Um Novo Começo

O rapaz agora estava por um dilema, entregar o homem que havia o ajudado e ter uma chance de sair rapidamente dali, ou defendê-lo e quem sabe ganhar um pouco mais de confiança do mesmo.

Em outras situações Damien não pensaria duas vezes antes de entregar o velho, sair da cadeia e tentar começar tudo de novo em outro lugar, mas sempre existia a chance de mesmo delatando seu aliado, continuar preso ali. Cadetes nem sempre são conhecidos por cumprir suas palavras e Damien não conseguia saber bem qual dos tipos era o Kibato a sua frente.

Por outro lado, caso resolvesse contar mais desculpas, ele poderia conseguir a ajuda de Alfredo para sair dali, não apenas isso, o velho poderia ser o canal que ele precisava para conseguir um pokémon que tanto almejava. Entretanto essa opção também era arriscada, o velho poderia simplesmente negar-se a ajudar o rapaz e ele voltaria a estaca zero.

Sua mente estava a mil, pensamentas sobre os possíveis resultados de cada escolha passavam em sua cabeça em frações de segundo. Ao fundo a música ainda tocava e Damien sabia que não poderia demorar mais de dois de segundos para responder a pergunta do cadete, ou então sua resposta seria suspeita. Era um escolha decisiva e ele não tinha muito tempo para refletir sobre isso.

-Pokémons psíquicos... Com certeza eu já ouvi falar sobre eles, apesar não saber ao certo do que são capazes - respondia Damien com uma voz cansada e lenta - Sobre a música, eu acho que escutei alguns guardas cantando ela mais cedo... Ou talvez eram alguns presos de outra cela... Ou da minha própria cela - O rapaz fazia uma cara de dúvida misturada a dor enquanto esfregava sua mão atrás de sua cabeça(*) - A pancada que levei antes de chegar aqui foi bem forte, desde então não consigo pensar direito e por mais que queira é impossível tirar essa maldita música de minha cabeça.

A escolha fora feita, Damien ainda não tinha certeza se havia escolhido certo. Em suas contas a chance de tudo ocorrer como ele esperava eram de menores que 10%, ainda assim uma chance sólida para o rapaz, que acreditava que existiam outras situações que poderiam divergir do esperado, mas trazer um resultado final semelhante.

A estratégia de Damien parecia ter sido bem sucedida, mas ele sabia que não poderia baixar sua guarda. Dependendo do deslize que cometesse poderia ser seu último.

Antes que pudesse responder a ameaça do capitão, Damien era arrastado corredor afora. Ele imagina para onde estariam levando-o, mas antes que pudesse pensar muito, foi deixado em um local que parecia ser o setor administrativa do prédio.

Uma cadete se aproximou e lhe entregou seus pertences, ele então a olhou de uma forma meio perdida e disse um obrigado em tom sonso. Damien então passou a mão dentro da sacola observando se todos seus pertences se encontravam ali, logo em seguida ele se tornou a cadete perguntando:

-Isso significa que eu já posso sair? - ele sabia que provavelmente teria que completar algumas etapas de um processo burocrático, mas precisava manter a aparência caso alguém estivesse observando.

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Assim que a mulher entregasse as fichas para preenchimento, ele pediria ajuda para ela, alegando ter dificuldade com leitura e escrita. Os dados que ele passaria seriam falsos, porém muito bem fundados e entrelaçados entre si. A música ainda continuava em sua cabeça, até onde sabia ele poderia muito bem ainda estar sendo vigiado.

Se terminasse de responder preencher a papelada sem grandes complicações, Damien perguntaria se já estava livre e onde poderia encontrar a saída. A primeira coisa que faria saindo dali seria envenenar-se com um cigarro, já fazia bastante tempo que não fumava e apesar de possuir bastante auto-controle, seu corpo já estava começando a ficar trêmulo com a falta de nicotina. A simples ideia de preencher seus pulmões de fumaça era suficiente para trazer um ínfimo instante de prazer para alguém que raramente expressa qualquer emoção verdadeira.

Com o cigarro queimando em sua boca e a neve caindo sobre sua cabeça, Damien caminhava novamente pelas rua de Ragnarok. Seu olhar era fixo no horizonte e apesar de não demonstrar, ele estava sempre atento ao seu redor. Ele sabia que voltar diretamente ao templo poderia ser suspeito demais para alguém que acabou de sair da cadeia e pressa é algo que fugia ao seu vocabulário.

Damien agora tinha de resolver o que fazer, ela sabia que tinha que passar na estação mais cedo ou mais tarde para pegar alguns pertences. Ele também pretendia passar pela biblioteca para comprar um guia de bolso, ele perdera o seu último exemplar a tempos e ler aquele livreto em horas vagas era algo que ele sabia que aprimorava bastante seus conhecimentos, entretanto essa opção era totalmente inviável, ele acabara de dizer ser analfabeto perante a polícia, caso tivesse sendo observado passar pela biblioteca naquele momento o colocaria em uma situação bastante delicada. A estufa também era uma opção viável, ele sabia que teria bom uso para algumas chesto berrys futuramente. Também poderia aproveitar um pouco do tempo que tinha para fazer algum dos vários cursos ofertados cidade afora, mas sua atual condição financeira não era das melhores e talvez fosse mais sensato manter um pouco em caixa para o caso de alguma emergência.

Por fim o rapaz acabou decidindo ir para a estação, lá ele poderia retirar seus pertences, além disso ele poderia achar um local para ficar tranquilo e observar as pessoas passando, como um bom indigente qualquer, o que ele esperava que tirasse qualquer suspeita sobre ele caso estivesse sendo observado.

Damien pegava seus novos pertences e os colocava diretamente na mochila, apesar de querer passar um tempo admirando o ovo, ele sabia que o porte de pokémons era algo ilegal para pessoas sem licença. O rapaz se sentava no banco observando seu redor de forma não objetiva, ele logo começava a imaginar porque as viagens para Mengun estariam canceladas. Ele estava um tanto quanto desatualizado sobre o que estava acontecendo em Shinki, já fazia um tempo desde que não acompanhava notícias, mas isso era algo que ele teria que se preocupar mais tarde.

"Já tenho um pokémon agora, talvez não precise voltar ao templo no fim das contas" - Damien se punha a pensar - "Mas por outro lado, não sei quanto tempo esse ovo vai demorar para chocar... O quê estou pensando? Que diferença faz o quanto ele vai demorar? Eu não tenho motivos para ter pressa... Mas, mesmo assim, um pokémon a mais poderia fazer diferença, principalmente considerando que os apocalipses monopolizam alguns pokémons que poderiam ser bastantes úteis. Mas se eu pegar um pokémon com eles e simplesmente não responder a nenhuma de suas missões eles irão me perseguir fervorosamente como um traidor. Se eu simplesmente ficar com esse ovo eu poderei ter um começo mais tranquilo, sem ninguém atrás de mim."

Damien respirava fundo enquanto pensava como prosseguir.

"Mas talvez eu possa responder a algumas missões e desfrutar dos auxílios que eles disponibilizam para seus membros. Talvez eu faça isso. Ao menos por um tempo, enquanto eu ainda não posso batalhar por conta própria. Definitivamente, essa parece ser a melhor opção. Eu simplesmente posso fugir caso discorde de algo que eles peçam para mim."

Enquanto permanecia pensativo, Damien aparentava distraído, mas permanecia atento ao seu redor. O jovem agora pensava em permanecer ali até a manhã seguinte, para então seguir rumo ao templo.

Apesar de calmo, o pokémon dragão era bastante intimidador, poucos habitantes de Shinki já tiveram o privilégio de ver uma besta tão formidável à sua frente, mas ainda assim Damien permanecia tranquilo, como se não se incomodasse com a situação. Não era para menos a primeira coisa que ele pensou ao ver o Flygon foi: "Ele pode me matar quando quiser"; um pensamento que levaria muitas pessoas ao desespero, mas o rapaz sabia que se ainda estava vivo é porque ainda tinham assuntos para resolver com ele.

A aparência do monge lembrava Damien de um de seus companheiros de longadata, Carl. Assim como o sonho que tive a poucos, tal lembrança foi apenas um flash de uma época que o rapaz teimava em suprimir na obscuridão de sua mente. Ele sabia que seu passado era importante para formação de sua pessoa, mas acreditava que as memórias pudessem deixá-lo sentimental e, consequentemente, mais vulnéravel.

- Uma pessoa como eu? - Questionava Damien - Apenas tomei uma decisão baseada em estatísticas que não eram a meu favor, quando se aposta você perde umas e ganha outras.

- A propósito, é um grande prazer conhecê-lo formalmente - dizia Damien em um tom sútil e sereno - Damien Dalgaard a sua disposição.

O jovem Dalgaard não sabia muito sobre o monge, ele já tinha ouvido falar algo sobre como ele trabalhava diretamente ao lado de Mina, mas não sabia o porquê dele ter se afastado e passado a ser um mero recrutador. Ainda o aspirante sabia que Yukito era alguém que lhe poderia ser muito útil, tanto agora quanto futuramente.

Damien realmente estava longe de seu ápice, tanto física quanto psicologicamente. O rapaz demorou alguns instantes para perceber o quão estranho era eles estarem sozinhos em um local público que deveria funcionar vinte-e-quatro horas por dia. Damien sabia que se encontrava no continente dominado pelos apocalipses, mas ainda assim era impressionante esse tipo de capacidade, os recursos dispostos pelo monge realmente excediam ao esperado pelo rapaz.

Yukito dizia sobre uma indicação que teve em relação ao rapaz, algo que colocou Damien pensativo.

"Seria Alfredo responsável pela indicação? Não isso é impossível, ele disse que a indicação foi ontem a noite, eu estive com o velho o tempo todo. E com minha identidade atual ninguém, tirando Park, sabe algo significante sobre mim. De qualquer forma acho que terei que me preocupar com isso mais tarde."

Ao mesmo tempo que pensava sobre o que estava acontecendo Damien já respondia o monge.

-Semelhante ao que disse, não deixe minha aparência, ou mesmo atitudes idiotas te enganarem - Damien tomava uma breve pausa para acender um cigarro - Se incomoda? Espero que não - o jovem dava uma profunda tragada antes de continuar.

-Não há muito que saber sobre mim, apenas mais uma pessoa andarilho que vive está cansado de viver injustiças e quer mudar as regras do jogo. - o jovem estava cabisbaixo e o cigarro queimava em sua mão, era como se estivesse concentrado e tivesse esquecido o fumo, mas na verdade era apenas parte da encenação do rapaz - Se você quer ouvir um história que vai te deixar feliz, eu tenho uma que pode dar conta do recado.

-Era uma vez um garoto crescido em uma cidade desolada e esquecida por quase todos, esse garoto como vários outros, tinha um sonho. Seu sonho era mudar o mundo. Quanto mais tentava acabar com as injustiças, mais o garoto era injustiçado. Mas ele não se deixaria dar por vencido, cada derrota que sofria era combustível para atacar de volta. O garoto não tinha muitos amigos, e cada vez mais seus amigos foram o abandonando, mas nada faria com que o garoto desistisse de seus sonhos. Até que finalmente o garoto morreu tentando alcançar sua utopia. Ninguém ficou sabendo como o garoto morreu, a causa não foi atingida e o restante do mundo continuou suas vidas como se nada tivesse acontecido, porque para eles realmente nada aconteceu.

Ao terminar de recitar a história Damien dava mais uma tragada em seu cigarro e virava-se ao monge: - Mas que grosseria a minha, aceita um cigarro? - perguntava enquanto estendia o maço em direção a Yukito.

Desde o incidente, Damien nunca tinha contado tanto sobre sua história para ninguém, apesar de não revelar nenhum tipo de detalhe, era mais do que Damien esperava fazer. Mas tudo tem um custo e o jovem esperava que aquele fosse um preço justo para conseguir a confiança do monge.

Damien escutava com atenção as palavras do monge. Apesar do pedido ser um tanto quanto superficial, o objetivo era claro. Apesar do desconhecimento sobre os motivos pelos quais o monge feito o pedido, o rapaz sabia que sacrifícios eram necessários para atingir objetivos maiores.

O jovem sabia que a missão não passava de um teste, Yukito poderia facilmente cuidar da garota por si só, e mesmo que estivesse muito ocupado para fazê-lo, ele poderia simplesmente mandar algum de seus vários lacaios. De qualquer forma, Damien sabia que teria de ser bem sucedido caso quisesse conseguir seu tão desejado parceiro pokémon.

-Não se preocupe, antes que se dê conta cuidarei disso. - dizia o aspirante a apocalipse enquanto se levantava - Você tem alguma informação de onde posso encontrá-la ou devo procurar por conta própria?

Damien esperava a resposta de Yukito com serenidade, ele observava a beleza do pokémon dragão a sua frente. Fazia tempo que não se deparava com tamanha magnificência, e aquela imagem preenchia a mente do rapaz com um sentimento de inveja, mesmo que por apenas um infinitésimo de segundo.

Parecia que depois dos últimos eventos na vida de Damien, o aspirante agora estava tendo um pouco de sorte. Alguém havia indicado o rapaz, e agora o recruta apocalipse já parecia confiante em querer saber o quão capaz o moreno poderia ser. O monge não tinha nada haver com a figura séria de um monge normal, o que deixava com que aquilo parecesse um pouco de fantasia. O relógio da estação ultrapassava a meia-noite. Damien tinha uma missão e estaria disposto a cumpri-la em nome de um Pokémon.

- Para sua sorte eu sei que ela mora em Ragnarok, em alguma cidade mais afastada. Não sei dizer bem onde, mas não deve ser difícil. Revoltada, acho que mora sozinha, perdeu os pais cedo. O problema é se ela trazer problemas para mim e para a organização, então, faça esse problema sumir. Rua Froslass ou Rua dos estudantes mais ou menos.

A voz de Yukito perdia a graça e embarcava na seriedade. Flygon permanecia ao lado do seu mestre, sempre calado, calmo, até. Quando o monge perdeu a vontade de comer a pipoca, o dragão se ofereceu para jogar no lixo e assim o monge erguia, já pronto para sair dali, afinal, a qualquer momento algum funcionário noturno poderia se deparar com um dragão apocalipse, e a cena não seria interessante.

- Leve o Geo para te ajudar, mas não tente me enganar, afinal, você tem boas recomendações, mas não significa que eu acredite em você.

De uma esfera bicolor, um Geodude surgia, um símbolo prático dos apocalipses. O Pokémon era oferecido para auxiliar Damien em sua missão. Agora, ele estaria pronto para provar o seu valor...

Damien sabia que estava um tanto quanto enferrujado, mas ainda assim acreditava em suas habilidades. Ele já "tomara conta" de inúmeros problemas, esse provavelmente não seria o mais difícil que até o momento, mas com certeza seria uma boa forma de colocar suas habilidades em prática novamente.

O monge havia dito que a garota poderia ser encontrada nas redondezas da rua Froslass com a dos estudantes, possivelmente nas proximidades do templo de giratina, considerando que ela se encontraria em uma das partes mais afastadas da cidade. Damien ainda lembrava bem das feições da moça, longos cabelos negros repicados, olhos de cor púrpura e um rosto levemente arredondado, uma pessoa relativamente fácil de se distinguir.

Apenas fazendo um sinal de afirmativo com cabeça para o monge e outro de siga-me para o pokémon rochoso, Damien seguiu para fora da estação rumo Rua Froslass. O rapaz caminharia pelas ruas em busca da garota, sempre mantendo discrição e fazendo o possível para não chamar atenção, usando seu cobertor para cobrir seu corpo e esconder o Geodude.

Enquanto caminhava Damien já começava a pensar em possíveis planos para "resolver o problema", mas tudo dependeria da forma com a qual ele encontrasse a garota. Falhar não era uma opção, Damien sabia que independente do que acontecesse ele deveria cumprir a missão.

- Não esqueça de que seja lá o que você for fazer, pareça um acidente... De preferência, não seja pego, nem visto. Elimine toda testemunha! Isso não é uma recomendação, é uma ordem...

A última orientação era dada para Damien, enquanto o jovem deixava a estação para as ruas. A estação de trem estava fria, mas as ruas de Ragnarok eram torturantes. Um vento forte lançava neve para os lados, deixando o corpo do rapaz mais frio. Geodude se escondia na barra do cobertor do aspirante, enquanto seguia caminhando pela neve embaçada. Damien fazia força para andar, cada vez mais e no fim seguia pelas ruas frias, escuras e desertas. Para sorte do aspirante, a rua Froslass não era longe dali. No caminho, um trio de Chingling tocava sobre o frio, ignorando a baixa temperatura. Infelizmente, o som não era tão agradável assim, um trio de Chingling desafinado era um tanto quanto interessante.

Na rua Froslass, diversas casas residenciais, todas de estrutura bem humilde, era bem nítido. No alto, o templo de Giratina se destacava, coberto por neve e sem presença nenhuma, aparentemente. As casas davam a impressão de que eram bem mais paradas, uma vez que a neve deixava uma parecida com a outra. Ao redor delas, neve e mais neve. Tudo branco. Seria difícil encontrar a pessoa que Damien queria naquele estado...

"Fazer parecer um acidente... Não vejo a necessidade disso, mas ele foi bem claro. Não creio que isso irá dificultar muito as coisas" - pensava Damien enfrentando a nevasca.

Caminhar nas ruas de Ragnarok em um momento como aquele era uma tarefa árdua, mesmo agasalhado com um cobertor o frio era intenso, chegando a queimar o rosto de Damien. A neve que cobria o chão deixava cada passo mais difícil, enquanto a que voava pelo ar ofuscava a visão. O cigarro rotineiro em sua boca já não podia ser visto, os fortes ventos tornava fumar uma tarefa quase impossível, mas o vício pouco era sentido pelo jovem, que estava concentrado em localizar a garota.

Damien pouco ligava para os Chinglings desafinados cantando na nevasca, além da falta de técnica e do som estar abafado, o jovem sabia que não deveria se deixar distrair. Talvez em outras circunstâncias Damien tentaria capturar algum deles, mas definitivamente esse não era o momento.

Na rua Froslass todas as casas pareciam iguais e a neve dificultava bastante o reconhecimento da área, definitivamente Damien teria uma tarefa mais trabalhosa do que esperava.

Por um breve instante o rapaz parou, observando o pouco que conseguia ao seu redor e se pôs a pensar sobre como prosseguiria a partir dali. Sabendo que poucas pessoas se aventurariam nas ruas em um dia como esses, Damien presumiu que o mais sensato seria ela estar dentro de casa, a questão era, como o rapaz saberia em qual encontrá-la? Não havia como saber, ele teria que verificar uma por vez, ao menos superficialmente.

Ele caminharia pelo lado esquerdo da rua observando as janelas e portas das casas por possíveis sinais da garota, em seguida caso não achasse nada voltaria pelo lado direito. Se não localizasse nada na rua Froslass, seguiria para fazer o mesmo na rua dos estudantes, sempre atento a qualquer detalhe que lhe chamasse atenção. Damien ainda esperava que a nevasca trabalhasse a seu favor, mesmo dificultando um pouco sua visão ele faria com que ficasse mais difícil de de vê-lo a distância, ou saber o que ele estava fazendo, dessa forma levantando menos suspeitas. Ele também sabia que não deveria ser indiscreto e deveria tomar cuidado quando olhasse nas casas, em caso de indiscrição alguém poderia achar estranho e chamar os cadetes.

A busca de Damien definitivamente não era um plano brilhante, na verdade era bastante ordinário, mas esse era o intuito do rapaz, ao menos por ora, fazer um reconhecimento básico e superficial em primeira instância sem levantar muitas suspeitas, caso não conseguisse resultados partiria então para busca mais minuciosa.

Apesar de tentar ao máximo se afastar de seu passado, Damien esperava ainda poder contar com um pouco das habilidades que aprendera, mesmo estando enferrujado. O rapaz sabia que mesmo obtendo pouco resultado significante nos vários anos que passou lutando em prol do que acretiva, ele não poderia desistir e nada agora ficaria a sua frente, ele usaria todos os meios possíveis para chegar ao fim que tanto almejava.

A neve barrava muito o andar do rapaz, enquanto Geodude parecia inexistente logo atrás do aspirante. O pokémon rock permanecia flutuando centímetros do chão, o coberto sobre Damien aquecia um pouco, mas nada como o seu cigarro. O homem andava pela rua froslass, sob os gritos dos Chinglings. O plano era simples e foi assim que o rapaz executava. Ele ia por um lado da rua, observando as casas. Era difícil tirar muitas informações. Naquela hora, todos estavam dormindo, pelo menos, os que não se incomodavam com os gritos dos Pokémons sinos.

Damien tinha que rodar a casa toda, uma por uma, atrás de uma brecha suficientemente grande para poder reparar quem estava ali. Por sorte, as casas naquela região não eram tão boas e firmes e uma brecha ou outra sempre era possível de achar. O rapaz caminhava até o fim da rua, mas não tinha nada que pudesse ajudar. Nas casas mais fechadas, Geodude conseguia arromba-la, quebrando a maçaneta sem muito esforço e com um silêncio surpreendente. O homem não achava nada.

Descendo a rua Froslass, Damien voltava para a sua revista. O aspirante a apocalipse observava casa por casa, olhando aos redores pelas brechas, arrombando as mais fechadas. No outro dia, algumas pessoas notariam que houve um ato de vandalismo ali, no mínimo. Quando Damien estava chegando ao final da rua, um grito feminino histérico tentava afugentar os Chinglings. Os mesmos continuavam cantando, confundido os gritos com uma possível audiência. Mas quando um sapato voou da janela da última casa que Damien não havia entrando, os Pokémons se espalhavam, voando um por outro lado do muro, outra saia voando e outro rolava direto para a cabeça de Damien. Por sorte, o homem reconhecia o grito da mulher procurada.

O alvo estava traçado, mas uma coisa o rapaz pareceu ter pego de surpresa. O chingling desafinado caia no coberto de Damien e pareceu gostar muito dali. Naquele momento, o Pokémon abraçava o coberto e insistia em não soltar, sorrindo pelo conforto daquele calor. Geodude puxava a causa do aspirante, informando que a casa era aquela. Ao puxar o coberto, o Pokémon tocava um leve som, mais audível do que a cantoria de mais cedo.

As horas passavam e Damien ficava cada vez mais cansado, caminhar sobre a neve era uma tarefa exaustiva e ele ainda não havia recuperado a forma do passado. Mesmo assim Damien só tinha uma coisa em mente, completar sua missão a qualquer que fosse o custo.

Um bom tempo foi gasto procurando por sinais que pudessem o levar a garota, tarefa que se tornou bem mais fácil graças a ajuda de Geodude que permitiu que eles entrassem em alguns locais mais seguros. Sem sombra de dúvidas muitos dos habitantes das casas invadidas perceberiam mais cedo ou mais tarde os estragos em suas residências. Damien sabia que se chegasse a se livrar da garota e os cadetes fizessem uma investigação mais aprofundada, eles poderiam facilmente perceber que se tratava de uma eliminação e não de um crime qualquer ou acidente, mas ele acreditava que os cadetes não se preocupariam tanto assim com o caso e acabariam arquivando separadamente como acidente e invasão domiciliar. Ao menos era isso que Damien esperava, uma vez que ele não poderia sair consertando todos os estragos que já havia feito.

Ele já havia procurado em várias casas, quando finalmente ouviu a voz da garota. Era ela, Damien tinha certeza, mesmo não vendo ela, os berros contra chinglings eram quase idênticos aos que foram feitos contra o monge no dia que se conheceram. Isso deixou extremamente fácil a identificação e uma vez que não havia sido visto, ele poderia prosseguir com seu plano.

Antes que pudesse dar continuidade, um dos chinglings que fugiam da garota se aninhou no cobertor de Damien. Aquilo definitivamente pegou o rapaz de surpresa, o pequeno pokémon parecia ter gostado dali e não aparentava querer sair tão cedo.

Damien sabia que manter seu plano original com um pokémon que fazia tanto barulho grudado a si não era uma opção muito inteligente, mas o rapaz não tardou a ter uma nova ideia do que fazer.

-Geodude, espere um pouco. Preciso resolver uma coisa com esse pequeno antes de prosseguirmos. - dizia Damien em tom baixo voz ao pokémon de pedra, logo em seguida se virando ao sino - Olá, pequeno! Vejo que gostou de meu cobertor, não é? Ele realmente é bastante confortável e pode nos aquecer durante dias frios como esse, mas infelizmente nem todos podem usufruir de benefícios como esse. Eu tenho uma proposta para você, minha meta de vida é tornar o mundo um local mais justo e igualitário, onde todos possam ter o conforto de um cobertor quentinho, além de outras coisas necessárias para sobrevivência e lazer, mas para que isso aconteça é necessário que algumas medidas drásticas sejam feitas e definitivamente vários sacrifícios ocorreram nesse percurso. Minha proposta é: você me ajuda com meu plano e enquanto não formos bem sucedidos eu farei o máximo para de dar conforto e treinamento adequados. O que me diz? - Dizia Damien estendendo uma de suas pokébolas em direção ao Chingling como intuito que ele adentrasse na esfera.

Caso o pokémon sino não aceitasse a proposta Damien ordenaria que Geodude o esmagasse, usando o cobertor para abafar o som do ocorrido.

Antes de determinar como prosseguir com a eliminação, Damien precisava ver qual seria o desfecho com o pequeno chingling.

Localizada! Bem perto de onde Damien estava a garota/moça/mulher estava na casa do lado e com certeza desaprovava o canto desafinado dos Chinglings que estavam ali. Mesmo estando tão perto, Damien via a menina como um problema, e outro problema era o Pokémon psychic barulhento no cobertor. Parecia que ele havia feito um amigo que só queria saber do cobertor quentinho do rapaz. Geodude suspirava em desaprovação pelo fato de perder tanto tempo. Ao redor, as ruas silenciosas e frias deixavam a temperatura perfeita para dormir. Apesar do estrago ao redor, as pessoas nem desconfiavam que estivesse acontecendo ali.

Uma proposta era feita para o Pokémon sino, que dessa vez, pareceu adorar, embora voasse ao redor do braço de Damien, fugindo da pokébola e abraçando a cabeça com força do rapaz. Ele era feliz (ou interesseiro) e pareceu gostar da idéia, mas não sabia o que uma captura significasse. Em seguida, descia levitando até o Pokémon rocha e o abraçava. Geodude não era tão carinhoso assim e deferia um escorão no Pokémon tão forte que o corpo pesado dele, unido ao corpo leve do Chingling resultasse no Pokémon voando metros e mais metros para longe dali. Parecia que Damien teria que ter um momento com o Pokémon outra hora.

Geodude, bem impaciente, voltava a se mover na neve, como quem quisesse se r seguido por Damien. O Pokémon arrastava-se no meio do branco imenso, embora flutuasse centímetros do chão. A missão deveria ser concluída primeiro...

Geodude estava visivelmente impaciente com Damien, provavelmente o pokémon rocha estava aflito pelo método lento e ineficaz que o rapaz de Sekisetsu conduzia. Quem acabou sofrendo com isso foi o Chingling, que acabou sendo arremessado para longe.

-Paciência. - dizia Damien ao Geodude - Eu tenho um plano, mas para isso você precisará ser paciente e silencioso. Aquele Chingling poderia ser útil como uma distração, mas você acabou se precipitando ao se livrar dele. - Apesar da repreensão Damien não estava chateado por Geodude ter afastado o pokémon psíquico. Ele mantinha confiante de que seu plano daria certo.

-Eu preciso que você escute com atenção. - continuava o rapaz - Nós precisamos ser bem sucedidos aqui, caso contrário acho que as coisas ficarão tão ruins para mim como para você. Nós faremos o seguinte: primeiro vamos esperar alguns minutos para garantir que nosso alvo não esteja vendo quando começarmos a agir, em seguida nos procuraremos algumas pedras, sei que não será fácil com essa neve, mas achar pedras é provavelmente é uma de suas especialidades. Depois disso você precisará se enterrar na neve logo em frente a entrada da casa dela, não precisa se preocupar com o frio, é mais quente ficar soterrado em neve que na rua descoberto. Você não precisará ficar lá muito tempo, assim que terminar de se enterrar eu irei a frente da casa, colocarei algumas pedras estrategicamente no chão, então começarei a atirar outras rumo a casa dela. Assim que ela abrir a porta para ver o que está acontecendo você se desenterrará e a derrubará no chão, no sentido contrário a entrada da casa dela. Assim que ela cair, caso ela não caia de cabeça sobre uma das pedras, você deverá golpeá-la na cabeça, quantas vezes forem necessário.

As pedras que Damien colocaria no chão seriam postas semi enterradas e próximas entre si, de forma a formar vários arcos, aumentando as chances que a garota caísse sobre uma delas.

O plano de Damien, teria algumas mudanças observando alguns detalhes pertinentes. Caso houvesse janelas pelas quais o alvo pudesse ver Damien ou o Geodude, antes do plano começar ele ordenaria que o pokémon utilizasse Mud Sport para sujá-las. Se geodude por algum motivo errasse o ataque na garota, Damien partiria para cima dela, com intuito de derrubá-la até que o pokémon rochoso se recompô-se e pudesse atacá-la novamente. Se a garota não atendesse a porta, Damien persistiria por mais alguns instantes deixando para mudar de plano apenas se realmente necessário. Havia ainda a possibilidade dele ter errado na identificação e acabar matando uma pessoa inocente, mas Damien veria isso como um simples infortúnio, deixando para analisar o que fazer apenas depois do ocorrido.

Se o plano fosse bem sucedido bastaria colher as pedras sobre as quais ela não caísse, preenchendo o buraco por elas deixado com neve. Damien acreditava que aquilo seria o suficiente para aparentar um acidente.

Geodude ignorava o fato de Chingling servir como ajuda. Para o rochoso impaciente, o Pokémon era apenas um barulhento, que serviria para poder atrapalhar e não ajudar. Agora, sem isca, Damien falava o seu plano para o Rock, que ouvia com atenção, embora desdenho. O plano era traçado com cautela e tudo o que era possível pensar naquele momento, parecia ter sido pensado. Geodude logo sumia atrás de pedras, enquanto Damien fazia a mesma coisa. O mar de neve deixava o trabalho mais difícil e por isso o tempo passava.

No fim, Geodude acabava achando duas pedras muito parecidas como ele mesmo, enquanto Damien achando outras menores. O aspirante colocava as pedras como planejara em frente da casa. Geodude sujava a janela com seu golpe lamoso e se enterrava logo em seguida. Estava tudo pronto. Beirava as 3 da manhã e a missão continuava. Demoraria para amanhecer e Damien ainda nem sabia se realmente era a mulher que ele tinha visto no outro dia, embora a voz fosse bem parecida e sua forma histérica bem peculiar.

A primeira pedra era lançada. Nada! A segunda vinha logo em seguida. Nada de novo. Parecia que nada estava funcionando, mas Damien não desistiu. A terceira pedra garrava na calha do telhado, ecoando um som bem mais alto. A luz era acesa e os olhos do aspirante ficava aflito. Algum barulho seguia no lugar, enquanto Damien ficava bem escondido, esperando que Geodude desse conta do serviço, mas caso não desse, ele mesmo agiria.

A porta era destrancada. O barulho dos trincos, que eram bem mais volumosos do que as outras casas, era nítido. Mas do alto da calha, o Chingling surgia, flutuando. Não precisava ser um especialista para saber que era o mesmo psychic que Geodude havia expulso. Seu rosto inchado dourado, seus olhos fixos no geodude verdadeiro indicavam que ele queria vingança. Parecia que o fofo Pokémon sino era bem mais mal do que fofo. Em sua mão, um pedaço de pau, pequeno e fino, que com certeza não feriria Geodude tanto, mas mostraria o Pokémon.

Dito e feito. Chingling caia sobre a pedra e batia com força, embora não fizesse muito dano, desmanchava a forma redonda de Geodude. A porta era aberta e Damien identificava o seu alvo como sendo o correto. Geodude estendia o braço, para tentar deter os golpes fracos, porém chatos do Pokémon sino.

- Eu não mandei você parar de cantar?! – gritava a mulher, identificando os sons que Chingling fazia a cada movimento do golpe que tentava dá em Geodude. – Um geodude?! Hã?! – a mulher parecia estranhar a presença do Pokémon ali, mas logo perceberia a ligação do Pokémon com o templo...