos ouvidos de qualquer um, uma inversão de papéis que seria difícil de se acostumar.

Obrigado ao santo que me atendeu! Os três suicidas se foram e não pediram pra mim ir junto e formar o quarteto suicida! Finalmente posso relaxar um pouco!

Ou não...

Chuva de estátuas não é legal, sabia? Ou isso é um sinal divino para que eu comece a rezar para Giratina, me vista de preto, fale em charadas e saia sacrificando geral? Estátuas podem rachar do nada, sem razão aparente?

Vamos deixar os assuntos religiosos para depois e seguir livrando a cidade dos invasores. Essa frase, sendo dita por minha pessoa, é algo muito bizarro. E espero não ter que correr, já que minhas pernas estão mais moles do que um Ditto.

off: pobre Kitty n? XD

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Não sentindo qualquer nível de confiança em suas próprias pernas e ainda estranhando a nova realidade enfrentada (protetora de uma cidade), Kate se levantou uma vez mais e voltou a seguir seu caminho, na esperança de não encontrar ninguém e ainda aparentar ter cumprido com seu dever. A estátua rachada de Giratina ficava para trás, bem como qualquer reflexão religiosa sobre o momento.

Diversas foram as quadras percorridas lentamente, sob o som de explosões, correria para todos os lados e nenhum inimigo encontrado. As pernas aos poucos ganhavam firmeza e Kate começava a se incomodar com a brincadeira de Persian e Rattata que vivenciava.

Quando estava há um passo de desejar que algo acontecesse, a Arruaceira virou uma esquina, deparando-se com as costas de um Persian que lançava um Hyper Beam, derrubando quatro Pokémon Armagedons com somente este ataque, para logo depois virar para o lado e correr rua abaixo. Kate poderia virar a mesma esquina e perseguir a Pokémon ou poderia tentar dar meia volta... Haviam quatro saídas afinal.

O som de explosões não é uma das melhores trilhas sonoras... Eu só queria um momento em família, sem ter preocupações, sem invasões, sem guerras, sem ter que levar bronca... Isso era pedir demais?

Nenhum inimigo encontrado, o que podia ser algo bom dependendo dos inimigos que invadiram a cidade, mas essa brincadeira de Persian e Rattata não é divertida. Meu apelido vem do fato de eu gostar de escalar e não conseguir descer, não de gostar de perseguir e encurralar os outros, sabe?

Querido Arceus, quando eu digo que não gosto de brincar de Persian e Rattata, até agradeço você tentar terminar a brincadeira, mas tinha que ser me fazendo encontrar um Persian com Hyper Beam detonando geral?!

Bom, vamos ver as opções:
-> Seguir o Persian: não tenho vontade de morrer, obrigada;
-> Voltar pelo caminho de onde eu vim: muito tentador, mas não quero correr risco de acabar marchando para onde o Luxray foi;
-> Optar por uma das outras saídas: acho que vou nessa...
-> Ajudar os coitados que foram explodidos: e ir direto para a segurança do Kazumi? Tô dentro! Que boa samaritana que eu sou, não concorda?

Com a mente feita, vou até onde os alvos foram detonados e verificar se tem alguém vivo que eu possa levar para o Kazumi Hotel. Espero que esse lance de Karma funcione, visto que a frase “Kitty fez uma boa ação” não é muito comum... A menos que seja porque eu acredito que seja mais vantajoso para minha pessoa, como é o caso no momento, mas quem liga? Estou sendo uma boa menina, e é isso que importa.

off: q nada ^^ ela nem se machucou =3 só está vivendo um cap da fic. Não é emocionante?

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Optando por tentar ajudar os Pokémon aliado (opção mais segura no momento), Kate se aproximou dos quatro monstrinhos nocauteados. Três deles haviam sido atingidos por bem mais do que o Hyper Beam e aparentavam estar mortos, mas havia um Sandslash que ainda respirava fracamente. Mais adiante, sob concreto que deslizara de uma parede também atingida pelo golpe, uma pessoa gemia de dor, chamando a atenção da Arruaceira.

Ao se aproximar da pessoa, Kate reparou que ele não usava roupa de cadete, então ou era um cidadão de Kalled ou um Armagedon. Em qualquer uma das duas hipóteses, seria esperado que ela o ajudasse. Agora a questão a ser enfrentada pela morena era como se livrar do concreto e como levar um homem maior que ela e um Sandslash para o Kazumi Hotel que, diga-se de passagem, a morena não sabia onde ficava.

No meio do concreto que estava sobre as pernas do homem, haviam duas placas de ruas indicando que aquele era o cruzamento da rua Alomomola com a Rua Charcoal. Qual das duas era qual, Kate não saberia dizer, a única coisa que sabia definir era o caminho que a levara até ali.

Me aproximo dos quatro Pokémon que estavam caídos, não demorando para descobrir que três estavam mortos. Suspiro e fecho os olhos deles. Não sou um exemplo de pessoa, mas nem por isso gosto de ver Pokémon mortos na minha frente, ainda mais sabendo que foi em combate. Um Sandslash ainda respirava, era fraco, mas respirava.

No entanto, vamos dizer que outro resolveu dar sinal de vida. Não, não estou falando de um Apocalipse Zumbi Pokémon (ainda bem), e nem dos invasores (obrigado senhor!). Uma pessoa foi mais azarada e foi esmagada por um bloco de concreto. Devia ser um civil, ou um membro dos Armagedons, já que não usava uniforme cadete e nem nada do gênero.

Vamos ver os problemas... Tirar o concreto de cima dele, levar um cara mais pesado que eu, levar um Sandslash muito espinhento, e não sei onde fica o hotel... Isso pode dificultar minha boa ação...

Suspiro e libero Sakai, Hellhound e Aishi da Pokébola, mirando meu trio.

-Muito bem, vamos fazer uma boa ação e salvar esses dois, certo?

Hellhound precisava fazer esse olhar de incrédulo? Até parece que nunca ajudei um estranho antes! Embora essa seja possivelmente a primeira vez que faço isso e ele testemunhe...

-Sakai retira o concreto de cima do homem, depois colocamos os dois em cima e Psychic para levar o concreto. Vocês dois fiquem atentos a qualquer invasor, eu cuido pro Sakai não fazer besteira e nenhum dos dois caírem.

Todos pareceram concordar e começamos a nos organizar. Não sei onde fica o Kazumi, espero que Hellhound saiba onde fica... Mas caso ele não saiba, acho que havia um hotel perto da estação de trem, então vale o risco. Na pior das hipóteses será o Nokori e deve haver alguém lá que possa ajudar, certo?

Com a ajuda de Sakai, Kate conseguiu colocar o Sandslash e o homem desacordado sobre o concreto que era carregado com Psychic. Por precaução, ninguém andou muito perto do concreto, evitando assim mais algum dano.

Hellhound e Aishi lideravam o caminho, usando seu faro e audição para evitar confusões, enquanto Kate conduzia de volta para o hotel que vira perto da estação de trem. Kate fracamente dava instruções aos seus Pokémon, que optavam por fazer uma curva maior, evitando possíveis invasores e pontos em que algum confronto estivesse acontecendo.

Ao final, a Arruaceira se sentia satisfeita ao avistar o hotel sem ter tido qualquer tipo de contratempo. Os destroços no caminho só significavam que os invasores já haviam passado por ali e seguido em frente, sinal de segurança.

Sakai parecia o mais animado por poder se livrar do peso e já gesticulava que queria bebida ao final disso tudo. Kate concordava com o pedido, informando que ambos poderiam tirar o atraso nesse aspecto e que seriam necessárias muitas doses para esquecer o Luxray e o Persian de mais cedo.

Ao abrir a porta de madeira escura do hotel, no entanto, Kate travou no mesmo lugar e se esqueceu da bebida. No interior do lugar, a comandante cadete, Angélica Thompson, lutava uma mistura de diversas artes marciais contra Jack, o Vento do Fim, pela posse de uma arma que eventualmente disparava para lugar nenhum. No final do corredor, a cauda do Luxray sumia subindo a escada. Nenhum deles parecia ter notado a presença de Kate, embora Sakai desse indícios de que abriria a boca e arrumaria isso, pronto para passar os feridos para a dupla que obviamente não tinha nada mais importante para fazer no momento e exigir sua bebida.

Colocar esses dois em cima do concreto não foi tão difícil, mas agora viria a parte realmente chata: evitar invasores e outros confrontos. Neste caso, o melhor caminho a seguir é aquele que já está detonado. Quando já foi detonado, significa que quem passou por ali está detonando outro lugar.

Fico feliz em ver o hotel, assim como Sakai. Já até combinamos beber alguns drinques quando toda a bagunça terminasse, afinal eu fiquei bem pertinho da morte mais vezes do que o costume em um período muito curto. Mereço uma folga, não acha?

E adivinha quem resolveu discordar? Se você adivinhou Arceus, bem, não havia muitas outras opções de qualquer maneira.

Abrir uma porta não deveria ser uma das piores coisas a se fazer. É uma porta. Uma simples porcaria de porta de um hotel chique. É só uma porta, nada demais. Uma porta que me levou até o local onde A Angélica (sabe, a Cadete, ex-comandante muito bem treinada e pronta pra matar qualquer adolescente, tipo eu, facilmente?) lutava diversas artes marciais contra O Jack (sabe, o carinha que dizem que mata o alvo e o alvo só se liga que tava na mira depois que morreu?), ambos tentando pegar uma arma (e carregada) que estava disparando (e muito carregada para meu gosto) para lugar nenhum (e ela estava carregada, já mencionei isso?).

E acho que vi o rabo de um Luxray subindo as escadas... O que ele quer, eu não sei. Não quero saber. E acho que quem sabe é possivelmente suicida. Mas tenho que me parabenizar pela minha visão periférica por reparar nisso mesmo com a... Er... Situação?...

Vamos aos poucos. Sakai querendo abrir a boca é potencialmente ruim, então tampo a boca dele, fazendo sinal para ficar quieto. Segundo ponto: Ninguém me notou = Me fui! Adeus! Passar bem! E nem mexo na porta pra reduzir chances de fazer barulho!

off: ainda acho que é só exagero u.u
off2: narrando no serviço, sorry qualquer erro =3

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Kate congelava perante a visão a sua frente. Angélica e Jack lutando e disparando para todos os lados não era algo considerado saudável pela morena. Assim, aproveitando-se do fato deles não a terem visto (e calando Sakai para que esse fato continuasse sendo verdade), a morena se retirou discretamente, deixando aporta aberta mesmo.

Com um pé de cada vez e em silêncio, Kate tentava se afastar do hotel pela lateral. Ao chegar na curva, contudo, se deparou com Persian correndo em sua direção. A estrela no ombro reluzente no escuro. Segundo felino gigante correndo em sua direção e saltando pela cabeça de uma Kate que caía sentada no chão. Deja vu? Talvez... Embora fossem gatos diferentes. Migthyena e Sylveon também se deitaram, para que a gata passasse por eles sem dificuldades. Nenhum dos dois assumira a frente para uma possível batalha de morte a fim de salvar sua amada mestra. Atrás de si, a normal entrava pela porta aberta e enfrentava o som de tiros, indo ao resgate da ex-Comandante.

Sakai deixava o concreto no chão e voltava a se materializar. Kate nem ao menos viu quando ele ficou invisível, mas conseguia vir que ele ria descaradamente de sua expressão assustada. Outro leal Pokémon pronto para protegê-la dos perigos da vida.