Um novo dia

Após o rápido almoço, Tomy voltava a se acomodar em sua cama e, com Dennis em seu colo novamente, voltava a ler a obra. Richard questionava se o cadete estaria viciado na obra, porém não obteve resposta do distraído oficial.

As horas voltavam a se passar tão rápido quanto as páginas do livro eram viradas. A cada nova linha, Tomy ficava mais determinado a estudar mais e pedir para Sandra se ela lhe conseguiria mais obras. De repente o jovem já não encarava sua internação como um castigo, mas mais como uma oportunidade a ser desfrutada.

- Boa tarde.

Uma enfermeira entrava no quarto e Tomy levava a mão à cabeça, acreditando que seria a hora de trocar o curativo, já que a mulher não estava carregando o café da tarde. Contudo o homem jamais poderia adivinhar o que aconteceria a seguir.

- Vamos tomar banho? - Ela questionou ao cadete, deixando-o completamente constrangido, contudo de repente ele lembrava-se de não ter tomado banho no dia anterior... - Ou prefere a ajuda de um enfermeiro? - A segunda proposta não ajudava em nada a situação do cadete que só conseguia pensar em como seu dia estava sendo tranquilo e agradável até o momento.

O oficial ficava completamente constrangido com a situação inusitada. A falha tentativa de Dennis em conter o riso não ajudava em nada à tentativa do cadete de recuperar a fala, o que só aconteceu após alguns minutos de gagueira e choque.

- Muito bem, então venha.

Os passos de Tomy eram lentos e receosos, como se estivesse sendo guiado para a prisão e não para o chuveiro. A enfermeira, incrivelmente profissional, fazia somente o necessário. Até ser atingido por mais uma tontura e quase ser lançado ao chão, Tomy acreditava que era um exagero precisar de ajuda para um banho. Contudo, se não fosse a enfermeira, poderia ter caído e batido a cabeça mais uma vez. Arrebentar os pontos era a última coisa que o oficial desejava.

Um enfermeiro entrou no banheiro pouco depois, para verificar se estava tudo bem após ser bipado pela outra mulher. Com os dois agentes de saúde, Tomy foi levado de volta para a cama após o fim do banho. A sensação de limpeza era bem vinda, porém só seria desfrutada mais tarde. Dennis mirava tudo preocupado, contudo tentando não atrapalhar o trabalho dos enfermeiros. Mais uma vez deitado, o cadete adormecia rapidamente, sem nem ao mesmo perceber o curativo sendo trocado.

Horas mais tarde, Tomy despertava quando lhe chamavam para o jantar. Havia dormido quase a tarde inteira e não sonhara em nenhum momento. Dennis estava sentado sobre a cama, vigiando o sono do cadete e garantindo seu bem estar. A janta aguardava no suporte, junto com o livro inacabado.

Após acordar, Tomy percebeu a janta esfriando, o curativo trocado e o livro aguardando para ser lido. Depois de um suspiro, o oficial se erguia lentamente e acordava seu Meowth para o jantar. O felino se espreguiçou e, deixando a mão do cadete deslizar por suas costas, aproximou-se da comida.

A janta foi acompanhada pela leitura de algumas poucas páginas do livro. Tomy estava determinado a não passar a noite lendo, por mais que fosse tentador, visto que o dia seguinte seria o último de sua internação. Logo poderia voltar para seus pokémons. As 22 horas, o cadete e seu meowth já estavam adormecidos.

Na manhã seguinte, Tomy foi desperto pela enfermeira com o café da manhã. Um saboroso café com leite e duas torradas recheadas. Dennis se deliciou com um leite cremoso com um toque de canela. Era seu último dia de internação. Na manhã seguinte poderia ir para casa. Nesse dia certamente veria o médico, que não se manifestou a aparecer uma única vez, e Sandra que possivelmente iria buscar o livro. Até mesmo a chuva parecia se transformar em uma garoa, permitindo já um vislumbre de Mengun.

Após tomar o café da manhã com Dennis, Tomy, lentamente, caminhou até a janela para observar a cidade de Mengun. Estava ansioso por sair do hospital e reencontrar seus pokémons. A visão pela janela era magnifica. O cadete percebia que estava em um dos últimos andares do hospital e, portanto, podia vislumbrar quase toda a cidade, bem como seu porto ao longe, de onde partira para uma aventura que não pode se completar.

Dennis se aproximou, na face o ar preocupado. Tomy sorriu para seu Pokémon e sentou-se na cadeira próxima a janela. Por que não ler ali? Satisfeito, o felino buscou o livro e voltou para o colo do cadete, desfrutando uma tarde observando a cidade sob a garoa, recebendo um cafuné nas costas muito agradável e ouvindo a leitura que apreciou desde o começo. O ronronar do felino, para o cadete, era a melhor parte do dia.

Duas horas após recomeçar a leitura e faltando somente 10 páginas para encerrar a obra, Sandra entrou no quarto. A Seguidora sorria amistosa, claramente satisfeita por ver o oficial sentado e lendo. A mulher logo perguntou o que o jovem achara da leitura e questionando-o sobre sua melhora. A manhã, na concepção de Tomy, começara muito bem.

Perante o pedido do cadete, a seguidora sorriu e entregou seu número de telefone para o jovem, anotando em seguida o número do mesmo. Enquanto registrava o contato, o cadete pediu se a mulher teria algum guia sobre a cidade para auxiliá-lo.

- Guia infelizmente eu não tenho. Mas se desejar, posso lhe apresentar alguns pontos da cidade quando se sentir forte para uma caminhada. Basta me ligar.

- Eu também aceitaria uma guia quando saísse daqui. - Richard comentava para a bela seguidora.

Apesar da malícia na voz do outro hospitalizado, a seguidora aparentou não o identificar, respondendo de forma amistosa que, quando ele fosse liberado, ela também poderia mostrar-lhe os pontos da cidade. Tomy e Dennis miraram o outro um pouco desgostosos com o comentário, no entanto.



Com os telefones trocados e a oferta de companhia feita, a seguidora sentou-se em uma cadeira e começou a fazer perguntas sobre o livre, querendo saber se a leitura agrada o cadete e o ajudara a se distrair durante sua internação. Contudo, antes que o oficial pudesse responder, outro homem entrou no quarto. A manhã parecia mais movimentada do que o esperado.

- Então, como está a recuperação?

O homem recém chegado não se apresentava e já perguntava sobre as condições de Tomy. O cadete, após uma analise rápida, concluía que aquele era o médico do hospital, a julgar pelo jaleco, pelo estetoscópio e pela expressão cansada e sonolenta. As olheiras claramente indicando que o homem não dormira há pelo menos três dias combinavam com a cor do café na xícara que o mesmo carregava. Atrás do mesmo uma enfermeira com o prontuário do cadete.

- Dr. Richard, não esperava vê-lo tão cedo. - Sandra comentava, revelando o nome do médico que, por coincidência, era o mesmo do outro homem que ocupava aquele quarto.

- É que diferente de outros médicos senhorita, eu trabalho. - O médico respondia estressado e fazendo Tomy recordar do médico de Nyender.

Sandra parecia ter o talento para tornar qualquer dia mais agradável, enquanto Richard (o médico, não o paciente) parecia carregar uma aura de mau humor, estresse e cansaço. O Richard paciente fazia piada do comentário do médico, não colaborando com o animo do cadete. Dennis e a Seguidora eram as únicas companhias realmente agradáveis.

Ignorando a parte do relato do cadete em que este fala sobre sua equipe, o médico voltava a questionar sobre o ferimento, querendo saber a frequência e a intensidade das mesmas, perguntas as quais o cadete respondia de forma breve. O enfermeiro atrás fazia as anotações que o médico solicitava e logo Tomy se viu sendo analisado pelo mais velho e sonolento. Em questão de minutos o curativo era retirado, a ferida analisada e o curativo refeito.

- Muito bem. A enfermeira virá trocar o curativo por um menor. Amanhã pela manhã você terá sua alta e em uma semana deverá voltar para retirar os pontos. Não se exceda nos esforços por pelo menos três dias após a última tontura que sentir. A não ser que queira ficar internado mais um mês ou uma aposentadoria precoce.

As palavras não carregavam nenhuma emoção, somente o cansaço e a indiferença. O médico claramente não queria mais conversa do que o necessário, tanto que, após a última recomendação, se retirou sem nem ao menos se despedir, sendo seguido pelo enfermeiro. Sandra encolheu levemente os ombros quando a porta bateu e Richard (o paciente) ironizou o mau humor do médico.

- Bem, amanhã é sua alta. Poderá almoçar com sua equipe. O que acha? Quer companhia no reencontro? - A mulher perguntava gentil.

Após o médico analisar rapidamente o curativo, dar as últimas recomendações e orientações, desaparecia tão repentinamente quanto havia surgido. Tomy ficou perdido por alguns segundos, porém logo Sandra comentava do momento que o cadete mais ansiava, se oferecendo para estar ao lado do mesmo no reencontro, oferta que ele prontamente aceitou. A mulher parecia ter o talento de acalmar a todos e tornar qualquer momento agradável.

-Bem, nesse caso estarei aqui amanhã na hora da alta.

Sandra, após a promessa, se despedia dos dois hospitalizados e deixava Tomy para encerrar o livro. O terceiro e último dia parecia o mais angustiante de todos, já que frequentemente o oficial buscava o relógio em busca das horas. A leitura das 10 últimas páginas se encerrara rápido demais e Dennis, ainda no colo do oficial, aguardava o almoço.

Do lado de fora da janela as nuvens corriam pelo céu cinzento, indicando o forte vento existente. Estaria frio? O ar condicionado geral do hospital mantinha a temperatura mais amena no interior, porém era um fato que o cadete precisou de um cobertor a mais na última noite. Enquanto observava pela janela, o almoço foi servido e o cadete se surpreendeu com um prato generoso e mais substancioso, composto por purê de batatas, um pedaço de carne assada e alguns legumes cozidos no vapor, além de um pequeno pote com pudim de sobremesa. Para Dennis, um pote que parecia conter um patê de atum, a julgar pelo peixe. Fosse o que o fosse o material do patê, o felino parecia devorá-lo com gosto. Durante o almoço, Tomy escutava Richard reclamando que ficaria mais uma vez sozinho no quarto e que mal esperava pela sua alta também.

Após abandonar a cadeira e retornar para a cama, o sono se apossou do corpo do cadete e seu felino. Era incrível o quanto o oficial sentia a necessidade de dormir durante sua internação, quase como um recado de seu organismo que desejava se recuperar. O livro, totalmente lido, guardado na cômoda próxima a janela.

As horas da tarde desapareceram sem que o cadete percebesse. Richard reclamava sozinho ou com algum agente da saúde, sempre que tinha a oportunidade. O tempo de internação parecia afetar a mente do outro hospitalizado. Porém nem mesmo essas queixas chegavam aos ouvidos do cadete ou de seu Meowth.

Quando Tomy despertou, o sol começava a se por e o relógio indicava quase 19h. A enfermeira a seu lado, responsável por despertá-lo, indicava o café da tarde já frio ao lado e pedia para que o oficial se sentasse. Enquanto o cadete experimentava o líquido gelado, a mulher retirava o curativo grande, limpando uma última vez e o cobrindo com uma fina fita especial que cobria somente os pontos e não toda a cabeça como a anterior.

- Bem, como o médico avisou, não a esfregue nem tente retirar. Semana que vem, quando você voltar, nós a tiraremos e retiraremos os pontos. Se sangrar, volte imediatamente para cá, tudo bem?

Mesmo depois de ter ficado todo aquele tempo na cama meu corpo parecia sempre querer dormir mais. O sono chegava tão rápido que eu não podia esperar que ele viesse de uma maneira melhor. Dediquei meu últimos pensamentos antes de dormir ao livro que eu havia acabado de ler e depois de alguns segundos adormeci.

Quando acordei percebi que o sol já estava se pondo. A enfermeira que me acordou foi muito amigável e pedia que eu me sentasse. Rapidamente eu estava provando um café gelado enquanto a mulher mexia no meu curativo. Em pouco tempo com as coisas terminadas só sobrava uma pequena fita para cobrir meus pontos. Ela me deu umas recomendações e eu as acatei quase que automaticamente:

- Ok, obrigado por tudo.

Depois de agradecer, eu direcionei as minhas atenções a Dennis que dessa vez continuava a cochilar, decidi por não o acordar e me vi sem ter o que fazer. Depois de alguns minutos parado eu decidi por voltar a cadeira perto da janela e observar mais uma vez a cidade...

Off: Eu que demorei dessa vez X.X

A falta de curativos cobrindo sua cabeça era estranha, após dois dias com elas. O céu se tingia de laranja e dourado com detalhes rosados, um verdadeiro espetáculo de cores enquanto o sol abria espaço para o reinado da lua. Os inúmeros prédios esconderiam-se na escuridão, não fosse as inúmeras luzes escapando pelas janelas. Na cama de Tomy, Dennis ressonava baixo e constantemente, indicando que dormia tranquilo.

O relógio já indicava meia-noite quando a maioria das luzes da cidade apagaram-se em definitivo. Muitas famílias já dormindo. Contudo o cadete parecia não ter sono nenhum. Em menos de um minuto começaria o dia em que receberia alta. Em seis ou sete horas, talvez, já estive com seus pokémons. A ansiedade começava a crescer e o sono ficava cada vez mais distante, porém o oficial sabia que deveria descansar se quisesse estar em plenas condições ao entrar na academia.

Na rua, as estrelas brilhavam entre as nuvens e as sirenes de viaturas e ambulâncias quebravam o silêncio, juntamente com tiroteios. A cidade Mengun parecia ter uma alta taxa de criminalidade e isso não surpreendia Tomy, a julgar pelas inúmeras transferências de oficiais para a dita cidade. O relógio marcava uma da manhã e o cadete ainda não dormira. Certamente não teria a melhor das aparências quando se apresentasse a seu time se tentasse dormir um pouco.

Deitado mais uma vez, Tomy lutou para dormir, porém sua mente parecia mais concentrada em formular expectativas para o dia seguinte. O jovem cadete não saberia precisar quando conseguiu finalmente adormecer, com Dennis ao seu lado ressonando baixinho. Tudo o que o moreno sabia dizer é que foi despertado, às sete horas da manhã, com Dennis lhe lambendo o rosto. Uma enfermeira entrava no quarto, com o café da manhã. Contudo Tomy só tinha olhos para o cadete ao lado da mulher.

- Bom dia oficial. O capitão Kibato me pediu para informá-lo de que ele já está assinando a documentação para a alta e que, se não houverem atrasos, deveremos partir até as 8h.

O cadete desconhecido informava tranquilamente. Ele parecia ser um homem jovem ainda, porém já possuía duas estrelas em seu braço. Tomy estava ansioso por receber sua segunda estrela também... No entanto estava mais ansioso por encontrar seu time de novo. Dennis apontava o café, assim como a enfermeira que insistia para que ele comesse antes de ir vestir o uniforme. Dessa vez o café era mais saboroso ainda: o tradicional café com leite, duas torradas com queijo e presunto muito bem feitas e uma fatia de mamão. Leite cremoso para Dennis mais uma vez, porém novamente o leite parecia mais cremoso que o normal e o felino parecia gostar.

Os olhos de Tomy vagaram pelo quarto, enquanto Richard reclamava que ficaria sozinho novamente e ainda alegava que por um lado seria bom, já que o cadete não fora o mais falador de todos os parceiros de quarto. O cadete ignorava, o olhar fixo no uniforme impecável que estava dobrado sobre uma cadeira. Faltava pouco para encontrar seus pokémons... Muito pouco...

Após terminar a refeição, Tomy pegou seu uniforme e se dirigiu ao banheiro. A enfermeira ficou no quarto, próxima a porta, alegando que qualquer tontura o cadete deveria chamá-la. No interior do banheiro, após fazer sua higiene matinal, o jovem começou a se vestir. Por um segundo achou que fosse cair e apoiou-se na pia, porém a vertigem logo passou sem que fosse necessário chamar a ajuda da enfermeira, o que era bom, já que assim que saísse de lá não poderia contar com a ajuda de ninguém.

- Bom dia.

Tomy foi recebido com o cumprimento gentil de Sandra logo que saiu do banheiro. No colo da seguidora, Dennis recebia um afago. Contudo, ao ver o cadete vestido, o felino saltou para perto do mesmo, passando a cabeça em sua perna e demonstrando sua satisfação em sair do hospital. A seguidora usava um vestido longo e um casaco por cima, para se proteger do frio e tinha nos braços um cachecol azul marinho com uma imagem de Arceus bordada na ponta direita.

- Fiz para você. Espero que goste. - Ela disse enquanto lhe entregava o cachecol. - Espero que Arceus o proteja em seu caminho.

O tecido quente deslizava pelos dedos do cadete. O acabamento da peça era espetacular e o fato de ter sido feito à mão o tornava especial e único. Tomy agradecia ao presente e, poucos segundos depois, Kibato entrava no quarto. O capitão possuía o olhar sério e cansado, fazendo Tomy se questionar se o mesmo estivera nas perseguições que ouvira na noite anterior.

- Vamos?

Uma pergunta que soava como uma ordem. Logo o grupo descia as inúmeras escadas. A fita no pulso de Tomy era retirada na recepção e seus documentos lhe eram entregues. Estava livre para reencontrar seu time. Na frente do hospital, uma viatura. Kibato se sentou no banco da frente e o outro cadete sentou-se atrás do volante, restando a Sandra e Tomy o banco de trás. O coração do jovem cadete batia rápido, movido pelas saudade e ansiedade.

Agarrado ao símbolo de Arceus de seu cachecol, Tomy não seria capaz de dizer se tinha mais medo ou ansiedade por chegar na delegacia. A vontade de ver seus pokémons se misturava em igual proporção ao medo de descobrir que perdera um dos Eggs. Talvez por isso sua mente constantemente escapasse e se esquecesse dos monstrinhos, recordando-se e focando-se em outros pensamentos mais amenos.

A cidade de Mengun passava como um flash pela janela da viatura. Nenhum dos altos prédios ficando registrado na memória do jovem cadete. Sentindo a tensão do homem, Sandra segurou sua mão, dizendo que Arceus cuidaria dos pequenos e que ele não precisava se preocupar. Tomy agradeceu o conforto e apertou a mão da seguidora de volta, porém o gesto não foi capaz de acalmar o coração agitado. A outra mão soltava a imagem na manta e mesmo assim, por mais que tentasse parecer controlado, a seguidora via seu medo.

Não demorou meia hora e a viatura estacionava na garagem da delegacia. Tomy respirou fundo mais uma vez, sem nem mesmo ser capaz de contar quantas vezes repetira o ato. Do lado de fora, o recruta percebeu inúmeras viaturas estacionadas próximas à calçada e um número maior ainda de vagas vazias, possivelmente de viaturas em serviço. A cidade realmente era muito mais violenta que Nyender. Uma Seviper deslizou pelas escadas, parando ao lado de Kibato e recebendo um pequeno afago na cabeça. Tomy não percebeu... Os olhos do recruta estavam fixos no prédio da delegacia.

- Você não vem?

O chamado do outro cadete lhe despertou e somente neste momento o jovem percebeu que o estavam guiando para o lado de fora, mais precisamente para o outro lado da rua, onde um prédio com aparência de ginásio estava com as portas fechadas. O jovem recruta se aproximou intrigado, recordando-se de que seus pokémons estariam na delegacia, contudo, quando se aproximou e viu o brasão cadete nas portas do ginásio, percebeu que aquela deveria ser uma extensão do lugar, possivelmente para treinamento. Seu coração voltou a disparar...

Dennis parecia ansioso por entrar no prédio, constantemente olhando por cima do ombro para Kibato. Quando o delegado abriu as portas e permitiu à dupla adentrar no ambiente, cadete e Pokémon poderiam jurar que seus corações falharam uma batida. Os passos foram lentos, os olhos se acostumando a claridade em contraste com o ar cinzento e escurecido do lado de fora.

No interior haviam inúmeros cadetes treinando, fazendo flexões, abdominais, correndo e nadando. Em maior número ainda haviam pokémons. Meowths, Persian, Shinx, Luxios, Luxrays e todos os outros iniciais, bem como suas evoluções. Contudo Tomy não percebeu nada disso mais uma vez. O olhar do garoto estava fixo em uma Flareon negra que usava seu Flame Charge para combater um ataque fogo de um Houndour, para em seguida tentar surpreendê-lo com um Tackle que foi barrado por um Protect. O cadete, dono do Houndour, a parabenizava pelo progresso, como se fosse um treinador. Do outro lado, Den parecia mais concentrado em se esgueirar e tentar surpreender um Taillow, sem muito sucesso a ave escapava e se divertia rindo do felino.

Tomy sentiu lágrimas em seus olhos ao ver seus pokémons treinando de forma saudável. Meowth, ao lado, ronronava e mirava o oficial, esperando que o mesmo chamasse o resto do time e interrompesse o treinamento, para que pudessem se cumprimentar. Entretanto, antes que pudessem ao menos pensar em agir, um grito desesperado foi ouvido e do outro lado do ginásio um Aron avançou em direção ao cadete, com os olhos cheios de lágrimas e sorrindo enormemente. Tomy ficou confuso, já que não reconhecia o Pokémon, porém mais confuso ainda quando o salto deste em sua direção foi interrompido por Lilian, que se jogou sobre o pequeno. O alvoroço chamou a atenção dos demais pokémons, que deixaram seus afazeres para se aproximarem. Todos felizes demais por vê-lo. Dennis passava a cabeça na de Lilian e a jovem Luxio constantemente mirava o cadete, sorrindo até mesmo com o olhar, porém sua atenção logo se voltava para o desesperado Aron entre suas patas, que tentava a todo custo escapar, ainda chorando e rindo para Tomy. Foram necessários vários rosnados de Lilian para que o mesmo se controlasse e, somente depois disso, este foi solto. Dois passos calmos e um salto. O impulsivo e choroso Aron estava agarrado a perna de Tomy, quase o derrubando no chão. O peso do pequeno explicava o motivo de Lilian tê-lo impedido de se jogar diretamente sobre o cadete, já que isso significaria um retorno certo para a emergência do hospital.

A confusão tomava o lugar da felicidade no coração de Tomy e o jovem cadete mirava o Aron agarrado a sua perna de forma intrigada. Lilian, após passar a cabeça na de Dennis, se aproximou e buscou o afago do cadete. Pouco depois Ceci e Den também entravam na luta por atenção. O Meowth estava satisfeito, esfregando seu corpo em cada um do time que reencontrava, porém quando foi tentar socializar com o pequeno Aron, este rosnou para o felino de forma agressiva. O cadete, por sua vez, ainda mirava Kibato, tentando entender o que o Pokémon rochoso tinha a ver consigo.

- Você não sabe? Acreditamos que fosse seu. Quando foi achado na praia de Mengun, esse dai estava totalmente esgotado, encharcado e mesmo assim se recusava a soltá-lo. Ele ainda tinha vestígios de casca e os médicos falaram que não devia ter chocado há muitos dias, mas já mostrou que é duro na queda. - Disse o outro cadete que o acompanhou durante todo o trajeto.

A mente de Tomy de repente se lembrava do pesadelo de um ovo se rachando contra o casco do navio. Talvez durante o temporal, em alto mar, o pequeno aron teria chocado de um dos ovos que possuía? O jovem cadete não queria nem pensar no que o pequeno teria sofrido se a resposta fosse sim. Contudo, junto com essas dúvida, outras surgiam, como a localização do segundo egg...

- Não é bom ver todos eles bem? - Sandra comentava acariciando Ceci que, em algum momento, pegara o cachecol e já brincava com o mesmo. Den pulava sobre Dennis e ambos pareciam satisfeitos em estarem juntos. Todos pareciam felizes e um pouco indeciso sobre a quem dar atenção primeiro... Aron, por outro lado, parecia só querer saber de Tomy, se recusando a soltar sua perna.