[RPG OFF] Desventuras em Série

Infelizmente, Scyther não era afetada pela paralisia, mas o Pokémon psíquico surpreendeu Melissa, que assistia o Ralts montando na louva-deus. Não sabia se era algo inteligente ou desesperado, mas arriscado de qualquer forma. Agora Scyther estava sem sua proteção, mas perigosamente perto de Castiel. Devia agir rápido e, bom, estava desesperada mesmo.

-Cass, repita o Teleport se necessário e use Charge Beam, tente acabar com a batalha agora!

Melissa comandava, esperando que desse certo. Scyther era rápida, mas talvez a paralisia ajudasse novamente. Não sabia quanto tempo seu Pokémon aguentaria e não queria mais prolongar aquela batalha já incrivelmente longa.

A batalha finalmente caminhava para o final, com o desfecho inesperado pela loira que mirava, preocupada e surpresa, a explosão que ocorria com a colisão do Pursuit e Charge Beam. Os dois Pokémon caiam exaustos, restando apenas o Venonat muito fraco e ferido para dizer quem havia saído vencedor do combate.

A Criadora se aproximou do Ralts, pegando o mesmo no colo e sorrindo afável para ele. Apesar da derrota, estava orgulhosa dele e de todos os outros. Sabia que haviam se esforçado ao máximo. Agradeceu baixinho o psíquico, antes de retorná-lo a esfera e mirar mais uma vez o treinador.

-Você também, a batalha foi bem difícil. – Respondeu com um pequeno sorriso. – Acho melhor irmos ao Centro Pokémon.

Comentou, aguardando o mesmo confirmar ou rejeitar, antes de seguir até a enfermeira Joy.

Scyther apresentava um comportamento bem mais amoroso com Pablo, fazendo Melissa dar um pequeno sorriso. O moreno era um bom treinador e, ao que tudo indicava, tratava bem os monstrinhos de bolso.

O caminho até o Centro Pokémon foi tranquilo, a conversa fluindo animada. Melissa elogiava os Pokémon de Pablo, se animando ao relembrar da batalha, pelo menos até o rapaz relembrar o encontro. O assunto deixou a loira um pouco desconfortável, mexendo no cabelo enquanto refletia o que responder.

Pablo não era um cara ruim, era agradável, mas ainda se pegava pensando no homem mascarado que encontrou nas ruínas. Como dizer “Desculpe, mas ainda não superei o cara de mascara desmemoriado que encontrei quando atravessei um portal e parei numa dimensão macabra. Não sei se o que sinto por ele é amor, paixão passageira (afinal de contas, ele é mais lindo que um sonho) ou um grande sentimento de culpa por não ter conseguido salvar ele no final. E adiciona muito medo da personalidade B dele, que é um psicopata que quase conseguiu me matar... Mas acho que é culpa, visto que ele era dolorosamente sozinho, daí apareci, o fiz ter esperança a ponto de tentar me seguir pra fora de sei-lá-onde, pra depois ele se sentir culpado depois do surto passar e me empurrar pra saída enquanto fica pra trás. Ultima coisa que vi foi ele caindo e não sei se ele está vivo ou morto, o que piora a situação. É difícil esquecer, mas nem sei se ele não era um fantasma pra começo de conversa... Parando pra pensar nisso, então meu primeiro beijo foi com um fantasma?... Enfim, acho que ainda estou traumatizada, por isso não posso sair com você. Amigos?”? Ele iria achar que ela era louca, na melhor das hipóteses...

-Desculpe, mas ainda estou tentando superar um encontro ruim... – Não sabia se “encontro” era a palavra certa, mas era a melhor do que explicar a situação sobrenatural que passou.

Melissa agradecia a noite, rezando para que a falta de luz ocultasse a vermelhidão que surgia perante o elogio de Pablo. Virou o rosto para longe, sentindo-se constrangida. Os fios amarelos eram enrolados entre seus dedos, enquanto pensava na proposta do moreno.

-Acho que está tudo bem sair com um amigo...

Murmurou como resposta, sua atenção se desviando de Pablo e indo para a enfermeira. Como a mulher conseguia cuidar do local com apenas um Pokémon, Melissa não sabia, mas esperava algum dia ser tão boa quanto as várias enfermeiras espalhadas pelo mundo.

-Boa noite. É muito tarde para dar uma olhada neles?

Sorriu educada, esticando as esferas e as entregando para a mais velha e pegando a chave do quarto. Mirou Pablo mandar mensagem, provavelmente para sua mãe, o que fez a loira pensar em seus pais em Johto. Talvez devesse enviar uma mensagem, sinalizando que estava bem... Quando estivesse saindo da cidade, claro.

Melissa entregava as esferas para a enfermeira, agradecendo a mulher de cabelo rosado mais uma vez antes de mirar Pablo.

-Parece uma boa ideia! Não vou ao cinema desde que sai em viagem!

A loira estava contente com a ideia de ver um filme, acertando o horário com o moreno e se despedindo do mesmo. A loira mirou o relógio, vendo que tinha duas horas para se arrumar. Avisou Joy que iria subir para seu quarto, correndo para o mesmo tomar um banho. Não pretendia demorar e, desde que sua quantidade de roupas reduziu, escolher com o que sair não era mais demorado. A jornada, e Utau, ensinaram a não demorar mais na frente de um espelho.

A noite seguiu agradável para Melissa, que aproveitava o filme e o café com o moreno. A conversa fluía animada, com a loira aprendendo mais sobre o rapaz e ficando surpresa ao descobrir que ele já tinha duas insígnias, começando a cogitar experimentar as batalhas de ginásio. A Coordenadora não revelou muito de sua jornada, omitindo as partes que achava desnecessárias, o que se resumia a praticamente tudo envolvendo criminosos e dimensões paralelas.

Não pode segurar uma leve risadinha com o comentário de Pablo, lembrando-se de sua própria mãe. Imaginou como seus pais estavam e começou a realmente pensar em mandar uma carta para eles, mas nada a preparou para reencontrar Dakota.

Nunca pensou que veria a criminosa novamente, muito menos que seria apresentada a ela pelo filho da mesma. Os olhos rosados se arregalaram levemente, lembrando-se de todo o mal que passou por culpa da mais velha. O pequeno Sentret que não teve chance de se defender, ficar cara a cara com um Pokémon que teria a matado se não fosse Margareth, o terror de não saber como Utau estava. Foi difícil manter as emoções guardadas para si e não correr para longe.

-Não é pra tanto... Só dei sorte na batalha. – Respondeu o comentário de Pablo, mas nunca tirando os olhos de Dakota. – É um prazer conhecê-la.

Forçou um pequeno sorriso educado, sua cabeça ainda tentando assimilar que Dakota era mãe de Pablo, enquanto fazia esforço para não parecer estranha de alguma forma. Será que ele sabia quais eram os “negócios” que Dianna tinha? Ou de quantas pessoas ela deve ter aterrorizado? Ou de onde realmente o Scyther veio?

Ver Dakota sorrindo fez o estomago de Melissa se revirar. Toda aquela situação era um pesadelo para a Criadora, que queria sair dali desesperadamente. Atrair a atenção do filho de uma criminosa, mãe coruja, que já havia levado um Tackle de Utau na primeira vez que se encontraram, não podia ser nada saudável.

Melissa sentiu medo ao ouvir seu nome ser pronunciado por Dianna, imaginando o que ela descobriria. Segurava o embrulho, mas por mais que tentasse, não conseguia se concentrar nele, sua mente estava ocupada imaginando o que a mais velha faria agora que sabia seu nome e atual localização. Todas as opções imaginadas terminavam de forma desagradável para ela.

-Muito obrigada. – Novamente forçou o sorriso, agradecendo pelo presente e rezando que não houvesse algum explosivo ou localizador. – Não se preocupe, acabei te distraindo da hora também.

A loira optou por não comentar de ter o distraído do celular, preferia não testar o nível de mãe coruja de Dakota. Preferia que seu antigo “relacionamento” não tivesse sido mencionado, assim não teria pesadelos com o que parecia ser uma promessa da criminosa, dificultando a tarefa de se despedir sem parecer que queria sair desesperadamente de lá e se trancar no quarto.

Assim que carro deu partida, finalmente a jovem fez o que queria fazer: correr para o quarto que ocupava no Centro Pokémon e tentar se acalmar. Com algum medo, desembrulhou o presente, esperando que nada explodisse.

Melissa queria desesperadamente estar acompanhada de alguém mais forte e experiente, que pudesse aconselhar ela no momento. Pensou em Margareth, imaginando se ela apareceria do nada mais uma vez e ajudaria, mas logo desconsiderou a possibilidade. Sua sorte não era tão grande assim. Lembrou de Victória, mas não podia arrastar ela em um problema quando ela mesma ainda se recuperava.

Saber da verdadeira identidade da Dakota era perigoso, não sabia o que fazer com a informação e temia fazer algo com ela. Por outro lado, sabia que Dakota aproveitaria cada informação que tinha dela. O pior é que foi a própria Coordenadora que as deu, contando de bom grado para o filho dela.

Os presentes a surpreenderam um pouco, trazendo alivio que nada explodia. Olhou o bilhete de Pablo, mordendo o lábio. Era ironia demais aquela mensagem, levando em consideração a situação. Mandou uma mensagem, agradecendo pelos presentes e pela gentileza, guardando os itens em sua bolsa e fechando a janela, antes que sua mente a levasse a pensar em uma Dakota vampira se esgueirando na noite para matá-la. Apenas o panfleto ficava do lado de fora.

Respirou fundo, liberando Utau, não esperando para sentar do lado de Utau e abraçar a Pokémon, atraindo um olhar confuso da mesma.

-Acho que achei problemas de novo...

Utau não perguntou, apenas deixou Melissa a abraçar pelo tempo que fosse necessário. Sabia que a loira revelaria os detalhes mais cedo ou mais tarde. A Coordenadora mirou o panfleto mais uma vez, talvez sair de Cerulean mais cedo que o planejado fosse bom, mas no momento, iria contar com a segurança do Centro Pokémon. Já encontrou Dakota de noite uma vez, não queria uma segunda rodada.

Melissa conseguia se acalmar graças a presença da sua inicial, respirando mais tranquilamente, mas ainda não conseguia relaxar totalmente. A Glaceon se desfez do abraço, puxando a loira para a cama, tentando fazer a mesma descansar. A explicação poderia ficar para o dia seguinte.

A loira tentou dormir, mas por mais que tentasse, o sono não vinha. A Pokémon neve fresca se acomodava ao lado de sua treinadora, deixando a mesma abraçá-la. O frio familiar servia como um calmante para a jovem, que finalmente adormeceu.

A criadora acordou cedo, as poucas horas de sono tornando seus movimentos lentos e corpo pesado, mas não conseguia descansar, não naquela cidade. Ergueu-se e tomou um banho, afastando o sono e se vestindo. Sairia de Cerulean e partiria para Mulberry City depois do café da manhã. Utau ao seu lado era reconfortante, ajudando a ter certeza de que havia pego tudo.

Melissa não sabia como conseguia se erguer da cama depois da noite que teve, mas apostaria que o principal motivo é uma mulher de dupla identidade que não queria encontrar novamente pelo resto dos seus dias. Pelo menos, o banho serviu para despertá-la um pouco mais...

A loira sorria e agradecia Joy pelo café e por indicar o caminho que deveria seguir. Seria uma viagem longa, mas se isso significasse distância de Dakota, então valeria a pena. O prazo um pouco curto também era um ótimo motivo para sair imediatamente de Cerulean.

A Criadora novamente agradeceu e se despediu de Joy, saindo do Centro Pokémon. Pensava nas possibilidades de encontrar Dianna, mas tentava se acalmar. Não tinha tantos Pokémon raros assim... Quer dizer, tinha Utau, um Pokémon de Unova, um Pokémon de Hoenn que imaginava ser raro e... Um Vulpix com Psychic que Pablo podia ter revelado para ela!

Perante a possibilidade, Melissa correu até a praça onde encontrou o rapaz pela primeira vez, esperando vê-lo jogando futebol. Utau a mirou confusa, recebendo um sorriso claramente nervoso da Coordenadora.

-Só preciso pedir um favor pro Pablo, depois seguimos jornada. Prometo.

A Glaceon não reclamou, seguindo a jovem que esperava que o rapaz não fosse do tipo que sai comentando sobre os Pokémon dos outros com a família.

O dia bonito em nada ajudava a melhorar o humor da loira, que seguia correndo em direção a praça da cidade. Se amaldiçoava mentalmente por ter saído com o rapaz, embora inocente na situação, acabou levando ela para uma situação realmente desagradável e com poucas chances de poder deixar de lado e simplesmente esquecer ou ignorar.

Melissa sorriu com alivio ao ver o moreno no campo, parando de correr e deixando que o mesmo fosse até ela, aproveitando para recuperar um pouco o fôlego.

-Bom dia. – Sorriu, imaginando como pedir para que ele mantivesse Kronk em segredo, infelizmente teria que pensar rapidamente num motivo para sair da cidade tão cedo que não envolvesse Dianna/Dakota também. – Eu vi o panfleto e conversei com Joy, se eu sair hoje talvez chegue na cidade com três dias faltando, quero usar esse tempo para me preparar...

Conversou, enrolando novamente o cabelo entre os dedos, ainda sem saber como fazer o pedido. Não podia chegar e dizer “Sabe, eu realmente tenho medo que sua mãe acabe roubando meus Pokémon e me mate no processo. Pode não contar pra ela que meu Vulpix sabe Psychic?”.

-Posso pedir um favor? – Aguardou a confirmação, verificando os arredores, antes de continuar. – Pode manter o ataque do meu Vulpix em segredo? Quero que seja uma surpresa para quando ele se apresentar pela primeira vez.

Mentiu um pouco. Sabia que o ataque não ficaria escondido muito tempo, principalmente com sua sorte e comportamento infantil da raposa de fogo. Queria que fosse segredo apenas enquanto ele não fosse forte o suficiente.

Melissa teve vontade de suspirar aliviada, mas se limitou a sorrir alegremente de volta. Seu segredo estava a salvo, por enquanto, mas logo mirou o rapaz com alguma curiosidade. Sabia que Kronk era especial, mas não imaginava que era tanto. Ainda não sabia como ele aprendeu aquele movimento, mas não era como se estivesse tentando saber.

-Obrigada, de verdade. Boa sorte contra a Misty, tenho certeza de que vai se sair bem.

A Jovem se despedia, ficando com a face vermelha com o gesto repentino do rapaz, mas logo Utau chamou sua atenção e indicou o caminho para a rota. Era hora de sair da cidade e seguir para o Mt.Moon! Adeus Cerulean, adeus Dakota!

Route 4, Terça-feira
12h45min
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Mt. Moon, terça-feira
17h58min
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