Capítulo 1 - A primeira prova!

Mantinha a respiração sobre o controle, mas não sabia por quanto tempo iria durar. Eu poderia ter todos os olhares do cassino me julgando por estar mal vestida para a ocasião, ou por ser nova demais para se estar ali, que não me faria tão mal quanto o do ministro cheio de rancor.

Como um bom anfitrião, ele nos guiou até uma sala reservada para que pudéssemos conversar, não sem a presença dos guarda-costas imensos e seus Pokémon poderosos. Ali, dois sofás nos convidavam a sentar para discutir. Não fazia ideia do que se passava na mente de Zuzu, mas não deixava aparentar minha insegurança ou preocupações. Andava ereta e com o olhar inexpressivo. Só gostaria mais de um plano que o improviso. Eu estava sendo apenas fantoche, ou até mesmo uma acompanhante, na cena. Contudo, ao nos permitir, sentamos num dos sofás de frente para o loiro e Simas começou a apresentação.

- Lars. - era mais do que ele precisava saber.

Mas o que vinha a seguir? Até mesmo eu estava curiosa no que o detetive tinha a dizer.

A persuasão do detetive não me deixava surpresa. Ele ne ao menos fazia esforço para fazer Zuzu se acalmar. Poucas palavras e bem objetivas eram super efetivas. Por mais que ainda sentisse a amargura na voz do ministro do ouro, era visível que Simas tinha-o sobre o controle. Eu só estava louca para responder àquelas provocações, mas me mantinha em silêncio até que Leão me passava a voz da vez.

- Eu gostaria ter vindo me desculpar antes, mas tive um dia intenso ontem, entende? - não sabia se a indireta tiraria do narciso um sorriso perverso ou o olhar de quem não dava a mínima, mas continuei - Foi errado desaparecer com seu Electabuzz, e um pouco estúpido, confesso. E sinto muito por isso e também por ter mentido. Não sou sua fã como as mulheres que geralmente o cercam, apesar de até achar que tem estilo. Já pensou em lançar uma marca de roupas ou joias? Não tenho dúvidas que faria sucesso.

Posso até ter exagerado na puxação de saco, mas se era o que Simas tinha em mente, então seguia sem saber onde isso tudo ia parar. E de verdade, achava o estilo dele único. Talvez até compraria um brinco dele.

Ficava chocada com a resposta e o jeito como que ele alternava as emoções. Era só fazer um elogio de leve que ele ia nas nuvens e demorava para voltar. Eu tinha até ganhado um vale para comprar alguma coisa da marca Zuzu. Até pensei em responder o motivo do vestido simples, mas não valia a pena, então sorri aceitando o presente. Ficava meio mal por ainda duvidar dele e aceitar aquilo, mas rejeitar poderia ser uma afronta. Quem sabe?

E então chegávamos numa área cheia de minas prontas para explodir se não andar com cuidado. Quis fechar os olhos e me esconder dentro do sofá quando Leão entregou numa bandeja nosso caso. E então veio a dedução daquilo tudo. Se ele também não sentisse que estava sendo acusado depois daquilo, nada mais faria. Simas parecia não ter a resposta certa agora. Suspirei e revirei os olhos. Eu estava cansada, estressada e cheia daquele lugar. A sala parecia cada vez mais ficar menor, me tirando o ar para respirar. Foi assim que tomei a vez e dizia com a voz branda.

- Zuzu, por favor, nós dois sabemos que eu fui uma chateação, mesmo que pequena, pra você. E o único contato que tive com alguém da cidade em meses, fora aquele gladiador que foi parar no hospital, foi o senhor. Me desculpe se eu estiver errada, mas seria muito fácil me machucar só pra me dar uma lição do seu poder, não é mesmo? - estava sendo rude? Talvez até petulante demais. Eu estava tremendo de nervoso por dentro, mas alguma coisa me dizia que ele não era o culpado. Eu só queria que essa coisa estivesse errada, pois as pistas que tínhamos eram pouquíssimas - Se o senhor não puder nos ajudar a solucionar o caso, não sei quem mais pode.

Será que foi o bastante para fazer o ego dele se sentir maior que todos na sala como se realmente dependêssemos dele? Eu só queria que ele soltasse uma informação ou cometesse qualquer gafe que fosse. Ainda pensava se os homens que mandou atrás de mim não fizeram mais do que me procurar.

Eu não sabia mais como reagir. Primeiro a declaração de que Zuzu faria "melhor" de como aconteceu sem deixar rastro ou pistas, revelando que realmente não tinha intenção em fazer algum mal a mim. Depois negou ajuda como se não fosse importante resolver a situação da igreja. Nós queríamos o colo dele, apenas alguma informação que ajudasse. Qualquer coisa. Mas ao que parecia eu não era a mais indicada para pedir favores, visto meu histórico de problemas com o ministro. Mas o que veio a seguir me chocou.

Minha cara quando Simas revelou que já tinha trabalhado com Zuzu antes era de total surpresa, me deixando um pouco desnorteada. Eu já estava guardando as palavras para Simas quando ele decidisse ir embora.

Apenas cruzei os braços e me afundei no sofá de pernas cruzadas com um bico do tamanho do prédio de chateação. Me sentia enganada, como uma criança. Não sabia lidar bem com mentiras e segredos.

Só agora eu olhava direito pro tal de Bart e começava a reparar nele. Um segurança que também era secretário?

Minhas preocupações, ao invés de sumir, só aumentavam. Se não foi Zuzu, quem mais? A doida que se parecia comigo? Ela era uma carta tão distinta desse baralho confuso de possíveis criminosos. Não posso deixar de pensar no gladiador. É impossível não duvidar de ninguém. Se ao menos eu tivesse perguntado o nome dele...

- o nome do gladiador... - sussurrei olhando para baixo, elevando devagar os olhos para o ministro - O nome do gladiador que batalhava contigo quando apareci. Você lembra?

Olhei também para Bart. 42 era a pegada de um homem. Não precisava ter um porte de Blastoise para ter esse número de calçado. Desta vez eu queria estar errada. Quais as chances do Monferno não ter sobrevivido a cirurgia e ele estar me culpando? E ter tirado a vida de jovens Pokémon, inclusive do Xatu?

Eu já devia saber que ele não se preocupava com o nome dos gladiadores, ainda mais os que perdiam, mas Bart foi solícito. Ele nos deu uma luz de onde procurar e isso ajudaria demais. Só que pelo visto, Zuzu tinha que recuperar a beleza com uma boa noite de sono. Nem sei se conseguiria dormir direito e esperar por tanto. Contudo, eram as condições dele para ajudar, não havia nada mais que eu podia fazer.

- Certo. Nós voltaremos então ao meio-dia.

Se tudo estivesse acertado, já começaria a levar, mas aguardaria por Simas, para não fazer besteira. Agradeceria a Zuzu e também a Bart caso saíssemos da sala e quando estivesse apenas com Simas, sussurraria para ele:

- Ele falou desse tal de Vito para nós irmos falar com ele ou o quê?

Era uma das questões que ficou entreaberta, mas não perguntaria na presença de Zuzu.

Sair daquele cassino foi a melhor sensação da noite. Era quase comparado a se aliviar depois de um dia inteiro sem ir no banheiro. Mas a sensação era momentânea. A investigação continuaria mais tarde. Era o tempo de descansar. Pelo menos tentar. Simas chamou um colega que nos levou à igreja, me dando o conselho de não sair de perto de Ester. Como poderia? A madre devia estar tão preocupada e sobrecarregada que não queria lhe dar mais trabalho. Contudo, ele tinha razão. Ela devia ser mesmo bem forte e capaz de proteger o templo.

Antes de me despedir de Simas, pedi para que não me esquecesse quando fosse voltar ao prédio de Zuzu. Encontrava com a madre e pedia desculpas por ter demorado tanto, sem muitas explicações. Ela também não me exigiu nada, apenas rezou comigo e então me conduziu ao quarto.

Tirei o vestido e me joguei direto na cama e suspirei relaxando o corpo, sendo envolvida pela cama macia. E eu achando que iria me tornar uma mulher mais forte por ter cortado o cabelo. Funcionou com Korra e Sakura dos animes antigos. Quer dizer... não era a vida real, mas achei que me ajudaria a suportar a vida adultas e tudo mais. Como fui iludida! Eu só queria chorar no travesseiro até desmaiar ou desidratar.

Eu estava tão exausta que cada segundo parecia uma eternidade, mas os olhos não conseguiam se fechar. Era muita coisa ainda pra engolir. Como eu queria meu pai ou minha mãe aqui comigo. Olhei para o canto onde tinha jogado a roupa e então a vi. A esfera vermelhinha com a companheira de batismo nela. Durante todo o pesadelo no cassino eu esqueci de liberá-la, mas talvez tivesse sido melhor desse jeito. Só que parecia um bom momento agora.

- Pode dormir comigo hoje, Angel? - disse a liberando perto de mim e dando um espaço na cama para ela subir.

Foi estranho pensar que com ela eu estaria mais segura mesmo sem nunca ter tido uma conversa franca com ela. Mas foi assim que me senti. Eu precisei dela e ela estava ali.


Então sentia os olhos arderem e a luz entrar no quarto. Procurei o lençol para cobrir a cabeça, mas não achei. Era Angel abrindo as cortinas. Já era hora de levantar? Suspirava pesado querendo ficar o dia todo deitada. Olhei a hora e me assustei por ter dormido até mais tarde. Eu ainda estava de lingerie e lembrei que não tinha tomado banho na noite anterior. Peguei uma toalha e fui direto para o banheiro me limpar o quanto podia. Já tinha perdido o café mesmo... Assim que terminasse, colocaria uma bermuda jeans e uma camiseta branca, com um tênis preto cano longo que tinha. Arrumaria o cabelo todo para trás e o prenderia com um arco para que não se despenteasse. Por fim, iria ver com Angel se Ester precisava de ajuda em alguma coisa. Tentaria me ocupar com algum afazer enquanto Simas não chegasse.

Off: Seria legal ir pra guerra e ajudar como enfermeira dos dois lados. Converteria o mundo todo antes da morte -q
Ref: Você Acredita?

Ajudar Ester pela manhã ajudou a me manter ocupada e não pensar nas preocupações, mas não conseguia manter o tempo toda a mente focada. Angel permanecia ali comigo, ajudando nos afazeres, junto de Marowak e outros seguidores. Só achei o companheiro da madre um pouco tenso, mas quem não estava? O dia até era mais quente que o anterior, passando a segurança de dias melhores. Arceus queira que sim.

Depois que a limpeza do templo foi feita, tive que aguardar o almoço. Meu estômago reclamava alto e ouvia o de Angel também, mas ela era comportada demais para reclamar. Fiquei por um tempo admirando a postura dela pensando se aquilo era normal dos Pokémon que nasciam nos templos ou se alguém os treinava. Talvez ela fosse tranquila por natureza mesmo.

Após o almoço pensei em conversar um pouco com a madre. Eu não estava sendo uma seguidora modelo, então gostaria de aproveitar a biblioteca dali, só precisava de umas indicações. Como ninguém comentava no assunto da noite anterior, nada a respeito invadia minha cabeça. Ao menos foi assim até o detetive Sima Leão chegar e estragar meus planos com leitura arceusiana. Pedi licença aos colegas que almoçaram comigo e caminhei com o detetive ao lado de Angel até o jardim para que pudéssemos conversar sossegados. E assim ele me contou algumas coisas importantes e que ainda teríamos que esperar por mais informações. Isso nos daria tempo para ir a um lugar.

- Simas, quero ir no hospital de novo. Quero saber o real estado com que o Monferno dele saiu da sala de cirurgia. Agora que temos um nome, deve ser um pouco mais fácil en... Espera. Você disse que ele fez uma troca ontem? Isso quer dizer que ele ainda pode estar na cidade. O que quer dizer que ele estava em Twister na noite do atentado.

Fiquei com medo do que estava sugerindo. Ao invés de só cooperar, eu estava guiando a investigação com informações que surgiam aos poucos na minha mente.

- E sinceramente? Eu achei que Zuzu fosse nos obrigar a ficar puxando o saco dele a noite toda, só de castigo. Desculpe a expressão. - olhei para os lados para ter certeza de que não tinham ouvido eu dizer saco. - Sabe, se ele realmente estiver envolvido eu vou me sentir péssima. Fizemos juntos uma oração onde ele entregou à Arceus o estado de saúde do Pokémon. Ele estava emocionalmente abalado com tudo que estava acontecendo. Eu podia ter feito mais... ou ter feito diferente, sabe?

De novo aquela onda de tristeza me invadia e minha coragem era prejudicada. Os olhos começavam a lacrimejar e eu fazia força para não chorar. Esfregava com as costas das mãos os olhos e interrompia o que quer que tentasse sair dali.

Off: Sabia que eu queria mandar a Phoebe pra Piesok pra cuidar dos feridos... mas acho que ela ta de boas aqui cuidando da vida dela -q

- Eu não estou afirmando, mas lembra que a enfermeira disse que ele tinha saído cedo? Pelo que sei, existe um tempo pós cirúrgico que precisa ser respeitado. Se eu fosse habilitada, teria feito eu mesma a cirurgia, mas adiei meus planos e não vou poder estudar até isso estar resolvido. E você não me parece ser o tipo de policial que deixa o bandido sair impune. E quanto a incriminar alguém de dentro, você precisa concordar que isso é no mínimo ridículo e nem preciso listar os motivos, não é?

Meu coração palpitava rápido demais. Falei aquilo tudo quase cuspindo emoção. Já estava tomando as dores da ordem, mas duvidar deles era o mesmo que se duvidasse de meu pai. Odiava me sentir frágil. Eu estava sendo rude demais e Simas não merecia isso. Talvez o encanto por ele ajudasse a lidar de forma divertida, mas depois de ver a aliança parece que tomei repulsa dele. Mas ao ouvir o convite para o sorvete me pareceu como se fosse um encontro. Estava na dúvida. Só que ele disse que faria o que eu quisesse e eu realmente tinha ficado curiosa sobre a marca de roupas e joias de Zuzu. Sendo assim, aceitava o convite e levantava também, indo primeiro avisar ao pessoal que estava comigo que sairia e gostaria que dessem um recado por mim.

- Podem avisar a Ester que vou sair com o detetive Leão e volto mais tarde? Obrigada.

Era o mínimo a se fazer. Eu realmente não queria deixar ela ainda mais preocupada.

Off: Enfermeiras são muito bem respeitadas na guerra. Elas cuidam de todos igual u-u
Off²: Como vou explicar aquilo tudo de Poké na estação? Deixo pra pegar alguns depois?

Tendo deixado o recado com meus irmãos em Arceus - tinha que me acostumar a vê-los assim - sai do templo com Simas, tendo Angel ao meu lado. Eles estavam quase sendo bloqueios para qualquer um que tentar se aproximar ser logo impedido.

Já nas ruas da cidade, me espantava com o número de pessoas circulando. Uns tentavam com certeza fazer o dia valer pela noite de trabalho que estavam impossibilitados de agir. Outros apenas curtiam a tarde tomando sorvete. Gostaria que fosse o meu caso. Pelo menos Simas comprou uma para mim.

- Eu preferia ir com você, mas agora que comentou, minha mãe me mandou alguma coisa pelo batismo que parece ter sido do meu pai. Tenho que ir buscar... Nessa confusão quase acabei esquecendo. Podemos nos encontrar na loja da marca de Zuzu. Vou procurar na internet e te mando o endereço.

Não fazia questão de ficar colada com ele agora. O estresse estava passando aos poucos e confiava na figura dele. Mas também, naquela cidade, depois de Simas, somente em Ester. E tinha Angel. Ela recusou o sorvete e encarava o homem sem expressão alegre. Será que ela estava sentindo alguma coisa?

Antes de me separar do policial, olhei mais uma vez para as mãos dele e dizia:

- Hm... a sua mulher brigou por ter chegado tarde ontem? Qualquer coisa a gente pode comprar uma joia pra ela na loja. - fiz a fingida, tendo outras intenções, mas me mostrando claramente preocupada com o suposto relacionamento do detetive.


Phoebe estava mesmo imersa naquela investigação e se esquecia o que a madre Valvierk já lhe dissera sobre intervir. Eu sabia que ela não deveria estar saindo do templo, mas as vezes Arceus agia de maneira que não conseguíamos entender. Só que ainda achava que ela deveria estar meditando e orando na igreja ao invés de caçar um assassino. Ele merecia sim conhecer a justiça, só que não por ela.

Contudo, a segui para fora e caminhei continuamente ao seu lado até que pararam para comer. O homem tentou me empurrar a mesma coisa que ela comia. Neguei e sentei ouvindo a conversa dos dois. Aquilo poderia demorar.

Me sentia boba pela pergunta, mas por dentro era só festa com a descoberta. Talvez fosse a revelação do dia, mas quem sabe? Arceus sempre nos surpreendia. O sorriso bobo - e lindo - dele me fez retribuir com um tímido e envergonhado, me fazendo até fitar o chão ao abrir o riso. Tive de colocar as madeixas que caiam para frente atrás da orelha. Ao se despedir, ele disse algumas palavras para Angel, que permaneceu sentada e só assentiu uma vez depois de uns segundos encarando-o.

Assim que ele se foi, eu continuei olhando por um tempinho e ao me virar para a Absol ela me olhava como se me interrogasse.

- Que foi? Ele é gato! - protestei em defesa. - Vamos logo ver o que minha mãe mandou. Ela disse que meu pai pediu para me entregar só quando eu fosse batizada, então deve ser importante.

Disse isso com a mão no colar dele. Era impossível pensar nele e não tocar naquilo. Era minha melhor lembrança do meu herói. Aquilo tinha tanto poder que eu nunca tirava.


Encarava a conversa sem entender intenções. Pareceu um monte de palavras fúteis jogadas ao vento. Por fim, ele se despedia me dizendo que confiava a segurança de Phoebe a mim. Não sabia como responder que ficaria ao lado dela e ele não precisava pedir. Arceus me designou a ser companheira dela e isso ia além do pensamento daquele cadete. Porém, só fiz uma confirmação com a cabeça para ele nos deixar logo.

Quando ele se virou, achei que também íamos andando, mas Phoebe ficou parada olhando ele sair. Semi-cerrava os olhos e erguia uma sobrancelha ao ver que ela prestava atenção em mim. Será que eu teria que tirar ela de perto daquele homem toda vez que se aproximassem? Ele estava sendo má influência, mesmo aparentando ser o mocinho da história.

Então ela começamos a andar na direção da estação de trem, onde sacaria a encomenda de sua mãe.

A passos nada apressados, caminhava ao lado de Angel em rumo a estação de trem. Apreciava o dia lindo e olhava para os pelos alvos da Absol, brilhando em reflexo do sol. Ela era tão linda, mesmo com o pelo desalinhado e rebelde. O vento que soprava forte fazia parecer que ela estava num filme. Será que ela sabia disso? Tinha que me lembrar de comprar uma escova só para ela.

Depois de algum tempo finalmente chegamos. Nada anormal acontecia. Me sentia estranha, até. Mas era grata. Muito! Fui para a fila de retirada e aguardei até ser atendida por um rapaz sonolento, que mesmo assim me atendeu numa boa e voltou com uma caixa grande, me deixando brincar com o plástico bolha enquanto conferia algumas informações e me oferecia um papel para assinar, junto com o recibo de retirada.

Meus olhos brilharam e refletiram o que via na caixa. Quase que chorei e fui ao chão. Mesmo carregando a culpa por inúmeras mortes eu era presenteada com uma vida? Quer dizer, quatro vidas e uma em formação? Parecia outro teste.

Assinei o papel que o atendente me pedia, ainda desnorteada. Era tão difícil acreditar. Agradeci e saia devagar.

- Vamos procurar um lugar pra sentar, Angel.

Não aguentei andar muito mais. Não por cansaço, mas por curiosidade. Acabei me sentando num cantinho nas enormes escadas da estação e olhando melhor a encomenda endereçada a mim. Quando ela disse que tinha alguma coisa do meu pai, achei que era algo pequeno que eu nunca tivesse dado conta, mas aquilo? Eu realmente nunca tinha visto aquilo em casa. Minha mãe deve ter guardado muito bem as ordens dele. Eu estava tão excitada por isso que não conseguia me conter. Só que tinha uma pontada de receio nisso tudo. Mas... Do que eu tinha medo? Era um presente e um recado do meu pai. Era quase como se ele estivesse vivo e me acompanhando a cada passo. Ou talvez ele tivesse sido avisado que isso iria acontecer. Depois das últimas semanas, nada mais era impossível para mim.

Por fim, observei cada uma das esferas, todas num escarlate tão forte quanto rubi, diferente da bicolor da minha companheira. Era difícil ver por detrás delas, mas não tanto. Um sorriso ia abrindo a cada um que observava. E então vi a carta. Meu coração já não era o mesmo. Senti como se fosse chorar e os segundos estavam na contagem regressiva, pronto para chegar ao zero.


Acabei de ler e fiquei fitando o papel por mais alguns minutos até que a Absol pousou a pata sobre meu ombro, como se estivesse preocupada, mas na verdade ela me alertava sobre o celular que tocava na bolsa.

- Mãe? Sim, eu recebi o pacote... Ele não para de me surpreender nunca, não é mesmo? - eu derramava tantas lágrimas que parecia confundir Angel sobre o que eu sentia - Mas e esse ovo? Ele não disse nada sobre isso na carta.

Ela então me respondia:

"Deixaram esse ovo na porta daqui de casa tem algumas semanas e achei que gostaria cria-lo desde bebê. É uma responsabilidade enorme, porque ele vai te ver como mãe. Pense como um presente meu também. Parabéns novamente, querida. Tenha cuidado, por favor. Te amo! E tenha certeza que ele também amava."

Assentia. Sabia que ela não podia ver, mas não conseguia dizer mais nada, se não te amo e obrigada. Finalizei a chamada e limpava o rosto com as costas das mãos. Não sabia pensar em outra coisa. Era tão bom me sentir querida pela pessoa que eu mais amei na vida. Mais uma lembrança. Eu era tão grata que fazia um agradecimento também a Arceus naquele instante. Pelo momento e pelo presente.

Olhei para cima e respirei fundo, fechando os olhos, recebendo um pouco daquela energia da tarde quente. Guardava logo meus novos pertences na bolsa e, com cuidado, repousava aquele ovo num cantinho mais espaçoso. Então procurava na internet o local da loja de Zuzu e mandava o endereço para o número de Simas por mensagem. Era para lá que iríamos agora. Tínhamos um encontro ainda hoje, não é mesmo?


Será que Phoebe sabia o quão arriscado era ficar andando pela cidade se expondo ao assassino que procurava por ela? Isso não era nada responsável! Ela com certeza deveria estar meditando em segurança no templo. Nós duas, aliás! Ao invés disso, estamos passeando...

O caminho até a estação da cidade era longo, mas mesmo que fosse perto minha atenção teria que ser a mesma. Estava alerta a qualquer sinal de perigo. Tão que quase não percebi que ela me olhava de uma forma estranha, porém, resolvi ignorar.

Graças a Arceus chegamos bem. Só tivemos que enfrentar uma fila eterna até chegar no guichê. Já estava cansada de levantar, andar dois passos e sentar. Devo ter feito isso umas trinta vezes. Uma vez que ela pegou o que lhe pertencia pediu para que procurássemos um canto para sentar. Olhei ao redor procurando bancos vazios, mas ela já saia da estação e parava nas escadas, sentando num canto onde passavam com pouca frequência. Fiquei ao lado e percebi que ela demoraria um pouco, então deitei a espera daquilo. Esperei tanto que acordei no susto. Eu tinha cochilado ou piscado de forma pesada? Seja como for, tinha alguma coisa tocando na bolsa dela e Phoebe não se tocava. A cutuquei para ver se ela também acordava, pois só podia estar dormindo. Ela me olhou confusa e percebeu que era um aparelho. Essa ligação deve ter sido importante, pois ela chorava o que não chorou lendo. Sentia empatia pela humana e a acarinhava com a cabeça, recebendo atenção e fazendo ela se arrumar e levantar.

Acho que encontraríamos o policial de novo. Olhei para os lados antes de sair para me certificar se era seguro, inclusive para dentro da estação e para os telhados dos prédios. Não estava sendo paranoica, apenas fazendo minha parte como segurança.

Off: Desculpe a demora, estava pesquisando sobre os outros padres. Acabei descobrindo que tem uma cidade sem padre... Talvez Phoebe seja chamada pro cargo, quem sabe? rs

Meus olhos ainda ardiam das lágrimas. Eu tentava manter o emocional tranquilo, mas estava difícil. Eu realmente precisava meditar um pouco. Angel era tão calma e serena que me perguntava se ela passou por algum treinamento. Se sim, eu precisava descobrir qual.

Deixando a estação, fomos ao shopping, já que a marca do ministro ficava numa loja de lá. O que me incomodava era o fato de Simas não responder. A caminha foi tranquila, menos longa que a última. Era a primeira vez que eu entrava no centro de compras, mas já via a possibilidade de me perder. Com sorte, e um pouco de persistência, encontrei a bendita em tons bem chamativos. Foi vendo a vitrine que recebi uma mensagem do detetive que me acompanhava nos últimos tempos.

- Ele podia ser um pouquinho mais específico as vezes. - reclamava comigo mesma ao terminar de ler a mensagem.

Olhei novamente para a loja e depois ao redor. Não tinha nada em especial que eu procurasse por ali. Talvez comprasse um vestido para minha mãe, mas algo me dizia que aquele vale era no máximo uns 50% do produto mais barato. A verdade é que a mensagem dele me fez ficar preocupada e dar um passo para trás.

Decidi então dar meia volta e ir para o ponto do ônibus. Pegaria o primeiro que passasse na igreja. Angel estava ao meu lado direto, mas não sabia se o motorista do ônibus encrencaria com ela entrando também. Rezava para que não.

Tentei não me angustiar demais durante a viagem. Eu tentava ignorar, mas muitas pessoas olhavam torto para Angel quando ela andava ao meu lado, mesmo estando comportada. Não pareciam casos isolados... Mas como eu já tinha problemas demais, apenas abstraia e mantinha a Pokémon alva junto a mim. Demorou um pouco a transição do shopping até a igreja, mas ver aquela arquitetura se erguendo a distância era incrível. Melhor ainda foi, ao soltar do veículo, adentrar no templo sagrado. Estranhamente me sentia em casa.

Já era de tarde e parecia que todas as tarefas haviam sido feitas. Fechei os olhos e respirei fundo. Fazia muito isso ultimamente. Aos passos pelo salão, onde algumas irmãs preparavam-no para a próxima missa, pude ver e reconhecer o sortudo que acompanhava uma menina loira. Dei um breve aceno e fui respondida. Ele conseguia tirar de um sorriso que logo se desfez lembrando do Xatu assassinado e a empatia, assemelhando com o primeiro companheiro desde que me apresentei.

Quem me tirava dos pensamentos tristes era a madre com seu Marowak, que com sua compaixão, me enchia de um amor ágape.

- Eu sei. Me desculpe por fazer você se preocupar.

Valvierk as vezes agia como uma mãe. Talvez fosse mesmo a função dela, como dirigente de toda a igreja. Mesmo assim não gostava de causar preocupação nos outros. Ser responsável era algo que ainda teria que trabalhar.

- Sabe... Tem tanta coisa que eu não entendo... Eu sei que nunca vou entender de tudo, mas mesmo assim é estranho não saber nem ao menos em quem confiar. O único lugar onde me sinto verdadeiramente segura é aqui. No templo. Parece que posso sentir a presença de Arceus sempre que entro na igreja. - sorri me sentindo meio boba com aquilo, mas ao olhar para Angel, ela parecia orgulhosa do que eu tinha dito e se aproximava, esperando um abraço. - Ah! Quase me esqueci. Minha mãe mandou esse ovo para mim. Será que poderia abençoá-lo?

Devagar eu tirei o pequeno da bolsa e mostrei para Ester. Ele era tão frágil. Me dava algo no estômago só de segurar. Talvez fosse ainda a lembrança do terrível episódio que me dava ânsia as vezes. Mas torcia para que aprendesse muito com aquela pequena vida.