Chermont, ouvindo um chamado.

- Frodo e Hope...

Alina parecia testar os nomes sugeridos, dizendo uma vez em voz alta e logo depois repetindo de forma muda. Morgana mirava a menina a espera de uma resposta e via os olhos infantis mirarem cada um de seus dois Pokémons. Nenhum sorriso na face, nem brilho no olhar, um quadro que a Seguidora pretendia mudar com a ajuda de Arceus e do tempo.

- Eu gosto. - A criança dizia repentinamente, mirando a mais velha e mostrando um sorriso nos lábios, porém os olhos ainda não brilhavam com a inocência que uma criança devia transparecer.

Gucky piou do ninho de Natu e, ao seu lado, Ducklett o imitou, demonstrando ter aprovado seu novo nome. Morgana sorria para a menina. Por mais que o trabalho fosse longo, a mais velha estava feliz pela criança lhe dar uma abertura para se aproximar e começar a fazer parte de seu mundo. Com carinho, a Adepta deixou a mão cair sobre o cabelo lilás e macio. Por um instante Alina fechou os olhos com medo, mas logo voltou a mirar a mais velha com um pouco mais de confiança.

- Posso ficar com você? - A criança pedia após mirar Morgana em silêncio por longos minutos.

O tempo levado por Morgana para responder à pergunta de Alina pareceu despertar o medo da menina acostumada à rejeição. Contudo a mais velha pareceu se animar com a ideia de ter uma companhia e a menina sorriu em resposta, confirmando que gostaria de viajar com a Seguidora. Frodo sorriu para a dupla, satisfeito com a presença da mulher e de Gucky.

Logo Morgana chamava a menina para acompanhá-la até a estação de trem onde poderia buscar alguns itens enviados por sua mãe. Os planos eram os de tornar esse pequeno passeio algo rápido, uma vez que havia ainda havia o desejo de conversar sobre o estranho sonho com Sarah.

Após o café da manhã e após lavarem a louça suja, as duas saíam da casa de Sarah, deixando a igreja para trás. A distância de três quadras logo era superada apesar da largura das ruas e o comprimento dessas quadras. Gucky estava acomodado no ombro da morena, enquanto esta segurava a mão de Alina. A menina, por sua vez, segurava uma folha de Frodo com a outra mão e Hope voava acima da dupla.

Ao chegar perto da estação, o coração de Morgana se apertou vislumbrando a destruição da rua. O asfalto rachado com claros sinais de batalha, os prédios arranhados, vitrines quebradas, bem como portas e diversos outros sinais deixados pelo ataque do dia anterior. Entristecida, a morena guiou uma criança que parecia acostumada a ver a dor para dentro da estação.

Dentro da estação, a fiel percebia os trens parados e os trilhos destruídos. Suas encomendas deviam estar no último trem chego antes do ataque e, por sorte, não se destruíram. Ao longe a mulher via pessoas carregando Eggs e sorriu ao notar que Arceus garantira que os ovos a eclodir chegaram sãos e a salvo nos braços de seus respectivos donos apesar da tragédia que rondava a cidade.

- Boa tarde. Infelizmente não estamos com os trens em funcionamento devido ao ataque de ontem. Mas se veio buscar alguns itens, não houveram perdas durante a viagem e eu só preciso de um documento com foto para buscar o seu. - Uma das atendentes dizia sorrindo de forma educada para a dupla. Alina mantinha-se mais atrás de Morgana, mirando a todos ao seu redor com desconfiança e medo.

Morgana sentia que precisaria trabalhar com Alina o silêncio de ambas. A conversa agora poderia encontrar espaço no dia a dia da mais velha e isso era algo com o qual ela também precisaria se acostumar. Diferentemente das garotas, os pokémons pareciam ter interagido muito bem e em sua própria linguagem faziam altos e animados debates. Gucky parecia ter um sorriso no bico, satisfeito com a companhia.

Com o documento em mãos, a atendente se afastou. Não demorou para que ela retornasse carregando uma caixa. Dentro da mesma havia um Destiny Knot, um envelope com 12,000Pk$ e um egg cujo interior a mais velha desconhecia. Alina, por sua vez, deixou os dedos deslizarem pela casca do ovo, completamente impressionada com sua textura.

Gucky e Hope pareciam os mais interessados no egg. Possivelmente por serem pássaros, os instintos dos dois aflorava mais, mesmo ambos sendo jovens. Bicos eram esfregados na casca e Frodo sorria para eles, apontando para o Egg e dizendo algo para a criança. A menina olhava para o pokémon, tentando entender sua fala, porém sem compreender tudo, loga mirava a mais velha.

Morgana terminava de assinar o termo da retirada e, com o dinheiro e o item guardados na mochila e o ovo no colo, saía da estação, sendo seguida pela criança e pelos três pokémons. A caminhada de volta para a igreja era mais lenta e tranquila e, por mais que a morena quisesse recordar do sonho para conversar sobre ele com Sarah, não podia evitar aguardar a fala que Alina ensaiava.

- Que pokémon você acha que vai nascer?

O coração de Morgana se aquecia ao ver o carinho de Alina para com o Egg. Após encontrar a menina, a Seguidora agradecia ao pokémon Sagrado por colocar o filhote no caminho das duas, um presente que as uniria ainda mais.

A caminhada, apesar de mais calma, também não demorou muito e logo as duas estavam de volta à casa de Sarah. Ao entrar, repararam que a responsável pela igreja ainda não havia retornado do hospital, porém o relógio indicava a aproximação da hora do almoço.

O ovo era acomodado no ninho do Natu de Sarah enquanto o suporte de lã não fosse feito. Morgana, notando a hora, sentia-se a vontade para ir até a cozinha e iniciar o preparado do almoço, sob o olhar atento de Alina. A menina parecia acompanhar cada movimento das mãos da mais velha, com claro interesse. Enquanto isso, Gucky e Hope se acomodavam no ninho com o Egg no meio, mantendo o filhote aquecido.

- Que cheirinho bom é esse?

A voz de Sarah entrando pela porta da frente chamou a atenção das duas e a Seguidora, apesar de aparentar estar cansada, carregava um sorriso quente no rosto. O sonho de Morgana retornava com força em sua mente e a vontade de falar com a outra fiel crescendo, bem como o pedido por um pouco de lã para a confecção do ninho para o filhote.

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off: ficha atualizada o/

Com a mesa servida, as duas lavaram as mãos e se puseram a esperar por Sarah. A seguidora não demorou a chegar, entrando em casa e já comentando sobre o cheiro apetitoso que estava no ambiente. Feliz com a recepção, a responsável pela igreja local lavou mãos e rosto, antes de se juntar a Morgana e Alina na mesa para o almoço.

De mãos dadas, as três agradeceram pela refeição e, logo depois, almoçavam juntas. A conversa era calma, com elogios a comida preparada e assuntos alegres ou neutros. O hospital não foi comentado na presença de Alina e Morgana também não perguntou. Após o almoço, juntas arrumaram tudo com velocidade e, logo em seguida, Sarah dizia para Alina brincar um pouco na rua, junto com Gucky, Frodo, Hope e Natu. As três aves abriram as asas, liderando a saída da casa e, ainda sem saber muito bem o que fazer, Alina as seguiu.

- Acho que tenho uma boneca de pano que era minha quando criança... Essa menina parece não ter tido oportunidades para brincar e acho que seria bom para vocês duas. - Sarah dizia guiando Morgana até o quarto, onde abriu as portas do roupeiro e retirou uma boneca antiga.


Morgana pegava a boneca nas mãos, sentindo a textura macia e aconchegante. Certamente Alina nunca recebera um presente daqueles e isso faria a criança sorrir muito. Contudo, antes de sair para alcançar a boneca para a menina, a fiel poderia aproveitar aquele momento para perguntar tanto sobre seu sonho quanto sobre a lã para a confecção do ninho para o ovo.

A textura e a visão da boneca despertavam em Morgana sensações de lembranças há muito esquecidas. Aquela boneca, como Sarah dissera, ajudaria as duas a se unirem e a descobrirem sua infância. Uma benção vinda de forma simples e com capacidade de grandes mudanças, se lhe fosse dada a oportunidade de agir e de encontrar o caminho para os dois corações.

Ainda com a boneca nos braços, a Adepta pedia o primeiro favor para a responsável pela igreja. Sarah mais do que prontamente conseguiu a lã pedida e as agulhas, emprestando-os para Morgana sem pensar duas vezes. O sorriso na face dizia o quanto ela aprovava a ideia da confecção de um ninho para o pequeno egg, mesmo que sua boca não verbalizasse nenhuma palavra naquele momento.

Com a lã, as agulhas e a boneca nos braços, Morgana agora narrava seu sonho, esperando que a Seguidora pudesse lhe ajudar a interpretá-lo. Enquanto contava seu sonho, a morena ouvia os risos de Alina, ainda tímidos e contidos, ao brincar com os pokémons na rua.

- Alguns de nós ouvem um segundo chamado de Arceus, Morgana. Aos que aceitam o segundo caminho, ao lado dos Seguidores, mas ao mesmo tempo mais afastado dos humanos, nosso Deus coloca toda sua obra à disposição. Um Xamã vê o que nem mesmo eu posso ver, escutam o apelo dos pokémons com mais força e vivem com eles como verdadeiros irmãos.

Morgana ouvia o relato com atenção, segurando com força a boneca e a lã que se converteria em um ninho para o pequeno ovo que recebera de presente de sua mãe.

- Mas devo a advertir, o caminho dos Xamãs é misterioso, com segredos e perigos diferenciados. Você sentirá a dor e a alegria dos Pokémons como se fossem suas, eles atenderão ao seu chamado, bastando você invocá-los, mas os chamados feitos por pessoas perderam sua força ao seu redor. Eles não sumirão, mas o caminho do Xamã está mais ligado à natureza e aos Pokémons do que aos humanos. Seu sonho me parece um chamado de Arceus, para o mundo Pokémon, para viver com eles como seu semelhante, mas cabe a você aceitá-lo. Recusar não é uma vergonha nem um desrespeito à Arceus.

Sarah sorriu perante as palavras de Morgana, entendendo perfeitamente os sentimentos da morena. Do lado de fora, os risos infantis e dos pokémons ainda inundavam o ambiente e nos braços da Seguidora a lã lhe aquecia a pele em contraste com a textura da boneca. Os dedos aparentemente antecipando o prazer que sentiriam em breve.

- O mais difícil para se tornar um xamã é aceitar ao chamado do Sagrado. Você ganhará um segundo pokémon dos Seguidores, que irá lhe auxiliar nesse novo caminho e eu preciso saber qual será ele antes da cerimonia. O segundo batizado, diferente do primeiro, ocorre durante noites de lua cheia e, para sua sorte, hoje eu li no jornal que a lua estará mais próxima, dando ainda mais força aos batizados hoje. Após o pôr-do-sol, você deverá tomar um banho purificador, rezando enquanto a água enfraquece os laços humanos. Eu deixarei sobre a cama uma túnica branca, feita puramente com seda doada por pokémons insetos e costurada por uma Leavanny. De pés descalços e usando essa túnica, você caminhará até a igreja. O caminho estará marcado por velas.

Após explicar o que Morgana deveria fazer, Sarah retirou do armário uma caixa onde imagens dos lendários pokémons estavam pintadas. Ao abrir a caixa, a responsável pela igreja local ergueu uma túnica branca, quase translúcida. O corte simples, reto e delicado. As alças finas pareciam delicadas demais, quase como se fossem se romper a qualquer momento, contudo eram fortes e resistentes na realidade.

Alina parecia mais tranquila perante as palavras de Morgana, acreditando quando a mais velha lhe dizia que nunca a abandonaria. Após abraçar a criança com força e deixar Gucky sobre o ombro da mesma, Morgana se retirou da casa, anunciando que jejuaria até o batizado e que esperaria pelo momento orando no templo.

Durante a tarde a criança ficou na companhia de Sarah, ajudando a seguidora responsável pela igreja no preparo dos biscoitos e na limpeza do templo, enquanto Morgana orava ao Sagrado Pokémon que lhe conduzia por um caminho novo e misterioso. Os pokémons permaneceram ao lado da criança, mantendo-a distraída ao longo do dia, até que, após a missa da noite, Alina adormeceu abraçada a Frodo.

Morgana deixou que a mão deslizasse pelo cabelo da criança antes de se afastar e tomar o banho como lhe fora indicado. Gucky fora para a igreja, acompanhando Sarah enquanto esperava por Morgana. A morena sentia a água fria escorrer pelo corpo e sentia como se ela rompesse algo dentro de si, a fragilizando. A sensação não era boa, Morgana sentia seu coração se apertando, como se sua alma relutasse em abandonar o que a água queria levar para longe. Porém, quando sentiu-se finalmente pronta, saiu do banho e vestiu a túnica entregue por Sarah. O tecido tão leve quanto uma nuvem, tecido com material fornecido por Pokémons e costurado pelas lâminas de outro Pokémon, algo nunca tocado por humanos.

Descalça, a morena deixava a casa de Sarah e rumava de volta para igreja. Nesta, pequenas velas iluminavam o caminho pela escada e Morgana a seguia confiante, subindo para um lugar normalmente fechado e de acesso restrito. Ao chegar no último andar, se deparou com um terraço na igreja, uma área aberta e acima de todas as casas, iluminada somente pela grande lua cheia. Neste terraço havia uma grande estátua de Arceus que, apesar de seu tamanho, não era vista de fora do terraço. Em frente à estátua havia uma almofada branca, sobre a qual Morgana foi instruída a se ajoelhar.

- Beba.

Sarah estendia um copo de madeira para a morena e, sem hesitar, Morgana ingeriu o liquido frio e doce. O cheiro de ervas tomou conta de seu olfato e outros seguidores, todos usando capas brancas sobre o corpo, lhe faziam desenhos pelos braços e rosto. Marcas do fogo, do raio e do gelo. Satisfeitos, eles se afastaram, formando um círculo perfeito ao redor da morena e começaram a cantar, enquanto Sarah colocava um colar com três penas sobre o pescoço de Morgana.

Morgana não saberia dizer o motivo, mas não conseguia olhar para eles. O olhar de Arceus invocava o seu e ele era tão magnético que ela não conseguia negar a ordem e virar o rosto. De olhos fixos no olhar do Sagrado Pokémon, a morena deixou que as palavras emanadas pelos outros Seguidores chegassem aos seus ouvidos.

Conforme a música avançava, seu corpo já não parecia mais seu. Como se ele não passasse de uma casca que poderia ser abandonada a qualquer segundo. A fiel Adepta sentia os últimos laços fragilizados pela água mas ainda não rompidos se partirem ao som das notas. Quando o último se partiu, uma lágrima escorreu de seu rosto, silenciosa como se quisesse passar desapercebida.

Aos poucos, a voz dos outros religiosos começava a parecer cada vez mais distante e ela sentia que sem o último laço sua alma realmente deixaria seu corpo. As marcas feitas com tinta na pele começavam a arder e a música começava a ser encoberta pelo rufar de asas. A escuridão começava a inundar sua mente, cobrindo qualquer imagem que seus olhos pudessem identificar, incluindo a grande lua. Restava somente Arceus, iluminado por sua própria luz.

Lentamente, vultos surgiam na escuridão. Morgana ainda não virava os olhos, mas os identificava. O som das asas cada vez mais alto e, conforme a imagem de Arceus lhe autorizava, sem nem mesmo desviar os olhos, ela começava a identificar Articuno, Zapdos e Moltres voando ao seu redor, em completa harmonia. O grito das três aves cantando junto com os outros seguidores.

As marcas na pele queimavam com mais intensidade, desaparecendo da vista e se tornando um só com a Adepta. A jovem mulher sentia o raio, o fogo e o gelo tomando o lugar dos laços partidos pela água, exigindo seu lugar dentro da alma da moça de olhos azuis. Os três pares de olhos novos firmes em si, lhe convocando para ser uma igual.

Morgana sentia-se feliz. Sua alma parecia completa uma vez mais. Não pelos laços humanos, mas sim pelos laços com os pokémons. Sob o olhar de Arceus, as três aves se aproximava, abençoando a seguidora e a reconhecendo. Tudo parecia perfeito, até que Moltres se agitou. A ave de fogo, que se aproximava mais que as outras, pousando a sua frente e lhe tocando a face, começou a gritar e se contorcer em dor, desesperando e criando a mesma dor na Seguidora.

Com braços esticados, a morena pegou a face do pássaro de fogo. Na hora que seus dedos tocaram a chama, Moltres se desfez em pelos. Uma raposa bege com uma cauda negra a mirava, com o olhar repleto de dor. O pedido claro por socorro, a alma há muito conhecida implorando por ajuda uma vez mais.

No centro do círculo de Seguidores, ouvindo os últimos versos, Morgana voltava a enxergar mais do que as trevas. Todos ao seu redor se tornando visíveis uma vez mais. A mão direita sobre a testa de uma Absol que ela não saberia dizer quando se aproximara. Os dedos na região entre os olhos negros que a miravam com intensidade. Pousado sobre o chifre da Absol, Gucky a mirava com intensidade.

Morgana não precisava de palavras, sabia que aquela era a sua Absol e sabia que tanto ela quanto Gucky viram o mesmo que ela: Tails. A raposa lhe chamava uma vez mais. Ao seu redor, Spearows selvagens que se aproximaram para ver o batizado, voavam grasnando, informando aos outros Pokémons que uma xamã nascerá em Chermont. Os humanos, Seguidores como ela, aguardavam em silêncio.

Sarah ouviu as palavras de Morgana e lhe retribuiu um sorriso. A nova Xamã podia não ver, mas a Seguidora via a mudança no olhar da morena. A mais velha simplesmente fez um aceno positivo com a cabeça e murmurou um vá, liberando a recém-batizada logo após lhe entregar a esfera da Absol.

Morgana sorriu e saiu correndo da igreja. Seu coração implorava para que fosse rápida e ela sabia que não tinha tempo para perder. Sem parar para trocar de roupa ou para calçar um sapato, a xamã saiu pelas portas da igreja para o ar frio da noite em Chermont. Pela primeira vez desde que descera o terraço percebera que não sabia onde Tails estava.

Absol parou a seu lado e Natu pousou em seu ombro, ambos a mirando a espera do que fazer. Morgana fechou os olhos e pediu ajuda a Arceus, para que ele lhe indicasse o caminho e, rapidamente, um dos Spearows que voava gritando ao redor da igreja mergulhou. As asas da ave se abriram antes que ele atingisse o chão e, sem se virar para trás, o pequeno pássaro voava muito rente ao chão. Pouco antes dele mudar o ângulo do voo, a Seguidora poderia jurar ter visto a sombra de Moltres no pequeno pássaro e, naquele instante, não hesitou.

Sperow a guiava para longe da igreja sagrada, cada vez mais perto da região onde o templo de Giratina reinava. O cheiro de sangue ficava mais forte naquela região e Morgana rezava para que Tails não estivesse nas mãos dos falsos religiosos.

Os pés de Morgana tocavam as pedras fias do caminho, levando-a cada vez mais para perto do Templo de Giratina. Conforme a igreja que fedia a sangue se aproximava, mais intensa era a oração da morena para Arceus, implorando para que Tails não estivesse no interior daquelas palavras.

A luz da lua vermelha parecia um mau presságio forte demais para ser ignorado e a dor ainda estava muito viva na mente da Xamã. Absol se mantinha firme a seu lado, correndo no mesmo ritmo, enquanto Gucky se segurava com força em seu ombro, para não cair.

Quando o Spearow enviado por Arceus, ou talvez por Moltres, passou pelo templo negro, Morgana se tranquilizou, querendo acreditar que Tails  não estava nas mãos dos Giratinistas. A ave selvagem logo parava, voando em frente uma porta trancada. Absol não esperou por um comando, entendendo o que significava e o que devia fazer. O pássaro voou pouco antes do chifre poderoso atingir a corrente e a fechadura, liberando a entrada à força.

Morgana entrou correndo, percebendo naquele momento que Arceus não foi capaz de atender ao seu pedido...

- Como ousa intervir?

Os olhos dourados de uma mulher ruiva se voltavam para Morgana. A estranha vestia uma pesada capa preta com um capuz e em seu pescoço era possível vislumbrar um colar com a imagem de Giratina. No entanto os olhos de Morgana estavam fixos na lâmina assassina que era retirada do corpo de uma garotinha.

Gucky fechou os olhos, enterrando o bico no cabelo da Xamã, enquanto os pelos de Absol se eriçavam e ela começava a rosnar baixo. Morgana estava petrificava. Conhecia aquela criança que agora jazia morta sobre uma pedra fria banhada no próprio sangue em frente da Giratinista: a menina dona do Tails.

- RESPONDA!

A outra gritava exigindo, claramente enfurecida por ter tido seu ritual interrompido. A voz de Tails surgiu e, atrás da sanguinária, a pequena raposa surgia, presa pelo corpo de uma Ekans que encarava Morgana com tanta maldade no olhar quanto sua dona. Apesar de ter visto o corpo da criança sobre uma pedra banhada no próprio sangue, este que escorria pelo chão em direção a um ralo, ver Tails ferido, cansado e prisioneiro machucou mais seu coração do que a perda da criança.

A mulher mantinha sua expressão neutra enquanto Morgana se apresentava. A morena tentava transmitir força em suas palavras, mostrando que os lendários estavam a seu lado e, mais importante ainda, que o próprio Arceus a enviara. Contudo, quando terminou de falar, a outra sorriu de forma debochada, sem desviar os olhos da xamã.

- A julgar pelo blá blá blá sem fim é uma Seguidora... E já que tem um colar interessante aí, deve ter sido batizada Xamã.

O olhar que possuía um eterno reflexo vermelho deslizava pelo corpo de Morgana, como se analisasse seu potencial para o próximo sacrifício. O sorriso que ela deu em seguida, de completa satisfação, não agradava em nada a Seguidora.

- Um Xamã com mais experiência seria melhor. Sacrificar um de vocês é o mesmo que sacrificar cada pokémon que vocês salvaram. Mas, você ainda está com as roupas do batismo, então é praticamente uma virgem ainda. Acho que será ainda melhor! Um belo presente que Arceus me enviou, não acha? Uma alma tão pura e tão cheia de fé que irá agradar muito Giratina. Infinitamente melhor que esse vulpix. Sabe, eu o peguei, mas só depois percebi o quanto essa alma é velha na verdade e sem brilho algum. Ela me enganou quando a vi brincando com essa criança.

No ombro de uma chocada Morgana, que realmente não esperava por aquela conclusão tão distorcida dos fatos, Gucky usava seu Psychic e, no momento exato, arrancou a adaga da mão da Giratinista e a lançou em direção à serpente.

A Xamã se surpreendeu com o objeto que seu pequeno amigo escolheu, porém antes que pudesse saber as reais intenções dele, um jato de água interrompia o caminho da lâmina, forçando-a a cair no chão. O grupo assistia a um Vaporeon surgir dentre as sombras. As patas azuis pareciam vestir luvas vermelhas de sangue. Ao lado do aquático, uma Sbubull e suas presas brilhavam com as chamas que as envolvia. Ambos parando em frente da Giratinista, em claro sinal de desafio e prontos para a batalha.

- Você quer o Vulpix? - A Giratinista começava com seu sorriso debochado. - Vem pegar!

E naquele instante os dois pokémons avançaram em direção de Absol. Snubbull com seu Fire Fang armado e Vaporeon com seu Tackle. Morgana não tinha mais do que alguns segundos para comandar seus pokémons.