Capítulo 1 - A primeira prova!

Tentando não me perder em mais pensamentos, corria escadas acima na companhia do detetive, que não questionava ainda minha ação. Era demais e estava me sentindo sufocada. Precisava respirar. Precisa pensar. E talvez rezar.

Chegava no terraço sem muita demora e esquentava os braços por sentir o vento frio da noite. Aquele vestido não era o mais indicado para a ocasião, mas era o que tinha. Olha para cima e pedir forças. Nunca enfrentei uma pressão tão grande. Até mesmo a morte de meu pai tinha sido algo leve, como se ele tivesse preparado meu coração para o impacto. E agora eu não sabia o que fazer. Fechava os olhos e respirava fundo querendo que acabasse logo. Pedia apenas forças para Arceus, pois pressentia que ainda haveria muito para acontecer.

Então Simas irrompia meu silêncio com uma pergunta. Eu expirei fundo e abri os olhos, colocando as madeixas para trás da orelha, mas elas não me respeitavam e voltavam a cobrir o rosto. No espaço só haviam alguns enfermeiros fumando, cuja atenção não estava em nós.

Olhei direto nos olhos de Simas naquele momento. Elevei minha mãos ao rosto dele e fiquei numa distância romanticamente perigosa, e sentia isso. Mas não era esse o motivo. Eu tinha medo. Medo de depositar minhas esperanças totalmente em um só lugar. Medo daquilo não se resolver antes de outra tragédia acontecer. E tinha certeza que ele podia ver minha fragilidade, pois permitia.

- Me diz se posso confiar totalmente em você. - pedia com os olhos marejados, mas tentando identificar uma verdade ou possível blefe - Me diz que vai até o final disso e que não vai deixar mais ninguém se machucar. Não preciso das palavras de um cadete. Preciso da palavra de um homem! Por favor.

Por mais que me permitisse ser frágil, mantinha a força na voz. Não era nada absurdo o que pedia. Só queria mais que outro protocolo.

De mãos dadas a ele, ouvia o que tinha a dizer sobre o meu pedido olho a olho. Entretanto não sabia o que sentir. Apenas pressionei os lábios e fitei o chão momentos antes de o encarar mais uma vez e assentir a respeito do que foi dito.

Olhei para trás e procurei um cantinho para sentar, longe dos enfermeiros e um pouco mais protegida do vento frio. Sentaria no chão mesmo e esperava que ele fizesse o mesmo.

- Vou te contar o que puder desde o dia que decidi sair de casa, em Nyender, para me iniciar como seguidora de Arceus. - cobria os joelhos e procurava na mente por onde começar. - Meu falecido pai era um seguidor devoto de Arceus e quando ainda era vivo me pediu para entrar no caminho sagrado. Twister não foi escolhida ao acaso. Ele pediu para eu procurar a madre Valvierk, pois disse que ela me ajudaria a me encontrar, e de fato me ajudou. Só que antes do batismo, tive que realizar uma prova de fé, mas eu já passei por isso antes, há cerca de um ano, e falhei. - tive de parar um pouco para respirar. Era incômodo lembrar daquele episódio, pois me atormentou por semanas direto, até que conseguia dormir sem pensar tanto. - Havia algo estranho no jardim de um tempo sombrio, num lugar afastado da cidade. Era como se chamassem por socorro, mas um chamado silencioso. Eu tentei acessar o jardim, mas o único acesso era pela construção e quando entrei, uma mulher muito parecida comigo estava de pé no centro do lugar, segurando uma faca. Eu congelei e não consegui falar, pensar ou agir. Por um tempo ela me encarou e então deixou o lugar indo para o jardim. Quando consegui me mover era tarde... tinha um Smeargle com um corte profundo onde fica o miocárdio. Tudo que pude fazer foi enterra-lo.

Lembrar me trazia dor e irritação por ter sido tão estúpida e medrosa. Apoiava o queixo nos joelhos e ficava um instante em silêncio. Ainda não tinha terminado. Havia mais.

- Depois do meu fracasso, tomei a culpa pela morte do Pokémon e decidi entrar numa jornada espiritual ajudando a todos que necessitassem, sem discriminação ou preconceito. Passei um ano de aprendizado meditando e praticando boas ações. Mais que nunca estava certa de que devia usar os dons que herdei para o bem. Sabe, eu quero ser médica para também poder ajudar de outras formas. É meu sonho desde pequena. - consegui sorrir naquela noite pensando nisso. Um sorriso fraco, mas ainda era um sorriso. - Certo. A madre tinha pedido para eu voltar no ano seguinte se assim desejasse e eu voltei. Novamente, tive que cumprir uma prova. Como sabe, eu concluí, pois fui batizada e recebi minha Angel como companheira. O que não sabe é o que fiz durante a prova. Sabe o rapaz que viemos visitar? Ele tinha ido desafiar Zuzu numa batalha de Morte Súbita. Eu tive acesso até o terraço, onde estavam lutando e não consegui aguentar assistir aquela matança. Acabei interrompendo o desafio, levando do prédio comigo o Electabuzz que por mais um golpe não assassinou um Monferno. E-eu juro que iria devolvê-lo assim que desse tempo do treinador sair do prédio e levar o Fire pro hospital, mas o Elétrico não quis nem me ouvir e saiu andando sozinho pela cidade. Achei que ele pudesse saber o como voltar sozinho, só que não me preocupei em ir pedir desculpas pro ministro. Minha preocupação foi com o Pokémon que estava gravemente ferido. Então vim parar aqui, onde encontrei o treinador e soube da cirurgia. E isso foi ontem... Acho que já sabe das minhas suspeitas, não é mesmo? Só não disse nada antes porque não sabia se podia confiar, não só em você, mas nos outros ao meu redor. E também pelo ministro ser um dos homens mais ricos da cidade, podendo trazer ainda mais problemas para a igreja, se descobrisse que desconfiava dele, quando fui eu quem o importunou. Decidi visitar o gladiador a esta hora, pois temia que pela manhã ele pudesse ir embora, porque talvez ele pudesse me abrir os olhos, mas agora não faço a mínima ideia do que fazer. Só que talvez Arceus tenha me mandado o homem perfeito para o caso.

Dito a última frase, olharia de novo no rosto dele, esboçando de novo um pequeno sorriso, mas com um olhar diferente. Duvidava muito que a esta altura ele veria algo bom em mim. Me sentia tão suja quanta as mãos que causaram aquelas mortes.

Ele ouvia tudo. Ao menos parecia tomar notas em sua mente, pois aparentava estar prestando atenção. Agradecia pelo blazer. Me sentia mais quente logo de imediato. E foi impossível não sentir o perfume dele. Não sabia o que estava acontecendo com os meus sentimentos. Eu me sentia uma menininha perto do detetive. Talvez a autoridade dele fizesse isso comigo.

As reações e confissões dele diziam muito à mim. Sentia que estávamos cada vez mais envolvidos e juntos nessa história. Foi um pouco revoltante saber que o caso seria arquivado e a igreja ficaria a própria sorte até que um novo ataque fosse feito. E ainda por cima culpariam algum inocente pelo ocorrido. Me entristecia ver que ele faria parte de um esquema assim, mas sabia que havia superiores e mais protocolos. Mas por fim, ele me encheu de alegria com uma piada interna, assumindo de verdade o caso. Só que eu não queria ser a garota que estava sendo caçada e que precisava de guarda. Se fosse para ir junto, ajudaria como parceira. Isso era algo que não precisava dizer. Queria que ele sentisse a mesma confiança em mim que sentiria num companheiro de trabalho.

- Claro, adoraria! Não tem lugar mais perfeito para um encontro que jogos, fumantes e bebidas. É o sonho de toda garota, sabia? - fazia piada do convite num tom irônico, enrubescendo um pouco por pensar que ele realmente gostaria de passar um tempo comigo. - Você tem um plano?

Esperava que sim.

Àquela altura da noite me sentia um pouco mais aliviada. As coisas pareciam estar tomando seu curso até onde eu podia enxergar. Simas era parte disso. E com ele desci até o salão principal do hospital, onde passamos pela porta e encontramos dois cadetes de plantão ali. Percebi que eles conheciam Simas e confirmei isso quando ele os cumprimentou e em seguida fez um pedido. Ao que parecia teríamos uma carona até o lugar mais badalado da noite. O cassino Lótus!

Não sabia se devia ter devolvido o blazer dele, mas como não pediu de volta continuei vestida. Assim que abriu a porta, entrei no veículo e me manti silenciosa de cinto atado até que chegássemos ao destino.

Durante toda a viagem tentei cantarolar uma música na minha cabeça pra não acabar gritando com aquele cadete que nos fazia um favor. Estava pedindo paciência, porque a vontade de voar no pescoço dele e enfiar uma meia na boca dele pra ele se calar. Nem percebi quando chegamos. Simas já abria a porta e eu dava de frente para o edifício. Em seguida entrávamos direto por ele e me espantava a quantidade de pessoas naquele lugar. A grande maioria bem vestida, o que me fazia sentir falta das minhas roupas. Mas só porque vestiam grifes caríssimas, não significavam que estavam lindos. Só fiz fechar o blazer e amarrar na cintura para marcar a silhueta. Enquanto tentava colocar o cabelo todo para trás fomos apresentados ao gerente de apostas, James Kiwaka, depois de andar pelo tapete de veludo escarlate e ver os mais diferenciados tipos de jogos.

Simas conversava com ele e eu sentia uma certa insegurança por meio dos olhares e tom de voz. Era diferente de no hospital. Como se a autoridade dele não fizesse diferença em meio a tanto dinheiro. E eis que já me metia numa enrascada. Para acessar onde Zuzu estava devíamos parar um dinheiro alto ou então jogar para conseguir. Não gostei nem um pouco de como ele olhou por último para mim.

- Você sabe que eu não deveria jogar, não é mesmo? - sussurrei em seu ouvido, me segurando um pouco para prosseguir - Apenas até o necessário, ok? Vamos ver se você tem sorte...

Olhava de novo para o gerente de apostas e sorria de forma falsa, me adiantando:

- Aqui, 100 na Simple com os números 1, 5, 7, 8 e 9.

Eu deveria estar sendo a pior companhia, pois Simas pensou duas vezes antes de pegar uma taça de champanhe. Eu já tinha visto tanta coisa surreal que minha vontade era de fazer uma terapia para bloquear esse episódio da minha mente.

Eu era conduzida até uma máquina assim como o detetive, mas começava a sentir uma energia ruim no ar daquele lugar. Talvez fossem as pessoas, mas eu tentava não encarar muito. Só fazia o que me pediam e escutava que tinha ganhado. Aquilo não me trazia nenhuma alegria. Mas continuaria...

- Pode repetir, 100 na Simple com os números 1, 5, 7, 8 e 9.

Off: Não seria +200? Me confundi.

Se Natu tivesse aqui, talvez ele pudesse prever os números, mas duvidava muito que um cassino deste porto não tivesse seguranças com controle psíquico para evitar trapaças. Nem sei ao certo se faria mesmo se ele estivesse aqui.

Aquele ambiente já estava começando a me poluir e não estava gostando de nada disso. Simas perdia o dinheiro que ganhava e aos passos que estava dando, demoraria um século para reavê-lo. Teria que subir um pouco a aposta.

- Coloca 200 na Hanako com os números dele. Foram 10, 11, 34, 35, 40, 41, 42, 45, 46, 50, se não me engano..

Estava insegura, mas me mantinha firme. Com um pouco de sono, mas firme.

Off: Juro que nem vi o post.

Ouvia as palavras ditas pelo gerente e cerrava os olhos com cara de antipática. Olhava pro rapaz e suspirava tentando ficar acordada. Pedia para repetir a mesma aposta, no mesmo valor com os mesmos números da última jogada e ia comentar baixinho no ouvido de Simas:

- Se algum dia me contassem que uma seguidora de Arceus foi a um cassino com um detetive charmoso, só para conseguir dinheiro para ver o ministro do ouro, eu não saberia o que pensar.

É claro que estava brincando, mas também tinha receio de alguém nos identificar e pensar besteira. O quanto antes nos livrasse daquela agonia, melhor seria.

Ao que parecia, Simas tinha conseguido a quantia para ele entrar na alta classe dos apostadores, mas para mim ainda faltava um pouco. Pensei, fazendo as contas e se ganhasse mais dois jogos, conseguiria o dinheiro da entrada e recuperar o meu dinheiro.

Usar o dinheiro deles para converter em ingresso para o próprio cassino parecia tão errado e certo ao mesmo tempo que me perdia no pensamento e preferia esquecer.

- Faz duas apostas de 250 agora, por favor. Mesmo jogo e números...

Apertava a barra do vestido desejando que fosse mesmo a última jogada. Não aguentava mais ficar naquele ambiente que tanto desgostava.

Por sorte havíamos conseguido vencer os jogos, mas achei arriscado demais da parte de Simas. Duas vezes no jogo mais difícil? Parecia improvável de se conseguir, mas deu. O gerente de apostas estava fervendo e tentava nos fazer continuar, mas minha resposta estava pronta, só que não precisei dizer nada. Leão falava por nós dois. Então fomos guiados ao nível de apostas dos mais ricos da cidade.

O ambiente me causava mais náusea que o primeiro. Rezava para encontrar Zuzu ali, mas quando o identifiquei no meio de um jogo de poker com outros ricaços meus joelhos tremeram. Cheguei perto do detetive e apertei o braço dele, sussurrando:

- Ta bem... eu não sei se estou pronta, mas me diz que tem um plano que não seja perguntar se ele está envolvido.

Como eu pensava, o lugar dos "melhores" era bem pior que o anterior. A luxúria e a ganância dominavam aquelas pobres almas e eu já sabia que tinha alguma coisa naquela sala que me faria mal. Parecia um aviso e meus pés sabia disso, pois pesavam tanto a cada passo que quase me faziam desistir. Talvez fosse o medo que eu tanto negava sentir, se mostrando após ver Zuzu na mesa de apostas com mais dois homens, cheio de seguranças brutamontes ao redor e sorrindo para suas admiradoras como se nada tivesse ocorrido.

Eu não tinha resposta para Simas. Apesar de achar ele um pouco mais solto, talvez pelo fato de ter realmente me aberto com ele, pensava se ele não estava sentindo alguma pressão por estar de frente a uma missão tão arriscada. Não sei por qual motivo, mas naquele momento procurei alguma aliança, ou marca nos dedos dele.

E ele já estava na mesa perguntando se podia se juntar aos homens no jogo. O ar parecia mais pesado ali. A dificuldade alcançava os pulmões e eu fazia um esforço monumental de não olhar para Zuzu. Ficava imóvel atrás do detetive, como um dos seguranças, só que mais perto, menos que uma das tietes do ministro.

Não pude deixar de notar que, igual a Zuzu, os homens naquela mesa eram elegantes. Contudo, aquele mais jovem me chamava muita atenção só no olhar. Era como se ele tivesse o poder de encantar sem dizer uma só palavra. A pose rígida e bem comportada ajudavam no feitiço. Podia ser tudo um jogo de aparência, mas não conseguia tirar os olhos dele. Até tentava disfarçar, olhando para baixo, ou para Simas, mas ele era um colírio viciante.

"Como eu odeio cassinos!" - pensava, achando melhor procurar um banheiro para jogar uma água no rosto.

Só fiz respirar fundo e elevar a mão ao medalhão de meu pai junto ao peito, desejando que ninguém saísse ferido daquela mesa.

Off: Eu confio em você XD
Off²: Por que só os homens que chamam a atenção da Phoebe? sos chrisvemnimim

Me olhar no espelho nunca foi tão difícil. E pensar que eu estava tão feliz de voltar a Twister que cortei o cabelo eu mesma para comemorar a nova fase. Que fase!

Molhei não apenas o rosto, como também a nuca. Olhava discretamente para a porta do banheiro por cima do ombro na esperança de ter sido seguida pelo bonitão do outro lado da mesa e, mesmo tendo esse desejo, me aliviava por ele não ter largado o jogo. Em algum momento, uma mulher tão provocante quando Christian me chamou, perguntando se eu não queria passar algum batom. Mulheres geralmente só oferecem maquiagem quando se está precisando e - não nego - eu estava. Só que entendia que se aceitasse, não iria melhorar em nada meu humor ou a noite. Agradeci e fiz um coque, não gostando do resultado. O desfiz e molhei um pouco, jogando tudo para apenas um lado. Melhor. Tirei o casaco de Simas e voltei à mesa.

Talvez eu devesse ter ficado como uma das estátuas de terninho preto que faziam a segurança de Zuzu, mas não acreditava que passaria invisível. A cor dos meus sempre chamavam atenção, e com aquele vestido simples no meio de tantos mais adequados para a ocasião, era de se esperar atrair mais olhares que as bem vestidas. Acontece que mesmo sem encarar o ministro, sentia o olhar frio ultrapassando os limites somente pela amargura em sua voz. Eu estava comportada atrás de Simas com a mão sobre o ombro dele, exatamente como acharia que uma acompanhante faria.

E um silêncio se formou diante das observações de Zuzu. Eu estava até pensando no que dizer, porém, Leão fora impressionante. Contraí os lábios querendo sorrir diante do triunfo do detetive. Apenas dei espaço para ele levantar, pois se iria conversar com Zuzu, eu iria junto.

Off²: Mas ela não fez nada :V ainda