Tape - VII - It's time to find you!

Institivamente, o jovem se abaixava junto com a enfermeira para se protegerem. Olhando para os dois lados do corredor, o recruta tentava entender o que estava ocorrendo no hospital e identificar de onde vinha o som. Pelo som da gritaria, a confusão parecia ter acontecido na recepção. Algumas pessoas passaram correndo pelo corredor empurrando macas de pacientes para um lugar mais distante do ocorrido. Um médico parava em frente aos dois jovens com uma expressão de medo no rosto.

― Vocês precisam se proteger! Aconteceu uma explosão na recepção e acredito que os cadetes já estejam a caminho.

A enfermeira olhou para Navier um pouco desconsolada. Apesar de ser um cadete, o jovem estava sem seus pokémon: a felina internada e o canino na recepção. Uma adolescente surgia correndo da direção do corredor. Entre lágrimas, a jovem parou perto de Guilherme e da enfermeira tentando recuperar o fôlego.

― Minha... mãe... ― mal conseguia falar e lágrimas escorriam pela face.


Enquanto fazia as buscas, Luna escutou o som de uma explosão vinda do hospital. Imediatamente a jovem tinha uma espécie de dejavù pois já tivera sua experiência de explosões na estação de Nyender. Imediatamente a jovem corre para ajudar no local. Se Guilherme estava lá ou não, o destino diria. Mas a prioridade era ajudar as vítimas no local.

A chuva caía lavando as ruas da capital. A vigarista corria o mais rápido que podia ao lado de seus pokémons. Em pouco tempo, se via em frente ao hospital. Várias pessoas saíam correndo desesperadamente. Boa parte delas estava ferida com estilhaços de vidro e pedras lançados pela explosão. Luna adentrou o hospital já com as ordens dadas aos companheiros.

O local estava uma confusão. A explosão destruíra parte do local de espera. Algumas pessoas ainda estavam caídas no chão. Era difícil saber se estavam desmaiadas ou mortas. Papéis espalhados por todo o local e uma leve nuvem de poeira ainda pairava. No chão, próximo ao balcão da recepção, havia pedaços de pelúcia de algum pokémon.

A confusão era grande na entrada do hospital. Poeira, fuligem e destroços faziam parte da decoração de terror por toda recepção. Corpos jogados ao chão, alguns desmaiados e outros já sem vida devido ao impacto da explosão. Próximo de Luna o detalhe de algo que um dia fora um brinquedo infantil.

Alguns jovens com ferimentos leves já estavam de prontidão ajudando os feridos e as crianças. Violeta saltava por cima de Luna e se infiltrava pelas alas mais profundas do hospital seguida de perto Fertuz. A imagem de uma recepcionista presente atrás do balcão já não fazia parte do cenário de tristeza, gritos e para alguns... Saudade.

Luna deixou os jovens socorrendo os demais na entrada do hospital e saiu em busca do rastro de Violeta e Fertuz. A poeira que se espalhou pelos corredores dificultava a visão, mas ela continuava seguindo em frente, esperançosa.

- Navier -

Navier não sabia muito bem como agir em uma situação como aquela, ainda mais pelo fato de estar desarmado de todas as formas. Ele encarou a enfermeira firmemente. - Creio que não podes abandonar a UTI, certo? - a enfermeira relutante confirmou que sim. - Pois bem, entre e cuide dos que ficaram. Vou tentar chegar na recepção e volto com ajuda! - ela não queria ser deixada para trás, mas não podia ir contra o que o recruta dissera.

Guilherme agarrou a mão da jovem que chorava diante dele. - Vamos ficar bem, eu prometo! - ele vasculhou o corpo da jovem para ver se ela não estava ferida e começou a andar na direção da recepção. Seguindo pelo corredor do necrotério logo ele estaria lá, ou pensava que seria assim.

A jovem observava todo o caos na recepção. Algumas pessoas voltavam a entrar no hospital para ajudar aqueles que ainda permaneciam por lá. A ausência do provocador do incidente era preocupante. Ele ainda estava por aí e poderia causar problemas maiores. Violeta e Fertuz tomaram a dianteira e seguiram pelo corredor da esquerda. Violeta ganhava a dianteira de todos e sumia pelo corredor espalhando suas cópias. Luna chegava ao necrotério dos humanos e parava ao ver que Violeta retornava sem nenhum sucesso. Talvez o tal jovem loiro não estive na ala dos humanos. Não demorou muito até outra explosão acontecer, desta vez vinda da ala dos pokémons.


O jovem tentava manter-se controlado naquela situação. Apesar de desarmado, o recruta se portava como o ofício exigia. A enfermeira ainda precisaria ficar na UTI, pois os pokémons ali presentes não poderiam ficar sem assistência. Navier checou a jovem para ver se estava bem, mas a mesma estava ilesa. Tomando a mão da adolescente, Guilherme seguia para a recepção.

A jovem seguia em silêncio enquanto passavam pelo necrotério pokémon. O corredor estava em total silêncio o que era estranho para um ambiente que possuía um maníaco à solta. Durante o caminho, uma energia negativa tomava o ar. Tudo ali parecia tomar um aspecto mais sombrio e o próprio ar parecia mais pesado. Repentinamente, uma criatura começava a se materializar em frente aos dois jovens. A imagem de um Dusclops surgia o que fez a adolescente apertar a mão do cadete e se esconder atrás dele. O fantasma olhava profundamente para Navier e começava a acumular uma energia negra que aos poucos ia ganhando o formato de uma esfera.

A garota puxou o braço de Guilherme e começou a correr a de volta para a UTI. A atitude da jovem fora boa, pois a Shadow Ball era lançada e explodia justamente onde estavam antes. A garota entrou de volta na UTI sendo acompanhada por Navier e fechou a porta atrás de si.

A enfermeira se assustou ao ver os dois jovens entrando rapidamente.

― Que coisa? O que está vindo para cá? ― a mulher ficava nervosa, mas continuava a ajustar os aparelhos que sustentavam a vida de um Piplup.

Antes que alguém explicasse, um espectro começava a surgir do chão atrás da enfermeira. Dusclops surgia e agarrava a mulher com suas mãos. A enfermeira gritou por socorro, mas uma risada cortou o ambiente. A adolescente começou a caminhar em direção ao Dusclops de forma tranquila enquanto ria sarcasticamente.

― Obrigada, já estava ficando entediada aqui. ― a jovem olhou diretamente nos olhos de Guilherme. A expressão agora era totalmente diferente da de antes. O recruta conseguia sentir algo maligno vindo da garota. ― Imagine quantas possibilidades temos aqui! ― a jovem estendia as mãos apontando para os pokémons hospitalizados. ― Não seriam sacrifícios bons, mas o caos... seria delicioso... ― A jovem enfiou a mão no corpo do fantasma e retirou uma bolsa. ― Que rudez a minha! Me chamo Katja Ekaterine... ― a jovem fez uma reverência e sorria para Navier ― e você será ofertado ao Grande Senhor das Trevas!



Outra explosão deixava a jovem apreensiva e irritada. Era inaceitável existirem pessoas que se achavam no direito de destruir lugares ou causar sofrimento a pessoas e pokémons. Fertuz surgia do necrotério também sem sucesso. Com a equipe reunida novamente, o grupo partiu para o lado da explosão.

Com a ordem dada à felina, Violeta seguiu correndo corredor à frente. Fertuz permanecia junto à gladiadora que ainda entoava seu canto. A música saía como um canto de guerra para avisar, ao causador de tudo aquilo, a chegada da jovem. Luna e Fertuz passaram pelo necrotério dos pokémons e continuaram seguindo para o lado da UTI.


O jovem ficava indignado com a reviravolta da situação. A sensação de ser enganado por uma garota tão jovem era angustiante. Tudo parecia ser um jogo de Katja para deixar o momento mais interessante e divertido. Somado a isso, a sensação de impotência deixava o jovem angustiado. Sem pokémons, sem armas e em um ambiente desfavorável. Ao fundo, uma canção podia ser ouvida e ficava cada vez mais alta. A voz não era muito desconhecida para o jovem cadete.

― Comecemos...

Katja terminara de falar e uma luz vermelha invadia o quarto. Uma arbok surgia ao lado da jovem com uma expressão faminta. Sem esperar qualquer comando, a serpente rastejou rapidamente contra o jovem e o envolveu em seu abraço mortal. Arbok apertava cada vez mais forte com o desejo de quebrar os ossos do recruta.

A jovem já seguia Violeta pelo corredor que levava a UTI Pokémon. Algumas luzes já estavam queimadas enquanto outras piscavam continuamente. O som da voz de Luna fora silenciado pelo gemido que ela ouviu, certamente havia alguém por ali e podia estar ferido e precisando de ajuda.

Violeta parou em frente a porta cujo a descrição dizia: - UTI. Silêncio! - No entanto a expressão da felina denunciava que algo estava errado ali dentro. Um estalo na mente da gladiadora fez com que ela parece.

- Cuidado! - avisou a voz. Era Kirah e ela sabia muito bem que ignorar sua parceira poderia ser uma péssima ideia. Luna concordou com a cabeça e continuou.

Fertuz seguia adiante e parou ao lado de Violeta. O brilho das garras e cauda dos dois era notório. A jovem fez um movimento com a mão, lhes pedindo calma.

Aproximando-se da porta ela ouvira novamente o gemido de dor e uma voz feminina desconhecida, porém tão irritante quanto a voz da irmã de Kaleb.

Enquanto isso dentro da sala Navier já estava caído tentando respirar enquanto tinha seu corpo totalmente prensado pela força da serpente. O sorriso cínico no rosto da adolescente o irritava, mas naquela situação ele não podia fazer exceto manter vivo.

O recruta ouviu um canto vindo do outro lado da porta, desta vez ele tinha certeza de quem era a voz agradecia a Arceus, mas ainda tentava respirar. Antes que ele pensasse em mais alguma coisa a porta atrás dele era feita em meros pedaços. E ele via uma silhueta pequena e com curva salientas e ao seu lado a sombra de Violeta e Fertuz se fazia presente.

Luna já conseguia ver com quem ela teria que lhe dar. - Vão! - ela exclamou enquanto entrou na sala chutando a cabeça de Arbok. - Use o Telekinesis! - ainda do lado de fora, escondida nas sombras estavam a humanoide com os olhos brilhando em resposta as ordens de sua dona.

- Então quer dizer que você é a causadora de todo esse caos? - indagava a Gladiadora furiosa.

Diante de si Guilherme tinha uma mulher, mas muito diferente daquela que um dia fora sua prima. Em sua mente ele se questionava sobre se quem estava diante dele era realmente sua prima ou não.

"Luna... é você mesmo?"

Luna seguiu Violeta até a UTI e percebeu que algo estranho acontecia ali dentro. Kirah pedia para que a gladiadora tivesse cuidado com o que havia ali dentro. A canção continuava a ecoar pelos corredores. A porta da UTI era totalmente destruída e vários pedaços voaram pela UTI, alguns chegando a cair em cima de alguns pokémons hospitalizados.

A jovem gladiadora via o loiro preso sob o abraço de Arbok. A jovem chutou a cabeça da serpente, mas a mesma não sentira nada, apenas lançou um olhar de ódio para a garota e sem soltar o jovem. Com as ordens da gladiadora, Arbok, e consequentemente Guilherme, eram suspensos no ar devido ao Telekinesis de Kirah que permanecia oculta. Katja apenas fez um biquinho e olhou para a serpente suspensa no ar. Dusclops começou a pressionar a enfermeira com mais força fazendo-a gritar alto.

― Que mal-educada! Chega sem ser convidada e ainda exige respostas e mais respostas. Muito feio isso. ― Katja não parecia impressionada com intrusa. ― Aqui está muito cheio, não acha? Estou curiosa pra saber o que vai fazer agora... ― a jovem caminhou até um bebê Caterpie e começou a acariciá-lo mas lançando um olhar maldoso para a gladiadora. Enquanto isso, Arbok permanecia suspensa prendendo Guilherme em seu corpo.

Luna ordenava mentalmente para que Kirah libertasse o jovem recruta. Os olhos da kadabra brilharam em um tom azulado no mesmo instante que o corpo de arbok. Com esforço, pouco a pouco o abraço mortal ia cedendo e o corpo do jovem era retirado de lá e depositado no chão. Guilherme tossia forte devido a pressão sofrida.

Luna, aos poucos, deixava seu lado sombrio e sarcástico surgir. A jovem correu na direção de Katja e parou frente a frente pronunciando as palavras “I go crazy” no ouvido da jovem.

― De pertinho... uii... ― a jovem parecia não se impressionar com nada que estava acontecendo ali. Um estalar de dedos ecoava pela UTI e, num piscar de olhos, todos reapareciam no terraço do hospital. Katja mirava os olhos de Luna com um sorriso. A adolescente passou a mão pela face da gladiadora e piscou para ela. ― Eu também gosto de joguinhos.

Mal terminara de falar e três camas da UTI surgiam atrás da jovem. Dentre elas, a Meowth de Navier que ainda estava desacordada. Por detrás da cama, uma Kirlia de cores diferentes surgia com um olhar sombrio e maligno e afastou Luna de Katja usando seus poderes psíquicos. A pokémon sentimento se dividiu em vários clones e se distribuiu entre as camas. Sem estarem conectados à energia, os aparelhos presos aos pokémons eram inúteis. Eles não resistiriam por muito tempo.

― Você é mais divertida que aquele mané ali. ― Katja lançou um olhar de desprezo para Guilherme e sorriu. ― Minha vez! ― a adolescente via aquilo tudo como um jogo e não se importava que as peças eram vidas inocentes. ― Mão Negra, lance essa mulher insuportável daqui de cima e liberte Venom. Viúva Negra, erga seus três brinquedinhos no ar e jogue-os um para cada lado. Venom, vem para perto de mim, docinho. Você gosta de estalar os dedos, não é?

Assim que terminara de falar, a jovem estalou os dedos e todos os pokémons trabalharam simultaneamente em uma perfeita ordem. Dusclops jogou a enfermeira com toda a força para a direita. A mulher começara a gritar desesperadamente. Ao mesmo tempo, os olhos de Kirlia brilhavam e erguiam todos os três pokémons no ar. O pequeno Caterpie era lançado à esquerda, um Growlithe era lançado com toda a força para cima e a Meowth era lançada para o lado de trás da adolescente. Com um Psychic, Dusclops arrancou Venom da prisão telecinética de Kirah. A serpente deslizou velozmente para Katja e se enroscou nela. A garota sorria se divertindo com tudo o que acontecia ali.

― Bing Bing! Termino minha jogada!

Guilherme ficava espantado ao ver as ações da adolescente. O jovem mal saíra da academia e já enfrentava uma situação de risco altíssimo. Luna mantinha-se no jogo da jovem e dava ordens na tentativa de salvar os pokémons lançados. Violeta se dividia para salvar os pokémons enquanto Kirah se ocupara da enfermeira. Guilherme também tentava ser útil. O cadete começou a correr na direção do Growlithe. Era difícil mirar o canino no alto ainda mais devido o Sol no rosto. Com um pulo, o recruta se jogou no canino quando este estava voltando em queda. O coração estava disparado enquanto lançava um olhar para a gladiadora ali presente.

Violeta seguiu na direção do caterpie enquanto as cópias seguiram para a Meowth. Violeta original correu o máximo que pode, mas a pequena lagarta já saía dos limites do terraço. A felina parou no limite e lançou a cauda na direção do caterpie. Como um laço, a cauda se envolveu no pequenino. Sendo leve, a felina não teve dificuldades para puxá-lo de volta. Enquanto isso, as cópias passavam por Katja para ganhar acesso à Meowth. A jovem não fez nada, apenas emitiu umas risadinhas levando a mão à boca. As cópias de Violeta continuaram a correr e se lançaram contra a felina já estava saindo do terraço. Infelizmente o plano da gladiadora não surtia efeito. As felinas passavam pela Meowth como que fantasmas. Double Team criava apenas cópias ilusórias e não cópias materiais. A Meowth saiu dos limites do prédio e começou a cair em queda livre.

― Ops! Acho que vi um gatinho... ― a adolescente sorriu ironicamente ao ver a felina despencado terraço abaixo e se voltou para Luna. ― Não se iluda! Não há tantas garotas como eu. Mas essa sua Kadabra é muito chata... ― Katja franziu a testa e fez biquinho. ― Mão Negra, Disable por favor! ― O Dusclops mexeu as mãos de onde saíram energias azuis que envolveram o corpo de Kirah. A psíquica sentia sua capacidade de teleportar ser neutralizada. ― Venom, faça chover suas bombinhas! ― A serpente abriu a boca e lançou para cima enormes Mud Bombs. Viúva Negra se aproximou de Katja e abriu um o Protect. ― Hum... acho bom ter trazido o quarda-chuva.

Fertuz sabia que precisava agir rápido. Usando a água do terraço, o pinguim correu para ganhar impulso e se jogou no chão. Deslizando em alta velocidade, Fertuz desviava das bombas de lama enquanto partia na direção que a Meowth havia caído. Ao passar por Katja, a jovem apenas riu novamente sem impedir nada. O primplup se jogou e começou a cair tentando alcançar a felina. Ao agarrar a gata, Fertuz lançou uma rajada de bolhas para se impulsionar para o prédio. Com Metal Claw, Fertuz fincou as asas no prédio e pouco a pouco começou a parar enquanto segurava a felina com o bico. Primplup respirava aliviado, mas o coração ainda estava acelerado. Quando o pinguim ia quebrar a janela ao lado para poder entrar, ele sentiu uma garra o pegando e o levando para cima.

Violeta puxou Guilherme para perto e levantou a barreira de proteção. As bombas caíam enquanto Katja bocejava. Não era assim que ela imaginava a chuvinha. Após a última Mud Bomb atingir o chão, Luna deu ordens para Kirah e Violeta. Antes que elas pudessem agir, o terraço era cercado por uma grande quantidade de Swellows e Taillows. Um dos Swellows segurava Fertuz e a Meowth e os depositava de volta no terraço. Katja olhou em volta e se viu sem saída.

― Você está cercada! Recolha seus pokémons, coloque as mãos sobre a cabeça e se ajoelhe! ― Uma voz era ouvida vinda lá de baixo. Um cadete com um megafone pedia a rendição da adolescente. Katja encheu as bochechas e fez biquinho. ― Acabou a brincadeira... ― a voz dela transmitia um tom de tristeza igual ao de uma criança. ― Venom, Haze! ― a serpente abriu a boca e uma espessa neblina começou a dominar o terraço. As aves dos cadetes trabalharam rápido com suas asas e a dispersaram, mas a jovem e seus pokémons haviam desaparecido. Guilherme tomara um susto ao ver que o Growlithe não estava mais em suas mãos. Certamente Katja não quis ir embora sem levar um presente a Giratina.

Guilherme não estava muito satisfeito com a atuação dos cadetes naquele caso. Antes mesmo que continuasse a pensar, era envolto nos braços da prima. Todo o afeto ali transmitido deixava bem claro que a gladiadora estava apenas atuando quando falara aquelas coisas na presença de Katja. Os corações dos jovens se uniam. A saudade e o alívio eram grandes. O pior já havia passado, mas ainda haviam pokémons a serem cuidados. Kirah teleportou todo o grupo de volta para dentro do hospital.

Os jovens haviam parado na ala dos humanos onde já havia uma grande movimentação. Enfermeiros, médicos, voluntários e cadetes circulavam pelos corredores tentando colocar o hospital em ordem o mais rápido possível. A enfermeira se aproximou dos jovens com uma expressão de alívio.

― Cadete Guilherme, iremos levar a sua Meowth o mais rápido possível para a UTI. ― A mulher pegou a felina dos braços de Fertuz e olhou curiosa para o grupo. ― E... Onde está o Growlithe?

Diante da pergunta da enfermeira, os jovens apenas se calavam. A mulher entendia o que ocorrera e uma expressão de preocupação tomava o rosto dela. Guilherme também não estava muito bem com o acontecido. Em seu primeiro dia como cadete, o jovem já experimentara o sabor amargo do fracasso. A mulher passou pelos jovens em silêncio e eles partiram para um lugar onde pudessem conversar.

Apesar da bomba ter explodido na recepção, o local já estava começando a ser organizado. Luna e Guilherme foram para uma enfermaria onde foi improvisado um local para continuar os atendimentos às pessoas e pokémons. Enquanto conversavam sobre trivialidades da vida, uma enfermeira se aproximou acompanhada por um homem com uma expressão bem séria.

― Sr. Guilherme? Perdoe-me por interrompê-los. Encontramos esta pokébola que pertence a você. Também gostaria que assinasse este formulário com suas informações pessoais para que possamos avisá-lo quando sua Meowth receber alta. ― A jovem entregou a esfera e os papeis e abriu espaço para homem ao lado. ― Este aqui é o cadete Reynald. Ele gostaria de falar com vocês.

― Obrigado, enfermeira Claire, mas minha atenção é apenas com este cadete. ― O homem se voltou para Navier. ― Preciso que me acompanhe à delegacia. Você precisa passar um relatório sobre o que aconteceu aqui.

Por mais que Navier quisesse, aquilo ainda não havia terminado. Ele ainda precisaria prestar relatório do ocorrido, coisa que naquele momento ele não estava nem um pouco afim de fazer, mas era necessário.

Luna segurou firme em sua mão e concordou com a cabeça em acompanhar o primo em seu dever para com a cidade. - Estamos nessa juntos! - ela apertou ainda mais sua mão. - Obrigado! - ele pegou a esfera de seu parceiro e preencheu os formulários entregando-os para a enfermeira que agradeceu e disse que qualquer novidade ele seria notificado o mais rápido possível.

Voltando-se para o outro cadete diante dele, ele concordou em acompanhá-lo e assim o fizeram. O homem seguia abrindo caminho por entre os médicos e enfermeiros que corriam de um lado para o outro a fim de colocar tudo em ordem o quanto antes. Fertuz e Kirah haviam sido recolhidos, mas estavam prontos para qualquer chamado de sua dona, Violeta acompanhava a dupla de perto. Certamente a felina era uma companheira indispensável a Luna e ela sabia disso mais do que ninguém.

- Será que ela vai melhorar? - cochichou ele. - Vai dar tudo certo, Gui! - ela sorriu ligeiramente para ele enquanto continuavam a acompanhar o homem que, por sinal, era bem sério. Navier lembrava que pelo pouco que havia convivido com os cadetes isso era uma característica de todos eles.

Luna apoiava o primo quando percebeu que o último lugar em que o jovem queria estar era na delegacia. Os jovens passaram a acompanhar o cadete que seguia sempre à frente. Dos pokémons dos jovens, somente Violeta caminhava livre de sua pokébola balançando a cauda de um lado para o outro. A preocupação do jovem cadete era com sua Meowth que ainda estava internada.

Do lado de fora, a chuva começava a estiar. Uma boa concentração de pessoas rodeava o hospital curiosas para saber detalhes do que aconteceu ali. Uma repórter aparecia correndo com um magnemite ao lado. A jovem já estava ansiosa para entrevistar Guilherme e Luna, mas Reynald fez questão de despachá-la da forma menos gentil possível.

O grupo seguiu para a delegacia diretamente para o gabinete do delegado. Kibato estava sentado à mesa mexendo em alguns papeis e nem levantou o olhar.

― Quem é esta? ― Buck Kibato perguntou enquanto lia um relatório. O persian mirava os dois jovens com frieza, principalmente para a Glameow.

― Esta jovem está acompanhando o recruta. ― Reynald tomou a palavra.

― Ela sai. Você fica. ― Kibato olhou fixamente para Navier com uma expressão fechada. Reynald guiou Luna e Violeta para fora deixando Guilherme sozinho. ― Agora você pode começar a explicar o que diabos aconteceu naquele hospital. Relatório completo!

"Babaca! - resmungou. - Ei, eu ouvi isso! - ele respondeu. - Mas ele não!- sorriu ela."

Luna resmungava em pensamento por não poder participar do depoimento do primo. Ela achava injusto ela ter salvo aquele hospital inteiro sozinha e não ter um pingo de reconhecimento, principalmente dos cadetes incompetentes que além de não ajudarem em nada, ainda deixaram a adolescente Giratinista fugir.

Já dentro da sala, Navier explicava passo a passo do que havia acontecido no interior do hospital. Ressaltando que no momento em que a UTI Pokémon fora atacada ele havia acaba de dar entrada de emergência por causa de sua Meowth que, inclusive ainda estava recebendo tratamento devido a ausência dos aparelhos necessário para sua sobrevivência.

O jovem descrevia a Giratinista como um adolescente comum, exceto pelo gosto psicótico em ofertar a vida de outros Pokémons para o grande dono do mundo inverso, Giratina. Talvez frisou o fato de quase ter sido esmagado vivo por uma Arbok, como também o alívio em rever sua prima em uma situação como aquela e ainda ressaltou: - Senhor, devido ao estado que meus Pokémons saíram da acadêmia, se não fosse Luna, talvez o estrago no hospital tivesse sido bem pior!

Enquanto isso, do lado de fora, Luna permanecia inquieta e emburrada, questionando-se sobre o que tanto eles conversavam que ela não podia saber. - É esse o agradecimento que eu recebo por salvar a vida desse povo pela segunda vez? - ela se perguntava mirando a felina.

Luna detestou o fato de ter sido deixada de fora da sala de Kibato. A gladiadora fora de suma importância para que algo pior não acontecesse. Ao menos um “obrigado” seria bom, mas nem isso a jovem recebia. Violeta balança a cauda e olhava para a jovem como se lesse os pensamentos da mesma.

Já dentro da sala do delegado, Guilherme “enfrentava” Kibato. O jovem recruta explicava todo o ocorrido no hospital principalmente o fato de estar impossibilitado de agir e a importância da ajuda da prima. O homem apenas ouvia o relato sem nada dizer, mas a expressão no rosto não era muito agradável.

― Você deveria ganhar uma medalha de incompetência. Ainda foi salvo por uma gladiadora!? ― O sarcasmo do homem vinha misturado com um tom de voz furiosa. ― Começou muito bem! Saia daqui! Vá patrulhar a rua ou algo assim. ― Kibato fazia sinal com a mão para que o jovem saísse, mas, antes que Guilherme deixasse a sala, intervinha novamente. ― A propósito, é bom que seu Meowth sobreviva.

Assim que terminou de falar, o delegado voltou sua atenção novamente aos papéis sobre a mesa. Kibato não era conhecido por sua gentileza, mas talvez o homem tenha exagerado um pouco. Na verdade, todo o clima na delegacia estava pesado. Talvez poderia ser devido ao incidente no hospital, ou outra coisa preocupava os cadetes de patente superior naquele momento.

Guilherme deixou a sala de Kibato um pouco cabisbaixo. Em seu primeiro dia como cadete, já recebia um sermão do delegado da cidade sem nem ao menos ter culpa de nada. Luna já imaginava que encontraria o primo assim e o puxou pelo braço tirando-o dali com o Teleport.

A dupla surgiu em um beco e ficou ali sob a chuva. De prima para primo, a gladiadora tentava animar o recruta apresentando os fatos que o inocentavam de toda aquela culpa. Já não era surpresa que Cornélios assumira o comando dos cadetes e que Angélica pedira uma “aposentadoria” talvez temporária. O futuro para os dois ainda era incerto. Guilherme ainda pensava o que faria, mas, de uma coisa ele tinha certeza com a fala da jovem, ele não estaria sozinho em nenhuma situação.

Após Luna receber uma mensagem de texto, os dois precisariam decidir o que fariam. A chuva começava a cessar. Kirah ainda os observava com um olhar terno enquanto Violeta balançava a cauda em um ritmo de um metrônomo.