II - Primeiros passos como cadete

Mais um dia como detetive e nada parecia andar em sua investigação. Já era o segundo dia, indo para o terceiro e só no quinto dia obteria a análise das amostras que solicitou. O almoço descia pesado pelo sistema digestório de Henri, ao contrário de seus Pokémons que conseguiam se virar muito bem com o que comia. Era já umas 16 horas quando o detetive foi para o seu quarto e assim manteve sua atenção no que tinha: três corpos, sendo dois motos pelo mesmo motivo: espancamento. Fora isso, ainda lhe restava um número no qual ligava.

O som do outro lado da linha permanecia. Tocava, tocava, mas ninguém atendia. Era fim de tarde ainda... Seja lá quem fosse o dono do telefone, estaria em um emprego, talvez... O mais importante era que o dono não atendia. O quarto do dormitório cadete se tornava cada vez mais uma baguncinha de tanto Pokémon aglomerado ali. Henri observava mais uma vez as coisas que tinham e decidia ainda continuar com poucas teorias. O mais importante era: tinha uma investigação para continuar...

O caso em que Henri se encontrava parecia estacionado por um momento. O jovem detetive de Nyender já planejava voltar ao local do crime, enquanto pensava que ainda era bem cedo. O clima de Nyender mudava lá fora. Pela janela do quarto era possível perceber que a chuva e o clima depressivo eram substituídos pelo calor e uma sensação de enforcamento. Era difícil distinguir quais dos dois efeitos temporais eram piores.

Assim, o rapaz de cabelos alvos recolhia sua trupe. O membro mais novo ainda não tinha feito contato com os demais integrantes da equipe do cadete. Nesse mesmo tempo, parecia que agora tinha um treino, que além de fortificar as habilidades dos Pokémons, fortaleceria os laços de todos. Descendo as escadas e se dirigindo ao ginásio do lado, o cadete seguia, passando por poucos cadetes ali no dormitório. Nyender vivia um breve período entre o reinado de Cornélios, que esperava o retorno de Angélica de sua licença maternidade. As coisas estavam tensas, em especiais para cadetes de mais alto nível.

No ginásio, o chão amadeirado e amplo revelava diversos aparelhos que poderiam ser usados como suporte. Um Donphan enorme puxava pesos sendo encorajados pelo seu treinador. A força do Pokémon era enorme, proporcional ao seu tamanho anormal. Ao lado, uma mulher madura, corpo bem delineado em suas vestimentas fardais de couro. Era como a farda dos cadetes, só que adaptada. O símbolo da corporação era bem explicito no meio do peito da morena. O olhar dela pairava sobre o treino de Donphan, enquanto o outro cadete, visivelmente mais novo que ela e menos experiente, berrava motivando.

Para Henri, restava várias áreas delimitadas ao redor como um curso de corrida. Uma piscina enorme era quase toda ocupada por um Gyarados poderoso. Parecia que só os cadetes mais antigos estavam ali treinando. Chegava ser um pouco ameaçados, um cadete, recém-detetive, andando no meio de tantos titãs e Pokémons poderosos. Era engraçado, mas ainda assim era hora de Henri treinar...

Ao redor do campo, apenas um bando de Pokémons e cadetes. Mais afastado não era diferente. Henri estava focado no seu treino, embora se sentisse intimidado com a presença de Pokémons de patentes muito mais altas. O quarto surgia a partir dos flashs das Pokébolas do detetive. Uma batalha estava prestes a começar, visando aumentar o poder de ataque de todos. Meowth começava a ser lambido insistentemente por Sherlock e depois o canino latia para ele e rangia para os oponentes. Ao lado, a cadela das sombras ao lado da formiga escavadora formava outro time. Henri torcia para que essa combinação desse certo...

O grito do Gyarados na piscina parecia dá o sinal do começo do treino. Han’ei saltava de forma boba contra a dupla que era o seu oponente agora. Embora a velocidade do felino fosse a maior presente, Trapinch usava o seu Protect, que criava uma esfera verde que fechava sobre si e sobre sua parceira fire. Sherlock latia alegre e meio bobo, como Han’ei, e assim lançava seu Ember que seguia o felino. A garra do gatuno brilhava e não demorava para uma sombra envolver o braço todo, destacando-se com uma aura roxa ao lado.

Shadow Claw chocava-se no Protect de Trapinch e se desfazia. Logo atrás do gatuno, uma nuvem alaranjada atingia o protect, lançando brasas para todos os lados e assim atingindo a cauda de Han’ei. O gatuno saiu correndo pelo campo agoniado pelo calor. Sherlock achou que não se tratava de nada a não ser uma brincadeira e saiu correndo atrás, só parando para não cair em uma poça d’água perto da piscina, na qual Han’ei usava para resfriar sua cauda. Gyarados observava e permitia, enquanto uma cadete de longos cabelos negros ria da situação de Henri. Apesar disso, Mond começava a acumular energia e próximo de seu focinho havia uma esfera de energia solar, pronta para ser disparada.

O treino não andava 100% bem. Embora Henri fosse agora alvo de uma possível chacota por uma cadete mais experiente, o treino dele continuava e ele tentava manter o foco da equipe. Han’ei voltava um pouco furioso com Sherlock, que apenas latia e lambia o gatuno parceiro. Em contrapartida, no outro lado Mond e Tranpich permaneciam quietos e aguardando instruções. Foi só mais algumas ordens serem dadas, que logo o treino voltava aos trilhos.

Milímetros a frente do focinho de Mond, a esfera amarelada já estava formada e não demorou muito para ser lançada em forma de raio contra os oponentes. Solar Beam era um golpe de alto nível, mas o foco de Mond nos treinos o fez aprender sem muito treino longo. O golpe deixava aquela parte do campo bem iluminada, como se fosse um Flash disfarçado. Uma explosão seguia em contato, enquanto os olhos de Henri voltavam para o foco normal. Em sua frente, Meowth com Protect detivera o poderoso golpe Grass lançado pela cadela sombria, enquanto Growlithe disparava mais uma nuvem de brasas alaranjadas.

Ao lado de Mond, Demônio do Deserto já aguardava o golpe. Ao seu redor, uma poeira começava a se elevar e a se concentrar. Já tinha um redemoinho de areia e assim era lançado contra o Ember. Mas Ember parecia mais forte, até porque o nível de Growlithe era maior. Ember dissipava a areia e não tinha o efeito esperado de Henri. Embora as chamas fossem fortes e quentes, precisava de muito mais para poder formar vidro. Ember atingia a cadela sombria em cheio, mas ela nada sentia. Em vez de dano, o corpo dela brilhava vermelho, indicando a absorção do golpe Fire pelo Flash Fire. Enquanto isso, no chão, alguns brilhos da poeira eram vistos de longe. Parecia que embora uma tentativa frustrada, algumas partículas de vidro eram formadas, pequenas e que de nada poderia adiantar usar.

A dupla dispersa começava a pelo menos tentar se focar. Embora para Sherlock tudo fosse brincadeira, acatava as ordens do detetive com muito empenho. Era um Pokémon leal, sobretudo. Meowth ainda estava desconfortável pelas chamas, mas não tinha como ficar com raiva de um Pokémon tão criança quanto Growlithe. Isso fez com que o gatuno esquecesse rapidinho que tinha sido atacado. Ao passo que Han’ei e Sherlock desempenhavam movimentos mais focados, o poder dos oponentes mai sérios crescia. Era de se perguntar se Houndour e Trapinch sabiam que era um treinamento e não uma batalha séria.

O treino prosseguia com a divisão do gato em mais outros. A quantidade de felinos cresciam em campo e todos saltavam, desviando o foco dos oponentes que antes era um e agora eram seis. Isso não intimidou Mond. Com o seu Dark Pulse, as correntes negras com leve brilho roxo dissipavam dois clones de uma vez só. O poder do golpe era sério e se atingisse o verdadeiro, com certeza esse seria lançado para a piscina lá atrás.

Enquanto isso, Trapinch preparava um novo ataque. Enquanto Sherlock lançava suas braças. A formiga escavadora até usava Sand-Attack, mas por se tratar de um golpe de status, que não tinha poder algum, Ember dissipava a areia com facilidade, cristalizando-a um pouco e abrindo caminho no meio da terra, atingindo Trapinch em cheio com o golpe de fogo, causando uma explosão de contato. Com isso, Trapinch voltava com algumas marcas pretas no corpo e uma respiração ofegante de quem não gostou muito de ter sido atacado diretamente.

O treino crescia em seriedade. Sherlock, em sua cara de bobo, recebia um novo golpe. Trapinch estava determinado em atacar a todo custo. Parecia que seus olhos fitavam a garganta do canino com apreensão, a fim de causar um dano direto e eficaz. Mond erguia Dark Pulse mais uma vez. O golpe de correntes negras crescia e atacava de pouco em pouco. Cada golpe destruía um clone e assim uma explosão envolvia tudo. A esfera verde envolvia o verdadeiro Han’ei e o protegia, enquanto a poeira se dissipava.

Enquanto isso, Demônio do deserto saltava contra Sherlock, que se dividia em mais cães fires. Um clone sumia nos dentes do ground, enquanto os clones se afastavam. O treino parecia ir bem eficaz e os movimentos bem rápidos. Henri estava tão concentrado que nem percebeu a aproximação da cadete que outrora. Seus cabelos longos e negros chegavam até as costas e parecia sorrir em concordância a troca de ataques. Ao seu lado, um grande Donphan bufava um ar quente.

- Nossa, para um calouro seus Pokémon são bem motivados. – dizia, recebendo um latido de agradecimento de Sherlock…- Chamo-me Sabrina. Estava assistindo o seu treino e não pude deixar de notar a falta de foco... Embora a motivação estava lá em cima.. – a cadete mais experiente parecia que sabia do que falava. Seria possível que ela tinha notado o emaranhado de suspeitas que Henri havia achado em seu caso?

A cadete era alto, até mais alta do que Henri. Seu Donphan era maior ainda. Seus longos cabelos negros caiam perfeitamente sobre a roupa de coura negro, que colava em cada curva do corpo tonificado. Era bem bonita, aparentemente amigável. A cadete parecia estar ali com um parceiro, que no momento parecia ter ido buscar algo para ela. Sabrina parecia do tipo de mulher bem treinada, experiente e que não deixava a desejar em nada, especialmente em missão.

Enquanto a cadete mais experiente se aproximava, os clones sumiam e parecia que o clima de batalha sumia (pelo menos para a maioria, uma vez que Trapinch permanecia sério e fitando o fire). Growlithe, ao ver o Pokémon ground, saia correndo e começava a latir para ele, sorridente. Depois cheirava, abanava o rabo e parecia convidá-lo para brincar, enquanto perseguia sua própria cauda.

- Ele é uma gracinha, mas vai perceber que Dora não gosta de brincar muito. – dizia a cadete, se referindo a sua Donphan. – Um caso? Eu sou cadete e detetive por um tempo, talvez você pagaria um suco mais tarde e poderíamos conversar sobre esse caso. Estou livre mesmo, então, não tenho nada para fazer... Pelo menos até nosso “querido” comandante começar a nos enviar para Mengun... – Sabrina tinha uma voz bem firme, talvez deixasse claro quem mandasse. Mas era bem simpática e estava disposta a ajudar Henri a desenvolver o caso. Como ele ainda tinha tempo para poder pegar os resultados, ele poderia pegar informações com alguém mais experiente..

Sabrina parecia ser do tipo amigável e queria ajudar, até porque, como ela mesmo disse, estava com um tempo livre. Henri tentava se controlar, não tentando transparecer tão animado, afinal, poderia acabar mostrando uma imaturidade da qual não seria uma boa imagem a transparecer. No momento, ele tentava se controlar e dava seu telefone para ela, assim como recebia o telefone da cadete mais velha.

- Tem uma padaria maravilhosa aqui perto da academia. Espero que um café da manhã seja o suficiente. – dizia bem pensativa. No momento, ela parecia já farta do treino com Dora, sua Donphan, e já estava se recolhendo. – Te vejo amanhã!

Na despedida de latidos de Sherlock, Henri via a sensual e inteligente, além de que era uma boa pessoa, cadete saindo, enquanto os gritos de Gyarados na piscina pareciam ser o sinal de que o treino só estava começando para o grande Pokémon. Enquanto isso, sua equipe mostrava sinais de cansaço, em especial Trapinch, que tinha uma baixa resistência e sofreu alguns danos.

Henri teria agora uma ajuda avançada. Uma veterana ajudando um calouro não era uma cena que se via todo dia. Agora o cadete estava diante de uma situação mais favorável. Até o momento, ele só teria a chance de ter algum resultado na análise, mas isso não garantia a conclusão do caso. Henri recolhia seus parceiros e seguiam para descansarem melhor, até o próximo dia, onde teria um norte de Sabrina.

Por sorte, o quarto de Henri era bem mais escuro, ficando longe das luzes da cidade. Nyender apresentava um clima bem estranho. De manhã, era um clima agradável, aberto, nem tão quente e nada frio. Pela noite, vento forte, frio e condições que indicariam chuva. Esse misto de climas parecia deixar os Pokémons mais recolhidos em suas Pokébolas quentinhas pela noite.

O cansaço do treino parecia pesar Henri, mas na verdade o cadete sentia mais peso pelo caso ainda que dava nó em sua cabeça. Ele tinha duas mortes, bem próximas na verdade. Não tinha muitas coisas, a não ser alguns líquidos. Um número no qual ninguém atendia. Era estranho, até...

O dia amanhecia. O quarto continuava mais escuro, deixando a cama mais confortável e chamando o jovem detetive para que ele ficasse lá mais um pouco. No entanto, o compromisso com a cadete o chamava. Era o terceiro dia, sete horas e nove minutos, e ainda precisaria de mais dois dias para poder ter acesso ao resultado. Tomara que até lá, ele já tenha uma suspeita, ao mínimo, e que já tenha quase tudo pronto para incriminar alguém (nem que seja os cientistas de análise).

A noite parecia bem merecida para o detetive. Depois de tanto tempo procurando uma solução para o caso que até o momento não tinha solução, Henri só acordava no dia seguinte, onde já colocava os seus Pokémons para o banho. Nenhum deu realmente muito trabalho, a não ser Han’ei. Depois de um banho forçado, o saldo de Henri era ter um ou dois arranhões em seu braço e por isso ele acabava ficando com algumas marcas que ardiam, mas finalmente Henri estava pronto para seu “encontro”.

Com todos dentro da Pokébola, o rapaz de cabelos alvos descia as escadas do dormitório. Como o encontro foi marcado na cafeteria ali perto, o cadete seguia direto para o local marcado. Era cedo ainda, algumas pessoas iam levar seus filhos para escola. O trânsito já estava se formando, enquanto o sol esquentava tudo. Seria mais um dia de temperatura agradável, após a noite fria. Parecia que o próximo inverno em Shinki prometeria grandes noites com frio.

Na rua da cafeteria, Henri já avistava ao longe a cadete do dia anterior, só que o olhar do rapaz não pode evitar de notar algumas coisas bem peculiares, para começar das vestimentas. Sabrina não estava realmente com as roupas de couro, que pareciam um uniforme cadete. Ela nem ao menos parecia cadete, sem Pokémons ao lado, distintivos ou até mesmo uma tatuagem a ser vista. Muito pelo contrário, a cadete estava igual a uma civil. Uma blusa verde bem solta pelo corpo, como um manto, uma calça simples, de um tecido suave, com boca de sino. Seu cabelo estava amarrado atrás e desenhava um contorno em seu rosto. Tirando o suor do dia anterior, agora era possível ver seus olhos azuis enormes, ao lado de uma bolsa branca, grande. Era bem parecida com uma rica da cidade.

- Você veio! Bom dia. – dizia sem nem ao menos olhar para Henri, mas sorria. Ela tirava seus óculos escuros e guardava na bolsa. Fora da cafeteria tinha uma mesa destinada aos dois, protegida por um guarda-sol. Sabrina parecia olhar vários cupcakes, de diversos sabores e se sentia indecisa de qual escolher. Era estranho pensar que uma mulher que não consegue escolher o sabor de um bolo, pode ao menos ajudar Henri em um caso como aquele...

- Chocolate e nozes? Vou experimentar! – uma mistura bem rara a se encontrar. Sabrina tinha a personalidade de uma cadete forte, lembrando muitas vezes Angélica Thompson, mas atrás de uma muralha de força e poder, estava uma mulher bonita, delicada com as escolhas e que parecia se cuidar muito bem.

Os dois cadetes se sentavam em uma cadeira fora do estabelecimento, coberta por um guarda-sol que circundava a mesa. Embora o sol estivesse bem forte naquela manhã, o clima era bem agradável. Parecia uma mistura sinuosa que trazia muito bem-estar, pelo menos para a maioria das pessoas, uma vez que Henri estava se sentindo um pouco coagido e nervoso pela presença de Sabrina e pela situação em que se encontrava com a sua missão, que não estava nem 10% concluída.

- Você acertou em cheio! – dizia Sabrina, saboreando o bolo na frente de Henri e sujando um pouco a boca. Parecia uma criança comendo, sem preocupações de ter sujado os lábios ao redor. Henri recebia o seu café pedido e o aroma já instigava o rapaz de cabelos alvos a beber o líquido quente. – E então?! Você é classe recruta, né? Quais são os casos que os recrutas cuidam mesmo? – a morena se interrogava, pensando em seu passado, quando começou a vida como detetive. – Ah! Crimes civis, sequestros, desaparecimentos... É isso, né? Então, que tal me contar o seu caso? Sou agente, e os meus casos são bem chatos... Gostava mais dessa época...

- Realmente, podem ampliar o caso ou levar em um beco sem saída...

Sabrina concordava com o pensamento final de Henri. O tempo passava, bem devagar por sinal, o que era uma tortura para qualquer um que desejasse vê o seu caso resolvido. Sabrina mudava um pouco de personalidade ao parar um pouco para pensar. Sua expressão séria era muito vista naquele ângulo em que o detetive olhava para a face da superior. Um mundo inteiro girava, enquanto Sabrina permanecia em silencio pensando.

- O laboratório deve servir como suporte para uma hipótese ou para uma teoria, de preferência. É comum os gangsteres exibirem seus crimes... Mas precisamos de mais... Temos que provar o envolvimento dessa segunda vítima com as gangues... Você só tem isso mesmo? Algum depoimento? Alguma coisa que mostre qual era a conduta da pessoa?