E Aqui Estamos Mais Uma Vez...

Está tão escuro, que nem sei diferenciar o chão da montanha do chão da cidade. Quero óculos com visão noturna... Seria muito útil nesse momento... Mas não tenho muito do que reclamar, já que finalmente chegamos à cidade.

Me sinto mais calma por estar tão perto de terminar essa missão, mas por outro lado, não sei se os cadetes ainda estão atrás de mim. Acredito que não, fiquei algumas longas horas longe, e como não fiz nada além de irritar o Zangadinho, então eles não tem razões para ficar me caçando, a não ser que considerem o fato de eu saber que assistem novela invés de trabalhar uma ameaça.

Ando pelas sombras, tentando ser discreta enquanto me aproximo do hotel. Estou louca para entregar essas pedras malditas, tomar um banho e ir dormir. De manhã eu revejo o que tenho para fazer.

Kate seguia pelas sombras nas ruas de Chermont, temendo que os cadetes ainda a procurassem, por mais que seus crimes até agora se resumissem a perturbar um cadete e descobrir que eles ficam vendo novelas... Era melhor não contar com a sorte.

Spearow dormia tranquila sobre a mochila de Kate, aparentemente sem se preocupar em ser guiada pela cidade por uma adolescente que não era sua dona. Poochyena saltitava na frente, claramente ansioso por chegar no Kazumi Hotel, enquanto Amore, igualmente ansiosa, pulava sobre o ombro de Kate, pedindo para que ela andasse mais rápido. De dentro da pokébola de Haunter, o ronco do fantasma ainda era ouvido.

A caminhada até o Kazumi Hotel foi tranquila e Kate se alegrou ao ver o prédio. Apesar da avançada hora, a recepção estava aberta e o Gerente estava sentado atrás de uma escrivaninha, aparentemente arrumando alguns documentos. Kate se aproximava de forma cautelosa. Da vez anterior, estivera bêbada no lugar e não sabia exatamente como se portar.

Continuo caminhando pelas sombras, não quero chamar atenção nenhuma. Spearow dormia, e sinto inveja dela. Quem me dera se eu a ser carregada e podendo dormir, enquanto quem me carrega que se vire pra chegar aonde quer chegar. Pensando nela, penso por que ela ainda está me acompanhando... Hellhound e Amore estavam ansiosos, assim como eu. E preciso achar uma forma urgente de acabar com os roncos de Haunter...

A caminhada seguia tranquila, graças a Arceus! Me permito um leve sorriso. E ainda estava aberto! Entro na recepção e procuro pelo gerente. É estranho falar com ele pela primeira vez... Primeiro contato, eu estava bêbada, no segundo contato, ele me expulso do hotel e mandou voltar só quando a poeira baixasse... Não foram bons primeiros contatos...

-E ai?

Me aproximo dele e me pronuncio, esperando ele falar alguma coisa. Amore fica se remexendo, querendo banho. Poochyena já está acostumado e aguarda, embora também queira descansar logo.

O terceiro encontro com o gerente não parecia ocorrer da melhor forma, afinal os olhos dele deslizaram de cima a baixo em Kate, parecendo analisar o pó que ela distribuía pelo salão. Em seguida, ele lhe mirou, erguendo uma sobrancelha e claramente insatisfeito. Amore ainda choramingava e puxava algumas mexas de cabelo de Kate, como se dissesse "deixa isso pra depois, banho primeiro". A adolescente tinha certa dificuldade em ignorar isso, mas conseguia. Poochyena mantinha-se quieto, sentado e comportado, já Spearow parecia não gostar do barulho, se remexendo e reclamando. O ronco de Haunter dava um toque especial ao terceiro encontro.

- Você trará problemas, senhorita Gray. - O gerente começava fechando uma pasta. Em seguida guiou Kate para as portas de acesso restrito, levando-a para o subsolo do hotel, onde ela poderia descansar e recuperar seus pokémons. Uma camareira, ao passar por eles, saiu resmungando e alegando que não limparia o quarto em que a Armagedon ficasse, porém era ignorada pelos dois.

No subsolo, a área de acesso comum estava vazia. Possivelmente os criminosos estavam em missão ou dormindo. Kate mirou a porta que lhe era aberta e a chave entregue. Queria falar da missão, mas não sabia como começar. O gerente, no entanto, entrou no quarto junto com a menina e, no interior, perguntou da encomenda.

A julgar pelo olhar dele para a trilha de pó que eu deixava para trás, o terceiro contato também não era exatamente agradável. Continuei o observando, aguardando que ele me levasse para o andar de baixo e pudesse entregar as pedras de uma vez. Foi difícil ignorar Amore puxando alguns fios de cabelo. Os outros se comportavam melhor, embora Spearow reclamasse e Haunter não providenciasse a melhor trilha sonora...

-Você não é o primeiro a dizer isso...

Respondo após o comentário dele antes de segui-lo. O que foi? É a verdade! Acho que muita gente que já me conheceu em algum momento acredita que sou problemática, embora eu ache que seja exagero.

Fico feliz em poder entrar num quarto e o gerente logo pedia os itens da missão. Sem me importar de que iria sujar os lençóis, pulo na cama e começo a revirar a mochila, jogando de forma desleixada os discos que atrapalhavam na busca para qualquer lado. Organização nunca foi meu forte, e não vai ser agora que vai ser. Pego duas Banetites, 2 Gengarites e 1 Alakazite. 5 pedras praticamente cinzas de tanta poeira, mas alcanço para o gerente.

-Estão aqui.

Digo, aguardando ele pegar os itens e sair. Quero entrar logo no banho. Amore já usou Attract em Hellhound, fazendo-o organizar minha pequena bagunça e guardar todas as TMs de volta na mochila. Aparentemente, ela queria dormir num ambiente razoavelmente limpo. Depois levo todos para tomar um bom banho, já que nenhum está sem alguma parte do corpo cinza de poeira...

Enquanto Poochyena, completamente apaixonado por Amore, começa a limpar o quarto, recolhendo os itens espalhados, Kate mirava o gerente analisar as cinco pedras. Um lenço branco era usado para limpar as pedras acinzentadas, revelando a mega stone por baixo da sujeira. Satisfeito, ele guardou as cinco pedras no bolso e entregou um envelope para Kate, se retirando do quarto sem dizer mais nenhuma palavra.

Kate abria o envelope feliz da vida, já que, a julgar pelo volume, era o pagamento pela missão. Certa, a adolescente ia abrindo as notas de Pk$ a frente do rosto, sorrindo vitoriosa com o dinheiro, até avistar um papel branco no final. Desconfiada, a adolescente passou a ler o conteúdo, se deparando com mais uma missão. Amore, por sua vez, já ligava o chuveiro, ajustando a temperatura da água e escolhia o shampoo com perfume de flores para lavar seu pelo, enquanto Poochyena acomodava uma toalha felpuda ao alcance da esquila. Spearow simplesmente acordava, mirava as penas sujas e invadia o banho que Amore estava preparando com tanto cuidado, roubando a vez da esquila.

Enquanto as pokémons brigavam, uma atendente recolhia o Poochyena apaixonado e o Haunter, retirando ambos do quarto na frente dos olhos de Kate, que nem ao menos se mexia enquanto olhava o papel da missão. Nem ao menos dormira e já teria de sair de novo? Incrédula, a morena nem ao menos percebia o pagamento pelo novo trabalho.

Você está recebendo este comunicado para que saiba que foi escolhido para realizar esta missão. Tenho certeza de que suas habilidades serão o suficiente para concluir tal tarefa com competência. Se falhar, bem... Ouse falhar para saber o que vai acontecer. Seguem abaixo os detalhes da missão.

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Detalhes da missão: Você deve ir até o bairro Sonatha, em Chermont City e criar algum atrativo para os cadetes. É imperioso que o maior número de oficiais seja designado para está região até o dia de amanhã às 15h e que se mantenham na região até o final do dia.

Recompensa: 4000 de Exp dividido entre todos os pokés, 2,000 Pk$

Assim que finalizar, vá para o Kazumi Hotel e entregue um relatório para o gerente para receber seu pagamento.

Kate nem ao menos lia os detalhes da missão, para tentar entender o motivo de trabalho tão diferenciado dos normalmente realizados por Armagedons. Caso o fizesse, se lembraria que às 15h do dia seguinte, Zuzu chegaria à cidade com algum item muito raro a ser entregue para o Ministro local. Certamente outros atacariam o Ministro em busca do item e a líder queria garantir o mínimo de segurança na região.

Ignoro a arrumação que Hellhound estava fazendo, me ocupando em observar o gerente limpar as pedras. Um pouco de exagero na minha opinião... O que ele esperava? Olha onde eu fui, não tinha como sair limpa daquele lugar! Bom, ele me entregou um envelope e saiu sem dizer nada, e pelo volume, acredito que seja o pagamento.

Sorrio ao ver cada nota do dinheiro, aquilo iria ajudar muito! Dinheiro sempre cai bem, sabe? Mas havia também outro papel que eu não esperava encontrar. Xingo, não tão mentalmente como esperava, muito menos num tom baixo para que ninguém ouvisse, toda a árvore genealógica do gerente. Que história é essa de me mandar mais uma missão? E sem descanso?! Ele acha que faço fotossíntese, que sou uma zumbi, uma robô, ou o que?!

Nem vejo Amore e Spearow brigando no chuveiro, ou na mulher que leva Hellhound e Haunter para serem recuperados. Continuo lendo a missão. Eles querem caos? Que deem uma garrafa de bebida pra mim e pro Haunter, um microfone e vários amplificadores de som!

Acabo respirando profundamente, tentando me acalmar. Jogo o papel da missão dentro da mochila e vou tomar banho. Pouco me importa que o chuveiro estivesse ocupado, mas Amore e Spearow não parecem se importar muito comigo ali, e sim uma com a outra. Vai se entender... Depois do banho, explico que recebi mais um trabalho pra todos. Que o trabalho daria mais dinheiro e poderia comprar mais doces.

Quando Kate saiu do banho, Poochyena e Haunter já estavam novamente no quarto. O cão rosnava para Amore, insatisfeito por ter sido usado como escravo dela novamente, o fantasma revirava a mochila da adolescente, com uma calcinha na cabeça que não pertencia a Kate e possivelmente atrás de bebida. Do lado de fora do quarto, era possível ouvir a voz de Natasha brigando com Jack por ter invadido seu quarto novamente. A mulher parecia acreditar que o roubo da peça era culpa do caçador dos Armagedons e o mesmo, apesar das tentativas, não conseguia provar sua inocência. O fato do quarto estar arrumado pouco chamava a atenção no momento...

Após meia hora de espera para Amore sair do banho, Kate explicou sobre a missão e, principalmente, sobre o aumento de doces que poderia comprar com o dinheiro da mesma. Os pokémons ficaram contrariados no começo, mas a promessa de saquinhos extras para cada um acabou animando-os e eles, incluindo a Spearow selvagem, começaram a andar em direção à porta. Ainda era tarde da noite, mas eles pareciam pensar: quanto antes acabar, mais cedo teremos doces.

O corpo da adolescente, no entanto, implorava por descanso. Ainda possuía alguns arranhões da caçada em Silent City e as costas doíam por ter carregado a pesada mochila pela rota 18, sem falar no estômago que roncava pelas horas de abstinência. Além do mais, Kate precisava pensar nos problemas que teria se a calcinha que Haunter usava na cabeça fosse de Natasha, saísse com ela do quarto e fosse pego pela Armagedon no corredor... Ele certamente estaria com problemas.

Após alguns minutos em que a água saia, literalmente, de coloração acinzentada, me senti muito mais leve e relaxada. Poochyena e Haunter já haviam sido curados e estavam no quarto. Ignoro os rosnados de Hellhound para Amore, coisa que a esquila também fazia, e me aproximo de Haunter, fechando a mochila. Prefiro não perguntar de onde veio a peça de roupa que ele usava.

-Não seja guloso! Já me custo duas bebidas num só dia e dinheiro é limitado!

Repreendo ele, abrindo depois a mochila e pegando um drinque pra mim. Ele já bebeu, eu ainda não. Escuto Natasha brigando com Jack, olhando novamente para Haunter, que me encarava com ar choroso. Viro o conteúdo e sinto o liquido descer pela garganta, uma sensação maravilhosa. Poochyena rosna com meu comportamento, eu só ignoro, antes de pegar mais dois drinques e dar um para Haunter.

-Depois vamos ter uma conversa séria sobre bolsas que você pode roubar ou não.

Digo séria e ambos bebemos mais um pouco. Após explicar sobre relação dinheiro X doces, eles se animaram e queriam marchar para fora, mas naquela hora, algo me diz que a padaria não estaria aberta.

-Er... Pessoal, existe algo chamado horário de funcionamento, e tirando hospital, hotéis e delegacia, os outros lugares fecham de noite... Acho que Twister é única exceção, mas ela não tem a Padaria da Mamãe Swanna...

Todos me encaram com olhar choroso, mas não tinha nada a ser feito. Me jogo na cama e programo o despertador. Teria que acordar cedo de qualquer forma, ou iria perder a hora e falhar na missão. Mas se o despertador não me acordar, Hellhound vai fazer esse favor, embora de forma mais dolorida...

Kate, após beber seu segundo drink com Haunter, começava a debater sobre as mochilas que o fantasma poderia ou não roubar, prevenindo-o sobre os perigos. Entretanto o discurso ficava um pouco fora de forma e sem nexo ao longo dos drinks que, de repente, viravam três ou quatro... Poochyena seguia rosnando, inclusive depois que a Armagedon caiu na cama de qualquer jeito, completamente apagada e com Haunter roncando ao seu lado. Os demais pokémons, insatisfeitos pela história de hora de funcionamento, também se aninharam para dormir.

Na manhã seguinte, quando o despertador tocou, Kate o acertou com um golpe nada delicado, virando para o lado e voltando a dormir. Quando a soneca despertou dez minutos depois, o mesmo se repetiu. Na terceira tentativa do aparelho e antes que esse fosse golpeado mais uma vez, Poochyena resolveu solucionar o problema despertando Kate do seu jeitinho. A adolescente, sinceramente, não aprovava nenhum dos dois...

Desperta e com ressaca, assim como Haunter, a morena bebeu somente uma xícara de café e um remédio para dor de cabeça, igualmente como o fantasma. Dessa vez, no entanto, teve que descontar de seus próprios remédios. Depois, razoavelmente desperta, bocejando o tempo todo e com a dor de cabeça mais sob controle, a jovem Armagedon saiu para as ruas da cidade. Estranhamente Spearow ainda a acompanhava, possivelmente querendo mais doces...

O gerente mirou a morena e parecia feliz ao vê-la saindo do hotel, suspirando de forma audível, fato que não passou desapercebido pela garota que, um dia, usaria a seu favor, nem que fosse só para se divertir. Fora do hotel, o sol brilhava alto e sua iluminação intensa irritou os olhos escuros. Naquele instante Kate invejou o fato de Haunter estar escondido na pokébola.

Credo, não me lembro de ter bebido tanto... Ora, foram só uns dois drinques! Tá, uns três... Talvez uns quatro... Ou eram cinco? Não lembro, só lembro de conversar com Haunter sobre mochilas que não deviam ser roubadas, mas que não sei como, terminou sobre teorias da conspiração e do cantor ter feito algum pacto com Giratina para que a música Gangam Style fizesse sucesso... Depois disso, não lembro de muita coisa...

E novamente o despertador tocava... Qualé, só mais uma hora não faz mal! Infelizmente, Hellhound não concordou comigo e me acordou... Com uma mordida. Não é divertido, mas ele logo pegava o pape com a missão. Xingo mentalmente o gerente, um dia isso terá volta.

Graças a Arceus, havia remédios para dor de cabeça na mochila! Eu amo a farmácia! Mas tive que dar um para Haunter também, o que pode me forçar a comprar mais antes da hora... Hum... Melhor ter um estoque um pouco maior... Mas já estou melhor, cabeça não dói tanto, estamos todos bem, inclusive a Spearow selvagem e fanática por doces! E credo... Essa mochila tá pesada...

Sai do hotel com algum desanimo. Queria dormir mais, mas não consigo evitar de notar que o gerente pareceu feliz em me ver sair. Acho que vou infernizá-lo um pouco mais tarde, só que agora não dava, infelizmente.

Dia de sol deve ser algo bom, só para quem for sóbrio e não teve uma noite de bebedeira... Suspiro desanimada, franzindo a fronte quando acomodo melhor a mochila. Melhor vender esse monte de coisa de uma vez... Amore está em meu ombro, o que não é de se surpreender, mas pode ser útil no momento. Viro o rosto para ela, ordenando baixo.

-Amore, vou passar primeiro no mercado. Pode usar Attract em alguns monstrinhos, para eles causarem alguma confusãozinha no bairro Sonatha?

A esquila deu de ombros, como se isso não fosse nada demais, antes de começar a usar seu ataque em qualquer Pokémon que aparecesse, enquanto me dirijo para o mercado. Assim que chegar, pretendo comprar luvas, toca e talvez uma máscara, para evitar deixar pistas e não ser pega por alguma câmera... Depois perguntar quanto que eles comprariam uma TM Safeguard, uma TM Bubblebeam e uma TM Shadow Claw, mas os Silk Scarf podem ir todos, não tenho interesse nessa coisa. Depois de saber o preço por cada uma, bombardeio a atendente com todos esses itens, até ficar só com um de cada.

Com a pesada mochila nas costas, Kate caminhava até o mercado local, andando por becos até chegar à porta dos fundos deste. Amore mirava os arredores, usando Attract em diversos monstrinhos pelo meio do caminho e enviando-os para o bairro Sonatha, o que não deu muito certo, já que eles ficaram parado e a mirando, sem saber exatamente para onde ficava o bairro Sonatha. A esquila balançou a cabeça incrédula, mandando eles a seguirem sem serem vistos, ordem esta muito bem atendida.

Uma vez no mercado, Kate bateu na porta dos fundos e pouco depois Lilian surgia. A atendente falava sorrindo e já querendo mostrar a tabela de vendas, falando da necessidade de vender, pois sua mãe precisava se operar urgentemente. A Armagedon tentava desconversar, logo solicitando as luvas, touca e máscaras. Lilian logo volta para dentro e, quando retorna para os fundos da loja, se depara com um exemplar de cada item que Kate desejava vender.

- Deixe-me pensar. - Lilian murmurava analisando os itens apresentados sem imaginar que haviam dezenas de outros mais na mochila da morena. - Posso lhe oferecer, 200 pelo Silk Scarf, 150 pela Tm Safeguard, 300 pela Bubblebeam e 300 pela Shadow Claw. - Ela começava, mas, ao ver a expressão de desagrado da morena, logo emendava que as peças de roupa, nesse caso, ficariam de graça, na expectativa de fechar o negócio.

Mais ao longe, no fundo do beco, Amore conversava com os três Tyrogues que escravizara, instigando-os a procurarem outros pokémons machos e levarem até ela, pedido prontamente atendido pelos lutadores.

O caminho foi tranquilo, embora eu tive que caminhar por becos para chegar na porta dos fundos do mercado. Tem vezes que isso é chato, seria mais fácil ir pela porta da frente, mas levando em conta que um cadete em especifico não vai com a minha cara, melhor prevenir... Pelo menos, nos becos, tem mais monstrinhos e Amore terá mais escravos, infelizmente eles não eram lá inteligentes e não sabiam onde ficava o bairro... Fazer o quê? Paciência...

Vejo Lillian abrir a porta. É estranho alguém da mesma idade que eu estar cuidando de um estabelecimento, mas isso não é da minha conta. Ela falava da mãe que precisava operar, mas digamos que eu não estava com tanta vontade de saber da história, então já pedi as peças de roupa e pegava um de cada item para vender. Era melhor guardar os outros para depois...

Digamos que a primeira oferta dela não era agradável... Eu estaria dando os itens quase de graça...

-Hmmm... E que tal 650 pela Safeguard, 800 pelo Bubblebeam, 900 pela Shadow Claw e, pelo Silk Scarf, uns 750?

Digo, tentando melhorar a proposta, para mim é óbvio. Eu sei que as chances dela aceitar são iguais a zero, mas talvez já faça uma proposta mais decente. As roupas nunca foram o foco de venda, então são baratas.

Lilian observava a contraproposta de Kate, torcendo o rosto em claro desgosto. Amore usava seu Attract em cinco Spearow machos e os Tyrogues haviam capturado, garantindo assim mais escravos. A mochila ainda incomodava as costas de Kate, mas a adolescente estava mais preocupada com o que a comerciante falaria em seguida e nem ao menos percebia os, agora oito, escravos de Amore fariam.

- Acho que isso passa um pouco do limite... Mas podemos tentar fechar em, quem sabe, 300 pelo Silk Scarf, 280 pelo Safeguard, 400 pelo Bublebeam e, pelo Shadow Claw, uns 450?

Como Kate previra, Lilian não aceitara sua proposta, fazendo outra um pouco mais alta que sua primeira oferta. Talvez agora a adolescente não se sentisse vendendo os itens de graça, mesmo ainda se sentindo estranha ao negociar com uma menina de sua idade e que já comandava um estabelecimento de peso.

Poochyena mirava as duas mulheres e pouco depois, assim como Spearow, encarou os oito escravos de Amore trazendo alguns Rattatas. Infelizmente aquela cidade parecia carecer de Pokémons inteligentes, pois todos os escravos de Amore desconheciam a localização do bairro que deveriam atacar.

Aconteceu o que imaginei que ia acontecer. Lilian não gostou da minha contraproposta, deixando isso bem claro pela expressão de desgosto. Devo ter feito uma semelhante alguns instantes atrás, quando ela ofereceu aquele preço incrivelmente baixo... Escuto alguns sons de outros Pokémon, provavelmente mais escravos de Amore, mas não dou muita bola para isso agora.

A nova proposta havia melhorado um pouco, mas podia ser mais... Penso por poucos instantes, pensando em quanto oferecer desta vez.

-Mas acho que o limite não é tão baixo... E o que acha de 600 pelo Silk Scarf, 600 pela Safeguard, 700 pelo Bubblebeam e 800 pela Shadow Claw?

Lanço minha nova proposta. Queria que fosse aceita, mas uma pulguinha atrás da orelha me diz que isso não vai rolar... Enquanto isso, não faço qualquer ideia do que Amore e os outros estão aprontando. Me importo? Não neste momento. Negociar primeiro, ver o que estão aprontando depois.

- Mas o limite também não é tão alto... E se fechássemos em 400 pelo Silk Scarf, 300 pela Safeguard, 450 pelo Bubblebeam e 500 pelo Shadow Claw?

O debate seguia e Lilian tentava mais uma vez reduzir os valores propostos pela Armagedon. Ao fundo, Amore já dominava sete tyrogues, cinco spearow e nove rattatas. A esquila parecia estar usufruindo de seu Attract, banqueteando-se com algumas frutas roubadas de casas ao redor. A Spearow selvagem tentava pegar algo para comer do banquete, sem sucesso no entanto. Os escravos da esquila a mantinham afastada. Hellhound novamente servia de montaria para Amore e rosnava para a ave, mantendo o olhar apaixonado no rosto.

Lilian pedia alguns minutos durante a negociação, voltando para dentro do mercado e atendendo alguém. Pela voz, Kate imaginava se tratar do cadete zangadinho e ficou feliz por ter ido pelo beco. Por mais que gostasse de irritá-lo, tinha uma missão para cumprir, lembrança que a fez olhar no relógio, constatando que o tempo começava a ficar curto.

A situação estava começando a me agradar mais, as propostas estavam melhorando, mas para estragar a minha felicidade, o tempo começou a apertar. Pensei na minha reposta, enquanto Lillian ia atender alguém, não pude evitar sentir um alivio ao identificar a voz do Zangadinho. Não seria legal encontrá-lo agora... Adoro irritar ele, mas tudo tem hora e lugar.

Quando Lillian voltou, comecei minha nova proposta, ignorando a horda que Amore havia juntado.

-Bom, que tal fecharmos com 550 pelo Silk Scarf? E 400 pela Safeguard, 500 pela Bubblebeam e 600 pela Shadow Claw? Acho que é um bom negócio para as duas.

Tá, estou barateando mais do que gostaria, mas o tempo encurtando me faz agilizar isso, e como essa guria adora baratear até não poder mais, tento achar um meio termo para as duas saírem satisfeitas.

- Quase perfeito... - Lilian comentou sorrindo com um Purrloin que encurralou um Rattata. - Mas tenho uma oferta... E é minha oferta final... 480 pelo Silk Scarf, 350 pelo Safeguard, 475 pelo Bubblebeam e 550 pelo Shadow Claw. Aceita? As roupas faço por 50Pk$ nesse caso...

Lilian parecia determinada a tornar aquela a última oferta. Com o tempo curto, Kate teria dificuldades em modificar mais os preços, mas ela sempre poderia tentar. Amore, mais ao fundo, seguia almoçando enquanto seus escravos impediam a Spearow de alcançar a comida. A ave, indignada, pousou no ombro de Kate, analisando os itens que eram negociados de forma intrigada.

O sorriso de Lillian parecia o mesmo sorriso de um Purrloin que encurralou um Rattata, mas não me abalo. Continuo ouvindo a proposta, não era tão ruim, mas ainda podia ser um pouco melhor. Me permito sorrir arteira, aquilo ainda não havia acabado, mas o preço de um já me agradava.

-550 pelo Shadow Claw, fechado! Mas os outros, tenho uma última oferta: 510 pelo Silk Scarf, 380 pelo Safeguard, 490 pelo Bubblebeam. Negócio fechado? Acredito que esteja mais do que bom para as duas e você vai lucrar muito.

Ofereço minha última proposta. É quase a metade do preço do que ela venderia normalmente, com um aumento bem leve. Sinto Spearow pousar no meu ombro, alisando de leve uma das asas dela. Por mais que seja selvagem, ela já se mostrou muito mais do que a vontade comigo, o que me deixa intrigada.

Kate acariciava a asa de Spearow, se impressionando mais uma vez com a facilidade com a qual a selvagem se acostumou com ela. Os doces da padaria seriam os únicos responsáveis pelo comportamento atípico? Kate não saberia, mas também não se atreveria a deixar a ave mais um dia sem suas guloseimas. A espécie não era conhecida por ser mansa...

- Fechado. - Lilian dizia apertando a mão de Kate e com um sorriso imenso no rosto. A comerciante claramente lucraria muito com os itens. - Os itens, nesse caso, passarão a ser 75Pk$, certo?

A outra perguntava voltando para dentro do mercado e chamando Kate para acompanhá-la. Após entrar, a Armagedon viu que a porta estava fechada e com a plaquinha "volto logo" pendurada. Lilian se dirigia para o caixa, preparando-se para pegar o dinheiro e assim concretizar a compra dos itens. Amore e seus escravos esperavam do lado de fora.

Não posso me esquecer de comprar as guloseimas para esse bando de formigas que nasceram no corpo errado... Principalmente pra Spearow. Esse passarinho não tem um olhar amigável a toa, se é que me entende.

Aperto a mão de Lilian enquanto sorrio satisfeita. Ela lucraria muito com esses itens, já que muita gente vai gostar de poupar seu tempo indo para Silent City, mas eu estou feliz em lucrar com esse monte de tralha que ta fazendo peso nas minhas costas.

-Fechado.

Digo, num tom meio ronronado. Não posso evitar... Se essa história de reencarnação for verdade, provavelmente, fui algum gato... Voltando ao foco, segui Lillian para dentro e a vi pronta para pegar o dinheiro, deixo a mochila no chão e começo a revirar seu interior, retirando tudo o que pretendo vender, mas para ser boazinha, deixo cada item numa pilha separada, mas claro que mantendo uma de cada TM para mim.

-Bom, perdi a conta no 60, então vou chutar que tem umas 70 Bubblebeams, umas 75 Safeguards, umas 50 Shadow Claws e uns 22 Silk Scarfs...

Comento, feliz pelo peso reduzido da mochila, mas muito mais feliz pelo dinheiro que vou conseguir com isso.

Anotando mentalmente que deveria comprar doces para os pokémons, Kate seguia Lilian para o interior da loja e, ronronando um sim, começava a retirar todas as cópias dos itens que venderia, chocando a outra adolescente que parava com a mão sobre o caixa. A comerciante fechou o caixa temporariamente e passou a mão nos cabelos, olhando as pilhas sobre o balcão.

- Você não está a fim de renegociar, não é?

Kate balançou a cabeça de forma negativa e tentou dizer superficialmente quantos itens haviam. A julgar pelo olhar de Lilian, esta não confiava em Kate e, sem cerimonia, começou a contar os itens que estava adquirindo e a recontá-los, sempre em voz alta para a outra confirmar. A Armagedon se entediava com a contagem, mas permanecia séria e analisando, principalmente quando Lilian começou a contar o dinheiro que lhe daria, descontando o preço dos itens comprados.

Com a negociação feita, a mochila incrivelmente mais leve, o bolso cheio de dinheiro e Amore com muitos escravos, Kate se retirava do mercado, voltando a se dirigir para o bairro Sonatha. Agora possuía somente três horas para atrair quase todos os cadetes até o local. Teria de ser criativa...

A julgar pela cara de Lillian, ela não esperava que tivesse mais do que um exemplar de cada item, me perguntando se eu não aceitaria renegociar. Bom, eu nunca mencionei que venderia apenas um de cada item, então apenas balanço a cabeça, respondendo a pergunta com um não silencioso.

Não sei porque, mas acho que ela não confia em mim... Ela começou a contar item por item e a recontar, o que foi um tédio... Meus dedos coçaram, querendo pegar uma bebida, mas me mantive atenta e séria, principalmente quando ela começou a contar o dinheiro. A negociação chegava ao fim e confesso, é muito bom ver a carteira quase estourando com tanto dinheiro!

Me despeço rapidamente e saio do mercado, olhando o grupo que Amore reuniu. Apenas assovio para ela, enquanto coloco a toca e as luvas, sentindo a esquila me escalar.

-Amore, peça pros seus soldadinhos nos seguirem de forma discreta.

Peço, colocando a mascara e correndo em direção ao bairro Sonatha. Tenho que pensar em como atrair o maior número de cadetes em menos de três horas, mas o que chamaria tanta atenção? Vou andando pelas sombras, me aproximando, enquanto reflito. Quando me infiltrasse no bairro, libero Haunter da Pokébola.

-Preciso de uma ajudinha sua. Você vai manipular as pessoas e os Pokémon fêmeas com Hypnosis, pode ser? – Pergunto baixo, mas o fantasma me encara confuso. – Faça elas quebrarem as coisas... – Ele continuou me encarando. – Já viu filme de Zumbi? Crie um falso Apocalipse Zumbi. – Agora ele entendeu, parecendo gostar bastante. Não sei de onde tirei isso de zumbi, mas agora vai. – Amore, faça seus escravos também agirem como zumbis. Os dois, tentem fazer com que o maior número de pessoas e Pokémon ataquem uns aos outros e quebrem o máximo de coisas possíveis.

Instruo a minha dupla caótica. Com sorte, algumas casas ficariam abertas e eu poderia furtar algumas coisinhas a mais. E como as pessoas estariam hipnotizadas, ou em pânico por causa do ataque, acho que ninguém vai reparar em mim...

Um plano diferente se formava na mente de Kate e a adolescente rezava para que desse certo. Já no bairro Sonatha e agradecendo por não ter sido vista, a morena via Amore, em seu ombro, assoviar para seus escravos, ganhando imediatamente a atenção deles. Em poucas palavras, todos avançaram para o bairro e começaram a quebrar cercas e caixas de correio, atraindo os donos das residências para fora.

A confusão que se iniciara ainda era muito pequena, porém Haunter já aproveitou para se infiltrar na primeira casa, usando seu Hypnosis em uma mulher. Esta, com o olhar vazio, babando e com os braços esticados para frente, saiu da casa e tentou atacar o próprio marido, que a questionava sem entender e tendo dificuldades para deter os pokémons que destruíam seu jardim. No entanto, quado o homem desistia dos pokémons e se focava na mulher, logo conseguia a imobilizar. Ela gritava, porém Haunter não se mostrava para hipnotizar o homem também, optando por invadir a casa seguinte.

- Mas o que...? - O homem questionou intrigado ao ver sua própria Bellossom com um taco de golf quebrando os vidros de seu carro.

A confusão na primeira casa começava e Kate já avistava uma civil de mais idade ligando para os cadetes. Todavia foi uma decepção ao perceber que somente uma viatura fora enviada. Os escravos de Amore corriam de um lado para o outro, assim como a Bellssom do homem. A mulher urrava como um animal, tentando se soltar.


Atrás da casa, Kate se ocultava nas sombras, analisando a situação de forma crítica, pensando na próxima casa a atacar ou em como atacar o pequeno grupo de pessoas que se formava sem, contudo, ser pega por eles. Ser invisível era essencial naquele momento.

Chegar até aqui sem ser vista é um alivio, agora era hora de colocar o plano em pratica... Mas como fazer isso? Bom, Amore já iniciava sua parte, fazendo seus escravos atacarem as cercas e caixas de correio, fazendo uma pequena confusão... Pequena demais...

Não sei onde Haunter se enfio, mas a julgar pelo o que acontecia, estava trabalhando, levando o “Apocalipse Zumbi” ao pé da letra... Tá, ele hipnotizo uma mulher e ela agia “meio” estranha. Encaro a mulher babando com braços erguidos avançando contra o marido, só faltando tentar mordê-lo... Bom, tinha potencial, mas como fazer isso em larga escala? Haunter deve estar invadindo outras casas, mas ele é só um...

Continuo escondida, pensando no que fazer, apoiando de leve um dos dedos no queixo, enquanto refletia sobre o que fazer.

-Amore, consegue ser discreta e usar Attract em mais Pokémon? Precisamos de mais escravos... Tantos quantos os que você fez em Silent City, até mais na verdade... Ou é muito para você?

Sussurro para Amore, lançando um pequeno desafio para ela. A esquila me encarava, como se não acreditasse na minha pergunta. Provavelmente ela vai usar Attract em todos, menos em Hellhound por ele já ter a função de cuidar da nossa proteção. Haunter continuaria a usar seu Hypnosis, formando zumbis por ai, gostaria que ele fizesse isso nos cadetes que acabaram de chegar... Poochyena e Spearow não tinham como ajudar nessa. O melhor que Hellhound podia fazer era farejar, de olho caso alguém se aproximasse demais.